Resumo
A pandemia do COVID-19 vem (re)criando novas geografias globais da morte, que impactam especificamente o Sul Global e expõem seu continuum de vulnerabilidades – distribuídas desigualmente em termos de raça, gênero, classe e assim por diante. Nas Américas, podemos identificar o surgimento de uma nova governança regional da morte, associada a um conjunto de recomendações práticas da Organização dos Estados Americanos (OEA) restringindo as respostas políticas dos Estados à COVID-19 e instalando um novo léxico de governança global. As recomendações sobre o descarte de cadáveres, o pleno respeito ao luto coletivo e familiar e as indicações de formas alternativas de realizar funerais e velórios, por exemplo, parecem evocar novas respostas multilaterais, abrindo caminho para um novo modelo de governança: aquele que centra a morte na formulação de políticas regionais. Isso aponta para uma mudança no tratamento da morte de uma questão puramente privada para uma questão politicamente infundida. Teoricamente, este artigo visa preencher a lacuna entre os Estudos da Morte e as literaturas de Governança Global. Apoiado no método genealógico de Michel Foucault, o objetivo é reconceituar criticamente os significados e enquadramentos das paisagens da morte nas Américas, apontando para a correlação de forças que possibilitaram a emergência normativa da morte na OEA neste momento histórico particular.
Palavras-chave
OEA; governança regional; respostas políticas; paisagens de morte; crise de COVID-19