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Características das habilidades comunicativas em crianças pertencentes a famílias multiespécie

RESUMO

Objetivo

investigar as habilidades comunicativas em crianças pertencentes a famílias multiespécie, nas quais o cão é o animal de estimação.

Método

estudo do tipo exploratório, descritivo, transversal, de natureza qualitativa. Casuística: 34 sujeitos de ambos os sexos, na faixa etária entre três meses e quatro anos e cinco meses, pertencentes a famílias multiespécie. A pesquisa foi realizada na residência dos próprios sujeitos. Procedimento: os dados foram coletados por meio de observação e filmagem de uma situação de interação, na rotina familiar, durante 30 minutos, envolvendo a presença do cão. Análise dos resultados: os dados foram analisados por meio de categorias de análises de conteúdo quanto a elementos verbais e não verbais, privilegiando as condutas comunicativas na interação criança-cão-adulto interlocutor.

Resultados

evidenciou-se que o cão desempenhou papel de interlocutor durante as cenas de interação com efeitos nas funções comunicativas da criança.

Conclusão

os resultados dessa pesquisa apontam para possíveis benefícios no que se refere às habilidades comunicativas nas interações multiespécie e sugere pesquisas posteriores.

Descritores:
Linguagem; Desenvolvimento da Linguagem; Família; Cães; Vínculo Homem-Animal de Estimação

ABSTRACT

Purpose

to investigate the communicative skills of children belonging to multispecies families whose pet is a dog.

Methods

this is an exploratory, descriptive, qualitative, cross-sectional study. Sample: 34 subjects of both sexes aged three aged 3 to 4 years and 5 months belonging to multispecies families. The study was conducted at the subjects’ own homes. Procedure: The data were collected through observation and filming of a 30-min interaction situation in the family routine involving the presence of the dog. Analysis of the results: The data were analyzed and content analysis categories were then established regarding the most relevant verbal and nonverbal elements, with emphasis on the child-dog-adult interlocutor communicative interactions.

Results

the results showed that the dog played the role of interlocutor during the interaction scenes, with effects on the child’s communicative functions.

Conclusion

the results of this study point to possible benefits to communicative skills in multispecies interactions. Further studies on this theme are suggested.

Keywords:
Language; Language Development; Family; Dogs; Bonding; Human-Pet

INTRODUÇÃO

A convivência entre humanos e cães data de milhares de anos. Mas, essa relação inicialmente cooperativa ampliou-se, ao longo do tempo, para a constituição de vínculos afetivos intensos. Não mais visto como animal de trabalho ou guarda, o cão além de animal de estimação e companhia, passou a ser considerado como membro da família(11 Albuquerque NS, Savalli C. Cognição e comportamento de cães: a ciência do nosso melhor amigo. São Paulo: Edicon; 2017. A origem dos cães e de suas habilidades sociocognitivas: teorias e controvérsias; p.21-42.).

Um estudo realizado pela American Veterinary Medical Association a a A AVMA é uma associação sem fins lucrativos que representa médicos veterinários nos Estados Unidos. (AVMA) evidencia que quase 59% das famílias americanas possuíam um animal de estimação no final da década de 90. Destas, a grande maioria tinha crianças como membros(22 Cohen SP. Can pets function as family members? West J Nurs Res. 2002;24(6):621-38. http://dx.doi.org/10.1177/019394502320555386. PMid:12365764.
http://dx.doi.org/10.1177/01939450232055...
).

Especificamente no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 44,3% dos lares brasileiros possuem, pelo menos, um cão. A população de cães em 2013 chegou a 52,2 milhões, sendo maior que a de crianças entre um e 14 anos - 44,9 milhões(33 IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [Internet]. Pesquisa nacional de saúde 2013: acesso e utilização dos serviços de saúde, acidentes e violências: Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE/Coordenação de Trabalho e Rendimento; c2013-2015 [citado em 2021 Nov 18]. Disponível em: https://www.icict.fiocruz.br/sites/www.icict.fiocruz.br/files/PNS%20Vol%202.pdf.
https://www.icict.fiocruz.br/sites/www.i...
).

Destaca-se que a configuração familiar considerada multiespécie é aquela composta por indivíduos que reconhecem e legitimam seus animais de estimação como membros da família(44 Faraco CB. Interação humano-cão: o social constituído pela relação interespécie [tese]. Porto Alegre: Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; 2008.). Tal configuração tem sido objeto de estudos recentes.

As famílias multiespécie referem muitas razões para ter um animal de estimação valorizando, sobretudo, as relações de companhia e carinho. As variações do papel do animal de estimação nesse contexto, variam de acordo com as peculiaridades da estrutura familiar e aspectos sócio - emocionais de seus membros(55 Walsh F. Human-animal bonds I: the relational significance of companion animals. Fam Process. 2009;48(4):462-80. http://dx.doi.org/10.1111/j.1545-5300.2009.01296.x. PMid:19930433.
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).

Embora seja possível observar diferentes espécies de animais presentes nos lares brasileiros, nesta pesquisa optou-se por considerar as famílias multiespécie, nas quais o cão é o animal de estimação. Além de sua presença universal, os cães possuem habilidades sociocognitivas que os permitem trocas interacionais com os seres humanos(11 Albuquerque NS, Savalli C. Cognição e comportamento de cães: a ciência do nosso melhor amigo. São Paulo: Edicon; 2017. A origem dos cães e de suas habilidades sociocognitivas: teorias e controvérsias; p.21-42.). Além disso, embora pesquisas recentes sobre o desenvolvimento infantil e a presença de animais de companhia nas famílias tenham considerado diferentes espécies em sua metodologia, os cães são os mais pesquisados, por nível de interação e potencial de reciprocidade em comparação com os outros animais(66 Purewal R, Christley R, Kordas K, Joinson C, Meints K, Gee N, et al. Companion animals and child/adolescent development: a systematic review of the evidence. Int J Environ Res Public Health. 2017;14(3):234. http://dx.doi.org/10.3390/ijerph14030234. PMid:28264460.
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).

A inserção de um cão na família revela-se efetiva na medida em que as pessoas reconhecem a sua importância não somente na perspectiva individual, como também pelos seus efeitos na dinâmica familiar. Nessa direção, na sociedade moderna os animais de estimação exercem diferentes papéis nos múltiplos estágios do ciclo de vida familiar(77 Faraco CB, Lantzman M. Relação entre humanos e animas de companhia. In: Faraco CB, Soares GM, organizadores. Fundamentos do comportamento canino e felino. São Paulo: Editora MedVet; 2013. p. 1-12.,88 Hodgson K, Darling M. Pets in the family: practical approaches. J Am Anim Hosp Assoc. 2011;47(5):299-305. http://dx.doi.org/10.5326/JAAHA-MS-5695. PMid:21852511.
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).

Atualmente, a literatura atesta o aumento da produção científica sobre as Intervenções Assistidas por Animais (IAA)b b Utiliza-se o termo Intervenção Assistida por Animais (IAA) definido pela Associação Internacional das Organizações de Interação Humano (IAHAIO) - Animal) como toda intervenção que incorpora animais nos campos da saúde e educação com a finalidade de obter ganhos terapêuticos em humanos. , cujos resultados apontam os benefícios da participação de animais, especialmente cães, em diferentes ambientes terapêuticos(99 Ichitani T, Cunha MC. Effects of animal-assisted activity on self-reported feelings of pain in hospitalized children and adolescents. Psicol Reflex Crit. 2016;29(1):43. http://dx.doi.org/10.1186/s41155-016-0049-1.
http://dx.doi.org/10.1186/s41155-016-004...
).

Estudo recente descreve os efeitos positivos da interação entre fonoaudiólogo, paciente e cão na comunicação verbal e não verbal de idosos institucionalizados(1010 Oliveira GR. A interação fonoaudiólogo-paciente-cão: efeitos na comunicação de pacientes idosos [dissertação]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2015.). Em pesquisa sobre a sensação de dor autorreferida por crianças e adolescentes hospitalizados, pesquisadores observaram significativa diminuição dessa sensação após IAA(99 Ichitani T, Cunha MC. Effects of animal-assisted activity on self-reported feelings of pain in hospitalized children and adolescents. Psicol Reflex Crit. 2016;29(1):43. http://dx.doi.org/10.1186/s41155-016-0049-1.
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).

Observa-se a utilização de cães não somente no contexto terapêutico, mas também como auxiliares para minimizar efeitos de diversos tipos de deficiências. Neste caso, os cães são treinados para acompanhar indivíduos com deficiência visual, auditiva ou motora, melhorando a qualidade de vida de seus usuários e atuando como animais de ajuda social(1111 Lima M, Sousa LE. A influência positiva dos animais de ajuda social. Interações. 2004;6:156-74.).

Contudo, o presente estudo propõe outra perspectiva de investigação, a saber: a dos possíveis efeitos da convivência com um animal de estimação em crianças pertencentes a famílias multiespécie.

Uma pesquisa recente sugere que o convívio com animais de companhia pode contribuir para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes(66 Purewal R, Christley R, Kordas K, Joinson C, Meints K, Gee N, et al. Companion animals and child/adolescent development: a systematic review of the evidence. Int J Environ Res Public Health. 2017;14(3):234. http://dx.doi.org/10.3390/ijerph14030234. PMid:28264460.
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). Outros estudos, também recentes, afirmam que as interações entre crianças e animais proporcionam que elas satisfaçam necessidades de contato físico típicas da infância, além de proporcionarem experiências afetivas importantes como dar e receber amor, oferecer cuidados ao outro, lidar com os fenômenos de nascimento e morte(1212 Cain AO. Pets as family members. In: Sussman MB, editor. Pets and the family. Nova York: Routledge; 2016. p. 5-10. http://dx.doi.org/10.4324/9781315784656-2.
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).

Aqui, formula-se a seguinte questão de pesquisa: considerando que a interação com cães tende a contribuir para o desenvolvimento infantil, tal interação afetaria especificamente as habilidades comunicativas?

Nesse contexto, cabe referir pesquisa sobre os efeitos da interação terapeuta - paciente - cão durante processos terapêuticos fonoaudiológicos de crianças com distúrbio de linguagem oral e/ou escrita. A hipótese de o cão funcionar como um dispositivo terapêutico e, desta forma, potencializar esses processos - se confirmou. Os casos clínicos relatados demonstraram que a presença do cão proporcionou maior motivação para participar da terapia; favoreceu a interação terapeuta/paciente; intensificou a atividade dialógica, a gestualidade e a movimentação corporal comunicativa eficiente; a motivação para ler e escrever, mobilizou a afetividade dos pacientes e promoveu significativa diminuição dos sintomas manifestos na linguagem oral e/ou escrita(1313 Domingues CM. Terapia fonoaudiológica assistida por cães: estudos de casos clínicos [dissertação]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2007.).

No presente estudo, embora a proposta seja focar nas habilidades comunicativas das crianças, como já citado; os resultados apresentados pela autora adquirem particular relevância se considerarmos a indissociabilidade entre tal processo e suas possíveis intercorrências.

Antes de prosseguir, vale apresentar algumas considerações teórico-metodológicas sobre o processo de aquisição das habilidades comunicativas. Tal fenômeno pode ser abordado a partir de três vertentes: a empirista, que considera a linguagem como resultante da aprendizagem; a racionalista, que compreende a linguagem como inata e biologicamente determinada; e a dialética, segundo a qual a linguagem é produto de um processo interacional. Na tradição empirista a aprendizagem se dá pela combinação da maturação biológica, desenvolvimento mental e estimulação ambiental. É a vertente historicamente mais antiga, representada pela visão skinneriana. Já a tradição inatista compreende a linguagem como inerente à dimensão biológica da espécie humana, configurando a abordagem Chomskiniana, na qual a mente é elemento central. Para a tradição dialética (também denominada interacionista), a linguagem constitui-se na interação da criança com o meio. Piaget, Vygotsky e Wallon são seus principais representantes(1414 Palladino RRR. Fonoaudiologia e desenvolvimento da linguagem: diálogo interdisciplinar. In: Fernandes FDM, Mendes BCA, Navas ALPGP, editoras. Tratado de fonoaudiologia. 2a ed. São Paulo: Roca; 2005. p. 9-16.).

No presente estudo, assume-se a abordagem interacionista, que parte do pressuposto de que o sujeito é capaz de interagir ativamente com o meio, bem como este se modifica a partir da sua ação. Nessa perspectiva, a linguagem é considerada como a primeira forma de socialização humana e, neste âmbito, a família tem papel fundamental(1515 Borges L, Salomão N. Aquisição da linguagem: considerações da perspectiva da interação social. Psicol Reflex Crit. 2003;16(2):327-36. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722003000200013.
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).

A literatura sobre a abordagem interacionista é vasta, e atesta o protagonismo do contexto familiar no processo de aquisição das habilidades comunicativas da criança. Sendo assim, nos parece pertinente, investigar as peculiaridades de tal processo no contexto de famílias multiespécie.

A partir de tal hipótese o objetivo deste estudo é analisar as habilidades comunicativas que emergem nas interações entre cães e crianças pertencentes a famílias multiespécie.

MÉTODO

1. Este estudo seguiu as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde, resolução nº 466/12, do Ministério da Saúde e foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição de origem (parecer: 2.736.939). Participaram da pesquisa os sujeitos autorizados pelos pais, através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

2. Casuística: 34 sujeitos pertencentes a famílias multiespécie, de ambos os sexos, na faixa etária entre três meses e quatro anos e cinco meses.

  • Critérios de inclusão: crianças que interagem com o mesmo cão (um ou mais) desde o nascimento.

  • Critérios de exclusão: crianças com queixas familiares ou diagnósticos clínicos prévios de alterações cognitivas, motoras, sensoriais e/ou psíquicas.

3. Procedimento:

a. Seleção dos sujeitos

A seleção dos sujeitos foi realizada por meio de contato via WhatsApp ou telefônico com os responsáveis interessados em participar da pesquisa, que voluntariamente responderam às divulgações feitas em redes sociais ou foram indicados pelos mesmos e por outros pesquisadores.

Nesse contato, sempre com as mães, foram verificados os critérios de seleção acima descritos e feitos os esclarecimentos sobre o processo de coleta de dados. Nesta ocasião, data e horário para realização da coleta também foram acordados.

b. Coleta de dados

Fase 1: aplicação do Questionário de Caracterização das Famílias Multiespécie (QCFM) (Apêndice A Apêndice A Questionário de caracterização das famílias multiespécie Nome (por extenso) do responsável pelo preenchimento do questionário: Quantas pessoas residem na sua casa? Sobre cada um dos integrantes da sua família, descreva abaixo: Iniciais Data de nascimento Grau de parentesco Escolaridade Profissão Sobre a criança que participará da pesquisa responda: Qual o status marital dos pais da criança? () Solteiro () Casado ou união estável () Divorciado () Viúvo A criança frequenta a escola? () Sim. Desde que idade? _____ () Não Caso a criança frequente a escola, responda: () Meio período () Período integral A escola pertence a: () Rede pública () Rede particular Além da escola, a criança participa de alguma atividade extracurricular? () Sim. Qual? ________ () Não Caso a criança não frequente a escola, responda? A criança participa de alguma atividade? () Sim. Qual? ________________ () Não Quem é o adulto responsável pelos cuidados diários da criança? ___________________________________________________________________ Em relação ao adulto responsável por estes cuidados, responda: Idade: _______ Grau de parentesco com a criança: __________________________Escolaridade: ______________ Quantos e quais são os animais de estimação vivem na sua casa? Animal de estimação Quantos () Cão () () Gato () () Outro (s) () Sobre seu cão, responda: Nome do cão: Idade do cão: Raça Há quanto tempo o cão (ou cada um deles) está na família? Quais são as características comportamentais do seu cão (ou de cada um deles? Quem é responsável pela alimentação do (s) cão (s)? Seu cão vai ao veterinário? () Sim () Não Se sim, com que frequência? () Semestralmente () Anualmente () Somente quando necessário Quais espaços da casa seu cão tem acesso livre? () Acesso a todos os cômodos da casa () Acesso a alguns cômodos da casa () Acesso apenas a área externa da casa Em qual dos cômodos da casa o (s) cão (s) dorme? Seu cão participa de atividades com a família? Se sim, quais? Ocorreram mudanças da interação da família após a chegada do cão? Se sim, cite as principais de você observou. Você celebra o aniversário do seu cão? (Marque sua resposta com um X) () Sim, sempre () As vezes () Nunca Por que a família decidiu ter um animal de estimação? A família já deixou de fazer alguma coisa em função do (s) cão (s)? Você considera o seu cão um integrante da sua família? (Marque sua resposta com um X). () Sim () Não Houve alguma mudança na relação com o cão depois da chegada da criança na família? ), elaborado a partir de levantamento bibliográfico de instrumentos destinados à avaliação de famílias multiespécie e submetido a validação de conteúdo realizada por três juízes com expertise no trabalho com esta configuração familiar.

Fase 2: filmagem, utilizando câmera digital, de uma situação de interação lúdica, nos contextos familiares rotineiros, a critério dos sujeitos e envolvendo a presença do cão. As situações mais comuns foram: brincadeiras com bolinhas ou outros brinquedos com o cão; alimentação ou manejo com o animal (ex.: escovação, oferta de medicação) e expressões (verbais e não verbais) de carinho para com o cão. A gravação teve duração de 30 minutos ininterruptos, com distância mínima entre câmera e sujeito de um metro e deslocamento em casos de mudança de cômodo da casa por parte dos sujeitos.

4. Análise dos resultados:

  • Caracterização da população: obtidos por meio do QCFM e submetidos à análise estatística descritiva.

  • As características mais significativas do processo de aquisição das habilidades comunicativas dos sujeitos foram avaliadas por meio da análise de conteúdo(1616 Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2010.). Os vídeos foram analisados e categorias de análise de conteúdos à posteriori foram estabelecidas. Em três etapas (pré-análise, seleção do material e categorização do material selecionado), os conteúdos relacionados ao objetivo do estudo foram estabelecidos de acordo com sua incidência e relevância.

RESULTADOS

A amostra é apresentada no Quadro 1, contendo sexo e faixa etária dos sujeitos.

Quadro 1
Caracterização da amostra do grupo pesquisa

A seguir, serão apresentadas as categorias de análise de conteúdo, categorizadas por faixa etária, com os respectivos exemplos de discurso das crianças e seus interlocutores adultos. Nos exemplos, os sujeitos foram identificados pela inicial do primeiro nome e os cães, pelo seu próprio nome.

As categorias foram elaboradas a partir das filmagens, considerando a interação familiar: pais, criança e cão (s) em cada faixa etária, e sua relação com o objetivo da pesquisa.

A partir das interações observadas nas famílias multiespécie com crianças na faixa etária de zero a 11 meses (Tabela 1), constata-se que a intenção comunicativa direcionada ao cão é presente, tanto por parte da criança, quanto do interlocutor adulto. Destaca-se a presença dos pais, estimulando e intermediando o contato da criança com o cão. Também se evidencia, na fala dos interlocutores, a interpretação do comportamento dos cães para as crianças.

Tabela 1
Categorias de conteúdo da faixa etária de 0 a 11 meses

Na Tabela 2, observa-se nas interações multiespécie, um crescente nas habilidades dialógicas, em comparação com a idade anterior. A intenção comunicativa para com o interlocutor e o cão continuam presentes, todavia agora a criança inicia a interação e apresenta um grau de envolvimento maior nos intercâmbios comunicativos. Observa-se que a supervisão dos pais é constante durante a interação das crianças com o cão, seja intermediando o contato, estimulando que ele aconteça ou interpretando os comportamentos do cão, a presença da fala dos interlocutores é constante.

Tabela 2
Categorias de conteúdo da faixa etária de 12 a 24 meses

Observa-se nas interações familiares multiespécie das crianças na faixa etária entre dois e três anos (Tabela 3), o cão como motivador no envolvimento das crianças nos intercâmbios comunicativos. As habilidades dialógicas estão presentes na intenção comunicativa e, ao iniciar uma conversação e manter a atividade dialógica com seu interlocutor, o cão é frequentemente tema no discurso de ambos. Observa-se a presença e supervisão ainda constante por parte dos pais, porém a criança tem uma independência maior durante a interação.

Tabela 3
Categorias de conteúdo da faixa etária de 2:1 a 3:0 anos

Na Tabela 4, observa-se nas interações familiares multiespécie a permanência das habilidades dialógicas. Há presença da comunicação intencional da criança, bem como a motivação nos intercâmbios comunicativos nos quais ficam mais visíveis as alternâncias de turnos na interação com o interlocutor. Evidencia-se, nesta faixa etária, que a criança passa a ser participativa nos cuidados com o animal de estimação - alimentação ou passeio diário e passa a interagir além da brincadeira.

Tabela 4
Categorias de conteúdo da faixa etária de 3:1 a 4:0 anos

Na faixa etária entre quatro e cinco anos (Tabela 5), observa-se uma independência maior das crianças na interação com o cão. Há permanência das habilidades comunicativas e das funções comunicativas da criança, assim como nas faixas etárias anteriores. Observa-se uma menor intermediação do adulto na relação entre criança e cão, bem como a capacidade da própria criança interpretar o comportamento do animal.

Tabela 5
Categorias de conteúdo da faixa etária de 4:1 a 5:0 anos

DISCUSSÃO

De acordo com os resultados, foi possível observar, tanto aspectos do desempenho linguístico espontâneo dos sujeitos quanto condutas comunicativas envolvidas nas interações humanos-cães.

Quanto às condutas comunicativas, que nas interações familiares multiespécie o cão desempenha papel de interlocutor durante as cenas de interação. Além disso, observou-se que as características do cão, sua história e o manejo da rotina também são tema recorrentes nos diálogos estabelecidos entre familiares e crianças(1717 Faccin A, Cunha MC. Efeitos da intervenção assistida por animais em crianças hospitalizadas: conteúdos psíquicos. Ver Cient Mult Núcl Conhecimento. 2020;6(8):15-36. http://dx.doi.org/10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/criancas-hospitalizadas.
http://dx.doi.org/10.32749/nucleodoconhe...
,1818 Manzoni, A. Tra cuccioli ci si intende: bambini e animali. Perúgia: Graphe.it Edizioni; 2014.,1919 Ichitani T, Faccin AB, Costa JB, Juste FS, Andrade CRF, Cunha MC. Efeitos da presença do cão na expressão de conteúdos psíquicos de um sujeito que gagueja: um estudo de caso. CoDAS. 2021;33(2):e20190267. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20202019267. PMid:33978105.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2020...
).

Estes dados se alinham com resultados de estudo onde se constata que o cão é um mediador potente das interações familiares. A pesquisa referida também aponta que falar “pelo cão” configura-se como estratégia para a sustentação da atividade, como constatou-se no presente estudo(2020 Tannen D. Talking the dog: framing pets as interactional resources in family discourse. Res Lang Soc Interact. 2004;37(4):399-420. http://dx.doi.org/10.1207/s15327973rlsi3704_1.
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).

Ainda em termos comunicativos, a relação entre as crianças e os animais pode exercer uma importante função, nomeada pela literatura como pedagogia zooantropológica. Tal conceito refere-se à motivação para o aprendizado e aos desempenhos cognitivo, afetivo, corporal e comunicativo(2121 Marchesini R. Il bambino e l’animale: fondamenti per uma pedagogia zooantropologica. Roma: Editoriale Anicia; 2016.). Os resultados da presente pesquisa sublinham o(s) desempenho(s) comunicativos entre criança - cão - interlocutor favoráveis ao seu desenvolvimento linguístico.

Outro resultado relevante, refere-se à intermediação do contato criança-cão e da interpretação do comportamento do cão, por parte do interlocutor adulto. Os resultados da presente pesquisa sublinham o funcionamento comunicativo entre criança-cão-interlocutor favorável ao funcionamento de linguagem da criança e sua emergência como falante. Outro dado relevante se refere a intermediação do comportamento do cão realizada pelo interlocutor adulto. Tal resultado corrobora com pesquisa que considera de suma importância a supervisão dessas interações, bem como a adequada interpretação da comunicação canina durante o contato criança-cão(2222 Demirbas YS, Ozturk H, Emre B, Kockaya M, Ozvardar T, Scott A. Adults’ ability to interpret canine body language during a dog-child interaction. Anthrozoos. 2016;29(4):581-96. http://dx.doi.org/10.1080/08927936.2016.1228750.
http://dx.doi.org/10.1080/08927936.2016....
).

Feitas essas considerações, sublinha-se o papel do cão como recurso efetivo na mediação das interações familiares e, por extensão, na promoção de condutas comunicativas intrínsecas às atividades dialógicas por meio das quais foi possível observar aspectos do processo de aquisição/desenvolvimento das habilidades comunicativas das crianças pertencentes a famílias multiespécie. Sendo assim, cabe aqui apontar algumas peculiaridades sobre tal processo nas diferentes faixas etárias estudadas.

Sabemos que a primeira forma de comunicação dos bebês com o mundo se dá por meio do choro. Todavia, não se pode reduzir o choro apenas a um ato reflexo. Ele é um importante recurso de comunicação para os bebês, visto que, induz respostas por parte do cuidador(2323 Hage SRV, Pinheiro LAC. Desenvolvimento típico de linguagem e a importância para a identificação de suas alterações na infância. In: Lamônica DAC, Britto DBO, organizadoras. Tratado de linguagem: perspectivas contemporâneas. São Paulo: Book Toy; 2017. p. 31-7.).

É possível observar que, nas crianças entre zero e 24 meses durante as interações com o cão, o choro esteve presente como protesto diante de algum comportamento do cão, como pedido para aproximar-se dele. Um exemplo: diante do choro e do olhar direcionado para o cão, a mãe de E. questiona: “Você quer chegar perto dele? Você quer? Deixa eu ver se é isso”.

Com três/quatro meses de idade, os bebês começam a balbuciar sequências de sons que se intensificam gradativamente até cerca de 10 meses, muitas vezes acompanhadas de gestualização(2424 Scarpa EM. Aquisição da linguagem. In: Mussalin F, Bentes AC, organizadoras. Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez; 2001. p. 203-31.). Outro exemplo: A. balbucia “nha...nhanhanha” enquanto estica os braços para o cão, tentando tocá-lo. Salienta-se que estudos sobre aquisição de habilidades comunicativas indicam que o adulto interpreta primeiramente os gestos e, posteriormente, as vocalizações(2424 Scarpa EM. Aquisição da linguagem. In: Mussalin F, Bentes AC, organizadoras. Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez; 2001. p. 203-31.), como ocorreu no caso de E., quando a mãe, diante do gesto e da vocalização da filha, diz: “Você quer chegar perto dele? Você quer? Deixa eu ver se é isso”.

Entre 12 e 24 meses, é notável a evolução gradativa do balbucio para palavras idiossincráticas e produção de onomatopeias(2424 Scarpa EM. Aquisição da linguagem. In: Mussalin F, Bentes AC, organizadoras. Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez; 2001. p. 203-31.). Ressalta-se aqui os sujeitos: G. (“oinha, oinha, oinha”, referindo-se a bolinha jogada na direção do cão) e F. (“éga, para pega - referindo-se a à bolinha capturada pelo cão).

Também se sublinha nesta faixa etária, a capacidade da criança para compreender ordens rotineiras e situacionais com duas ações(2424 Scarpa EM. Aquisição da linguagem. In: Mussalin F, Bentes AC, organizadoras. Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez; 2001. p. 203-31.,2525 Zorzi JL, Hage SRV. Protocolo de observação comportamental: avaliação de linguagem e aspectos cognitivos infantis. São José dos Campos: Pulso Editora; 2004.). Por exemplo, quando o sujeito M. faz carinho no cão, a partir do pedido da mãe para que o faça.

Entre dois e três anos, a criança já é capaz de produzir proto-narrativas(2424 Scarpa EM. Aquisição da linguagem. In: Mussalin F, Bentes AC, organizadoras. Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez; 2001. p. 203-31.,2525 Zorzi JL, Hage SRV. Protocolo de observação comportamental: avaliação de linguagem e aspectos cognitivos infantis. São José dos Campos: Pulso Editora; 2004.), como evidencia-se em M., quando conta que o cão está doente: “Ele tá dodói.”

Entre três e quatro anos, inicia-se a utilização dos tempos verbais - presente, passado e futuro composto(2525 Zorzi JL, Hage SRV. Protocolo de observação comportamental: avaliação de linguagem e aspectos cognitivos infantis. São José dos Campos: Pulso Editora; 2004.), como observa-se na fala de L durante passeio com o cão: “Ela tem que vim pra calçada né, senão suja o pé dela”; “Ela quer ir na grama porque tem mais cheiro do que na calçada”.

Além disso, este período também é marcado pela utilização dos artigos(2525 Zorzi JL, Hage SRV. Protocolo de observação comportamental: avaliação de linguagem e aspectos cognitivos infantis. São José dos Campos: Pulso Editora; 2004.), também em L, quando indagando a mãe: “Mãe, você viu a Lola ‘chelando’ o lixo?”.

Entre quatro e cinco anos, o desenvolvimento lexical da criança gira em torno de 1500 e 3000 palavras(2525 Zorzi JL, Hage SRV. Protocolo de observação comportamental: avaliação de linguagem e aspectos cognitivos infantis. São José dos Campos: Pulso Editora; 2004.). Observa-se, nas falas dos sujeitos, enunciados com um número maior de palavras. L. e G., ampliam suas narrativas sobre temas relacionados aos cães.

Os resultados deste estudo corroboram pesquisas recentes, que sugerem que o convívio com animais de companhia pode contribuir para o desenvolvimento global de crianças e adolescentes(66 Purewal R, Christley R, Kordas K, Joinson C, Meints K, Gee N, et al. Companion animals and child/adolescent development: a systematic review of the evidence. Int J Environ Res Public Health. 2017;14(3):234. http://dx.doi.org/10.3390/ijerph14030234. PMid:28264460.
http://dx.doi.org/10.3390/ijerph14030234...
).

Especificamente no campo da fonoaudiologia, estudos apontam que as interações humanos-animais promovem e facilitam as condutas comunicativas em crianças, adultos e idosos(99 Ichitani T, Cunha MC. Effects of animal-assisted activity on self-reported feelings of pain in hospitalized children and adolescents. Psicol Reflex Crit. 2016;29(1):43. http://dx.doi.org/10.1186/s41155-016-0049-1.
http://dx.doi.org/10.1186/s41155-016-004...
,1010 Oliveira GR. A interação fonoaudiólogo-paciente-cão: efeitos na comunicação de pacientes idosos [dissertação]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2015.,1313 Domingues CM. Terapia fonoaudiológica assistida por cães: estudos de casos clínicos [dissertação]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2007.).

Quanto aos efeitos das interações humanos-animais no processo de aquisição/desenvolvimento das habilidades comunicativas infantis, as evidências científicas precisam ser mais pesquisadas; dada a escassez de estudos sobre o tema.

CONCLUSÃO

Os resultados desse estudo evidenciam que, no lar da família multiespécie, criança e cão são parceiros interacionais e que, o cão desempenha papel de parceiro comunicativo em muitas das cenas onde a interação aconteceu. Evidencia-se também que, o envolvimento do cão nos intercâmbios comunicativos evolui num crescente, na medida em que as habilidades comunicativas da criança se desenvolvem, sendo cada vez menos necessária a mediação comunicativa do adulto.

Deste modo, a hipótese do cão, no lar da família multiespécie, potencializar as habilidades comunicativas da criança não pode ser refutada. Assim, este estudo abre discussão sobre o tema, sendo de extrema importância pesquisas posteriores.

Apêndice A Questionário de caracterização das famílias multiespécie

Nome (por extenso) do responsável pelo preenchimento do questionário:
Quantas pessoas residem na sua casa?
Sobre cada um dos integrantes da sua família, descreva abaixo:
Iniciais Data de nascimento Grau de parentesco Escolaridade Profissão
Sobre a criança que participará da pesquisa responda:
Qual o status marital dos pais da criança?
() Solteiro () Casado ou união estável () Divorciado () Viúvo
A criança frequenta a escola?
() Sim. Desde que idade? _____ () Não
Caso a criança frequente a escola, responda:
() Meio período () Período integral
A escola pertence a:
() Rede pública () Rede particular
Além da escola, a criança participa de alguma atividade extracurricular?
() Sim. Qual? ________ () Não
Caso a criança não frequente a escola, responda?
A criança participa de alguma atividade?
() Sim. Qual? ________________ () Não
Quem é o adulto responsável pelos cuidados diários da criança?
___________________________________________________________________
Em relação ao adulto responsável por estes cuidados, responda:
Idade: _______ Grau de parentesco com a criança: __________________________Escolaridade: ______________
Quantos e quais são os animais de estimação vivem na sua casa?
Animal de estimação Quantos
() Cão ()
() Gato ()
() Outro (s) ()
Sobre seu cão, responda:
Nome do cão: Idade do cão: Raça
Há quanto tempo o cão (ou cada um deles) está na família?
Quais são as características comportamentais do seu cão (ou de cada um deles?
Quem é responsável pela alimentação do (s) cão (s)?
Seu cão vai ao veterinário?
() Sim () Não
Se sim, com que frequência?
() Semestralmente () Anualmente () Somente quando necessário
Quais espaços da casa seu cão tem acesso livre?
() Acesso a todos os cômodos da casa
() Acesso a alguns cômodos da casa
() Acesso apenas a área externa da casa
Em qual dos cômodos da casa o (s) cão (s) dorme?
Seu cão participa de atividades com a família? Se sim, quais?
Ocorreram mudanças da interação da família após a chegada do cão? Se sim, cite as principais de você observou.
Você celebra o aniversário do seu cão? (Marque sua resposta com um X)
() Sim, sempre () As vezes () Nunca
Por que a família decidiu ter um animal de estimação?
A família já deixou de fazer alguma coisa em função do (s) cão (s)?
Você considera o seu cão um integrante da sua família? (Marque sua resposta com um X).
() Sim () Não
Houve alguma mudança na relação com o cão depois da chegada da criança na família?
  • a
    A AVMA é uma associação sem fins lucrativos que representa médicos veterinários nos Estados Unidos.
  • b
    Utiliza-se o termo Intervenção Assistida por Animais (IAA) definido pela Associação Internacional das Organizações de Interação Humano (IAHAIO) - Animal) como toda intervenção que incorpora animais nos campos da saúde e educação com a finalidade de obter ganhos terapêuticos em humanos.
  • Trabalho realizado no Programa de Estudos Pós-graduados em Fonoaudiologia (Mestrado), Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP - São Paulo (SP), Brasil.
  • Fonte de financiamento: CNPq, processo nº 130188/2018-2.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    18 Nov 2021
  • Aceito
    27 Jul 2022
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