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EDITORIAL

Cara leitora, caro leitor,

As Políticas de Ensino Médio, etapa da educação básica que está na ordem do dia em diferentes partes do mundo, são analisadas no Tema em Destaque. A despeito dos percursos históricos diferenciados que contribuíram para determinar a atual configuração do ensino médio em países os mais diversos, tal como assinala Nora Krawczyk - professora da Unicamp que organiza esta seção -, os problemas e desafios que o afetam têm muitos aspectos em comum. Entre eles enumeram-se os altos índices de repetência e evasão, a falta de consenso a respeito da identidade da escola média, a falta de interesse demonstrada por segmentos jovens para prosseguir nos estudos.

Este dossiê traz reflexões relevantes sobre os fatores em torno dos quais têm girado as políticas de ensino médio, dedicando especial atenção às suas dimensões culturais e respaldando-as em evidências históricas e empíricas sobre países como a Argentina, a Espanha e o Brasil. Espera-se que a abordagem do ensino médio sob o prisma privilegiado nesta seção contribua para melhor situar os embates em torno do tema, possibilitando aos leitores uma incursão mais aprofundada na problemática por ele suscitada.

Guillermina Tiramonti, pesquisadora em Educação, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais em Buenos Aires, analisa as dinâmicas de seleção do sistema educacional argentino, com o olhar especialmente voltado para o ensino médio. Para a autora, entre os traços culturais promotores dessa seleção, se identificam a preservação do mito igualitarista de um lado, e, de outro, um individualismo acerbado. Conclui que os ganhadores da competição aberta entre esses polos são os estratos medianos da população, ao passo que os jovens provenientes dos setores majoritários têm dificuldades de atualizar os recursos de que dispõem para se inserir nos ambientes escolares.

Dois autores espanhóis abordam a questão da educação secundária em seu país. Manuel de Puelles Benítez, catedrático emérito da Faculdade de Educação da Universidade Nacional de Educação a Distância de Madri, examina o contexto histórico em que foram produzidas as reformas educacionais na Espanha nas quatro últimas décadas, seus acertos e erros, e trata da situação atual com uma intenção prospectiva. Mariano Fernández Enguita, diretor do Departamento de Sociologia e Comunicação da Faculdade de Educação da Universidade de Salamanca, critica as dicotomias, como êxito/fracasso, permanência/abandono, utilizadas frequentemente para examinar o desempenho dos estudantes, chamando a atenção para grandes e pequenas diferenças que se podem encontrar no exame delas, as quais terminam por ocultar o crescente descolamento do alunado diante da cultura e das demandas da instituição escolar.

Finalmente, a própria Nora Krawczyk pontua alguns desafios que enfrenta o debate contemporâneo no Brasil, discutindo a importância da expansão do ensino médio e da afirmação da sua obrigatoriedade do ponto de vista sociopolítico e econômico, o caráter cultural da escola, seu papel entre os jovens, bem como as novas demandas para os docentes.

Ainda na esteira da discussão sobre o ensino médio, na seção Outros Temas, o trabalho de Rosemary Dore e Ana Zuleima Lüscher se propõe a identificar fatores que contribuem para que os alunos das escolas técnicas de nível médio do Estado de Minas Gerais permaneçam estudando ou se evadam.

Em um âmbito mais geral de análise das políticas educacionais no país, o artigo de Carlos Jamil Cury resgata a evolução dos planos nacionais de educação, mostrando que todos fracassaram. Em seguida, aponta temas, que permanecem presentes no Plano Nacional de Educação 2012-2022 em tramitação no congresso nacional, os quais, no contexto, demandam melhor equacionamento para assegurar a efetividade desse novo instrumento legal.

Também no âmbito mais amplo das políticas educacionais delineadas pela esfera central de governo, o texto de Leda Scheibe analisa o papel do Conselho Técnico-Científico da Educação Básica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes -, na configuração das políticas de formação de professores para o magistério da educação básica por parte do Ministério da Educação.

Pesquisa coordenada por Claudia Davis, Marina Nunes e Patrícia Albieri de Almeida procurou identificar as modalidades e características das ações de formação continuada de professores, adotadas por estados e municípios das diferentes regiões do país, aclarando as circunstâncias em que elas ocorrem e oferecendo aportes às políticas docentes desenvolvidas pelas redes de ensino.

O estudo de Marcus Vinicius da Cunha e Aline Vieira de Souza aponta ideias do Movimento Escolanovista na obra da poetisa Cecília Meireles e abre perspectivas para a investigação das estratégias argumentativas que compõem o discurso pedagógico da autora.

Luciane Muniz Ribeiro Barbosa analisa a relação Estado/Educação na reforma protestante do século XVI, focalizando a atuação de Martinho Lutero e a contribuição que apresentou para que a educação passasse a ser considerada um dever do Estado e um direito de todos.

Maria Rosa Lombardi, dando continuidade às suas investigações sobre as mulheres engenheiras, discute o lugar das mulheres nas atividades de pesquisa no campo da engenharia, as possibilidades de ingresso e progressão dessas profissionais como pesquisadoras e o peso das concepções de gênero na carreira.

Maria Aparecida Viggiani Bicudo e Tiago Emanuel Klüber adotam uma abordagem hermenêutica para analisar as pesquisas em modelagem matemática apresentadas no 3º Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática em 2007.

Pesquisa histórica, realizada com metodologia indiciária por Mariléia dos Santos Cruz, identifica a existência de famílias negras na sociedade maranhense e a presença de suas crianças nas escolas públicas durante o período da escravidão, no século XIX.

Vera Maria Candau e Miriam Soares Leite enriquecem a abordagem das questões da diferença nas pesquisas e práticas educacionais, focalizando, sob o ângulo intercultural, a tensão desigualdade/diferença identificada nas representações de docentes, expressas por grupo focal, em pesquisa da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Pesarosos, rendemos homenagem à memória de nossa colega Cristina Bruschini, incansável estudiosa das questões de gênero, cuja morte, em janeiro de 2012, deixa um imenso vazio afetivo e intelectual.

Os Editores

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Maio 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2011
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