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Imunoglobulinas antitoxoplásmicas e retinocoroidite em suínos

Antitoxoplasmics imunoglubulins and retinochoroiditis in swine

Resumos

Soro de 200 suínos abatidos em frigorífico, oriundos de rebanhos intensivos, híbridos, em idade de terminação, da região noroeste do RS, Brasil, foram coletados e testados para imunoglobulinas antitoxoplásmicas através da Hemaglutinação Indireta (HAI). Ao mesmo tempo, fez-se a relação entre soro positivos e a formação de lesões de retinocoroidite através de cortes histológicos em globos oculares, usando a coloração de Hematoxilina-Eosina (HE). A prevalência da infecção toxoplásmica, considerando títulos positivos a partir de 1:64, foi de 18%. Os títulos ficaram entre 1:64 (39%); 1:128 (5,5%); 1:256 (39%); 1:512 (5,5%) e 1:1024 (11 %). Alterações histopatológicas encontradas em 3 amostras positivas foram: atrofia da retina (1:64 e 1:256) e hiperemia da mácula (1:256). Pelos resultados obtidos, não foi possível estabelecer uma relação entre retinocoroidite e sorologia positiva nestes animais estudados.

imunoglobulinas antitoxoplásmicas; retinocoroidite; hemaglutinação indireta; suínos


Sera samples derived from 200 finishing pigs from confinement herds, hibrids were used. The sera were collected in abattoirs of me North-west region of Rio Grande do Sul state, Brazil. Tested for antitoxoplasmics immunoglobulins using the Indirect Hemagglutination test (IHA). A relation of the positive sera samples and formation of retinochoroiditis in histological studies with Hematoxilin-Eosin (HE) staining was stablished. The prevalence rate of seropositivity toxoplasmic infection was 18%, starting from titers 1:64. The titer varied from 1:64 (39%); 1:128 (5.5%); 1:256 (39%); 1:512 (5.5%); 1:1024 (11%). Histophathogical alterations findings in 3 positive sera samples were: retinal atrophy (1:64; 1:256) and macular hiperemy (1:256). Retinochoroiditis lesions were not found in the present study.

Antitoxoplasmics immunoglobulins; retinochoroiditis; indirect hemagglutination; swine


IMUNOGLOBULINAS ANTITOXOPLÁSMICAS E RETINOCOROIDITE EM SUÍNOS

ANTITOXOPLASMICS IMUNOGLUBULINS AND RETINOCHOROIDITIS IN SWINE

Elisabete Dockhorn Grünspan1 1 Médico Veterinário, aluno do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária (área de Medicina Veterinária Preventiva), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Wlademir Silveira Moreira2 1 Médico Veterinário, aluno do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária (área de Medicina Veterinária Preventiva), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Maria Isabel Albano Edelweiss3 1 Médico Veterinário, aluno do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária (área de Medicina Veterinária Preventiva), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Sara Noemi Ulon4 1 Médico Veterinário, aluno do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária (área de Medicina Veterinária Preventiva), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Helena Maria Lizardo Daudt5 1 Médico Veterinário, aluno do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária (área de Medicina Veterinária Preventiva), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

RESUMO

Soro de 200 suínos abatidos em frigorífico, oriundos de rebanhos intensivos, híbridos, em idade de terminação, da região noroeste do RS, Brasil, foram coletados e testados para imunoglobulinas antitoxoplásmicas através da Hemaglutinação Indireta (HAI). Ao mesmo tempo, fez-se a relação entre soro positivos e a formação de lesões de retinocoroidite através de cortes histológicos em globos oculares, usando a coloração de Hematoxilina-Eosina (HE). A prevalência da infecção toxoplásmica, considerando títulos positivos a partir de 1:64, foi de 18%. Os títulos ficaram entre 1:64 (39%); 1:128 (5,5%); 1:256 (39%); 1:512 (5,5%) e 1:1024 (11 %). Alterações histopatológicas encontradas em 3 amostras positivas foram: atrofia da retina (1:64 e 1:256) e hiperemia da mácula (1:256). Pelos resultados obtidos, não foi possível estabelecer uma relação entre retinocoroidite e sorologia positiva nestes animais estudados.

Palavras-chave: imunoglobulinas antitoxoplásmicas, retinocoroidite, hemaglutinação indireta, suínos.

SUMMARY

Sera samples derived from 200 finishing pigs from confinement herds, hibrids were used. The sera were collected in abattoirs of me North-west region of Rio Grande do Sul state, Brazil. Tested for antitoxoplasmics immunoglobulins using the Indirect Hemagglutination test (IHA). A relation of the positive sera samples and formation of retinochoroiditis in histological studies with Hematoxilin-Eosin (HE) staining was stablished. The prevalence rate of seropositivity toxoplasmic infection was 18%, starting from titers 1:64. The titer varied from 1:64 (39%); 1:128 (5.5%); 1:256 (39%); 1:512 (5.5%); 1:1024 (11%). Histophathogical alterations findings in 3 positive sera samples were: retinal atrophy (1:64; 1:256) and macular hiperemy (1:256). Retinochoroiditis lesions were not found in the present study.

Key words: Antitoxoplasmics immunoglobulins, retinochoroiditis, indirect hemagglutination, swine.

INTRODUÇÃO

O T. gondii é um coccídeo intestinal dos felídeos e de uma grande variedade de hospedeiros intermediários. Infecta praticamente todos os animais de sangue quente -mamíferos e aves (FRENKEL, 1992).

Em todas as espécies hospedeiras existe uma grande discrepância em relação à prevalência de anticorpos e a prevalência da doença clinicamente diagnosticada.

CHAPLIN et al. (1984), em suínos de Guaporé, RS, Brasil, encontraram 7,4% de prevalência. SILVA et al. (1981), determinando anticorpos antitoxoplásmicos pela HAI, em suínos abatidos na região do Alto Taquari, observou 7,2% de reagentes positivos. SANTOS et al. (1978), em São Paulo, Brasil, utilizando a prova de HAI em 960 amostras de soro de suínos provenientes de 32 municípios, também considerando títulos de 1:64, encontraram 48,5% de prevalência.

Em outros países, como nos EUA, mais precisamente no Estado de Iowa, ZIMMERMAN et al. (1990), através do teste de ELISA, constataram em rebanhos de terminação, uma prevalência de 33,3%. Usando HAI, HUGH-JONES et al. (1986), na Lousiana, EUA, encontraram positividade de 19%.

DUBEY et al. (1986), encontraram em 4 suínos naturalmente infectados por T. gondii, com títulos hemaglutinantes de 1:16, 1:32, 1:64, 1:128, uma maior concentração de cistos toxoplásmicos em órgãos como língua, coração, cortes de trazeiro e dianteiro, diafragma, toucinho e cérebro.

Em outro estudo conduzido por DUBEY et al. (1984), em 8 suínos experimentalmente infectados por oocistos e abatidos entre 38 a 171 dias pós-inoculação, foram recuperados T. gondii do cérebro e coração, de oito suínos; língua, de sete; músculo da coxa, de cinco; diafragma, de quatro; espinha dorsal, fígado e intestino delgado, de dois; olhos, de um.

Segundo FREYRE (1989), na infecção latente, o isolamento do agente é mais comum na musculatura estriada, cérebro, pulmão e intestino grosso e menos frequente no fígado, olhos, gânglios linfáticos, baço, intestino delgado e rins. Este mesmo autor enfatiza ainda, que não é necessariamente válido extrapolar a condição pré-natal da aquisição da maioria das retinocoroidites humanas ao suíno. Já FRENKEL (1990) afirma que no humano a retinocoroidite parece ser a única manifestação clínica da infecção toxoplásmica crônica, desenvolvendo-se desde a infância até a idade adulta.

A literatura consultada não relata lesões de retinocoroidite em suínos e sua relação com a infecção toxoplásmica detectada por imunodiagnóstico. Fato este que levou o presente trabalho ter por objetivos a titulação sorológica em amostras de soro suíno abatidos em frigorífico com inspecão oficial na região noroeste do Estado do RS, a pesquisa através da histopatologia da presença de lesões de retinocoroidite e a possível relação entre estes achados.

MATERIAL E MÉTODOS

Duzentas amostras de soro suíno foram coletadas em frigorífico com inspecão oficial no noroeste do RS, cujos suínos eram oriundos, em média de 20 municípios desta região. Os animais eram híbridos (Landrace X Large White), com peso médio de 80kg e com 6 meses de idade, maioria machos, provenientes de criações intensivas.

No túnel de sangria, a cada 10 animais, um foi coletado para aumentar a possibilidade amostral da procedência dos mesmos.

Cada animal foi marcado com etiqueta enumerada e posteriormente desviado da linha onde foram enucleados os globos oculares. O sangue foi coletado em vidros esterilizados. Esperou-se a retração do coágulo, sendo o soro, transferido para vidros igualmente esterilizados, etiquetados e mantidos a -18°C.

Os globos oculares enucleados foram colocados em frascos enumerados, em solução formol a 10% durante 24 horas, após em solução de álcool a 70% por 24 horas e retomando à solução formol a 10%. Foram assim mantidos até o momento do processamento.

As amostras de soro foram transportadas congeladas ao Laboratório de Saúde Pública do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da UFSM. O teste sorológico realizado foi o da Hemaglutinação Indireta (HAI) usando "kit" comerciala considerando títulos positivos a partir de 1:64 conforme BURRIDGE et al. (1979).

Os globos oculares dos 36 animais sorologicamente positivos e de 36 sorologicamente negativos, aleatoriamente escolhidos como controle, foram levados ao Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da UFRGS, onde foi realizada a histopatologia e pesquisa de lesões de retinocoroidite, usando a coloração de Hematoxilina-Eosina (HE).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos encontram-se nas Tabelas 1, 2 e 3. Foram testadas 200 amostras de soro, sendo que 36 (18%) foram positivas para anticorpos antitoxoplásmicos.

Em relação aos títulos interpretados como positivos (≥ 1:64) apresentados na Tabela 1, destacam-se as diluições de 1:64 (39,0%) e 1:256 (39,0%), embora em 11,0% das amostras o título determinado foi de 1:1024. Encontrou-se citações 1:128 por DUBEY et al. (1986) e SILVA et al. (1981), 1:1024 na HAI, coincidindo este com os achados do presente trabalho. No entanto, dos trabalhos acima discutidos, nenhum cita se os suínos foram provenientes de criações intensivas.

A prevalência de suínos positivos deste trabalho (18%) foi menor que dos estudos realizados por D' ANGE-LINO & ISHIZUKA (1986), (31,6%), em São Paulo, embora provenientes de criações intensivas e de mesma faixa etária. Talvez se deva a variação geográfica ou a diferentes sistemas de criação e arraçoamento.

Atrofias de retinas e esclerites, segundo RUBIN (1974), podem ser anomalias hereditárias encontradas em certas raças de suínos. Ainda, conforme o mesmo autor, muitas anomalias do olho em leitões, podem ter origem em uma deficiência de vitamina A da porca.

Ceratites poderiam ter tido origem em traumatismos entre os suínos durante a criação. O achado histopatológico de hiperemia da mácula, poderia ter ocorrido em consequência da posição que os suínos tomam durante a linha de abate.

Embora estas lesões oculares não possam ser atribuídas à Toxoplasmose, devem continuar a ser pesquisadas através da histologia pois na medicina veterinária, as estruturas oculares são pouco estudadas.

CONCLUSÃO

O estabelecimento de uma relação entre sorologia positiva para imunoglobulinas antitoxoplásmicas e formação de lesões de retinocoroidite em suínos não foi confirmada no presente estudo.

FONTES DE AQUISIÇÃO

a - Hema Toxo - Lab. Biolab, Estrada Mapuá, 491Jacarepaguá, RJ.

2Médico Veterinário, Especialista, Professor Titular, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, UFSM. 97119-900 - Santa Maria, RS, Brasil. Autor para correspondência.

3Médico, Doutor, Professor, Departamento de Patologia Médica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS.

4Médico Veterinário, Docente, Faculdade de Ciências Veterinárias, Universidade Nacional do Nordeste (UNNE), Argentina. Aluno do Curso de Pós-graduaçao em Medicina Veterinária (Área de Medicina Veterinária Preventiva), UFSM.

5Biólogo, Mestre em Parasitologia Veterinária, UFRGS.

Recebido para publicação em 14.10.94. Aprovado em 04.01.95

  • BURRIDGE, MJ., BIGLER, WJ., FORRESTER, DJ., et al. Serologic survey for T. gondii in wild animais in Florida. J Am Vet Med Assoc, v. 175, p. 964-967, 1979.
  • CHAPLIN, E.L., SILVA, N.R.S., SEBBEN, J.S., et al. Cadeia epidemiológica em Guapore/RS, relacionando humanos e seus animais domésticos. Arq Fac Vet UFRGS, v. 12, p. 25-34, 1984.
  • D'ANGELINO, J.L., ISHIZUKA, M.M. Toxoplasmose suína. 3. Avaliação da prevalência de infecção toxoplásmica em rebanhos suínos pela prova de imunofluorescência indireta e hemaglutinação. Bol Of Sanit Panam, v. 100, n. 6, p. 634-645, 1986.
  • DUBEY, J.P., MURREL, K.D., FAYER, R. Persistence of encysted T. goudii in tissues of pigs fed oocysts. Am J Vet Res , v. 45, p. 1941-1943, 1984.
  • DUBEY, J.P., MURREL, K.D., FAYER, R., et al. Distribuition of T. goudii in commercial cuts of pork. J Am Vet Med Assoc, v. 188, p. 1035-1037, 1986.
  • FRENKEL, J.K. Transmission of toxoplasmosis and the role of immunity in limiting transmission and illness. J Am Ve Assoc, v. 196, n. 2, p. 233-240, 1990.
  • FRENKEL, J.K. La toxoplasmosis una zoonosis. Notas Veterinárias, v. 2, n. 3, p. 4-13, 1992.
  • FREYRE, A. Toxoplasmosis en las espécies domésticas y como zoonosis Montevideo-Uruguai: Departamento de Publicaciones de la Universidad de la República, 332 p., 1989.
  • HUGH-JONES, M.E., BROUSSARD, B.S., STEWART, T.B. et al. Prevalence of T. gondii antibodies in Southern Lousiana swine in 1980 and 1981. Am J Vet Res, v. 47, p. 1050-1051, 1986.
  • RUBIN, LF. Atlas of veterinary ophthalmoscopy Philadelphia: Lea & Febiger, 1974, 470 p.
  • SANTOS, S.M., AMARAL, V., REBOUÇAS, M.M. Prevalência de anticorpos antitoxoplasma, por hemaglutinação indireta em soros de suínos provenientes de diferentes municípios do estado de São Paulo, Brasil. Biológico, v. 44, p. 149-153, 1978.
  • SILVA, N.R., CHAPLIN, E.L., MENDEZ, L.D.V. et al. Determinação de anticorpos toxoplásmicos em soros de suínos obtidos em matadouros, na região do Alto Taquarí, RS, Brasil. Arq Fac Vet UFRGS, v. 9, p. 33-38' 1981
  • ZIMMERMAN J J , DREESEN, D.W., OWEN, W.J. et al. Prevalence of toxoplasmosis in swine from lowa. J Am Vet Med Assoc, v. 196, n. 2 p 266-270 1990.
  • 1
    Médico Veterinário, aluno do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária (área de Medicina Veterinária Preventiva), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Out 2009
    • Data do Fascículo
      1995

    Histórico

    • Recebido
      14 Out 1994
    • Aceito
      04 Jan 1995
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