Controle de Sitophilus zeamais Mots. através de diferentes concentrações de CO2 e O2

Control of Sitophilus zeamais Mots with different concentrations of CO2 and O2

Resumos

This experiment was carried out aiming to evaluate the effect of different CO2 and 0(2) concentrations on the contral of Sitophilus zeamais. The experimental design was a split-plot in time, with the main plot distribucted in a completly randomized design, with four replications. The plot was consisted of a 5-liter glass chamber, in which 0.15 kg of desinfected maize with 200 unsexed adults insects. Eight gas concentrations were avaluated: 0.03% of CO2 and 21% of O2 (control), 10% of CO2 and 16% of O2, 15% of CO2 and 16% of O2, 20% of CO2 and 16% of O2, 0% of CO2 and 5% of O2, 0% of CO2 and 1% of O2, 15% of CO2 and 5% of O2 and 12% of CO2 and 8% of O2. Results demonstrated that 20% of CO2 controlled the insects in five days. Treatment with 15% of CO2 and 5% of 0(2) controlled 100% of insects in 10 days and 0% of CO2 and 1% of O2 controlled in 15 days.

mortality; Sitophilus zeamais; controlled atmosphere

CONTROLE DE Sitophilus zeamais MOTS. ATRAVÉS DE DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE CO₂ E O₂

CONTROL OF Sitophilus zeamais MOTS WITH DIFFERENT CONCENTRATIONS OF CO₂ AND O₂

Jerson Vanderlei Carús Guedes¹ Gláucia Bortoluzzi² Auri Brackmann³ Ervandil Corrêa Costa⁴

RESUMO

Instalou-se um experimento com objetivo de avaliar o efeito de diferentes concentrações dos gases: CO₂ e O₂ balanceado com N, no controle de Sitophilus zeamais. Utilizou-se parcelas subdivididas no tempo com parcela principal distribuída segundo o delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições. A unidade experimental constou de um vidro com volume de cinco litros, onde estavam acondicionados 0,15 kg de milho desinfestado e 200 insetos adultos não sexados. Foram avaliadas oito concentrações de gases (tratamentos): 0,03% de CO₂ e 21% de O₂ (testemunha), 10% de CO₂ e 16% de O₂, 15% CO₂ e 16% O₂, 20% CO₂ e 16% O₂, 0% CO₂ e 5% O₂, 0% CO₂ e 1% O₂, 75% CO₂ e 5% O₂, e 12% CO₂ e 8% O₂. Os resultados demonstraram que 20% de CO₂ controla totalmente os insetos em cinco dias. Tratamento com 15% de CO₂ associado com 5% de O₂, controla a totalidade dos insetos após dez dias. Concentração de 1% O₂, sem adição de CO₂, também controla 100% da população de Sitophilus zeamais. após 15 dias.

Palavras-chave: mortalidade, Sitophilus zeamais, atmosfera controlada.

SUMMARY

This experiment was carried out aiming to evaluate the effect of different CO₂ and 0₂ concentrations on the control of Sitophilus zeamais. The experimental design was a split-plot in time, with the main plot distribucted in a completly randomized design, with four replications. The plot was consisted of a 5-liter glass chamber, in which 0.15 kg of desinfected maize with 200 unsexed adults insects. Eight gas concentrations were avaluated: 0.03% of CO₂ and 21% of O₂ (control), 10% of CO₂ and 16% of O₂, 15% of CO₂ and 16% of O_2, 20% of CO₂ and 16% of O₂, 0% of CO₂ and 5% of O₂, 0% of CO₂ and 1% of O₂, 15% of CO₂ and 5% of O₂ and 12% of CO₂ and 8% of O₂. Results demonstrated that 20% of CO₂ controlled the insects in five days. Treatment with 15% of CO₂ and 5% of O₂ controlled 100% of insects in 10 days and 0% of CO₂ and 1% of O₂ controlled in 15 days.

Key words: mortality, Sitophilus zeamais, controlled atmosphere.

INTRODUÇÃO

No Brasil, as perdas causadas por insetos em grãos armazenados são estimadas em 20% (PUZZI, 1986; GALLO et al, 1988) e mais recentemante em 10% (LORINI & SCHNEIDER, 1994), anulando os progressos na produção, obtidos com o incremento da produtividade e a incorporação de novas áreas cultivadas.

A ordem Coleoptera abriga as espécies-praga potencialmente mais agressivas aos grãos armazenados. Devido, principalmente, à características como: alto potencial biótico, capacidade de atacar grãos inteiros, habilidade de penetrar na massa de grãos, polifagia e infestação originada na lavoura (PUZZI, 1986; GALLO et al., 1988), como também resistência a alguns inseticidas (GUEDES, 1990/91; SARTORI, 1993; LORINI & SCHNEIDER, 1994).

Aliado a estes aspectos, soma-se ainda, a inadequada estrutura armazenadora do país, o desconhecimento técnico do armazenador a respeito das pragas e a insuficiência de resultados de pesquisa (LORINI, 1993; LORINI & SCHNEIDER, 1994).

Sitophilus zeamais é freqüentemente considerado o mais destrutivo dos insetos que atacam o milho armazenado (DIX & ALL, 1985) além de comumente atacar o milho no campo (KEEVER et al, 1988; LORINI & SCHNEIDER, 1994). Os danos são causados pelo consumo por larvas e adultos, do interior do grão, que pode ser inteiramente destruído (MATIOLI et al, 1988, SANTOS et al, 1990); causando inúmeros prejuízos, como: redução do peso e da qualidade dos grãos (GUEDES, 1990/91; LORINI & SCHNEIDER, 1994) e redução da germinação das sementes (SANTOS et al, 1990).

A resistência de S. zeamais aos inseticidas foi verificada, por LORINI (1993) e LORINI & SCHNEIDER (1994) para malatiom e a deltametrina; a malatiom, brometo de metila e fosfina por GUEDES et al (1990/91) e a clorados e piretróides GUEDES et al. (1993).

A utilização de atmosfera controlada, que se baseia na alteração da composição gasosa de um ambiente (JAY, 1983) constitui-se numa alternativa aos produtos químicos para o controle de insetos (NICOLAS & SILLANS, 1989; JAYAS et al, 1991).

Sua adoção no controle de insetos foi revisado por BRACKMANN & GUEDES (1995), onde relataram a eficiência para diversos insetos-praga de grãos armazenados.

Para S. zeamais, no entanto, poucos experimentos avaliaram a utilização de gases, que não deixa resíduos nos grãos. Sabe-se, por outro lado, que existe tolerância aos métodos tradicionais de controle, entre populações de diferentes locais. SPRATT (1979) observou que S. zeamais presentes em grãos de milho, em ambiente com O₂, CO₂ e N na proporção 1:1:8, apresentou algumas alterações, como: atraso no desenvolvimento, redução na fecundidade e conseqüentemente na descendência. A nova geração, por sua vez, apresentou menor taxa de eclosão, maior mortalidade pós-eclosão e redução na postura.

O trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o efeito de diferentes concentrações de gás carbônico (CO₂) e oxigênio (O₂) com nitrogênio (N) balanceado, sobre população de Sitophilus zeamais obtida em Santa Maria-RS, visando encontrar tempos e combinações de gases mais eficazes no controle, alternativas às medidas químicas.

MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Núcleo de Pesquisa em Pós-colheita do Departamento de Fitotecnia (CCR/UFSM), Santa Maria-RS, no período de 22 de setembro a 12 de outubro de 1994.

Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, em parcelas subdivididas no tempo com quatro repetições. As subdivisões das parcelas foram as datas de amostragem dos insetos: 5, 10, 15 e 20 dias após a exposição aos tratamentos (DAT). A unidade experimental constou de um vidro de 5 litros de volume (Figura l), hermeticamente fechados, onde foram acondicionados 0,15kg de milho desinfestado. Duzentos insetos, coletados em milho infestado com Sitophilus zeamais, não sexados e de idade adulta, foram colocados nos vidros com o milho e expostos aos tratamentos.

Os tratamentos correspondem a diferentes concentrações de CO₂ e O₂ na atmosfera dos vidros, balanceado com N: 0,03% de CO₂ e 21% de O₂ (testemunha), 10% de CO₂ e 16% de O₂, 15% de CO₂ 5% de O₂, 0% de CO₂ e 1% de O₂, 15% de CO₂ e 5% de O₂ e 12% de CO₂ e 8% de O₂. Todos os tratamentos foram mantidos em câmara com temperatura de 25 ± 1°C.

A concentração de O₂ e CO₂ dos tratamentos foi determinada logo após o fechamento dos vidros. As diferentes concentrações foram obtidas através da diluição do oxigênio com injeção de nitrogênio e posterior injeção de gás carbônico até atingir os níveis estabelecidos para cada tratamento. As concentrações de CO₂ próximas a 0% foram obtidas utilizando-se cal hidratada (0,2 5 kg/vidro). A manutenção das concentrações foi realizada através de leituras diárias, com analisadores eletrônicos de CO₂ e O₂, marca Agridata-log, conforme esquema exposto na Figura l.

Para as avaliações da mortalidade, a cada cinco dias, foram retirados 30 insetos por parcela e mantidos sob condições de atmosfera normal (testemunha), por 24 horas, quando foi procedida a contagem dos insetos mortos.

Os dados (x = número de insetos mortos) foram transformados em raiz quadrada e submetidos a análise da variância e ao teste Duncan (P=0,05). Adotou-se a fórmula de ABBOTT (1925) para cálculo da eficiência de controle, ou seja. Eficiência (E%)= t-p/t_*100 onde t é a infestação nas testemunhas e p é a infestação na parcela tratada. Equação que leva em consideração a mortalidade natural (testemunha).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da eficiência, que expressaram a mortalidade de S. zeamais, calculada sobre a população sobrevivente (Tabela 1), demonstraram que ocorreu variação do controle entre tratamentos.

Aos 5 dias após tratamento (DAT) somente o tratamento com 20% de CO₂ e 16% de O₂ controlou 100% da população de S. zeamais, não diferindo, no entanto, do tratamento 15% de CO₂ e 5% de O₂ que proporcionou a mortalidade de 28 insetos da amostra.

De forma semelhante, para S. oryzae, MARZKE et al (1970) obtiveram a 27,5 ± 1°C, mortalidade total em 3 e 6 dias respectivamente, para as concentrações 39% CO₂ e 16% O₂ e 47,5% CO₂ e 13,5% O₂. Esse resultados confirmam também, a eficácia de concentrações relativamente elevadas de CO₂ no controle de S. zeamais em até 5 dias.

Aos 10 DAT, as concentrações de 20% de CO₂ e 16% de O₂ e de 15% de CO₂ e 5% de O₂ causaram mortalidade de toda a amostra de insetos. Já os tratamentos 15% de CO₂ e 16% de O₂ e 0% de CO₂ e 1% O₂ não diferiram dos primeiros, tendo no entanto, ultrapassado o padrão de 80% de controle. Esses resultados confirmam portanto que uma parcela da população de S. zeamais tolera níveis adversos CO₂ e de O₂ e que o maior tempo de exposição não propiciou o controle total de S. zeamais.

Os demais tratamentos, mesmo aos 20 DAT, não atingiram a eficiência de controle esperada. O tratamento 15% de CO₂ e 16% de O₂ apresentou, aos 15 DAT, controle levemente acima de 80% porém o mesmo não se verificou aos 20 DAT, caracterizando inconsistência nos resultados.

Com relação ao tempo mínimo para o controle de S. zeamais ficou demonstrada a necessidade de 5 dias de exposição com a concentração dos tratamentos 20% CO₂ e 16% O₂ e 15% CO₂ e 5% O₂. Já aos 10 DAT a concentração 0% CO₂ e 1% O₂ também foi eficiente no controle do inseto. KRISH-NAMURTHI et al (1986) já haviam verificado que para causar a morte de S. granarias a 20°C, ser necessário 6, 5 e mais de 8 dias, respectivamente para as concentrações de 15% CO₂ e 1% O₂, 20% CO₂ e 1% O₂ e 0% CO₂ e 1,5% O₂. De outro lado, fica comprovada a relação inversa entre o tempo necessário para o controle de S. zeamais e concentrações adversas aos insetos.

CONCLUSÕES

O controle total de Sitophilus zeamais é obtido através da exposição dos insetos em ambiente fechado por: 5 dias contendo 20% CO₂ e 16% O₂; 10 dias contendo 15% CO₂ e 5% O₂; ou 15 dias 0% CO₂ e 1% O₂.

² Engenheiro Agrônomo, Aluna do Curso de Pós-graduação em Agronomia, UFSM.

³ Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor Adjunto, Departamento de Fitotecnia, UFSM.

⁴ Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor Titular, Departamento de Defesa Fitossanitária, UFSM.

Recebido para publicação em 26.09.95. Aprovado em 20.03.96.

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¹

Engenheiro Agrônomo, MsC., Professor Substituto, Departamento de Defesa Fitossanitária, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 97119-900 - Santa Maria, RS. Autor para correspondência.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  25 Set 2008
• Data do Fascículo
  Ago 1996

Histórico

• Aceito
  20 Mar 1996
• Recebido
  26 Set 1995