Discriminação percebida por adultos mais velhos no uso de serviços de saúde: uma revisão integrativa

Braga, Luciana de Souza; Vaz, Camila Teixeira; Silva, Danielle Nunes Moura; Machado, Elaine Leandro; Friche, Amélia Augusta de Lima

doi:10.1590/1413-81232023281.08662022

Luciana de Souza Braga

concepção e desenho

aprovaram a versão final

análise e interpretação dos dados

redação

Fiocruz Minas, Belo Horizonte, MG, Brazil

Núcleo de Estudos em Envelhecimento e Saúde Pública, Universidade Federal de Minas Gerais e Fiocruz Minas. Av. Professor Alfredo Balena 190. 30130-100 Belo Horizonte MG Brasil. lusouzabraga@ufmg.br

Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte MG Brasil.

Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte MG Brasil.

http://orcid.org/0000-0003-4499-6316

Camila Teixeira Vaz

concepção e desenho

aprovaram a versão final

análise e interpretação dos dados

redação

Fiocruz Minas, Belo Horizonte, MG, Brazil

Núcleo de Estudos em Envelhecimento e Saúde Pública, Universidade Federal de Minas Gerais e Fiocruz Minas. Av. Professor Alfredo Balena 190. 30130-100 Belo Horizonte MG Brasil. lusouzabraga@ufmg.br

Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte MG Brasil.

Campus Centro-Oeste Dona Lindu, Universidade Federal de São João del-Rei. Divinópolis MG Brasil.

http://orcid.org/0000-0002-1948-8769

Danielle Nunes Moura Silva

concepção e desenho

aprovaram a versão final

análise e interpretação dos dados

revisão crítica

Programa de Pós-Graduação em Ciências Fonoaudiológicas, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte MG Brasil.

http://orcid.org/0000-0001-6255-5122

Elaine Leandro Machado

concepção e desenho

aprovaram a versão final

análise e interpretação dos dados

redação

Fiocruz Minas, Belo Horizonte, MG, Brazil

Núcleo de Estudos em Envelhecimento e Saúde Pública, Universidade Federal de Minas Gerais e Fiocruz Minas. Av. Professor Alfredo Balena 190. 30130-100 Belo Horizonte MG Brasil. lusouzabraga@ufmg.br

Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte MG Brasil.

Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte MG Brasil.

http://orcid.org/0000-0002-3226-3476

Amélia Augusta de Lima Friche

concepção e desenho

aprovaram a versão final

revisão crítica

Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte MG Brasil.

Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte MG Brasil.

Programa de Pós-Graduação em Ciências Fonoaudiológicas, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte MG Brasil.

http://orcid.org/0000-0002-2463-0539

Editores-chefes:

Romeu Gomes, Antônio Augusto Moura da Silva

Autores/ano	País	Desenho	Objetivos	População (n, idade, sexo)
Mandelblatt et al., 2002	EUA	Transversal	Descrever os fatores associados ao tipo de tratamento segundo raça/cor e associação entre discriminação percebida por idade e raça/cor e o tratamento.	1.833, ≥ 67 anos, F
Macinko et al., 2012	BRA	Transversal	Estimar a prevalência de discriminação e seus fatores associados.	12.930, ≥ 20 anos, F e M
Kronish et al., 2013	EUA	Transversal	Identificar as principais barreiras à adesão à medicação de sobreviventes de AVC e ataque isquêmico transitório de baixa renda.	600, ≥ 40 anos, F e M
Mulumba et al., 2014	UGA	Qualitativo	Compreender as percepções e experiências de pessoas com deficiências e idosos sobre o acesso a serviços sociais e de saúde pública.	Não reportado, ≥ 60 anos, F e M
Sharek et al., 2015	IRL	Métodos mistos	Avaliar as experiências e preocupações de adultos mais velhos LGBT no uso de serviços de saúde, assim como suas preferências e sugestões de melhoria.	144 (estudo quantitativo) e 36 (estudo qualitativo), ≥ 55 anos
Becerra et al., 2015	EUA	Transversal	Avaliar a relação entre aculturação linguística e as percepções de latinos sobre a qualidade do cuidado em saúde, discriminação e acesso a informações de saúde.	4.013, ≥ 18 anos, F e M
Guruge et al., 2015	CAN	Revisão de escopo	Identificar os determinantes sociais da saúde mental de imigrantes idosos no Canadá, suas iniquidades e as barreiras de acesso aos serviços de saúde mental.	3.473, ≥ 15 anos, 1 estudo apenas F e os 19 restantes F e M
Rogers et al., 2015	EUA	Longitudinal	Avaliar a prevalência de discriminação no uso de serviços de saúde e examinar o risco de uma nova incapacidade ou a piora de uma incapacidade prévia.	6.017, ≥ 50 anos, F e M
Boccolini et al., 2016	BRA	Transversal	Avaliar os fatores associados à discriminação percebida no uso de serviços de saúde no Brasil.	60.202, ≥ 18 anos, F e M
Morgan et al., 2016	AUS	Qualitativo	Investigar a prevalência e a natureza da discriminação percebida por adultos com transtorno mental no uso de serviços de saúde, bem como as experiências de tratamento positivo.	1.381, ≥ 18 anos, F e M
Ye et al., 2016	AUS	Métodos mistos	Investigar os níveis de discriminação vivenciados por pessoas com doença mental grave e persistente e investigar a natureza da discriminação antecipada e positiva.	50, ≥ 18 anos, F e M
Kattari et al., 2017	EUA e PUR	Transversal	Identificar a associação entre discriminação percebida no uso de serviços sociais e incapacidade (física, de aprendizagem, socioemocional e múltiplas) entre pessoas transgênero e não conformes de gênero.	6.456, ≥ 18 anos, transgêneros
Nguyen et al., 2018	EUA	Longitudinal	Avaliar a tendência da discriminação autopercebida no uso de serviços de saúde, incluindo discriminação por raça/etnia.	13.897, ≥ 54 anos, F e M
Baumgarten et al., 2018	BRA	Transversal	Avaliar os fatores associados à discriminação no uso de serviços de saúde e se a discriminação associada à estética dentária varia em função do sexo.	433, ≥ 18 anos, F e M
Blachnio & Bulinski, 2019	POL	Transversal	Avaliar o bem-estar, a condição de saúde e o acesso aos serviços de saúde entre adultos mais velhos, considerando o local de moradia.	459, 65-93 anos, F e M
Polacsek et al., 2019	AUS	Qualitativo	Identificar as barreiras e facilitadores para buscar cuidado em saúde entre adultos mais velhos com diagnóstico de depressão.	32, ≥ 65 anos, F e M
Motsohi et al., 2020	RSA	Qualitativo	Avaliar a experiência de adultos mais velhos na atenção primária à saúde, a partir de dois centros de saúde comunitários e identificar lacunas no cuidado ofertado.	33, ≥ 60 anos, F e M
Nong et al., 2020	EUA	Transversal	Avaliar a prevalência de discriminação no uso de serviços de saúde no país entre adultos, sua frequência e principais tipos e comparar as prevalências de discriminação entre grupos demográficos.	2.137, ≥ 21 anos, F e M
Temple et al., 2021	AUS	Transversal	Avaliar a prevalência, o contexto e os tipos de discriminação relatados por pessoas que vivem com problemas de saúde mental e a associação da exposição à discriminação com a experiência de uma barreira ao acesso à saúde.	4.967, ≥ 55 anos, F e M

Autores/ano	Tipologia da discriminação	Instrumento/pergunta	Prevalência da DUSS e fatores associados
Macinko et al., 2012	Não especificado	Não há escala. Os participantes responderam à pergunta: “Have you felt yourself to be the victim of any type of discrimination [...] when seeking healthcare services?”.	2,03% Associação positiva com sexo feminino, quintil inferior de riqueza e ter alguns ou muitos problemas de saúde.
Becerra et al., 2015	DCSE DL DR	Não há escala. Participantes que relataram tratamento médico de baixa qualidade, responderam à pergunta: Do you think you received poor quality of medical treatment or care because: (1) [...] you were not able to pay? (2) [...] of your racial/ethnic background?; and (3) [...] of your accent?”	Prevalência não estimada. Associação positiva com ser latino (DCSE, DR). Associação positiva com níveis mais baixos de aculturação (DCSE, DL). Associação negativa com maior renda (DCSE, DR).
Boccolini et al., 2016	DCSE DG DI DO DOS DR DRC DTD	Não há escala. Participantes responderam à questão: “O(a) Sr(a) já se sentiu discriminado(a) ou tratado(a) pior do que as outras pessoas no serviço de saúde, por algum médico ou outro profissional de saúde”, sendo perguntados os motivos: “falta de dinheiro; classe social; raça/cor; tipo de ocupação; tipo de doença; preferência sexual; religião/crença; sexo; idade; ou por outro motivo?”.	10,6% Associação positiva com morar nas regiões N, CO e DF e NE; ser homem; não ter instrução/nível fundamental incompleto; faixa etária entre 30 e 59; raça/cor não branca; e não possuir plano privado de saúde (DCSE).
Kattari et al., 2017	Não especificado	Não há escala. Participantes responderam se já haviam vivenciado experiência discriminatória devido à sua identidade ou expressão de gênero no uso de serviços de saúde.	SSM: 17,3% (usuários com incapacidade) e 6,2% (usuários sem incapacidade). SVVS: 7,8% (usuários com incapacidade) e 3,3% (usuários sem incapacidade). SDQ: 4,7% (usuários com incapacidade) e 2,0% (usuários sem incapacidade).
Kattari et al., 2017			SSM: Associação positiva com se autodeclarar latino ou multirracial; orientação sexual que não se enquadra nas definições de heterossexual/gay/lésbica/bissexual/queer/assexuado; e IF, IS, DA ou IM. Associação negativa com maior renda, idade e não viver a identidade de gênero integralmente. SVVS: associação positiva com ter pós-graduação; se autodeclarar latino; e DA ou IM. Associação negativa com maior renda e idade. SDQ: associação positiva com se autodeclarar latino ou multirracial; ser bissexual ou queer; e IM. Associação negativa com maior renda e idade.
Nguyen et al., 2018	DI DDF DG DR	Item da Everyday Discrimination Scale: “In your day-to-day life, how often have any of the following things happened to you? You receive poorer service or treatment than other people from doctors or hospitals.”	Negros: 27% (2008) e 20% (2014). Brancos: 18% (2008) e 17% (2014). Hispânicos: ? 16% (2008 e 2014). Associação positiva com sexo masculino e ser negro com maior nível socioeconômico. Associação negativa com idade, ter emprego e ser casado.
Baumgarten et al., 2018	DCSE	Item da Explicit Discrimination Scale: “While visiting health centres, hospitals or other health services, have you ever been treated in an inferior manner compared to other people?”.	9,7% (indivíduos com 55 anos e mais). Associação positiva com dentes desalinhados e manchados.
Nong et al., 2020	DCSE DG DI DP DR	Major Experiences of Discrimination e Experiences of Discrimination (adaptadas). Os participantes responderam se já haviam sido discriminados, incomodados ou se já haviam se sentido inferiores ao receber atendimento médico. Em caso afirmativo eles deveriam indicar o principal motivo dessa experiência e a frequência com que sofreram essa discriminação.	21,4% Associação positiva com sexo feminino. Associação negativa com idade, renda domiciliar anual de pelo menos U$50 mil e autoavaliação de saúde boa ou excelente.

Autores/ano	Tipologia da discriminação	Instrumento/pergunta	Prevalência da DUSS e fatores associados
Mandelblatt et al., 2002	DI DR	Ageism scale	Negras: 8,6% (DI) e 8,9% (DR); Brancas: 7,6% (DI) e 7,8% (DR). Associação positiva entre o segundo, terceiro e quarto quartil de DI e mastectomia.
Kronish et al., 2013	DCSE DR	Não há escala. Participantes responderam com que frequência se sentiram discriminados por médicos ou profissionais de saúde no uso de serviços de saúde devido à sua raça/etnia e à sua escolaridade ou renda.	Total: 30%. Participantes com adesão satisfatória ao tratamento medicamentoso: 21,6%. Participantes sem adesão satisfatória: 42,2%. Associação positiva entre DR e DCSE e não adesão ao tratamento medicamentoso, na amostra total e entre hispânicos.
Rogers et al., 2015	DDF DG DI DR	Item da Everyday Discrimination Scale: “In your day-to-day life, how often have any of the following things happened to you? You receive poorer service or treatment than other people from doctors or hospitals.”	18,6%. Associação positiva entre discriminação e maior risco de novas incapacidades ou piora de uma incapacidade prévia nos últimos 4 anos.
Temple et al., 2020	DDF DG DI DO DR	Não há escala. Os participantes que relataram experiências discriminatórias nos últimos 12 meses responderam à pergunta “In the past 12 months, do you feel that you have experienced discrimination or have been treated unfairly [...] dealing with people involved in healthcare?”	Participantes com transtorno mental: 23,1 a 28,1%. Participantes sem transtorno mental: 9,4 a 10,4%. Associação positiva entre discriminação e a vivência de barreiras no cuidado em saúde, para indivíduos com e sem transtorno mental.

Autores/ano	Tipologia da discriminação	Instrumento/pergunta	Prevalência/proporção e principais resultados
Mulumba et al., 2014	DI	Não especificado.	Os participantes reportaram falta de acesso a medicamentos e a serviços de saúde apropriados, em decorrência das experiências discriminatórias, especialmente DI no grupo de adultos mais velhos.
Sharek et al., 2015	DOS	Não especificado.	Entre os participantes que reportaram baixa qualidade de atendimento ao utilizarem serviços de saúde, 54% atribuíram essa experiência à DOS. 22% dos participantes não revelariam sua identidade LGBT aos profissionais de saúde por temerem reações negativas.
Guruge et al., 2015	DI	Não especificado.	Os participantes reportaram DI como barreira de acesso aos serviços de saúde mental.
Morgan et al., 2016	DTM	Não há escala. Os participantes responderam à pergunta “Have you been discriminated against by a health professional because of the emotional or mental health problems that you told me about, for example, by a GP, counsellor, dentist, or nurse?” e “Have you been treated more positively by a health professional because of these problems?”.	11,8%. Os participantes reportaram que suas experiências mais comuns de discriminação foram ser tratado com desprezo, ser julgado e não ser ouvido, principalmente no que diz respeito à história pessoal e às necessidades de tratamento.
Ye et al., 2016	DG DI DOS DR	Discrimination and Stigma Scale versão 12 (DISC-12)	SSG: 18%. SSM: 42%. Os participantes que reportaram discriminação pelos profissionais de saúde relataram que sua experiência mais comum de discriminação foi ser forçado a tomar medicação contra a sua vontade.
Blachnio & Bulinski, 2019	Não especificado	Não especificado. Participantes responderam se já haviam sofrido discriminação pelos profissionais médicos.	Residentes em vilas: 21%. Residentes em cidades pequenas: 24%. Residentes em cidades grandes: 33%.
Polacsek et al., 2019	DI	Não há escala. Os participantes responderam à pergunta: “What effect, if any, do you think a health professional’s perception of your age might have on their beliefs about your ability or capacity to manage your depression?”	Os participantes reportaram DI como barreira para a busca de cuidado em saúde.
Motsohi et al., 2020	DI	Não especificado.	Os participantes reportaram DI nos serviços de saúde avaliados, principalmente na forma como a equipe se comunica com os adultos mais velhos. Queixas de falta de gentileza e necessidades não atendidas, além de muitas demandas avaliadas pelos profissionais como “questões da idade”, não tratáveis.

[1] Editores-chefes:

Romeu Gomes, Antônio Augusto Moura da Silva

Brasil

Brasil

Discriminação percebida por adultos mais velhos no uso de serviços de saúde: uma revisão integrativa

Discrimination perceived by elderly adults in the use of health services: an integrative review

Resumo