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Agradeço aos colegas pela cuidadosa leitura do texto, pelo tempo investido em sua análise e sobretudo pelas sugestões e contribuições que tanto enriqueceram este debate.

Ciro Mortella enfatiza o papel do setor privado assinalando, com propriedade, que o texto não detalha nem suas relações com organismos governamentais indutores nem sua inserção nas prioridades em saúde pública. Esta é, sem dúvida, uma área importante que por problemas de espaço não pude abordar em mais profundidade. Aos leitores interessados neste tópico aconselho a leitura dos trabalhos que citei de Michael Reich, nos quais o autor aborda o papel de parcerias público-privado na área da saúde, em particular no desenvolvimento de novas intervenções direcionadas ao controle de doenças endêmicas e no seu acesso por populações carentes. Os interessados no papel e no desenvolvimento de parcerias público-privado globais devem consultar os trabalhos de Buse e Walt que descrevem a evolução destas parcerias nas últimas décadas (Buse, 2000a; 2000b). Finalmente diria que estou de pleno acordo com a necessidade de uma reflexão sobre o papel deste setor no nosso país na área da saúde e numa análise comparativa com o que acontece em outros países como a Coréia. Apenas um esclarecimento em relação à sua primeira frase. Afirmei que a saúde, além de conseqüência do desenvolvimento econômico, está também sendo reconhecida como um de seus requisitos ­ ou seja, está implícito o reconhecimento de que o desenvolvimento econômico contribui para a melhoria das condições de saúde.

Cristovam Wanderley Picanço Diniz enfatiza com propriedade, ao longo de todo seu texto, o papel primordial e insubstituível da educação no desenvolvimento da ciência e da tecnologia e na melhoria da saúde. Lembra a dicotomia entre as boas intenções sempre apregoadas e o pouco que se conseguiu ao longo de nossa história. Mas creio que assume uma posição excessivamente pessimista, quando nega a possibilidade de saltos científico-tecnológico-sanitários. Nossa história mostra que isto é possível. Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, no começo do século passado, lideraram um dos grandes saltos científico-tecnológico-sanitários de nossa história: criaram uma verdadeira escola de pensamento e ação em saúde pública, a Escola de Manguinhos; realizaram um dos maiores feitos médicos de todos os tempos, a descoberta da doença de Chagas, do seu agente etiológico e do inseto vetor; livraram o Brasil de endemias que impediam o comércio internacional e o nosso desenvolvimento. Concordo que saltos dessa magnitude não são fáceis nem freqüentes ­ mas são possíveis e é nossa responsabilidade coletiva lutar para tentar viabilizá-los.

Wanderley de Souza, que também enfatiza o item educação ­ a base fundamental para que os outros tenham sucesso ­, ressalta que novos e importantes mecanismos indutores e financiadores para a pesquisa estão sendo implementados, como os Fundos Setoriais de Saúde e de Biotecnologia. Relata duas experiências e histórias de sucesso da ciência brasileira: 1) os resultados alcançados pelo Programa Integrado de Doenças Endêmicas (PIDE), de vida curta mas gloriosa e que tanto impulsionou "a moderna biologia molecular brasileira"; 2) o florescimento da pesquisa básica e aplicada no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho pela acertada escolha de um sistema modelo biológico nacional, o nosso peixe elétrico ou poraquê da Amazônia ­ Electrophorus electricus para os iniciados. Wanderley acredita que experiências de sucesso como essas devem estar na base de futuras reflexões sobre as políticas de ciência e tecnologia em saúde, com o que concordo plenamente.

Foi um prazer ler os comentários desses colegas, suas contribuições em áreas nas quais não pude me aprofundar e suas notas de cautela contra um otimismo excessivo. Mas creio que compartilhamos um "otimismo realista" ao acreditarmos que nosso país tem, sim, condições básicas para colocar a ciência e a tecnologia a serviço da saúde e de um desenvolvimento com mais eqüidade econômica e social.

Referências bibliográficas

Buse K & Walt G 2000a. Global public-private partnerships: part I ­ a new development in health?Bulletin of the World HealthOrganization 78:549-561.

Buse K & Walt G 2000b. Global public-private partnerships: part II ­ what are the health issues for global governance? Bulletin of the World Health Organization 78:699-709.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jun 2007
  • Data do Fascículo
    Jun 2004
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