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Aproximação à intimidade masculina no âmbito da saúde sexual: uma reflexão sobre práticas metodológicas no processo de investigação

Resumo

Na opção por procedimentos pouco padronizados de recolha de informação, a análise critica dos métodos de pesquisa tendo em conta as particularidades do objeto de estudo é fundamental para o desenvolvimento de um processo de investigação rigoroso e produtivo. Este artigo pretende apresentar uma reflexão em torno das opções e das práticas metodológicas na aproximação à intimidade masculina, englobando as representações sociais dos homens sobre saúde e doença sexual, as suas experiências e a utilização dos cuidados de saúde. Recorrendo aos contributos de vários autores, destaca-se a investigação qualitativa como opção metodológica, a entrevista como técnica de recolha de dados, a seleção e o acesso aos participantes. Na abordagem acerca da entrevista incluem-se as possibilidades e dificuldades decorrentes da interação entre o investigador e os participantes, os desafios relativos às especificidades dos entrevistados e as implicações da identidade do investigador.

Palavras-chave:
Pesquisa qualitativa; Masculinidades; Metodologia; Sexualidade

Abstract

When opting to use non-standardized data collection procedures, the critical analysis of research methods considering the particularities of the object of study is essential to ensure a rigorous and productive research process. This article presents some reflections about methodological options and practices that can be used to approach male intimacy, considering men’s experiences with sexual health articulated with social representations and health care utilization. Drawing on the contributions of several authors, we focus on qualitative investigation, the use of interviews for data collection and the selection of and access to participants. Concerning interviews, we highlight the possibilities and challenges of investigator-participant interaction and issues related to the specificities of interviewees and the investigator’s identity.

Key words:
Qualitative research; Masculinities; Methodology; Sexuality

Introdução

A constatação da invisibilidade dos homens enquanto sujeitos dos cuidados de saúde, no âmbito sexual e reprodutivo, realça a complexidade, da abordagem deste tema pela sua natureza íntima, privada e subjetiva11 Tereso A. Representações Sociais dos Homens Sobre Saúde Sexual e a Utilização de Cuidados de Saúde [tese]. Lisboa: ISCTE-IUL; 2019. em que se radicam as representações sociais. Por um lado, é considerada uma realidade que tem a ver com a consciência individual situada no domínio privado das relações sexuais e também pensada como pertencendo apenas às subjetividades individuais. Mas, por outro lado, os processos de saúde/doença sexual conferem-lhe um caracter de permeabilidade pública, em que se constroem e reconstroem complexas relações entre comportamentos e atitudes individuais no âmbito da sexualidade, fatores sociais, papéis de género e a utilização dos cuidados de saúde22 Paiva MS, Amâncio L. Implicações das Representações Sociais na Vulnerabilidade de Género para Sida/aids entre Jovens Universitários: Estudo Comparativo Brasil Portugal [Internet]. Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra; 2014 [acessado 2021 nov 20]. Disponível em: www.ces.uc.pt/lab2004/pdfs/MirianSantosPaiva.pdf.
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Neste cenário as representações sociais assumem especial relevância pois interferem na perceção que o indivíduo tem dele próprio e dos outros, traduzem-se no seu comportamento e nas suas relações com os grupos e surgem como modalidades de conhecimento socialmente elaboradas e partilhadas, contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social33 Herzlich C. Santé et Maladie: Analyse d'une Representation Sociale. Paris: École des Hautes Études en Sciences Sociales; 1992.

4 Jodelet D. Les Représentations Sociales. Paris: PUF; 1989.
-55 Moscovici S. Psychologie Sociale. Paris: PUF; 1984..

Flick66 Flick U. Métodos Qualitativos na Investigação Científica. Lisboa: Monitor; 2005. defende que a investigação qualitativa engloba a escolha adequada das teorias e dos métodos, ajustados à complexidade do objeto de estudo, o reconhecimento e a análise de diferentes perspetivas, a reflexão do investigador sobre o estudo como parte do processo de produção do conhecimento e a avaliação da variedade de métodos e de perspetivas. Para além destes aspetos, e como parte integrante na produção do conhecimento22 Paiva MS, Amâncio L. Implicações das Representações Sociais na Vulnerabilidade de Género para Sida/aids entre Jovens Universitários: Estudo Comparativo Brasil Portugal [Internet]. Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra; 2014 [acessado 2021 nov 20]. Disponível em: www.ces.uc.pt/lab2004/pdfs/MirianSantosPaiva.pdf.
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, o autor inclui a interação do investigador com o campo e com os sujeitos de investigação, o que, em virtude da temática abordada merece especial atenção, pois trata-se de um fenómeno tradicionalmente confinado aos espaços íntimos, fechados77 Soares KG, Meneghel SN. O silêncio da sexualidade em idosos dependentes. Cien Saude Colet 2021; 26(1):129-136. e de difícil acesso.

Na produção de conhecimento em torno da experiência de saúde/doença sexual dos homens articulada com as representações sociais e com a utilização dos cuidados de saúde, a análise da metodologia de aproximação à intimidade masculina defende a centralidade das metodologias qualitativas.

Métodos

A reflexão sobre as opções e as práticas metodológicas no domínio da saúde sexual e da sexualidade masculina, convoca a mobilização vários autores para ancorar a análise sobre a investigação qualitativa como método, a entrevista como técnica privilegiada de recolha de dados (destacando as possibilidades e dificuldades na interação entre o investigador e os participantes, os desafios relativos às especificidades dos entrevistados, a identidade do investigador), e a seleção e o acesso aos participantes. Para a clarificação do conceito de metodologia, destaca-se Minayo et al.88 Minayo MCS, Deslandes SF, Cruz Neto O, Gomes R. Pesquisa Social. Teoria Método e Criatividade. 21ª ed. Petropólis: Editora Vozes; 2002., que na sua definição inclui as conceções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a construção da realidade e o potencial criativo do investigador. Na abordagem que se apresenta, pretende-se que a pesquisa bibliográfica coloque “frente a frente os desejos do pesquisador e os autores envolvidos em seu horizonte de interesse”99 Cruz Neto O. O Trabalho de Campo como Descoberta e Criação In: Minayo MCS, Deslandes SF, Cruz Neto O, Gomes R. Pesquisa Social. Teoria Método e Criatividade. 21ª ed. Petropólis: Editora Vozes; 2002. p. 51-66.(p.53), contribuindo para fundamentar as opções e a reflexão.

A investigação qualitativa como opção

Contrastando com o paradigma científico da investigação baseada em metodologias quantitativas, nas décadas de 1960 e de 1970, a investigação qualitativa desenvolveu-se, adotando uma posição epistemológica descrita como interpretativa1010 Bryman A. Social Research Methods. 4ª ed. New York: Oxford University Press; 2012..

Como principais contrastes, Clark et al.11 realçam que a investigação qualitativa se caracteriza por: incidir sobre o ponto de vista dos participantes e não sobre o do investigador; implicar a proximidade do investigador com o investigado; privilegiar a teoria e os conceitos que emergem dos dados; incidir sobre a dinâmica do processo e não sobre a estática da imagem; ser menos estruturada; privilegiar a compreensão contextual em detrimento da generalização; valorizar a riqueza e a profundidade dos dados em vez de a sua redução aos critérios da validade; abarcar níveis micro e abordar os significados1111 Clark T, Foster L, Bryman A, Sloan L. Bryman's Social Research Methods Sixth Edition. New York: Oxford University Press; 2021.. Os autores realçam ainda que na investigação qualitativa é valorizada a descrição e a compreensão contextual do comportamento social, dos valores e de todos os outros aspetos que podem ser considerados1111 Clark T, Foster L, Bryman A, Sloan L. Bryman's Social Research Methods Sixth Edition. New York: Oxford University Press; 2021..

Tendo como objeto de estudo a saúde sexual dos homens, e a necessidade de aproximação à intimidade masculina, importa que o investigador aceite os desafios metodológicos qualitativos em virtude da sua complexidade, que requer sensibilidade, pela sua natureza delicada, que toca a esfera íntima de cada indivíduo, e pelas formas como se pode encontrar camuflada na esfera pública, na qual se inscrevem os cuidados de saúde sexual11 Tereso A. Representações Sociais dos Homens Sobre Saúde Sexual e a Utilização de Cuidados de Saúde [tese]. Lisboa: ISCTE-IUL; 2019..

Flick66 Flick U. Métodos Qualitativos na Investigação Científica. Lisboa: Monitor; 2005. defende que a pesquisa qualitativa não se baseia numa conceção teórica e metodológica única e que a sua prática se carateriza por uma multiplicidade de abordagens teóricas e pelos respetivos métodos. Na temática que se apresenta, as opiniões de cada sujeito constituem-se como o ponto de partida, seguido do estudo da construção das interações no decurso das experiências de saúde e doença sexual, e da procura da reconstituição das estruturas do espaço social e do significado latente da procura de cuidados de saúde sexual.

Entrevista como a técnica de recolha de dados e a interação entre o investigador e os participantes

No planeamento de estudos qualitativos, a técnica de eleição para colheita de dados é a entrevista que abarca várias possibilidades como a entrevista de grupo ou a entrevista individual que pode ser semiestruturada (semipadronizada) ou não estruturada (não padronizada ou livre)1212 Fortin MF. Fundamentos e Etapas do processo de investigação. Loures: Lusodidacta; 2009., uma vez que a estruturada (padronizada) é mais utilizada em estudos quantitativos1313 Streubert HJ, Carpenter DR. Investigação qualitativa em enfermagem: avançando o imperativo humanista. Loures: Lusodidata; 2011.. Apesar das diferentes modalidades, a entrevista obriga a um planeamento metodológico em função dos objetivos, das questões de investigação e da finalidade do estudo. Como tal, importa perceber e definir, à partida: o tipo de interação que se pretende estabelecer com o entrevistado, o grau de intensidade e/ou extensividade da informação que se quer recolher e a formulação e estruturação do instrumento1414 Sá P, Costa AP, Moreira A. Reflexões em torno de Metodologias de investigação: recolha de dados. Vol. 2. Aveiro: UA Editora; 2021..

Os grupos focais constituem-se como uma forma específica de entrevista de grupo com a intenção de explorar a sua dinâmica1515 Freeman T. "Best Practice" in Focus Group Research: Making sense of different views. J Adv Res 2007; 56(5):491-497. e apesar de não terem surgido na tradição qualitativa como método de colheita de dados, constituem uma alternativa a ter em consideração quando se valoriza a riqueza da colheita de dados1313 Streubert HJ, Carpenter DR. Investigação qualitativa em enfermagem: avançando o imperativo humanista. Loures: Lusodidata; 2011.,1616 Morgan DL. Basic and advanced focus group. Thousand Oaks: Sage; 2019.. Esta técnica que apresenta várias vantagens como permitir que as informações recolhidas vão além das respostas verbais, na abordagem da saúde sexual ou da sexualidade dos homens, pode colocar alguns desafios. Destes destaca-se a dificuldade de os participantes exporem assuntos íntimos em grupo, a falta de literacia sobre estas temáticas que pode condicionar a partilha de ideias e opiniões por terem receio de não se expressarem de forma adequada1717 Luke M, Goodrich K. Focus Group Research: An Intentional Strategy for Applied Group Research? J Specialists Group Work 2019; 44(2):77-81. e as questões éticas que se colocam aos investigadores na garantia da confidencialidade da informação obtida e da pseudonimização dos participantes1818 Sim J, Waterfield J. Focus group methodology: some ethical challenges. Quality Quantity 2019; 53(6):3003-3022..

A entrevista individual destaca-se pelas possibilidades que oferece na recolha de informação para a compreensão de significados e sentidos1414 Sá P, Costa AP, Moreira A. Reflexões em torno de Metodologias de investigação: recolha de dados. Vol. 2. Aveiro: UA Editora; 2021. permitindo o acesso às representações sociais dos participantes, às suas conceções da realidade e ao sentido que atribuem às suas ações1919 Morgado JC. O Estudo de Caso na Investigação em Educação. 4ª ed. Santo Tirso: De Facto Editores; 2013.. A sua utilização é útil na exploração de tópicos de estudo com os quais não se está familiarizado e que estejam pouco estudados2020 Coutinho CP. Metodologia de Investigação em Ciências Sociais e Humanas: teoria e prática. Coimbra: Almedina; 2011..

Numa pesquisa qualitativa, a natureza da informação que se pretende obter pode implicar a construção de um guião com base numa seleção criteriosa dos temas sobre os quais se procura obter reações por parte dos entrevistados e considerar as possibilidades de adaptação do guião a cada situação e às particularidades dos inquiridos.

Na sequência destas opções e, refletindo sobre técnicas e métodos de investigação, considera-se a entrevista semiestruturada, como a técnica privilegiada para a recolha de dados. O recurso à inclusão de tópicos ou questões em “árvore”, cuja seleção é determinada pelas respostas precedentes, estimula as respostas e permite evitar perguntas irrelevantes66 Flick U. Métodos Qualitativos na Investigação Científica. Lisboa: Monitor; 2005. o que pode ser um bom auxílio na abordagem de temas acerca dos quais os participantes evidenciam baixa literacia e falta de à-vontade para se expressarem.

Num estudo que tinha como objetivo analisar as vivências de idosos dependentes em relação à sexualidade, Soares e Meneghel77 Soares KG, Meneghel SN. O silêncio da sexualidade em idosos dependentes. Cien Saude Colet 2021; 26(1):129-136., optaram pela entrevista semiestruturada com tópicos sobre sexualidade entre outros aspetos da vida quotidiana. Estes autores, surpreendentemente, constataram que muitos dos investigadores que participaram na realização de entrevistas não tinham abordado as questões relativas à sexualidade por terem dificuldades em falar sobre estas temáticas com os idosos. Neste âmbito, é relevante a reflexão sobre o conceito de entrevistar, uma vez que tem subjacente o conceito de interação e que a entrevista pode ser considerada como o objeto ou como o instrumento da sociabilidade sociológica2121 Denzin NK, Lincoln YS, organizadores. Strategies of Qualitative Inquiry. 4ª ed. London: SAGE Publications; 2013.. Tendo em conta o objeto de estudo e as perspetivas de alguns autores, que enfatizam os entrevistadores como participantes ativos na interação com os entrevistados, e que realçam a importância do seu enquadramento pelos contextos e pelas situações em que as entrevistas acontecem2222 Fontana A, Frey JH. The Interview: From Structured Questions to Negotiated Text. In: Denzin NK, Lincoln YS. Handbook of Qualitative Research. 2ª ed. Thousand Oaks: SAGE Publications; 2000. p. 645-672., emergiu a necessidade de refletir sobre algumas particularidades desta técnica.

Inquirir sobre um tema tão carregado de subjetividade como a saúde sexual dos homens, independentemente da sua orientação sexual, conduz ao questionamento das particularidades do próprio investigador: O que significa para o(a) investigador(a), ter como objeto de estudo a saúde sexual dos homens? Que constrangimentos/potencialidades se anteveem ao propor a realização de entrevistas como técnica privilegiada para a colheita de dados sobre uma área tão íntima e tão privada? Que estratégias planear para aceder à “experiência vivida” dos homens, procurando englobar o discursivo, o simbólico e o institucional44 Jodelet D. Les Représentations Sociales. Paris: PUF; 1989.?

Fontana e Frey2222 Fontana A, Frey JH. The Interview: From Structured Questions to Negotiated Text. In: Denzin NK, Lincoln YS. Handbook of Qualitative Research. 2ª ed. Thousand Oaks: SAGE Publications; 2000. p. 645-672. consideram que nas entrevistas semiestruturadas as características como a idade, o género e a experiência do entrevistador têm um impacto relativamente pequeno nos discursos produzidos. No entanto, de acordo com Clark et al.1111 Clark T, Foster L, Bryman A, Sloan L. Bryman's Social Research Methods Sixth Edition. New York: Oxford University Press; 2021. aspetos como a etnia, a classe social, o género e a interação que é criada entre entrevistador e entrevistado podem ser considerados como constrangimentos. Fontana e Frey2222 Fontana A, Frey JH. The Interview: From Structured Questions to Negotiated Text. In: Denzin NK, Lincoln YS. Handbook of Qualitative Research. 2ª ed. Thousand Oaks: SAGE Publications; 2000. p. 645-672. acrescentam que a entrevista toma lugar num contexto de interação social, que é influenciada por esse contexto e que um entrevistador atento deve reconhecer este facto e ser sensível à forma como a interação pode influenciar os discursos dos entrevistados. Converse e Schuman23 mencionam ainda que os entrevistadores devem estar cientes das diferenças entre os participantes e serem capazes de fazer ajustamentos adequados perante desenvolvimentos discursivos e situações imprevistas.

O interesse pelo ponto de vista de cada participante, a flexibilidade na utilização do guião (que inclui a possibilidade de circunstancialmente serem elaboradas questões para esclarecer algum aspeto relevante que tenha sido verbalizado pelo entrevistado), a liberdade de expressão que permite a cada entrevistado e a orientação dos pontos a abordar pelo(a) entrevistador(a)1111 Clark T, Foster L, Bryman A, Sloan L. Bryman's Social Research Methods Sixth Edition. New York: Oxford University Press; 2021., contribuem para a seleção da entrevista semiestruturada como a opção de eleição. No entanto, para a aplicação desta técnica respeitando a liberdade de expressão dos participantes é fundamental ter em consideração a situação e os fatores implicados, nomeadamente: as preferências dos entrevistados relativamente aos espaços onde as entrevistas vão decorrer, as condições para a salvaguarda da intimidade e da privacidade, o tempo de duração, a disponibilidade do entrevistado para responder naquele momento específico, a destreza do investigador na utilização do guião. Importa ainda ter em atenção os aspetos éticos relembrando aos participantes a liberdade de desistirem sem ter de dar explicações ou de não responderem a alguma ou algumas das perguntas.

Desafios relativos às especificidades dos entrevistados

Na realização de entrevistas é relevante ter em consideração os fatores associados aos entrevistados que, segundo Ghiglione e Matalon2424 Ghiglione R, Matalon B. O Inquérito: Teoria e Prática. 4ª ed. Oeiras: Celta Editora; 2001. podem ser divididos em fatores de ordem cultural, mnemónica, cognitiva, motivacional e conjuntural. No plano cultural, destaca-se o capital verbal dos entrevistados e as suas implicações na compreensão das questões. A realização de um estudo sobre um tema considerado tabu, que não integra os discursos quotidianos, pode implicar a escassez de capital verbal dos entrevistados acerca do tema. Esta, pode traduzir-se na dificuldade dos participantes em encontrarem termos para expressarem os seus pensamentos ou opiniões e na abordagem de alguns termos tais como “saúde sexual” e “problemas sexuais”. Independentemente da idade e da classe social, muitos dos entrevistados poderão evidenciar lacunas na apropriação da linguagem relacionada com a sexualidade e com a sua saúde sexual, o que dificulta um discurso fácil e fluido. Em um estudo efetuado por Tereso11 Tereso A. Representações Sociais dos Homens Sobre Saúde Sexual e a Utilização de Cuidados de Saúde [tese]. Lisboa: ISCTE-IUL; 2019. no qual optou pela entrevista semiestruturada para recolha de dados, a investigadora foi confrontada com expressões tais como: “eu só sei os termos que não são muito próprios”; “a gente entre nós chama-lhe [...]”. Das dificuldades mencionadas pela autora, realça-se a verbalização do recurso a prostitutas, a designação dos órgãos genitais masculinos, situações de infeções sexualmente transmissíveis, relações sexuais, masturbação e disfunção ejaculatória.

No plano cultural podem ser incluídos fatores relativos às especificidades da técnica da entrevista, ao receio dos participantes em se submeterem à realização da entrevista e ao seu registo áudio2424 Ghiglione R, Matalon B. O Inquérito: Teoria e Prática. 4ª ed. Oeiras: Celta Editora; 2001.. No âmbito de pesquisas sobre aspetos relacionados com a sexualidade e a saúde sexual, realça-se a necessidade do investigador utilizar linguagem percetível, de reformular os temas propostos, sempre que necessário, de utilizar a linguagem não-verbal, facilitadora da comunicação, e de planear o posicionamento dos gravadores de forma a minimizar o desconforto dos entrevistados.

Os fatores mnemónicos, que dizem respeito à capacidade que o individuo tem de recordar informações relacionadas com o tema proposto2424 Ghiglione R, Matalon B. O Inquérito: Teoria e Prática. 4ª ed. Oeiras: Celta Editora; 2001., neste tipo de estudos podem não constituir uma dificuldade.

Os aspetos cognitivos estão ligados à experiência pessoal do entrevistado e enfatizam a importância do seu quadro de referência. “Na medida em que o quadro de referência do indivíduo determina as conotações das palavras utilizadas, e, portanto, define em parte o seu sentido, é primordial conhecê-lo”2424 Ghiglione R, Matalon B. O Inquérito: Teoria e Prática. 4ª ed. Oeiras: Celta Editora; 2001. (p.74). Estes aspetos, que englobam a educação, as experiências, convicções morais, religiosas, políticas, entre outros, devem ser tidos em consideração, não só na construção do guião das entrevistas, mas também na realização das mesmas. Cada entrevista constituiu-se como um momento de interação social em que o investigador se vai apropriando da multiplicidade de quadros de referência, da variedade de conotações dos termos relacionados com o objeto de estudo. Todo o percurso efetuado deve permitir a integração de estratégias facilitadoras da interação, a adequação na utilização e a compreensão da linguagem e do vocabulário utilizado pelos participantes, que seja facilitador da comunicação11 Tereso A. Representações Sociais dos Homens Sobre Saúde Sexual e a Utilização de Cuidados de Saúde [tese]. Lisboa: ISCTE-IUL; 2019..

Os aspetos de ordem motivacional, englobam a motivação do entrevistado para participar na entrevista e podem incluir um desejo de agradabilidade influenciando as respostas (ao procurar, por exemplo, ser visto como alguém que não viola as normas sociais)2424 Ghiglione R, Matalon B. O Inquérito: Teoria e Prática. 4ª ed. Oeiras: Celta Editora; 2001.. No decurso das entrevistas o investigador deve ponderar a necessidade de procurar estratégias motivacionais. Nestas, destacam-se perguntas mais íntimas sobre a ocorrência de problemas ou alterações sexuais, que grande parte dos homens tem dificuldade em referir, e que requerem a ajuda do entrevistador11 Tereso A. Representações Sociais dos Homens Sobre Saúde Sexual e a Utilização de Cuidados de Saúde [tese]. Lisboa: ISCTE-IUL; 2019..

Nos aspetos de ordem conjuntural, é incluído tudo o que acentua a pertinência do tema em função das preocupações dos participantes e que pode revelar a importância que reconhecem ao tema na altura da sua participação. No final das entrevistas, é importante que a informação recolhida pelo investigador seja clara no que respeita à relação entre os temas abordados e as inquietações atuais dos participantes.

Segundo Fontana e Frey2222 Fontana A, Frey JH. The Interview: From Structured Questions to Negotiated Text. In: Denzin NK, Lincoln YS. Handbook of Qualitative Research. 2ª ed. Thousand Oaks: SAGE Publications; 2000. p. 645-672., a compreensão do mundo dos respondentes e a avaliação dos fatores que podem estimular ou bloquear as repostas é fundamental. Quando o fenómeno em estudo engloba a saúde sexual e de forma particular, a dos homens, há assuntos que podem ser difíceis de abordar, porque são permeadas por estereótipos e tabus relacionados com as masculinidades e com a sexualidade que interferem na sua inteligibilidade. Neste âmbito, uma análise cuidada sobre as alternativas para a abordagem do tema, pode constituir o segredo do sucesso das estratégias no seu acesso11 Tereso A. Representações Sociais dos Homens Sobre Saúde Sexual e a Utilização de Cuidados de Saúde [tese]. Lisboa: ISCTE-IUL; 2019..

Identidade do investigador

Um aspeto que merece ser tido em consideração nestas áreas de investigação, é a identidade do investigador e a sua influência na interação com os entrevistados.

Em cada situação de aproximação aos potenciais entrevistados é necessário refletir acerca da extensão de informação a disponibilizar. Apesar de ser fundamental a assunção da identidade enquanto investigador, e de não ser eticamente aceitável forjar uma identidade, as decisões acerca da revelação da identidade podem ser circunstanciais. Segundo Costa2525 Costa AF. A Pesquisa de Terreno em Sociologia. In: Silva AS, Pinto JM, organizadores. Metodologia das Ciências Sociais. 13ª ed. Porto: Afrontamento; 2005. p. 129-148., a pertença de classe do investigador e a sua atividade profissional condicionam o processo de recolha de informação e devem ser tomadas em consideração.

No que diz respeito à identidade de género, não se evidencia um consenso acerca da sua influência2626 Tereso A. O Acesso dos Homens aos Cuidados de Saúde Sexual: Resultados Preliminares sobre o Impacto do Género nas Perspetivas dos Profissionais de Saúde. Lisboa: CIES-IUL e-Working Paper Nº 115; 2011.. A este propósito, Flick66 Flick U. Métodos Qualitativos na Investigação Científica. Lisboa: Monitor; 2005. refere que: “Os investigadores e as suas competências comunicacionais são o principal ‘instrumento’ de recolha de dados e de cognição”66 Flick U. Métodos Qualitativos na Investigação Científica. Lisboa: Monitor; 2005. (p.56) desvalorizando o impacto do género dos investigadores na iteração com os entrevistados. No decurso do estudo realizado por Tereso11 Tereso A. Representações Sociais dos Homens Sobre Saúde Sexual e a Utilização de Cuidados de Saúde [tese]. Lisboa: ISCTE-IUL; 2019., a questão do género da investigadora e o facto de se encontrar visivelmente grávida, criou o receio de um “exotismo” acentuado na relação com os homens entrevistados. Se, por um lado, o “exotismo” pode ser considerado como um contributo para a objetividade, por outro lado pode “ocultar ao investigador o significado de um vasto leque de sinais sociais (dos quais pode nem chegar a aperceber-se) e enviesar-lhe a interpretação [...]”25 (p.147). Neste caso, apesar dos receios iniciais, para Tereso11 Tereso A. Representações Sociais dos Homens Sobre Saúde Sexual e a Utilização de Cuidados de Saúde [tese]. Lisboa: ISCTE-IUL; 2019. o estado de gravidez revelou-se como um fator positivo na interação com alguns participantes, que referiram ter sido facilitador para a exposição de assuntos considerados mais delicados “sabe é mais fácil porque não a vejo como mulher, [...]” atribuindo um estatuto assexuado à entrevistadora.

Neste âmbito, no planeamento e na realização das entrevistas, realçam-se as especificidades relacionadas com os investigadores, com os entrevistados, com os contextos, com as situações sociais em que as entrevistas decorrem2424 Ghiglione R, Matalon B. O Inquérito: Teoria e Prática. 4ª ed. Oeiras: Celta Editora; 2001. e com a previsão das técnicas para a análise de dados.

No que diz respeito aos aspetos implicados na situação, importa ter atenção ao lugar onde a entrevista se realiza, ao tempo de duração, à disponibilidade do entrevistado para responder e à destreza do investigador na utilização do guião. Na escolha dos lugares para a realização das entrevistas devem ser sempre respeitadas as preferências e sugestões dos participantes, apesar de, poderem implicar algumas preocupações acrescidas ao entrevistador na procura de reunir as melhores condições para uma abordagem intensiva do fenómeno2727 Stake RE. Case Studies. In: Denzin NK, Lincoln YS. The Handbook of Qualitative Research. London: SAGE Publications; 2000. p. 435-454. e para o registo áudio da entrevista.

No tratamento e análise de dados é fundamental garantir o rigor das transcrições das entrevistas1313 Streubert HJ, Carpenter DR. Investigação qualitativa em enfermagem: avançando o imperativo humanista. Loures: Lusodidata; 2011. e o respeito pelos pressupostos éticos no que se refere à proteção dos dados e da identidade dos participantes1010 Bryman A. Social Research Methods. 4ª ed. New York: Oxford University Press; 2012.. Na investigação qualitativa quando se delimita a colheita de dados através do critério de saturação, a quantidade de dados colhidos nem sempre é facilmente previsível. Perante a possibilidade de transcrições muito extensas e da ocorrência de textos recheados de termos ambíguos, a previsão antecipada dos procedimentos relativos ao armazenamento e organização dos dados, pode contribuir para facilitar a sua análise. Os investigadores, de acordo com os objetivos de estudo e as caraterísticas dos dados recolhidos, podem ainda optar pela utilização de softwares de apoio à análise de conteúdo tais como o IRaMuTeQ, o WebQDA, o NVivo, que podem proporcionar mais rapidez e agilidade à análise.

Seleção e acesso aos participantes

Apesar de não se constituir como uma imposição, o processo de seleção dos participantes habitualmente tem início antes do desenvolvimento formal do estudo e incide sobre casos previamente identificados e considerados como relevantes11 Tereso A. Representações Sociais dos Homens Sobre Saúde Sexual e a Utilização de Cuidados de Saúde [tese]. Lisboa: ISCTE-IUL; 2019.. Neste âmbito realça-se que, quer o processo seja prévio ou posterior, o sucesso na compreensão do fenómeno em estudo depende em larga medida da seleção adequada dos casos. Wright2828 Wright GH. Explanation and understanding. London: Cornell University Press; 2004. e Stake2727 Stake RE. Case Studies. In: Denzin NK, Lincoln YS. The Handbook of Qualitative Research. London: SAGE Publications; 2000. p. 435-454. defendem que nos estudos de natureza qualitativa, uma seleção de casos que permita atingir a maior diversidade possível de explicações do fenómeno sobrepõe-se à procura de representatividade. Wright2828 Wright GH. Explanation and understanding. London: Cornell University Press; 2004. realça ainda que os casos selecionados se constituem como as oportunidades para estudar o fenómeno.

As pesquisas sobre as temáticas referidas neste texto, situam-se num campo pouco explorado em que os casos a selecionar devem abarcar o campo mais vasto e permitir profundidade analitica2929 Gonçalves SP, Gonçalves JP, Marques CG. Manual de investigação Qualitativa. Lisboa: Pactor; 2021.

30 Campenhoudt LV, Quivy R, Marquet J. Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Gradiva; 2019.
-3131 Vilelas J. Investigação: o processo de construção do conhecimento. 3ª ed. Lisboa: Sílabo; 2020.. Na conceção do desenho da investigação na área da sexualidade e/ou da saúde sexual masculina, destaca-se a necessidade da definição das unidades de observação como ponto de partida, a sua organização numa lógica que permita a constituição de um grupo de participantes e a procura de uma “variação máxima”3232 Patton MQ. Qualitative Evaluation and Research Methods. 2ª ed. Newbury Park: SAGE Publications; 1990. necessária para responder aos objetivos.

Considerações finais

Nesta reflexão pretendeu-se proporcionar um contributo para os investigadores que equacionam a utilização da metodologia qualitativa no estudo de questões relacionadas com a saúde sexual e com a sexualidade.

A investigação qualitativa constitui uma opção interessante quando se pretendem identificar as várias dimensões envolvidas num fenómeno e aprofundar o conhecimento com base no ponto de vista dos participantes. No entanto, se por um lado revela um mundo de possibilidades, também oculta algumas limitações, nomeadamente as que decorrem das especificidades da sexualidade e da saúde sexual como áreas de estudo. A subjetividade inerente a estas temáticas, convive de perto com a necessidade de objetividade e rigor que deve pautar os processos de investigação. Nesta teia de desafios nem sempre fáceis de gerir, coexiste a necessidade de equilibrar o respeito da liberdade dos entrevistados e a necessidade de alguma diretividade por parte do investigador que permita organizar a colheita de dados. A opção pela entrevista semiestruturada desafia a objetividade do entrevistador face à subjetividade da temática e implica (re)conhecer e ter de lidar com estereótipos de género (os seus e os dos outros), com tabus que por vezes tornam as narrativas ininteligíveis e assumir os limites impostos pelo pudor dos envolvidos.

Referências

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Editores-chefes:

Romeu Gomes, Antônio Augusto Moura da Silva

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    Jul 2023

Histórico

  • Recebido
    27 Nov 2022
  • Aceito
    25 Dez 2022
  • Publicado
    27 Dez 2022
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