A insegurança alimentar refere-se à falta de acesso adequado a alimentos de qualidade necessários para a sobrevivência e o bem-estar. Insegurança alimentar afeta a saúde física, emocional e cognitiva em diferentes fases da vida. Este estudo tem como objetivo estimar a prevalência de insegurança alimentar em domicílios brasileiros sem crianças/adolescentes e com uma criança/adolescente ou duas ou mais crianças/adolescentes, considerando as interseções de raça/cor da pele, gênero e características socioeconômicas e demográficas. Utilizou-se dados de 57.920 domicílios da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2017-2018. A insegurança alimentar percebida em nível domiciliar foi avaliada usando a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), classificando os domicílios como em segurança ou com algum nível de insegurança. Para verificar associações entre múltiplas variáveis e a prevalência de insegurança alimentar, adotou-se modelo de regressão linear generalizada para dados de amostragem complexa, com distribuição binomial e função de ligação logarítmica. De modo geral, 36,7% (IC95%: 35,9; 37,5) dos domicílios apresentaram insegurança alimentar, com aumento da prevalência à medida que o número de crianças ou adolescentes aumentava (39%, IC95%: 37,7; 40,2 nos domicílios com uma criança/adolescente e 51,3%, IC95%: 50,0; 52,6 naqueles com dois ou mais crianças/adolescentes). Os domicílios com renda inferior a 0,5 salário mínimo apresentaram prevalência de insegurança alimentar 3,4 vezes maior (IC95%: 3,2; 3,7) do que aqueles com renda superior a dois salários mínimos. A insegurança alimentar também foi mais prevalente em domicílios chefiados por indivíduos pretos/pardos e quando o número de crianças/adolescentes era maior - exceto entre mulheres pretas/pardas, que apresentaram altas prevalências de insegurança alimentar, independentemente da composição do domicílio. Este estudo reforça a natureza profundamente social desse problema de saúde pública e a necessidade urgente de políticas públicas para reduzir as desigualdades sociais e o racismo estrutural no Brasil.
Palavras-chave:
Insegurança Alimentar; Fome; Fatores Raciais; Estrutura Familiar
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