Open-access Mudanças climáticas, insegurança alimentar e seus impactos na saúde e nutrição infantil no Brasil: proposta de modelo conceitual

Resumos

As mudanças climáticas vêm causando maior frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos, levando cerca de 72 milhões de pessoas em todo o mundo a enfrentar limitações no acesso aos alimentos em 2023. No Brasil, esse cenário agrava as situações de fome crônica, pobreza e desigualdades sociais, sobretudo, aumentando a vulnerabilidade em crianças menores. Este estudo tem por objetivo propor um modelo conceitual que explicite e explique estas relações. Foi realizada pesquisa bibliográfica com os termos “mudança climática”, “insegurança alimentar” e “má nutrição infantil”, e a combinação entre eles com a inclusão da palavra “Brasil”, no sentido de discutir o modelo no contexto da realidade brasileira. Foi proposto modelo conceitual que apresenta as relações entre os elementos principais e outros três de mediação e/ou complexidade - sistema alimentar, insegurança hídrica e desigualdades sociais - que se relacionam por cinco vias: (a) impacto direto dos eventos climáticos extremos sobre o acesso ao alimento; (b) impacto dos eventos climáticos extremos no acesso ao alimento, em decorrência dos seus efeitos no sistema alimentar; (c) insegurança hídrica como elemento que adiciona complexidade à relação dos extremos com a insegurança alimentar; (d) as desigualdades sociais como determinantes do efeito das mudanças climáticas sobre os domicílios em condição de insegurança alimentar, baixo acesso à água e/ou má nutrição infantil; (e) a saúde e nutrição infantil afetada por todos esses fatores. As conexões discutidas no modelo poderão orientar futuras pesquisas, favorecendo o desenvolvimento e a implementação de ações colaborativas e multissetoriais de adaptação e construção de resiliência às mudanças climáticas no Brasil.

Palavras-chave:
Mudanças Climáticas; Desnutrição Infantil; Insegurança Alimentar; Sistema Alimentar; Sindemia


Resumos

Climate change has led to an increase in the frequency and intensity of extreme weather events, forcing approximately 72 million people throughout the world to face limitations in terms of access to food in 2023. In Brazil, this scenario intensifies situations of chronic hunger, poverty, and social inequalities, increasing vulnerability particularly among young children. The aim of this paper is to propose a conceptual model that elucidates and explains these relationships. A literature review was conducted using the terms “climate change”, “food insecurity”, “child malnutrition”, and combinations of these terms, with the inclusion of the word “Brazil” in order to discuss the model in the Brazilian context. A conceptual model was proposed that addresses relationships among the main elements and three other mediating factors - the food system, water insecurity, and social inequalities, which are interrelated in five ways: (a) the direct impact of extreme weather events on access to food; (b) the impact of extreme weather events on access to food due to the effects on the food system; (c) water insecurity as an element that adds complexity to the relationship between extreme weather events and food insecurity; (d) social inequalities as determinants of the effect of climate change on households in situations of food insecurity, little access to water, and/or child malnutrition; and (e) child health and nutrition affected by all these factors. The connections addressed in this model can help guide future studies, favoring the development and implementation of collaborative, multisectoral, adaptational actions for the strengthening of resilience to climate change in Brazil.

Keywords:
Climate Change; Child Malnutrition; Food Insecurity; Food System; Syndemic


El cambio climático viene incrementando cada vez más los fenómenos meteorológicos extremos, como los que causaron limitaciones a nivel mundial en el acceso de alimentos a aproximadamente 72 millones de personas en 2023. Este escenario en Brasil agrava las situaciones de hambre crónica, pobreza y desigualdad social, especialmente al aumentar la vulnerabilidad de los niños más pequeños. Este estudio tiene como objetivo proponer un modelo conceptual que exponga y explique estas relaciones. Se realizó una búsqueda bibliográfica con los términos “cambio climático”, “inseguridad alimentaria” y “malnutrición infantil”, y la combinación entre ellos con la inclusión de la palabra “Brasil”, con el fin de discutir el modelo en el contexto de la realidad brasileña. Se propuso un modelo conceptual que presenta las relaciones entre los elementos principales y otros tres elementos de mediación y/o complejidad -sistema alimentario, inseguridad hídrica y desigualdades sociales- que se relacionan de cinco maneras: (a) impacto directo de los fenómenos meteorológicos extremos en el acceso a los alimentos; (b) impacto de los fenómenos meteorológicos extremos en el acceso a los alimentos, debido a sus efectos en el sistema alimentario; (c) inseguridad hídrica como un elemento que agrega complejidad a la relación de los extremos con la inseguridad alimentaria; (d) desigualdades sociales como determinantes del efecto del cambio climático en los hogares en condiciones de inseguridad alimentaria, bajo acceso al agua y/o malnutrición infantil; (e) salud y nutrición infantil afectadas por todos estos factores. Las conexiones discutidas en el modelo pueden guiar otros estudios y posibilitar el desarrollo e implementación de acciones colaborativas y multisectoriales para adaptarse y construir resiliencia al cambio climático en Brasil.

Palabras-clave:
Cambio Climático; Desnutrición Infantil; Inseguridad Alimentaria; Sistema Alimentario; Sindémico


Introdução

O aumento da temperatura global é uma realidade e a cada ano se aproxima dos críticos 1,5℃ acima dos níveis do período pré-industrial (1850-1900), apontados pelo Acordo de Paris e pelos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, acrônimo em inglês). Junto com a maior frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos, o aquecimento global compõe o que se denomina mudanças climáticas 1. Esse conjunto de alterações no clima tem uma natureza dinâmica e complexa que aponta para uma rápida ascensão e impacto catastrófico nos biomas e na alimentação e saúde humana, sendo, por isso, considerado uma pandemia 2.

Um dos impactos mais significativos das mudanças climáticas ocorre na produção de alimentos e, aliados à escassez hídrica, à vulnerabilidade socioeconômica e baixa resiliência de algumas populações e à insuficiência de políticas públicas de adaptação e mitigação, têm agravado a fome ao redor do mundo 3,4,5,6,7,8. Globalmente, em 2023, as mudanças climáticas expuseram cerca de 72 milhões de pessoas à insegurança alimentar devido à limitação no acesso aos alimentos 9. Consequentemente, as prevalências de todas as formas de má nutrição - incluindo a desnutrição e o sobrepeso/obesidade - vêm crescendo em todo o mundo.

A interação entre as pandemias, como no caso das mudanças climáticas, desnutrição e obesidade, é conceituada como uma sindemia global, afetando parcela expressiva da população mundial simultaneamente. Nesse contexto, a saúde das crianças menores de cinco anos tem risco particularmente maior devido à imaturidade fisiológica desta fase e à elevada demanda de nutrientes 2. Mundialmente, em 2022, cerca de 148,1 milhões (22,3%) de crianças nessa faixa etária tiveram déficit de estatura, enquanto o baixo peso para a estatura alcançou 5 milhões (6,8%) e 37 milhões (5,6%) o excesso de peso 10.

No Brasil, as taxas de má nutrição infantil refletem a maior prevalência e gravidade de insegurança alimentar existente nos domicílios com a presença de crianças 11,12. Em 2019, o déficit de estatura atingiu 7% das crianças brasileiras com menos de cinco anos, o baixo peso para idade alcançou 2,9% delas e 10,1% o excesso de peso 13. A coexistência da fome, enquanto problema político-social, com a desnutrição e a obesidade, evidenciam o caráter preocupante da sindemia no Brasil. Esse contexto se soma às desigualdades sociais estruturais no país e determinam a distribuição e gravidade da insegurança alimentar nos diversos domicílios brasileiros 11,12,14,15,16.

Logo, há o desafio de esclarecer quais relações podem ser estabelecidas entre os diferentes eventos climáticos extremos e seus impactos no direito humano à alimentação e na saúde e nutrição infantil. Alguns estudos abordam as conexões entre as mudanças climáticas e seus efeitos na saúde e nutrição humana 17,18. No entanto, persistem lacunas na abordagem teórico-científica sobre as conexões destes aspectos com as desigualdades sociais e a experiência de fome e insegurança alimentar.

Considerando o contexto histórico de desigualdades sociais e as possibilidades de agravamento da má nutrição infantil, o objetivo deste ensaio é propor um modelo conceitual que contribua para o debate das relações entre mudanças climáticas, com seus eventos climáticos extremos, a insegurança alimentar e a saúde e estado nutricional das crianças brasileiras.

Métodos

Este ensaio integra e subsidia um estudo maior, intitulado Indicadores de Mudanças Climáticas, de Insegurança Alimentar e Fome no Brasil e seus Impactos na Saúde e Nutrição Infantil. Ele reúne pesquisadores de diferentes instituições, com o objetivo de desenvolver a plataforma FomeS (https://fomes.net.br/), composta por indicadores construídos a partir de bases de dados nacionais públicas. A plataforma será destinada ao uso pela comunidade científico-institucional e pelos movimentos sociais interessados, fomentando o preenchimento de lacunas científicas sobre as dimensões abordadas.

O modelo conceitual desenvolvido caracteriza a primeira etapa do estudo e se propôs a estabelecer as suas referências iniciais, a partir de uma revisão da literatura para descrever o conhecimento existente e identificar as lacunas sobre o tema 19. No sentido de recompor, no plano conceitual, as complexas relações que se dão entre as dimensões das mudanças climáticas, insegurança alimentar e má nutrição infantil no mundo real, esse modelo representa o ponto de partida para a identificação de outras dimensões relacionadas e a seleção dos indicadores que irão compor a plataforma FomeS.

Estratégias de busca bibliográfica

O primeiro passo consistiu na pesquisa bibliográfica, realizada em bases de dados previamente selecionadas (PubMed, Web of Science e SciELO), com termos indexadores em inglês, espanhol ou português, no período de fevereiro a agosto de 2024. A estratégia de busca foi a combinação de três grandes blocos de termos de investigação: saúde e nutrição das crianças, segurança alimentar/insegurança alimentar e mudanças climáticas ou eventos climáticos extremos (como ondas de calor extremo, secas, incêndios florestais e inundações). A palavra “Brasil” foi combinada com cada um desses blocos, no intuito de discutir o modelo proposto no contexto brasileiro. Selecionou-se relatórios, boletins e estudos técnicos, além de artigos revisados por pares de diferentes países, totalizando 150 documentos, cujos conteúdos mais relevantes foram utilizados para a construção do modelo.

Sistematização e elaboração do modelo conceitual

Para sistematização, usou-se o termo “segurança alimentar” a partir de perspectivas conceituais diversas, considerando volume e produção agrícola, mas também abordagens relacionadas à disponibilidade de alimentos, acesso, consumo e utilização biológica dos alimentos pelos indivíduos. Os estudos encontrados abordam o impacto das mudanças climáticas sobre a segurança alimentar e nutricional e foram realizados em pequenos grupos de pessoas ou com dados de inquéritos nacionais, principalmente em países da Ásia e África, sob a perspectiva da produção ou do consumo de alimentos. Não foram encontrados estudos empíricos no Brasil, sendo sistematizados para discussão dois estudos com projeções sobre o possível impacto das mudanças climáticas na produção nacional de alimentos (Quadro 1).

Quadro 1
Estudos selecionados sobre a relação entre mudanças climáticas e segurança/insegurança alimentar, segundo país.

O conceito brasileiro de segurança alimentar e nutricional cunhado em 2006 20, foi utilizado como guia para o debate. Os termos “segurança alimentar” e “insegurança alimentar” foram utilizados em referência à classificação de indicador da situação de acesso ou privação alimentar de famílias, resultante da aplicação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), instrumento de mensuração da fome e insegurança alimentar no país 21,22. Com base na EBIA, quando a família tem acesso regular e permanente a alimentos, em qualidade e quantidade suficientes, considera-se presença de segurança alimentar. A insegurança alimentar, por sua vez, evidencia a privação do acesso aos alimentos e é relatada em três níveis: leve, moderado ou grave, sendo este último uma condição em que a fome é uma experiência vivida no domicílio, inclusive pelas crianças 22.

Validação interna do conteúdo do modelo conceitual

Visando o consenso dos parâmetros teóricos desenvolvidos na elaboração do modelo conceitual proposto, realizou-se uma oficina virtual com os membros da equipe. A oficina foi desenvolvida em três etapas: (i) envio de link com o referencial teórico para leitura e comentários prévios ao encontro; (ii) apresentação sistematizada do referencial teórico e da figura do modelo conceitual; e (iii) diálogo entre os pesquisadores participantes com ajustes no modelo. Participaram da atividade 11 integrantes, sendo três pesquisadores da área da Ciência de Dados e oito da área da Saúde e Segurança Alimentar e Nutricional. A oficina garantiu o diálogo entre a equipe, o que culminou na validação de uma proposta de modelo conceitual, em que foram consideradas as dimensões identificadas e suas definições, bem como as inter-relações entre seus diversos elementos e um glossário.

Resultados

Os termos que nortearam a construção do modelo conceitual proposto estão sistematizados em um glossário (Quadro 2). O modelo se baseia na abordagem de sistemas complexos que reconhecem a interconexão entre os elementos de um sistema, sendo que realizar alterações em um deles gera impacto nos meios interno e externo. Assim, em vez de analisar partes isoladas, essa abordagem busca compreender o todo, considerando as relações, interações e emergências resultantes 17,23.

Quadro 2
Glossário dos termos utilizados no modelo conceitual das inter-relações entre eventos climáticos extremos, insegurança alimentar e má nutrição infantil.

O modelo aponta caminhos da relação entre os eventos climáticos extremos e a má nutrição infantil, mediada pela condição de insegurança alimentar e outros fatores, como o sistema alimentar, a insegurança hídrica e as desigualdades sociais (Figura 1). As linhas sólidas representam as conexões diretas (vias a, b.2, c.1, d.2, e.1, e.3 e e.4); as linhas pontilhadas indicam conexões de reciprocidade (vias b.1, c.2 e d.1); as linhas tracejadas evidenciam conexões de coexistência (c.3); enquanto as linhas com traços e pontos representam as conexões que aumentam a vulnerabilidade aos eventos climáticos extremos (d.3, d.4 e e.2).

Figura 1
Modelo conceitual indicando os caminhos que as mudanças climáticas, através dos eventos climáticos extremos, percorrem para impactar a saúde e nutrição infantil, tendo a insegurança alimentar como mediadora.

Tomando a insegurança alimentar como dimensão central, definiram-se outras cinco dimensões (a, b, c, d, e) e as vias de conexão entre elas (1 a 4). A via (a) considera o impacto emergencial aos eventos climáticos extremos no acesso aos alimentos, em um momento específico, independentemente da condição prévia de insegurança alimentar. As vias b.1 e b.2 consideram o papel mediador do sistema alimentar na relação entre as mudanças climáticas e a insegurança alimentar. Esta conexão apresenta um nível de complexidade maior quando a insegurança alimentar se associa à insegurança hídrica (vias c.1/c.2/c.3). As desigualdades sociais (d) adicionam outra camada de complexidade ao determinarem a forma como os eventos climáticos extremos afetam as demais dimensões (vias d.1/d.2/d.3/d.4). Enquanto as últimas (vias e.1/e.2/e.3/e.4), apresentam como a saúde e nutrição infantil são impactadas pelos eventos climáticos extremos, insegurança alimentar, insegurança hídrica e desigualdades, gerando ou agravando a má nutrição entre as crianças menores de cinco anos.

Discussão

Impacto das mudanças climáticas na insegurança alimentar

Nos últimos cinco anos, secas e inundações levaram 40% dos municípios brasileiros a estados de emergência, o que tem impulsionado a migração interna por desastres climáticos, resultando nos maiores índices da América Latina em 2023 24,25. Esse contexto agrava a privação alimentar, independentemente da condição de insegurança alimentar anterior (Figura 1, via (a), conexão direta).

Estudos que avaliam o impacto das mudanças climáticas na insegurança alimentar ainda são escassos, especialmente considerando como indicadores as escalas de experiência de fome. Estudo realizado na China 26 mostrou que a temperatura apresentou um efeito linear na segurança alimentar, ou seja, quanto maior a temperatura, maior o impacto negativo neste indicador. Por outro lado, o estudo indicou que a precipitação demonstrou influência de padrão não linear, isto é, contribui positivamente para os indicadores de segurança alimentar da população estudada dentro de um intervalo ótimo, enquanto o aumento acima deste intervalo culminaria em impacto negativo. Ressalta-se que o conceito de segurança alimentar na China, diferentemente do Brasil, está mais relacionado a indicadores de produção de alimentos 26.

Ainda na década de 1940, Josué de Castro descreveu a ocorrência da fome epidêmica na região do sertão nordestino como um fenômeno consequente às secas cíclicas e extremas da região, em um cenário de ausência do Estado e de políticas públicas 27. No entanto, até o momento, não foram identificados estudos que avaliaram o efeito das mudanças climáticas na insegurança alimentar e na fome no Brasil, a partir do uso da EBIA como um dos indicadores. O aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos alerta não apenas para a dificuldade de acesso aos alimentos, quando há impactos na produção com redução de culturas agrícolas, mas para o comprometimento imediato da renda e exposição aguda à insegurança alimentar nas comunidades atingidas, com consequências emergenciais e de longo prazo, principalmente entre as famílias mais vulneráveis 9,28.

Sistemas alimentares

As mudanças climáticas podem impactar a segurança alimentar por diversas vias, sendo os sistemas alimentares uma das principais 8. Fatores como o declínio dos insetos polinizadores, a proliferação de pragas e patógenos, aumento da escassez de água potável e as mudanças das concentrações de gases e minerais na atmosfera e no solo representam consequências das mudanças climáticas envolvidas no comprometimento da produção dos alimentos, reduzindo a quantidade produzida e o seu conteúdo nutricional 5,6,7,8.

Globalmente, estima-se que, nos últimos trinta anos, os extremos climáticos levaram à perda de produtos agrícolas que, se convertidos em nutrientes, equivalem às necessidades alimentares diárias de aproximadamente 450 milhões de indivíduos 4. As reduções de micronutrientes nos alimentos parecem ser particularmente expressivas para o ferro, o fósforo, o magnésio e a tiamina, atingindo mais o grupo dos cereais, mas também as culturas de frutas e hortaliças e cana de açúcar 4,7.

Há evidências da redução de 2% até 25% na quantidade produzida de cereais (trigo e milho) em países como Cazaquistão, Marrocos, África do Sul e México devido aos eventos climáticos extremos 4,29. Na América Latina, a maior frequência das ondas de calor e meses de seca em 2021 foi associada ao aumento de 9,9 milhões de pessoas com menor acesso aos alimentos 3. Setores como o de pesca e aquicultura também registraram impactos como a redução do tamanho e alteração da composição de diversas espécies de peixes 30 e perda de biodiversidade 31.

No Brasil, a safra nacional de grãos, cereais e leguminosas de 2024 sofreu queda de 7,2% devido aos eventos climáticos extremos ocorridos no ano anterior 32. Estudos de projeção estimaram uma redução de 3,1% na produtividade média das culturas agregadas a cada aumento de 1ºC na temperatura média durante as estações mais quentes do ano 33, além da redução de ocorrência de polinizadores em diversos municípios brasileiros 34. Essas previsões se aplicam a culturas de diversos alimentos, incluindo milho, feijão, café, goiaba, tomate, entre outros 33,34.

Ainda assim, o país vem se consolidando como um dos maiores produtores de alimentos no cenário mundial. O sistema alimentar hegemônico no Brasil, no entanto, é caracterizado pela produção em larga escala e mecanizada de alimentos, commodities ou não, com o predomínio da pecuária e monocultura e do uso intensivo de água e agrotóxicos. A distribuição globalizada dos alimentos envolve processamento, embalagem e transporte que exploram os recursos naturais e emitem maior quantidade de gases de efeito estufa (GEE) 8,28,35. Esse sistema favorece a produção e consumo de alimentos ultraprocessados, além de estimular a concentração de terras e recursos entre poucos e perpetuar a invisibilidade da cultura alimentar das populações tradicionais no Brasil. Esse cenário contribui para o agravamento das desigualdades sociais no país 2,35, além de ser o principal responsável pelas emissões brutas totais de GEE no país (73,7%) 36.

Referente ao ambiente alimentar, destacam-se as desigualdades no acesso físico a alimentos adequados e saudáveis, em especial nas periferias urbanas do país. A distribuição desigual dos estabelecimentos comerciais que vendem alimentos saudáveis e não saudáveis contribui para aprofundar as desigualdades sociais, uma vez que regiões de maior vulnerabilidade frequentemente apresentam menor disponibilidade de feiras, de mercados locais e outros pontos de venda de alimentos in natura ou minimamente processados a preços acessíveis. Em contrapartida, observa-se nesses territórios a predominância de pequenos comércios e redes varejistas que priorizam a oferta de alimentos ultraprocessados, muitas vezes mais acessíveis economicamente devido a fatores que incluem a produção em larga escala, incentivos fiscais diferenciados e maior poder de negociação da indústria 37,38,39.

Esse contexto se caracteriza como um dos fatores que contribui para o consumo crescente de alimentos ultraprocessados, fenômeno observado nos últimos dez anos no Brasil 40. Esse consumo teve crescimento mais expressivo entre a população com menor renda (3,4 pontos percentuais - p.p.) e indígena (5,96p.p.) 40. Adicionalmente, o maior consumo desses alimentos está inversamente associado à adesão a uma dieta saudável e sustentável 41. Logo, o sistema alimentar hegemônico pode ser considerado insustentável, injusto e promotor de hábitos alimentares e de vida não saudáveis 2,8,35.

A relação entre as mudanças climáticas e o sistema alimentar, portanto, é bidirecional, de determinação mútua. Por um lado, as mudanças climáticas reduzem a produção de alimentos em volume e qualidade de nutrientes; por outro, o sistema alimentar hegemônico, tal como é, contribui para o agravamento delas (Figura 1, via (b.1), conexão de reciprocidade).

Cabe ainda considerar que a maior frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos determina e agrava a situação de insegurança alimentar, na perspectiva do acesso ao alimento, em três aspectos: (i) instabilidade e redução da produção de alimentos, gerando menor rendimento para os pequenos produtores; (ii) tal redução influencia a dinâmica de mercado culminando em maior preço para o consumidor final, principalmente dos alimentos in natura; (iii) maior preço dos alimentos in natura, favorecendo o consumo dos alimentos ultraprocessados e, por consequência, a maior produção destes torna-os ainda mais baratos e acessíveis, diminuindo assim o acesso aos alimentos de qualidade (Figura 1, via (b.2), conexão direta).

Insegurança hídrica

As mudanças climáticas comprometem o acesso e utilização de água potável por diversas vias, a saber: (i) a intrusão de água salgada nos aquíferos costeiros, devido às perdas glaciais e derretimento da neve; (ii) as inundações, que contaminam a água potável com patógenos causadores de infecções; e (iii) as secas frequentes e persistentes 1,7,8,42. A elevação da temperatura da superfície terrestre também altera o ciclo hídrico, culminando na escassez de água, que vem crescendo nas últimas décadas 43 (Figura 1, via (c.1), conexão direta).

O desmatamento, resultado do sistema alimentar hegemônico, contribui para a tendência de aceleração do ciclo da água, que resulta no agravamento de secas e inundações 44. Os meios de produção, processamento e transporte dos alimentos, principalmente os ultraprocessados, utilizam elevados volumes de água e poluem os recursos hídricos disponíveis 8. Adicionalmente, o consumo de alimentos ultraprocessados e carne estão associados à maior pegada hídrica (aumento de 10,1% entre os quintis de consumo) 43,45 (Figura 1, via (c.2), conexão de reciprocidade).

A escassez hídrica agravada pelos eventos climáticos extremos, por sua vez, tende a exercer pressão sobre o abastecimento alimentar, uma vez que cerca de 70% da água doce utilizada no mundo é destinada à agricultura 1,46. A redução da produtividade agrícola, por falta de água, afetaria a segurança alimentar local e, em contextos em que a agricultura é uma atividade de subsistência, a insegurança hídrica pode provocar compensações entre alocar água para fins agrícolas ou para o consumo 8,47,48 e precipitar movimentos de migração interna 4,42 (Figura 1, via (c.2)).

Ainda que possua uma das maiores reservas de água doce do mundo, o Brasil também se encontra em risco de escassez hídrica por diversos fatores, independentemente das mudanças climáticas. A expansão da área de cultivo, que utiliza intensa irrigação, a variabilidade espacial das reservas de água - 70% da água doce disponível no país se encontra na Região Norte - e a crescente demanda de água decorrente do aumento populacional e processo de industrialização representam alguns deles 49. Além disso, o país tem regiões de alta vulnerabilidade ao aumento da temperatura da superfície, como o semiárido brasileiro, que tem como características a baixa taxa pluviométrica média anual e períodos de estiagem de até 11 meses. Esse cenário pode agravar o risco de desertificação da região, culminando, no futuro, em total inviabilidade das culturas de alimentos 50.

Em nível domiciliar, a insegurança hídrica compromete a higiene do domicílio, das pessoas, dos alimentos e preparo das refeições e amplia o risco de transmissão de doenças infecciosas 51. Dados nacionais do período entre o final de 2021 e o início de 2022 mostraram que cerca de 12% da população vivia com restrição de acesso à água e, destes, 65% também vivenciavam restrição quantitativa de alimentos (insegurança alimentar moderada ou grave), evidenciando a associação entre as duas inseguranças no Brasil 52. A conexão entre insegurança alimentar e insegurança hídrica, portanto, é de coexistência (Figura 1, via (c.3)). Ambas podem coexistir no mesmo ambiente e interagir entre si, compartilhando determinantes similares, relacionados com características socioeconômicas e demográficas 47.

Desigualdades sociais

Diferenças em condições socioeconômicas, locais de moradia, acesso a instituições e serviços, bem como, normas sociais discriminatórias, determinam a vulnerabilidade climática de grupos sociais específicos, que se agrega à susceptibilidade pré-existente à insegurança alimentar e insegurança hídrica e ao ciclo de injustiça perpetuado pela dinâmica do sistema alimentar hegemônico 53.

A vulnerabilidade climática seria a propensão ou predisposição de um indivíduo, ou grupo social, de ser afetado adversamente pelas mudanças climáticas, sendo resultado da intersecção de três fatores: exposição, susceptibilidade e capacidade adaptativa 53. Em uma situação de inundações, por exemplo, populações em situação de vulnerabilidade socioeconômica têm habitações precárias e/ou em locais de risco (maior exposição); essas condições os tornam mais suscetíveis aos impactos diretos da inundação, com maior probabilidade de perda de bens e moradia; enquanto a limitação de recursos financeiros reduziria sua capacidade de recuperação, retroalimentando o ciclo de vulnerabilidade 5,53.

Assim, as desigualdades sociais tornam grupos sociais mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos. Ao mesmo tempo, globalmente, as pessoas mais afetadas pela crise climática são as que menos contribuem para o aquecimento do planeta 1. Em 2019, aqueles que viviam na faixa de 1% mais ricos no mundo foram responsáveis por 16% das emissões globais de GEE, percentual que equivale às emissões de cerca de 5 bilhões de pessoas (66% da população global) 5,53,54 (Figura 1, via (d.1), conexão de reciprocidade).

No Brasil, o cenário de desigualdades sociais tem raízes históricas e estrutura as bases de seu desenvolvimento. O modelo de produção alimentar atual se pauta - e sempre se pautou - na distribuição desigual de terras, alimentos, recursos e oportunidades, com concentração produtiva em poucos alimentos voltados à exportação e pouco apoio às pequenas propriedades rurais 55. Em consequência, ainda que o país produza alimento suficiente para alimentar cerca de 800 milhões de pessoas 56, a fome segue sendo um problema crônico que se concentra em regiões e grupos sociais específicos, incluindo a área rural (Figura 1, via (d.2), conexão direta).

As famílias que residem nas regiões Norte e Nordeste do Brasil são as mais atingidas pela insegurança alimentar. Em 2023, a restrição grave de acesso aos alimentos (fome) atingia 7,7% das famílias localizadas na Região Norte, proporção quase quatro vezes maior, comparado às famílias do Sul do país (2%) 14. Adicionalmente, a insegurança alimentar é mais prevalente nos lares chefiados por mulheres 12, por pessoas pretas ou pardas (69,6% vs. 29%) 14, entre as populações quilombolas (86,1% dos domicílios) 16 e os povos indígenas do Mato Grosso do Sul (76,7%) 15.

A intersecção dessas características produz níveis mais profundos de vulnerabilidade climática. Famílias chefiadas por mulheres negras têm probabilidade quatro vezes maior de reportar insegurança alimentar moderada ou grave, quando comparados àquelas chefiadas por homens brancos 12. É conhecida a associação da condição de insegurança alimentar com outros indicadores de pobreza, como a baixa escolaridade, maior número de moradores nos domicílios e menor renda, o que reduz ainda mais as possibilidades dessas populações de quebrar o ciclo da pobreza e fome que vivenciam e, portanto, de lidar com os efeitos dos eventos climáticos extremos 11,53,57.

Ademais, famílias residentes da área rural também são mais vulneráveis à insegurança alimentar e aos eventos climáticos extremos. Dados nacionais de 2023 mostram que a proporção de insegurança alimentar grave na área rural foi 1,6p.p. superior ao verificado na área urbana (5,5% vs. 3,9%) 14. Nessas áreas, agricultores familiares e os domicílios com menor renda, além daqueles chefiados por mulheres ou pessoas idosas, representam os mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos 53. A projeção dos impactos regionais das mudanças climáticas na produtividade agrícola no Brasil, entre 2021 e 2050, aponta a Região Nordeste como a mais afetada devido às suas condições climáticas adversas, típicas de um clima semiárido. Além disso, os agricultores familiares, que ocupam 59% das terras produtoras nas regiões Norte e Nordeste, também tendem a sofrer maior impacto devido ao menor uso de tecnologia e maior dependência de condições climáticas favoráveis 58.

A perda na produtividade resultante dos eventos climáticos extremos gera declínio nos rendimentos dos agricultores e trabalhadores agrícolas, reduzindo também a disponibilidade de alimentos in natura, cujo reflexo se vê no menor abastecimento de alimentos nos mercados locais. Em regiões rurais remotas, além do baixo nível de infraestrutura e saneamento, o acesso à alimentação saudável também é comprometido, afetando a quantidade e a qualidade dos alimentos consumidos nas propriedades rurais 4,42,58.

Esse contexto pode resultar ainda no aumento do desemprego, culminando no deslocamento e migração das populações rurais, que passam a se concentrar em áreas urbanas marginalizadas, elevando sua exposição aos eventos climáticos extremos 4,42,54. A maior urbanização contribui para o aumento dos extremos de temperaturas e dificulta o escoamento das chuvas 1. Ademais, o êxodo dos pequenos produtores favorece a ampliação da área de plantio para os grandes produtores - que emitem mais GEE e exigem elevada quantidade de água 4.

Essa realidade vem sendo vivenciada no Brasil, que observa sua população urbana atingir sua maior proporção (87,4%) nos últimos 22 anos, enquanto a população rural reduziu em 33,8%, percentual que representa cerca de 25,6 milhões de pessoas (12,6% da população) 59.

Logo, pode-se considerar que o sistema alimentar hegemônico retroalimenta as desigualdades e estas, por sua vez, contribuem sobremaneira para que o sistema alimentar continue cada vez mais injusto, na medida em que atinge de forma mais expressiva populações específicas (Figura 1, via (d.3), conexão de vulnerabilidade).

Na área rural, as mulheres, responsabilizadas primariamente por garantir a água e os alimentos dentro do domicílio, sofrem desproporcionalmente o efeito das secas causadas - ou agravadas - pelas mudanças climáticas 4. A maior distância para coletar a água aumenta o risco às diversas formas de violência baseada no gênero (incluindo violência sexual, sexo transacional, gravidez não intencional e casamento infantil, entre outros), realidade que tem sido vivenciada por meninas e mulheres no semiárido brasileiro (Figura 1, via (d.4), conexão direta) 60. Mulheres grávidas, assim como as lactantes e as crianças, são ainda mais sensíveis aos riscos relacionados aos eventos climáticos extremos devido à maior vulnerabilidade às morbidades, como doenças infecciosas, e às necessidades nutricionais aumentadas 61.

O impacto das mudanças climáticas e da insegurança alimentar na má nutrição infantil

As mudanças climáticas impactam a saúde e o estado nutricional das crianças menores de cinco anos de forma direta ou indireta. A forma direta se refere às temperaturas elevadas que aumentam o risco de aborto; e a maior exposição aos poluentes atmosféricos e alérgenos que eleva os riscos de infecção respiratória e asma na infância, nascimento prematuro, baixo peso ao nascer e atraso do desenvolvimento infantil 62,63,64,65. A forma indireta pode ser mediada pela insegurança alimentar e se manifesta de formas diversas. De modo geral, a insegurança alimentar grave e a fome estão associadas à desnutrição, enquanto a insegurança alimentar leve e moderada estão, paradoxalmente, associadas à obesidade 2.

Como mencionado, a inter-relação entre as pandemias de desnutrição, da obesidade e das mudanças climáticas é estabelecida no modelo da sindemia global. Essas pandemias interagem entre si e compartilham determinantes sociais comuns, entre os quais o sistema alimentar hegemônico e a concentração de poder e riqueza entre uma minoria de corporações 2. Essas características se conectam ao modelo discutido neste ensaio ao abordarem as desigualdades sociais e o sistema alimentar hegemônico como determinantes da má nutrição infantil.

Essa compreensão também se alinha à estrutura conceitual proposta pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) 23, que hierarquiza os determinantes da nutrição materno-infantil em três níveis: o nível amplo, os determinantes facilitadores se referem às condições políticas, recursos ambientais, sociais e econômicos e se conectam à dimensão das desigualdades sociais do modelo aqui discutido; os determinantes subjacentes, ligados aos serviços e práticas de alimentação e nutrição nas casas, comunidades e ambientes alimentares, refletindo as dimensões da insegurança alimentar, insegurança hídrica e sistemas alimentares; e os determinantes imediatos, que envolvem a alimentação saudável e os serviços e práticas adequados para a boa nutrição, relacionados à dimensão da má nutrição infantil, os quais podem prevenir suas manifestações 23.

Evidências dessas inter-relações vêm sendo publicadas nos últimos anos 34,66,67. Períodos prolongados de seca são associados ao impacto na produção e no acesso aos alimentos por mulheres indígenas da zona rural da África, levando a nascimentos prematuros 66. Por sua vez, os extremos de secas ou inundações foram associados ao menor crescimento linear e ganho de peso insuficiente em crianças menores de cinco anos no Nepal e Uganda, devido à redução na produção de alimentos 34. Assim, a desnutrição fetal e infantil resultante desse contexto tende a elevar os riscos de obesidade na infância tardia e vida adulta 67 (Figura 1, via (e.1), conexão direta).

Crianças com excesso de peso, por sua vez, são mais suscetíveis às doenças relacionadas ao calor e o clima desconfortável pode levar a uma redução ainda maior da atividade física 68,69. Além disso, o aumento da frequência dos eventos climáticos extremos reduz a produção de frutas e hortaliças, elevando seus preços, enquanto os ultraprocessados seguem amplamente disponíveis, pois dependem de cadeias agrícolas mais estruturadas e menos vulneráveis a esses eventos 2. Consequentemente, os seus preços tendem a ser menores, havendo preferência pelo seu consumo, principalmente pelas famílias com menor renda e em condição de insegurança alimentar 2,37. Ademais, estima-se que a crescente proporção da população com excesso de peso tende a elevar o consumo de alimentos e bebidas devido a maiores demandas metabólicas, sendo, portanto, necessário o aumento da produção agrícola e, consequentemente, das emissões de GEE 69.

Esse cenário também vem crescendo no Brasil. Entre 2006 e 2019, houve aumento de quatro pontos percentuais na prevalência de excesso de peso entre as crianças menores de cinco anos (6% vs. 10,1%) 70. Cerca de 80% dessas crianças consomem, com frequência, alimentos ultraprocessados, como biscoitos doces ou salgados e bebidas açucaradas 71. Entre a população com baixa renda, esse padrão pode ser um reflexo da falta de acesso físico e financeiro aos alimentos de qualidade 70,72.

Em contrapartida, a obesidade pode ser prevenida por práticas alimentares saudáveis nos primeiros anos de vida, como o aleitamento humano e a alimentação complementar 73. Os eventos climáticos extremos, no entanto, podem precipitar a interrupção do aleitamento humano devido à falta de suporte e de ambientes privados e seguros para amamentar, e o desconhecimento de estratégias para sua manutenção por mães ou cuidadores 74,75. Em 2019, a prevalência de amamentação continuada até um ano foi 52,1% no Brasil 76, valor aquém das recomendações 73. As fórmulas infantis, por sua vez, geram resíduos e possuem risco de menor disponibilidade na ocorrência dos eventos climáticos extremos, além de representar mais uma fonte potencial de água contaminada 62,75.

O baixo acesso à água potável e segura (captada pelo indicador de insegurança hídrica) também se associa ao maior risco de desnutrição, na medida em que a água é utilizada para higienização dos alimentos e preparo de refeições. Cabe também considerar que a contaminação da água favorece a incidência de doenças diarreicas, que comprometem o crescimento e o desenvolvimento infantil, além de representarem uma das principais causas de mortalidade nessa faixa etária 77 (Figura 1, via (e.3), conexão direta).

Fenômenos climáticos, como El Niño e La Niña, e temperaturas mais altas estão associados à redução da diversidade alimentar - um dos indicadores da alimentação complementar adequada 78 - de crianças com idade entre 9 e 36 meses, comprometendo a qualidade e quantidade da sua alimentação 33. No Brasil, as crianças de 6 a 11 meses representaram o grupo que menos consome frutas e hortaliças (25% de não consumo) e cuja alimentação teve menor diversidade alimentar mínima (46,8%) 71.

A baixa diversidade alimentar está relacionada ao baixo consumo de micronutrientes, aumentando o risco de deficiências e a vulnerabilidade a doenças infecciosas transmitidas por água ou alimentos. Crianças com anemia são mais suscetíveis à infecção por malária, cuja prevalência cresce com as mudanças climáticas, porém, a suplementação de ferro utilizada no tratamento pode agravar a infecção 79. A carência de vitamina A agrava danos à mucosa intestinal e eleva a mortalidade por diarreia, enquanto a deficiência de vitamina D está associada a maior risco de obesidade e comprometimento do crescimento infantil 80,81.

Em 2019, entre as crianças brasileiras de 6 a 59 meses, as deficiências de vitamina B12 (14,2%) e de zinco (17,8%) foram mais prevalentes, enquanto outros nutrientes apresentaram prevalências mais baixas de suas deficiências, como a anemia ferropriva (3,5%), a hipovitaminose A (6%) e a insuficiência de vitamina D (4,3%) 82. Nessa mesma população, 47,1% das crianças conviviam em famílias com algum grau de insegurança alimentar, sendo 3,8% delas em nível grave 83, evidenciando a relação entre insegurança alimentar e má nutrição na infância 6.

Assim, os eventos climáticos extremos podem aumentar ou agravar a má nutrição entre as crianças menores, o que pode torná-las mais vulneráveis às mudanças climáticas; enquanto a má nutrição pré-existente pode elevar a vulnerabilidade da saúde e estado nutricional dessas crianças aos eventos climáticos extremos (Figura 1, via (e.2), conexão de vulnerabilidade).

Como reflexo das desigualdades, as manifestações da má nutrição entre as crianças brasileiras se concentram mais em algumas regiões e populações específicas, como a região Norte, e entre as crianças de cor/raça preta ou parda 13,71,82. Infere-se, portanto, que as crianças que residem em domicílios mais pobres, principalmente meninas, negros, indígenas, quilombolas, ou pertencentes a outros povos e comunidades tradicionais, ou grupos excluídos socialmente, têm o risco à má nutrição aumentado se vivem no contexto das mudanças climáticas (Figura 1, via (e.4), conexão direta).

Esse cenário pode gerar pressão adicional sobre os sistemas de saúde e de proteção social, impactando ainda mais os direitos da criança de acesso adequado à alimentação e saúde.

Considerações finais

O modelo conceitual proposto neste ensaio contribui para a compreensão das interações entre as mudanças climáticas, a insegurança alimentar, a saúde e a nutrição infantil e como estas são agravadas pela insegurança hídrica e as desigualdades sociais. Destaca ainda o papel do sistema alimentar hegemônico vigente no Brasil, que intensifica tanto as mudanças climáticas quanto a insegurança alimentar e as desigualdades. Além disso, contribui para elucidar lacunas nos estudos sobre mudanças climáticas ao abordar a insegurança alimentar sob a perspectiva do acesso aos alimentos, medido pela EBIA, e ao reconhecer as desigualdades sociais como determinantes centrais dessas relações.

O modelo conceitual, assim, aponta os caminhos de vulnerabilidade e oportunidades de intervenção, além de orientar futuras pesquisas, no sentido de assegurar saúde e nutrição adequadas para as crianças brasileiras no contexto das mudanças climáticas. Pode favorecer, ainda, a formulação, a implementação e o monitoramento de políticas públicas com ações articuladas e multissetoriais de adaptação e mitigação às mudanças climáticas no Brasil.

  • Disponibilidade de dados
    Não se aplica.

Agradecimentos

As autoras agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento do projeto.

Referências bibliográficas

  • 1 Core Writing Team; Lee H, Romero J. Climate change 2023: synthesis report. Contribution of Working Groups I, II and III to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Geneva: Intergovernmental Panel on Climate Change; 2023.
  • 2 Swinburn BA, Kraak VI, Allender S, Atkins VJ, Baker PI, Bogard JR, et al. The global syndemic of obesity, undernutrition, and climate change: the Lancet Commission report. Lancet 2019; 393:791-846.
  • 3 Hartinger SM, Palmeiro-Silva YK, Llerena-Cayoa C, Blanco-Villafuerte L, Escobar LE, Diaz A, et al. The 2023 Latin America report of the Lancet Countdown on health and climate change: the imperative for health-centred climate-resilient development. Lancet Reg Health Am 2024; 33:100746.
  • 4 Food and Agriculture Organization. The impact of disasters on agriculture and food security 2023 - avoiding and reducing losses through investment in resilience. Rome: Food and Agriculture Organization; 2023.
  • 5 Islam N, Winkel J. Climate change and social inequality. New York: United Nations Department of Economic and Social Affairs; 2017. (DESA Working Papers, 152).
  • 6 Agostoni C, Baglioni M, La Vecchia A, Molari G, Berti C. Interlinkages between climate change and food systems: the impact on child malnutrition - narrative review. Nutrients 2023; 15:416.
  • 7 Myers SS, Smith MR, Guth S, Golden CD, Vaitla B, Mueller ND, et al. Climate change and global food systems: potential impacts on food security and undernutrition. Annu Rev Public Health 2017; 38:259-77.
  • 8 Intergovernmental Panel on Climate Change. Food security. In: Intergovernmental Panel on Climate Change, editor. Climate change and land: IPCC special report on climate change, desertification, land degradation, sustainable land management, food security, and greenhouse gas fluxes in terrestrial ecosystems. New York: Cambridge University Press; 2022. p. 437-550.
  • 9 Food Security Information Network; Global Network Against Food Crises. 2023 The Global Report on Food Crisis: joint analysis for better decisions. https://www.fsinplatform.org/grfc2024 (accessed on 22/May/2024).
    » https://www.fsinplatform.org/grfc2024
  • 10 World Health Organization; United Nations Children's Fund; World Bank Group. Levels and trends in child malnutrition. UNICEF/WHO/World Bank Group joint child malnutrition estimates: key findings of the 2023 edition. Geneva: World Health Organization; 2023.
  • 11 Lignani JB, Palmeira PA, Antunes MML, Salles-Costa R. Relationship between social indicators and food insecurity: a systematic review. Rev Bras Epidemiol 2020; 23:e200068.
  • 12 Santos LA, Pérez-Escamilla R, Cherol CCS, Ferreira AA, Salles-Costa R. Gender, skin color, and household composition explain inequities in household food insecurity in Brazil. PLOS Glob Public Health 2023; 3:e0002324.
  • 13 Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estado nutricional antropométrico da criança e da mãe: prevalência de indicadores antropométrico de crianças brasileiras menores de 5 anos de idade e suas mães biológicas. ENANI 2019. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2022.
  • 14 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Segurança alimentar: 2023. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2024.
  • 15 Luz VG, Faria LL, Johnson FM, Machado IR. Insegurança alimentar e nutricional nas retomadas Guarani e Kaiowá: um estudo em cinco territórios indígenas do Mato Grosso do Sul. Brasília: FIAN Brasil; 2023.
  • 16 Cherol CCS, Ferreira AA, Salles-Costa R. Social inequalities and household food insecurity in quilombola communities in Brazil. Rev Nutr 2021; 34:e200173.
  • 17 Carvalho AM, Garcia LMT, Lourenço BH, Verly Junior E, Carioca AAF, Jacob MCM, et al. Exploring the nexus between food systems and the global syndemic among children under five years of age through the complex systems approach. Int J Environ Res Public Health 2024; 21:893.
  • 18 Schnitter R, Berry P. The climate change, food security and human health nexus in Canada: a framework to protect population health. Int J Environ Res Public Health 2019; 16:2531.
  • 19 Varpio L, Paradis E, Uijtdehaage S, Young M. The distinctions between theory, theoretical framework, and conceptual framework. Acad Med 2020; 95:989-94.
  • 20 Brasil. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Diário Oficial da União 2006; 18 sep.
  • 21 Pérez-Escamilla R, Segall-Corrêa AM. Food insecurity measurement and indicators. Rev Nutr 2008; 21 Suppl:15s-26s.
  • 22 Segall-Corrêa AM, Marin-León L, Melgar-Quiñonez H, Pérez-Escamilla R. Refinement of the Brazilian Household Food Insecurity Measurement Scale: recommendation for a 14-item EBIA. Rev Nutr 2014; 27:241-51.
  • 23 United Nations Children's Fund. Nutrition, for every child: UNICEF nutrition strategy 2020-2030. New York: United Nations Children's Fund; 2020.
  • 24 Tavares P, Buono R. Sete sinais da crise climática no Brasil. Piauí 2023; 23 oct. https://piaui.folha.uol.com.br/sete-sinais-da-crise-climatica-no-brasil/
    » https://piaui.folha.uol.com.br/sete-sinais-da-crise-climatica-no-brasil/
  • 25 Cedillo C, Le Clercq JA, Cháidez A. Índice Global de Impunidad Ambiental Latinoamérica 2023. Un acercamiento a la problemática de la justicia ambiental. Puebla: Universidad de las Américas Puebla; 2023.
  • 26 Zhou H, Cao N, Yang L, Xu J. Multi-dimensional impacts of climate change on China's food security during 2002-2021. Sustainability 2024; 16:2744.
  • 27 Castro J. Geografia da fome. Rio de Janeiro: O Cruzeiro; 1946.
  • 28 Alpino TMA, Mazoto ML, Barros DC, Freitas CM. Os impactos das mudanças climáticas na segurança alimentar e nutricional: uma revisão da literatura. Ciênc Saúde Colet 2022; 27:273-86.
  • 29 Murray-Tortarolo GN, Jaramillo VJ, Larsen J. Food security and climate change: the case of rainfed maize production in Mexico. Agric For Meteorol 2018; 253-254:124-31.
  • 30 Martins IS, Schrodt F, Blowes SA, Bates AE, Bjorkman AD, Brambilla V, et al. Widespread shifts in body size within populations and assemblages. Science 2023; 381:1067-71.
  • 31 Habibullah MS, Haji Din B, Tan S-H, Zahid H. Impact of climate change on biodiversity loss: global evidence. Environ Sci Pollut Res Int 2022; 29:1073-86.
  • 32 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores IBGE. Levantamento sistemático da produção agrícola. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/42a86ef6d8cbdb0a25e13cdc830799e6.pdf (accessed on 23/Jan/2025).
    » https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/42a86ef6d8cbdb0a25e13cdc830799e6.pdf
  • 33 Ambikapathi R, Kosek MN, Lee GO, Olortegui MP, Zaitchik B, et al. La Niña weather impacts dietary patterns and dietary diversity among children in the Peruvian Amazon. Public Health Nutr 2021; 24:3477-87.
  • 34 Shively GE. Infrastructure mitigates the sensitivity of child growth to local agriculture and rainfall in Nepal and Uganda. Proc Natl Acad Sci U S A 2017; 114:903-8.
  • 35 Maluf RS, Burlandy L, Cintrão RP, Jomalinis E, Carvalho TCO, Tribaldos T, et al. Sustainability, justice and equity in food systems: ideas and proposals in dispute in Brazil. Environ Innov Soc Transit 2022; 45:183-99.
  • 36 Masson-Delmotte V, Zhai P, Pörtner H-O, Roberts D, Skea J, Shukla PR, et al. Annex I: glossary. In: Masson-Delmotte V , Zhai P , Pörtner H-O , Roberts D , Skea J , Shukla PR , et al., editors. Global warming of 1.5°C. An IPCC Special Report on the impacts of global warming of 1.5°C above pre-industrial levels and related global greenhouse gas emission pathways, in the context of strengthening the global response to the threat of climate change, sustainable development, and efforts to eradicate poverty. New York: Cambridge University Press; 2019. p. 541-62.
  • 37 Por uma política tributária nacional justa, que combata a fome e garanta uma alimentação adequada, saudável e sustentável. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/politica_tributaria_justa_combata_fome.pdf (accessed on 12/Jun/2024).
    » https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/politica_tributaria_justa_combata_fome.pdf
  • 38 Carvalho AM, Marchioni DML. Sistemas alimentares e alimentação sustentável. Santana de Parnaíba: Manole; 2022.
  • 39 Oliveira e Silva D, Ell E, Nilson E, Ubarana J, Ferro JRSS. Entre desertos, pântanos e oásis alimentares: mapeamento de ambientes de acesso a alimentos saudáveis na RIDE-DF. Cadernos Obha 2023; 1:76-104.
  • 40 Louzada MLC, Cruz GL, Silva KAAN, Grassi AGF, Andrade GC, Rauber F, et al. Consumption of ultra-processed foods in Brazil: distribution and temporal evolution 2008-2018. Rev Saúde Pública 2023; 57:12.
  • 41 Garzillo JMF, Poli VFS, Leite FHM, Steele EM, Machado PP, Louzada MLC, et al. Ultra-processed food intake and diet carbon and water footprints: a national study in Brazil. Rev Saúde Pública 2022; 56:6.
  • 42 Stoler J, Brewis A, Kangmennang J, Keough SB, Pearson AL, et al. Connecting the dots between climate change, household water insecurity, and migration. Curr Opin Environ Sustain 2021; 51:36-41.
  • 43 Cacau LT, Souza TN, Louzada MLC, Marchioni DML. Adherence to the EAT-Lancet sustainable diet and ultra-processed food consumption: findings from a nationwide population-based study in Brazil. Public Health Nutr 2024; 27:e183.
  • 44 Chagas VBP, Chaffe PLB, Blöschl G. Climate and land management accelerate the Brazilian water cycle. Nat Commun 2022; 13:5136.
  • 45 Carvalho AM, César CLG, Fisberg RM, Marchioni DML. Excessive meat consumption in Brazil: diet quality and environmental impacts. Public Health Nutr 2013; 16:1893-9.
  • 46 High Level Panel of Experts. Water for food security and nutrition. A report by the High-Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition. Rome: Committee on World Food Security; 2015.
  • 47 Frongillo EA. Intersection of food insecurity and water insecurity. J Nutr 2023; 153:922-3.
  • 48 Young SL, Frongillo EA, Jamaluddine Z, Melgar-Quiñonez H, Pérez-Escamilla R, Ringler RC, et al. Perspective: the importance of water security for ensuring food security, good nutrition, and well-being. Adv Nutr 2021; 12:1058-73.
  • 49 Castro CN. Cenários para a segurança hídrica no Brasil. In: Castro CN, editor. Água, problemas complexos e o Plano Nacional de Segurança Hídrica. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; 2022. p. 169-88.
  • 50 Silva LAP, Silva CR, Souza CMP, Bolfe EL, Souza JPS, Leite ME. Mapping of aridity and its connections with climate classes and climate desertification in future scenarios - Brazilian semi-arid region. Sociedade & Natureza 2023; 35:e67666.
  • 51 Food and Agriculture Organization. Chapter 2. Food security: concepts and measurement. In: Food and Agriculture Organization, editor. Trade and food security: conceptualizing the linkages. https://www.fao.org/4/y4671e/y4671e06.htm#bm06.2 (accessed on 11/Mar/2024).
    » https://www.fao.org/4/y4671e/y4671e06.htm#bm06.2
  • 52 Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar. II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil. II VIGISAN: relatório final. São Paulo: Fundação Friedrich Ebert/Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar; 2022.
  • 53 Food and Agriculture Organization. The unjust climate - measuring the impacts of climate change on rural poor, women and youth. Rome: Food and Agriculture Organization; 2024.
  • 54 Khalfan A, Lewis AN, Aguilar C, Persson J, Lawson M, Dabi N, et al. Igualdade climática: um planeta para os 99%. Cowley: Oxfam International; 2023.
  • 55 Campelo T, Bortoletto AP, editors. Da fome a fome: diálogos com Josué de Castro. São Paulo: Cátedra Josué de Castro/Zabelê Comunicação/Editora Elefante; 2022.
  • 56 Queiroz C. Para além da pobreza, pesquisas sobre a fome passam a analisar gargalos na trajetória que o alimento faz do cultivo até a mesa do consumidor. Pesquisa FAPESP 2023; 328:13-8.
  • 57 Cherol CCS, Ferreira AA, Lignani JB, Salles-Costa R. Regional and social inequalities in food insecurity in Brazil, 2013-2018. Cad Saúde Pública 2022; 38:e00083822.
  • 58 Tanure TMP, Domingues EP, Magalhães AS. Regional impacts of climate change on agricultural productivity: evidence on large-scale and family farming in Brazil. Revista de Economia e Sociologia Rural 2024; 62:e262515.
  • 59 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2022: malha de setores censitários. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv102138.pdf (accessed on 15/Nov/2024).
    » https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv102138.pdf
  • 60 Góes EF. Semiárido em perspectiva de gênero: violências sexuais contra meninas e adolescentes e os efeitos dos períodos prolongados de seca. Salvador: Yaleta - Pesquisa, Ciências e Humanidades; 2024. (Caderno Iyaleta, 6).
  • 61 Myers SS, Zanobetti A, Kloog I, Huybers P, Leakey ADB, Bloom AJ, et al. Increasing CO2 threatens human nutrition. Nature 2014; 510:139-42.
  • 62 Perera F, Nadeau K. Climate change, fossil-fuel pollution, and children's health. N Engl J Med 2022; 386:2303-14.
  • 63 Early Childhood Scientific Council on Equity and the Environment. A cascade of impacts: the many ways water affects child development. Cambridge: Center on Developing Child, Harvard University; 2024. (Working Paper, 2).
  • 64 Ebi KL, Capon A, Berry P, Broderick C, Dear R, Havenith G, et al. Hot weather and heat extremes: health risks. Lancet 2021; 398:698-708.
  • 65 Ferreira ALL, Freitas-Costa N, Freire SSR, Figueiredo ACC, Padilha M, Alves-Santos NH, et al. Association between persistent organic pollutants in human milk and the infant growth and development throughout the first year postpartum in a cohort from Rio de Janeiro, Brazil. Environ Sci Pollut Res Int 2023; 30:115050-63.
  • 66 Bryson JM, Patterson K, Berrang-Ford L, Lwasa S, Namanya DB, Twesigomwe S, et al. Seasonality, climate change, and food security during pregnancy among indigenous and non-indigenous women in rural Uganda: implications for maternal-infant health. PLoS One 2021; 16:e0247198.
  • 67 Barker DJP, Eriksson JG, Forsén T, Osmond C. Fetal origins of adult disease: strength of effects and biological basis. Int J Epidemiol 2002; 31:1235-9.
  • 68 An R, Ji M, Zhang S. Global warming and obesity: a systematic review. Obes Rev 2018; 19:150-63.
  • 69 Magkos F, Tetens I, Bügel SG, Felby C, Schacht SR, Hill JO, et al. The environmental foodprint of obesity. Obesity (Silver Spring) 2020; 28:73-9.
  • 70 Castro IRR, Anjos LA, Lacerda EMA, Boccolini CS, Farias DR, Alves-Santos NH, et al. Nutrition transition in Brazilian children under 5 years old from 2006 to 2019. Cad Saúde Pública 2023; 39 Suppl 2:e00216622.
  • 71 Universidade Federal do Rio de Janeiro. Alimentação Infantil I: prevalência de indicadores de alimentação de crianças menores de 5 anos - ENANI 2019. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2021.
  • 72 Lacerda EMA, Bertoni N, Alves-Santos NH, Carneiro LBV, Schincaglia RM, Boccolini CS, et al. Minimum dietary diversity and consumption of ultra-processed foods among Brazilian children 6-23 months of age. Cad Saúde Pública 2023; 39 Suppl 2:e00081422.
  • 73 World Health Organization. WHO Guideline for complementary feeding of infants and young children 6-23 months of age. Geneva: World Health Organization; 2023.
  • 74 Evans J, Bansal A, Schoenaker DAJM, Cherbuin N, Peek MJ, Davis DL. Birth outcomes, health, and health care needs of childbearing women following wildfire disasters: an integrative, state-of-the-science review. Environ Health Perspect 2022; 130:86001.
  • 75 Grubesic TH, Durbin KM. Breastfeeding, community vulnerability, resilience, and disasters: a snapshot of the United States Gulf Soast. Int J Environ Res Public Health 2022; 19:11847.
  • 76 Boccolini CS, Lacerda EMA, Bertoni N, Oliveira N, Alves-Santos NH, Farias DR, et al. Trends of breastfeeding indicators in Brazil from 1996 to 2019 and the gaps to achieve the WHO/UNICEF 2030 targets. BMJ Glob Health 2023; 8:e012529.
  • 77 Fundo das Nações Unidas para a Infância. Crianças, adolescentes e mudanças climáticas no Brasil. Brasília: Fundo das Nações Unidas para a Infância; 2022.
  • 78 Ministério da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos. Brasília: Ministério da Saúde; 2019.
  • 79 Jonker FAM, Poel ET, Bates I, van Hensbroek MB. Anaemia, iron deficiency and susceptibility to infection in children in sub-Saharan Africa, guideline dilemmas. Br J Haematol 2017; 177:878-83.
  • 80 Imdad A, Mayo-Wilson E, Herzer K, Bhutta ZA. Vitamin A supplementation for preventing morbidity and mortality in children from six months to five years of age. Cochrane Database Syst Rev 2017; (3):CD008524.
  • 81 Antonucci R, Locci C, Clemente MG, Chicconi E, Antonucci L. Vitamin D deficiency in childhood: old lessons and current challenges. J Pediatr Endocrinol Metab 2018; 31:247-60.
  • 82 Universidade Federal do Rio de Janeiro. Biomarcadores do estado de micronutrientes: prevalências de deficiências e curvas de distribuição de micronutrientes em crianças brasileiras menores de 5 anos 3. ENANI-2019. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2021.
  • 83 Universidade Federal do Rio de Janeiro. Características sociodemográficas: aspectos demográficos, socioeconômicos e de insegurança alimentar. ENANI-2019. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2021.
  • 84 Giannini TC, Costa WF, Cordeiro GD, Imperatriz-Fonseca VL, Saraiva AM, Biesmeijer J, et al. Projected climate change threatens pollinators and crop production in Brazil. PLoS One 2017; 12:e0182274.
  • 85 Niles MT, Emery BF, Wiltshire S, Brown ME, Fisher B, Ricketts TH. Climate impacts associated with reduced diet diversity in children across nineteen countries. Environ Res Lett 2021; 16:015010.
  • 86 ClimaInfo. Glossário climático. https://climainfo.org.br/wp-content/uploads/2022/06/GlossarioClimaInfo_V3.pptx.pdf (accessed on 14/Oct/2024).
    » https://climainfo.org.br/wp-content/uploads/2022/06/GlossarioClimaInfo_V3.pptx.pdf
  • 87 Machado FL. Desigualdades sociais no mundo actual: teoria e ilustrações empíricas. Mulemba Revista Angolana de Ciências Sociais 2015; (9):297-318,.
  • 88 Alencar A, Zimbres B, Souza E, Tsai D, Silva FB, Quintana GO, et al. Estimativa de emissões de gases de efeito estufa dos sistemas alimentares no Brasil. https://www.oc.eco.br/seeg-sistemas-alimentares/ (accessed on 12/Mar/2024).
    » https://www.oc.eco.br/seeg-sistemas-alimentares/
  • 89 Young SL, Boating GO, Jamaluddine Z, Miller JD, Frongillo EA, Neilands TB, et al. The Household Water In Security Experiences (HWISE) Scale: development and validation of a household water insecurity measure for low-income and middle-income countries. BMJ Glob Health 2019; 4:e001750.
  • 90 United Nations. What is water security? Infographic. https://www.unwater.org/publications/what-water-security-infographic (accesed on 14/Oct/2024).
    » https://www.unwater.org/publications/what-water-security-infographic
  • 91 High Level Panel of Experts. Nutrition and food systems. A report by the High-Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition. Rome: Committee on World Food Security; 2017. (HPLE Report, 12).

Editado por

  • Editora Associada
    Coordenadora de avaliação: Inês Rugani Ribeiro de Castro (0000-0002-7479-4400)

Disponibilidade de dados

Não se aplica.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Dez 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    28 Nov 2024
  • Revisado
    11 Jul 2025
  • Aceito
    22 Ago 2025
location_on
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rua Leopoldo Bulhões, 1480 , 21041-210 Rio de Janeiro RJ Brazil, Tel.:+55 21 2598-2511, Fax: +55 21 2598-2737 / +55 21 2598-2514 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Reportar erro