Resumo
Relacionada enquanto efeito aos momentos-chave da encenação da emergência da linguagem, intensamente permeada pela afetividade, a meio-caminho entre o verbal e o pré-verbal, a poesia sonora é, sem dúvida, uma das maiores tentações de um tradutor de poesia. Ela se torna também um dos seus casos-limite. O presente trabalho procura apresentare discutir a teoria da tradução da poesia sonora tal como conceituada por Roman Ingarden. Tomando como exemplos algumas das práticas poéticas das vanguardas e algumas soluções propostas por Augusto e Haroldo de Campos no Panorama de Finnegans Wake, analiso a noção ingardeniana de quase palavra e a diferença que existe entre a fruição da obra literária e a apreciação da obra musical. O interesse pela tradução não se limita para o pensador polonês à análise teórica: ele surge em meio ao seu trabalho filosófico, que se destaca pelos aspectos marcadamente bilíngues. De fato, na formulação da sua estética fenomenológica a tradução do polonês para o alemão (e vice-versa) participa do próprio processo do pensamento criativo.
Palavras-chave
Tradução poética; Poesia Sonora; Roman ingarden