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Análise de agrupamento, com base na composição físico-química, de amostras de méis produzidos por Apis mellifera L. no Estado de São Paulo

Cluster analysis, with basis in physico-chemical composition, of samples of honey produced by Apis mellifera L. in São Paulo State

Resumos

A composição do mel depende, basicamente, da composição do néctar de cada espécie vegetal produtora, conferindo-lhe características específicas enquanto que as condições climáticas e o manejo do apicultor têm influência menor sobre essas características. A presente pesquisa, desenvolvida com amostras de méis de Apis mellifera coletadas diretamente dos produtores de 84 municípios do Estado de São Paulo teve o objetivo de verificar, com base em características físico-químicas, como se agrupam as amostras de méis silvestres e de eucaliptos. Dentre as 121 amostras de méis analisadas as de eucaliptos e as silvestres formam grupos distintos quanto aos caracteres físico-químicos, o que confirma que a origem floral interfere decisivamente nas características dos méis. Pela análise dos componentes principais, pode-se verificar que os caracteres que mais influenciaram no agrupamentos das amostras de méis foram condutividade elétrica e quantidade de K, no eixo X e índice de formol e umidade, no eixo Y.

análise de agrupamento; Apis mellifera; composição do mel


The honey composition depends, basically, of the nectar composition of each vegetal species. This composition confer to it specific characteristics while that the climatic conditions and the beekeeper handling have lesser influence on these features. The present research, developed with samples of Apis mellifera honeys, collected directly of the producers from 84 locations of the State of São Paulo, Brazil, had the objective of verifying, on the basis of physico-chemical characteristics, as the samples of wild and Eucalyptus honeys are grouped. Amongst the 121 samples analyzed the wild and Eucalyptus honeys form distinct groups with basis of the physico-chemical characteristics, what confirms that the floral origin intervenes decisively with the honey characteristics. For the analysis of the main components, it can be verified that the characters that had more influenced in the groupings of the honey samples were the electric conductivity and amount of K, in axle X and the formol index and humidity, in axle Y.

Apis mellifera; honey composition; cluster analysis


Análise de agrupamento, com base na composição físico-química, de amostras de méis produzidos por Apis mellifera L. no Estado de São Paulo1 1 Parte da tese de Livre Docência apresentada pelo primeiro autor à ESALQ/USP. * A quem a correspondência deve ser enviada.

Cluster analysis, with basis in physico-chemical composition, of samples of honey produced by Apis mellifera L. in São Paulo State

Luís Carlos MarchiniI, * 1 Parte da tese de Livre Docência apresentada pelo primeiro autor à ESALQ/USP. * A quem a correspondência deve ser enviada. ; Augusta Carolina de Camargo Carmello MoretiII; Ivani Pozar OtsukIII

IDepartamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agícola, ESALQ/USP, Piracicaba, SP

IICentro de Pesquisa e Desenvolvimento de Zootecnia Diversificada do Instituto de Zootecnia/APTA/ SAA, Nova Odessa, SP

IIICentro de Pesquisa e Desenvolvimento de Genética e Reprodução Animal do Instituto de Zootecnia/ APTA/SAA, Nova Odessa, SP

RESUMO

A composição do mel depende, basicamente, da composição do néctar de cada espécie vegetal produtora, conferindo-lhe características específicas enquanto que as condições climáticas e o manejo do apicultor têm influência menor sobre essas características. A presente pesquisa, desenvolvida com amostras de méis de Apis mellifera coletadas diretamente dos produtores de 84 municípios do Estado de São Paulo teve o objetivo de verificar, com base em características físico-químicas, como se agrupam as amostras de méis silvestres e de eucaliptos. Dentre as 121 amostras de méis analisadas as de eucaliptos e as silvestres formam grupos distintos quanto aos caracteres físico-químicos, o que confirma que a origem floral interfere decisivamente nas características dos méis. Pela análise dos componentes principais, pode-se verificar que os caracteres que mais influenciaram no agrupamentos das amostras de méis foram condutividade elétrica e quantidade de K, no eixo X e índice de formol e umidade, no eixo Y.

Palavras-chave: análise de agrupamento; Apis mellifera; composição do mel.

SUMMARY

The honey composition depends, basically, of the nectar composition of each vegetal species. This composition confer to it specific characteristics while that the climatic conditions and the beekeeper handling have lesser influence on these features. The present research, developed with samples of Apis mellifera honeys, collected directly of the producers from 84 locations of the State of São Paulo, Brazil, had the objective of verifying, on the basis of physico-chemical characteristics, as the samples of wild and Eucalyptus honeys are grouped. Amongst the 121 samples analyzed the wild and Eucalyptus honeys form distinct groups with basis of the physico-chemical characteristics, what confirms that the floral origin intervenes decisively with the honey characteristics. For the analysis of the main components, it can be verified that the characters that had more influenced in the groupings of the honey samples were the electric conductivity and amount of K, in axle X and the formol index and humidity, in axle Y.

Keywords:Apis mellifera; honey composition; cluster analysis.

1 - INTRODUÇÃO

Como o mel é resultado da desidratação e transformação do néctar, a quantidade de mel que pode ser obtida de uma determinada planta varia com os fatores que influenciam a produção e a concentração de néctar e, ainda, com a concentração e proporções de seus carboidratos, com a quantidade de flores da área e com o número de dias em que as flores estão secretando néctar [25]. A composição do mel depende, basicamente, da composição do néctar de cada espécie vegetal produtora, conferindo-lhe características específicas enquanto que as condições climáticas e o manejo do apicultor têm influência menor [65].

Existe no Brasil uma legislação específica para mel a qual estabelece parâmetros de controle de qualidade para o produto, com indicação das análises e métodos a serem empregados [12].

Dentre os açúcares existentes no mel, os monossacarídeos constituem a maior parte, variando de 85% a 95% da sua composição [33, 50, 63]. Outro parâmetro importante é a umidade que pode influenciar na viscosidade, no peso específico, maturidade, cristalização, sabor, conservação e palatabilidade [50, 65]. Com a descristalização do mel pode se formar o hidroximetilfurfural (HMF) o qual aumenta com a elevação da temperatura, com armazenamento do mel, adição de açúcar invertido, sendo também afetado pela acidez, pH, água e minerais [22, 30, 49, 50, 59, 62]. Dentre as enzimas, a diastase é a principal, sendo um parâmetro importante na avaliação da qualidade do mel [11, 57].

Os méis brasileiros possuem uma variação grande de cor o que pode influenciar na preferência do consumidor, que, na maioria das vezes, escolhe o produto apenas pela aparência. Tal é a relevância deste parâmetro que o INTERNATIONAL TRADE FORUM [36] considerou a cor como uma das características do mel que tem particular importância no mercado internacional. A cor do mel está correlacionada com a sua origem floral, o processamento e armazenamento, fatores climáticos durante o fluxo do néctar, a temperatura na qual o mel amadurece na colméia [50] e o conteúdo de minerais presentes, que muitas vezes são expressos como cinzas [8, 10, 39, 45, 58].

A condutividade elétrica pode ser utilizada como método suplementar na determinação da origem botânica do mel [1] e tem correlação com o conteúdo de cinzas, pH, acidez, sais minerais, além das proteínas e outras substâncias presentes no mel [10, 25, 55].

Apesar do pouco conhecimento sobre as características do material protéico, a ocorrência de proteínas em mel é utilizada na detecção de adulteração do produto comercial [26].

Outro parâmetro importante para comprovar a autenticidade do mel é o índice de formol que pode indicar a presença de produtos artificiais, quando seu valor é baixo ou a presença de hidrolizado de proteínas, quando seu valor é excessivamente alto [52].

O conhecimento da origem floral dos méis é muito importante para a caracterização do produto. Assim, a análise polínica do mel é um importante instrumento para o reconhecimento das plantas apícolas utilizadas pelas abelhas, como suprimento de néctar e pólen [7, 34, 37].

A presente pesquisa, desenvolvida com amostras de méis de Apis mellifera de 84 municípios do Estado de São Paulo teve o objetivo de verificar, com base em características físico-químicas, como se agrupam as amostras de méis silvestres e de eucaliptos.

2 - MATERIAL E MÉTODOS

As amostras de méis (num total de 121) foram obtidas através de contato direto com apicultores de diferentes localidades do Estado de São Paulo, conforme Tabela 1. As amostras foram coletadas em diferentes épocas do ano dependendo da origem floral (silvestre ou eucalipto) e acondicionadas em frascos de vidro, devidamente etiquetados com as informações do local de produção e transportados para o laboratório.

As análises físico-químicas e polínicas dos méis produzidos por Apis mellifera foram realizadas no Laboratório de Apicultura do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", campus de Piracicaba, da Universidade de São Paulo.

Todos os parâmetros analisados são resultantes da média de três repetições.

2.1 - Análises físico-químicas dos méis

2.1.1 - Umidade

A umidade das diferentes amostras de méis foi determinada por meio de um refratômetro manual ATAGO (luz natural, temperatura ambiente) específico para mel [4]. Este aparelho foi adaptado a partir do refratômetro Abbé e possui um alto contraste no campo de visão [12].

2.1.2 - Cor

Para a verificação da cor do mel foi utilizado o colorímetro fotoelétrico DME-11 com comprimento de onda de 520mm, em célula de 1cm.

Por meio de comparação dos dados obtidos com os da tabela de Townsend, citado por PAMPLONA [46], determinou-se a cor do mel.

2.1.3 - Minerais

Os diferentes minerais contidos no mel foram determinados a partir das cinzas das amostras dos méis, em solução de HCl a 50%, por espectrofotometria de emissão em chama e sistemas de injeção em fluxo contínuo conforme Bergamim Filho et al. citado por PAMPLONA [46], com espectofotômetro Micronal, modelo B262; Bomba Peristáltico modelo B332 e sistemas de injeção em fluxo contínuo: injetor computador e microcomputador SACI. Foram determinados os seguintes minerais: P, K, Ca, Mg, S, Cu, Fe, Mn, Zn e Na.

2.1.4 - Condutividade elétrica

A condutividade elétrica foi obtida em uma solução a 20% de matéria seca de mel a 20ºC [9]. Para tanto foi utilizado o condutivímetro Hanna, modelo HI 8820, para obtenção dos dados.

2.1.5 - Proteínas

As proteínas do mel foram determinadas seguindo-se o método micro-Kjeldahl citado nas normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz [48], utilizando-se, para o cálculo do valor de proteínas, o fator 6,25.

2.1.6 - Teor de cinzas

A determinação de cinzas foi realizada conforme a metodologia citada na legislação brasileira por em mufla a 550ºC até peso constante BRASIL [12].

2.1.7 - pH, acidez e índice de formol

O pH, a acidez e o índice de formol foram determinados segundo a metodologia de MORAES & TEIXEIRA [43].

2.1.8 - Diastase

O índice de diastase foi determinado conforme a metodologia citada na legislação brasileira [12].

2.1.9 - Hidroximetilfurfural

O hidroximetilfurfural foi determinado conforme a metodologia citada na legislação brasileira [12].

2.1.10 - Açúcares totais, açúcares redutores e sacarose aparente

A determinação de açúcares totais, açúcares redutores e sacarose aparente foi realizada por meio do método estabelecido pela COPERSUCAR [21]

2.2 - Análise polínica

Todas as amostras foram submetidas ao método da acetólise e em seguida submetidas a uma análise qualitativa e outra quantitativa [28]. Somente após a análise polínica dos méis obtidos foram realizadas as análises físico-químicas.

2.3 - Análise dos dados

Os dados foram analisados por meio da análise multivariada, utilizando-se a análise de componentes principais para avaliar a importância de cada caracter físico-químico estudado sobre a variação total disponível [40]. Esta técnica baseia-se na padronização e rotação dos eixos ortogonais (carácter físico-químico), gerando um novo conjunto de coordenadas (componentes principais) não correlacionados entre si [44]. Foi realizado um descarte dos caracteres altamente correlacionados (condutividade elétrica, pH, K e Mg) e utilizando-se o critério proposto por JOLIFFE [38], desprezando-se a variável de maior coeficiente em cada componente com autovalor menor que 0,70.

Para a análise de agrupamento adotou-se segundo BUSSAB, ANDRADE & MYAZAKY [13], como média de dissimilaridade a distância euclidiana média para os dados devidamente padronizados. Os agrupamentos foram formados pelo método UPGA (unweighted pair-group average).

3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 - Análises físico-químicas

3.1.1 - Açúcares redutores, totais e sacarose aparente

Os valores médios obtidos (Tabela 2) em porcentagem de açúcares redutores, açúcares totais e sacarose aparente para méis de eucalipto foram: 72,30 (67,70 a 77,10), 74,90 (67,80 a 88,30) e 2,40 (0,10 a 15,20), respectivamente. Já para os méis silvestres os valores médios para açúcares redutores, açúcares totais e sacarose aparente, foram de: 72,60 (53,20 a 80,00); 75,20 (68,20 a 82,00); 2,40 (0,20 a 27,40), respectivamente. Esses valores são próximos aos obtidos por CAMPOS [14], SODRÉ [53] e VILHENA & ALMEIDA-MURADIAN [60], estudando méis brasileiros, e aos de VIT-OLIVIER [61]; SPORNS, PLHAK & FRIEDRICH [54] e BALDI-CORONEL, DALL'OGLLIO & LEZCANO [6] utilizando méis de outros países.

CANO et al. [17] verificaram que 6 (10,3%) das 173 amostras de méis comecializados em São Paulo, capital, continham valores de sacarose aparente acima dos permitidos pela legislação vigente no BRASIL [12].

Os valores médios observados para açúcares redutores e sacarose aparente, encontram-se dentro dos limites estabelecidos pela legislação brasileira [12].

3.1.2 - Umidade

A legislação brasileira estabelece que a umidade do mel não deve exceder 20% [12]. No presente trabalho, embora as médias observadas para méis silvestres tenha sido de 19,10% e para méis de eucalipto 21,20% (Tabela 2), das 121 amostras de diferentes municípios do Estado de São Paulo, 44 amostras (36,40%) apresentaram umidade superior a 20%. Uma porcentagem considerável das amostras de méis está, portanto, fora das normas de qualidade do mel brasileiro.

CORNEJO & TOMASEVICH [23] analisaram 12 amostras de méis de diferentes localidades dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e encontraram 5 amostras (41,67%) com umidade superior a 20%, enquanto CANO et al. [17] observaram 14 amostras (24,1%) acima dos valores permitidos pela legislação, em 173 amostras analisadas de méis consumidos em São Paulo, capital. GAMERO, CORNEJO & TOMASEVICH [31] analisaram 169 amostras de méis de diferentes localidades na Argentina, e apenas 12 amostras apresentaram umidade superior a 20%.

Cano et al. [16] comparando amostras de méis brasileiros de flores de eucalipto e de laranjeira, verificaram que a umidade variou de 16,9 a 18,4% para eucalipto e 15,5 a 16,8% para os de flores de laranjeira, valores próximos aos obtidos por VILHENA & ALMEIDA-MURADIAN [60] e aos do presente trabalho.

A explicação para o elevado teor de água encontrado neste experimento, principalmente nas amostras de méis de eucaliptos, poderia ser a colheita do mel oriundo de favos não operculados ou o período de armazenamento, podendo assim, o mel ter absorvido umidade do ambiente.

3.1.3 - Condutividade elétrica

Para os valores de condutividade elétrica, observou-se grande variação entre as amostras analisadas (Tabela 2). A média de 1018,65mS cm1 (331,00 a 1257,33) de condutividade elétrica para as amostras de méis de eucaliptos das diferentes localidades do Estado de São Paulo, pode ser considerada elevada, comparando com o valor médio de 448,60mS cm-1, encontrado por GOMEZ et al. [32], para amostras de méis comerciais de eucaliptos da Espanha. Já para méis silvestres foi observada uma média de 568,25mS cm-1 (160,71 a 1251,60).

SODRÉ [53] obteve valores de condutividade elétrica para méis da região litoral norte do Estado da Bahia variando de 271,67 a 1634,00mS.cm-1, com uma média de 780,70mS.cm-1.

3.1.4 - Proteínas

As porcentagens médias de proteínas encontradas foram de 0,32% para méis de eucaliptos e 0,19% para méis silvestres, com uma variação de 0,23% a 0,49% e 0,05 a 0,58, respectivamente (Tabela 2).

Os valores de proteínas não diferiram muito dos obtidos por CIRILLI, PAPAGHEORGHEU & SAVIGNI [20] e CAMPUS, MADAU & SOLINAS [15], que observaram porcentagens de 0,20% e 0,60%, respectivamente, para diferentes amostras de méis italianos.

AMARAL et al. [2] estudaram 9 amostras de méis de eucaliptos de diferentes regiões do Estado de São Paulo, e encontraram a média de 2,54% de proteínas, sendo essa média, bem superior à obtida no presente experimento.

IMPERATRIZ-FONSECA et al. [35], ao estudarem o teor de proteínas de amostras de méis de eucaliptos brasileiros, verificaram valores médios de 1,92 a 2,76%. Essa porcentagem é bem maior que a média de 0,32% verificada nas amostras de méis estudadas.

3.1.5 - Cinzas

A porcentagem de cinzas presente no mel expressa a riqueza do material mineral, e se constitui em parâmetro bastante utilizado nas determinações que visam verificar a qualidade do mel.

A legislação brasileira estabeleceu que o máximo de cinzas presentes nos méis deve ser de 0,60% [12]. Baseando-se, portanto, na legislação, pode-se verificar que as amostras de méis de eucaliptos e silvestres, apresentaram porcentagens médias de cinzas abaixo do máximo permitido, estando, portanto, dentro das normas para méis de boa qualidade (Tabela 2).

A porcentagem média de cinzas das amostras de méis de eucaliptos analisadas foi de 0,16%, valor esse um pouco inferior aos 0,20% de amostras de méis comerciais de eucaliptos, encontradas na Espanha; enquanto para os méis silvestres a média obtida foi de 0,25% [32].

MORAES E MONTAVANI [42] ao estudarem o teor de cinzas de amostras de méis brasileiros de cana, carrapicho e eucalipto encontraram teor de 1,20% de cinzas, valor esse bastante superior ao das amostras de méis analisadas no presente experimento.

Os valores de cinzas encontrados neste experimento (Tabela 2) foram semelhantes aos obtidos por FLECHTMANN et al. [29] em amostras de méis de eucaliptos de diferentes regiões do Estado de São Paulo e próximos à média obtida por VILHENA & ALMEIDA-MURADIAN [60] que foi de 0,14%, também para méis deste Estado.

3.1.6 - pH, acidez e índice de formol

Os valores de pH de 3,60 (2,90 a 5,10) e 3,20 (2,30 a 5,00), respectivamente, para méis de eucaliptos e silvestres (Tabela 2), estão próximos aos obtidos por AZEREDO & AAZEREDO [5]; FLECHTMANN et al. [29]; HORN et al. [33]; PAMPLONA [46] e SODRÉ [53] para méis brasileiros; aos de BALDI-CORONEL, DALL'OGLLIO & LEZCANO [6] para méis argentinos e aos de ANDRADE et al. [3] em méis portugueses.

Para a acidez, os valores médios obtidos foram 33,80meq/kg (12,50 a 55,00meq/kg) para méis de eucaliptos e 30,10meq/kg (14,00 a 75,50meq/kg) para méis silvestres. Os valores encontrados estão próximos aos de PAMPLONA [46], CARVALHO et al. [18], SODRÉ [53] e superiores à média obtida por VILHENA & ALMEIDA-MURADIAN [60].

CANO et al. [17] observaram que 21 (36,2%) das 173 amostras de méis comercializados na cidade de São Paulo apresentavam valores de acidez acima dos permitidos enquanto no presente trabalho os valores foram de 19,1% para méis silvestres e 29,6% para méis de eucaliptos.

Os valores de índice de formol encontrados para méis de eucaliptos variaram de 5,00 a 12,50mL/kg com uma média de 6,90mL/kg e de 5,00 a 20,50mL/kg com uma média de 10,10mL/kg para méis silvestres.

Os valores observados estão próximos aos obtidos por TEMIZ [56], CARVALHO et al. [19] e SODRÉ [53].

3.1.7 - Hidroximetilfurfural

As quantidades médias de hidroximetilfurfural (HMF) encontradas nas amostras de méis analisadas variaram, para méis de eucaliptos de 17,40mg/kg (0,30 a 207,20mg/kg) e de 19,30mg/kg (1,00 a 122,00mg/kg) para méis silvestres (Tabela 2). O limite estabelecido pela legislação brasileira [12] para HMF é de 60mg/kg, e desta forma sete amostras (5,8%) estão fora destas especificações.

DAYRELL & VITAL [27] analisaram amostras de méis brasileiros e encontraram valores variando de 1,10 a 248,20mg/kg. Os autores mencionaram que os méis de países tropicais possuem alto teor de HMF, tornando-se fundamental a quantificação desse componente, para a verificação da qualidade do produto.

HORN et al. [33] analisaram amostras de méis brasileiros e encontraram para a região nordeste valor médio de HMF de 113,70mg/kg, enquanto MENDES et al. [41] determinaram para méis portugueses valores de 1,70 a 94,90mg/kg.

O HMF no mel é um indicador de aquecimento, armazenamento e adulteração com açúcar invertido. WHITE JÚNIOR [64] menciona que méis de países subtropicais podem ter, naturalmente, um alto valor de HMF sem que o mel tenha sido superaquecido ou adulterado, devido a altas temperaturas. SODRÉ [53] observou valores variando de 1,50 a 136,00mg/kg, com média de 24,33mg/kg em amostras de méis da região litoral norte da Bahia.

3.1.8 - Índice de diastase

O índice de diastase das 121 amostras de méis analisadas variou de 5,00 a 38,50 (escala de Gothe) com valor médio de 15,80 para méis de eucaliptos e 17,30 para méis silvestres (Tabela 2). O limite estabelecido pela legislação brasileira [12] para o índice de diastase é de no mínimo 8, desta forma 6 amostras (4,96%) estão fora destas especificações.

COSTA et al. [24] encontraram em amostras de méis brasileiros de diferentes origens florais valores variando de 5,90 a 66,70 (escala de Gothe) para o índice de diastase. Já ANDRADE et al. [3] observaram em méis portugueses valores variando de 13,00 a 51,10 (escala de Gothe). PERSONO-ODDO, BALDI & ACCORTI [47] estudando a presença de enzimas em méis uniflorais italianos de diferentes origens botânicas, encontraram valores para o índice de diastase muito diferentes dentro da mesma florada.

SODRÉ [53] encontrou o índice de diastase em méis da região litoral norte do Estado da Bahia variando de 16,66 a 62,81 (escala de Gothe), com valor médio de 34,11.

As médias obtidas para índice de diastase no presente trabalho são próximas à média observada por VILHENA & ALMEIDA-MURADIAN [60] para méis brasileiros comercializados em São Paulo.

3.1.9 - Minerais

Os valores de minerais obtidos nas amostras analisadas apresentaram grande variação de amostra para amostra.

O teor médio de fósforo foi de 35,82mg/kg para méis de eucaliptos e 16,65mg/kg para méis silvestres (Tabela 2), havendo, entretanto, uma grande variação entre os teores das amostras (8,00 a 155,00mg/kg e 1,91 a 85,58mg/kg, para méis de eucaliptos e silvestres, respectivamente). A média de fósforo presente nas amostras, foi superior à média de 2,54mg/kg encontrada por PAMPLONA [46] ao estudar amostra de méis brasileiros de eucaliptos.

O potássio foi o elemento encontrado em maior quantidade quando comparado com os demais minerais. A quantidade média foi de 1720,00mg/kg (562,00 a 3495,00mg/kg) e 990,85mg/kg (95,00 a 3140,00mg/kg), respectivamente, para méis de eucaliptos e silvestres (Tabela 2).

GOMEZ et al. [32] obtiveram média de 285,60mg/kg de potássio em amostras de méis de eucaliptos da Espanha, teores esses inferiores às quantidades encontradas, nas amostras de méis, no presente experimento.

Cálcio foi o segundo elemento encontrado em maior quantidade nas amostras, com uma média de 187,70mg/kg (55,00 a 301,00mg/kg) para méis de eucaliptos e 46,18mg/kg (1,00 a 202,00mg/kg) para méis silvestres (Tabela 2). GOMEZ et al. [32] encontraram os teores de 155mg/kg de cálcio em amostras de méis de eucaliptos.

Pelos dados obtidos verifica-se que o teor de cálcio nas amostras de méis de eucaliptos é mais de três vezes superior aos valores obtidos nos méis silvestres.

A quantidade média de magnésio presente nas amostras foi de 128,74mg/kg (31,00 a 270,0mg/kg) para méis de eucaliptos e 65,45mg/kg (11,00 a 286,00mg/kg) para méis silvestres (Tabela 2). Esse mineral foi o terceiro elemento obtido em maior quantidade nas amostras de méis de eucalipto e segundo em méis silvestres.

O enxofre foi encontrado na quantidade média de 51,82mg/kg (36,00 a 164,00mg/kg) para méis de eucaliptos e 62,47mg/kg (1,00 a 500,00mg/kg) para méis silvestres (Tabela 2).

Os valores médios de cobre presentes nas amostras de méis de eucaliptos 0,34mg/kg (0,20 a 0,60) e de silvestres 0,32mg/kg (0,10 a 2,00) (Tabela 2) foram inferiores aos valores obtidos por SHAVONOV e IBRISHIMOV [51], que encontraram valores de 1,81 a 8,15mg/kg em amostras de méis da Bulgária de diferentes origens florais. GOMEZ et al. [32] obtiveram valores médios de 1,74mg/kg de cobre em amostras de méis de eucaliptos.

Para o ferro foi encontrado o valor médio de 5,35mg/kg (2,10 a 9,00mg/kg) para as amostras de méis de eucaliptos e 10,62mg/kg (3,90 a 44,70mg/kg) para méis silvestres (Tabela 2). Esses valores foram inferiores aos obtidos por GOMEZ et al. [32].

O manganês esteve presente na quantidade média de 8,43mg/kg (1,60 a 16,90mg/kg) para os méis de eucaliptos e 4,46mg/kg (0,20 a 23,30mg/kg) para os méis silvestres (Tabela 2).

O zinco ocorreu na quantidade média de 2,65mg/kg (0,80 a 8,70mg/kg) para os méis de eucaliptos e 5,45mg/kg (1,20 a 48,30mg/kg) para os méis silvestres (Tabela 2). O teor de zinco encontrado foi superior à quantidade de 0,09mg/kg observado por PAMPLONA [46], ao analisar amostras de méis brasileiros de Eucalyptus.

O sódio foi encontrado na quantidade média de 71,98mg/kg (23,70 a 212,50mg/kg) para méis de eucaliptos e 49,31mg/kg (14,95 a 202,40mg/kg) para méis silvestres (Tabela 2). GOMEZ et al. [32] verificaram a quantidade média de 77,70mg/kg de sódio em amostras de méis de eucaliptos na Espanha.

PAMPLONA [46] estudando méis brasileiros, cita que o tipo de clima de cada região influencia no conteúdo mineral do mel, e que amostras de méis provenientes de locais com solo do tipo latossolo roxo eutrófico, apresentaram menores quantidades de ferro e manganês, do que amostras provenientes de solos formados por rochas ácidas e alcalinas.

Comparando as duas origens florais, observa-se que maiores teores de cinzas foram obtidos para méis silvestres (0,25%) em comparação com méis de eucaliptos (0,16%), enquanto os teores dos diversos minerais foram menores nos méis silvestres.

3.2 - Análise de agrupamentos

Para a análise de agrupamentos por componentes principais de 121 amostras de méis e dos 22 caracteres físico-químicos existentes na Tabela 2, foram selecionados os seguintes: proteínas, cinzas, umidade, Ca, S, Cu, Fe, Mn, Zn, Na, acidez, índice de formol, índice de diastase, HMF, açúcares redutores, açúcares totais, sacarose aparente, sendo descartados quatro: condutividade elétrica, pH, K e Mg, devido à alta correlação apresentada e utilizando-se o critério proposto por JOLIFFE [38].

Os resultados das estimativas de variância (autovalores) obtidos encontram-se na Tabela 3.

Pela Tabela 3 observa-se que o primeiro componente concentrou 26,71% da variância total, o segundo 40,38%, o terceiro 48,93%, o quarto 57,08%, o quinto 64,69%, e o sexto 70,11%.

MARDIA, KENI & BIBBY [40] afirmaram que se numa análise de componentes principais os dois ou três primeiros componentes acumularem uma porcentagem relativamente alta da variação total, em geral mais de 70%, eles explicariam a variabilidade manifestada entre variedades avaliadas. No caso presente, observa-se que foram necessários seis componentes principais para explicar 70% da variância total disponível entre os caracteres físico-químicos. Assim, constata-se uma considerável dispersão da variância no material estudado, razão pela qual optou-se pela análise de Cluster.

Os dados da análise de Cluster podem ser observados no fenograma da Figura 1.


Pela Figura 1 observa-se que foram formados 31 grupos, os quais podem ser identificados a seguir: no grupo I encontra-se uma amostra (nº 82); no grupo II encontra-se uma amostra (nº 111); no grupo III encontra-se uma amostra (nº 6); no grupo IV, uma amostra (nº 57): no grupo V, duas amostras (nº 23, 17); no grupo VI, uma amostra (nº 106); no grupo VII, três amostras (nº 76, 71, 66); no grupo VIII, duas amostras (nº 87, 32); no grupo IX, duas amostras (nº 11, 10); no grupo X, uma amostra (nº 90); no grupo XI, uma amostra (nº 70); no grupo XII, uma amostra (nº 3); no grupo XIII, uma amostra (nº 29): no grupo XIV, uma amostra (nº 27); no grupo XV, uma amostra (nº 37); no grupo XVI, uma amostra (nº 60); no grupo XVII, uma amostra (nº 24); no grupo XVIII, treze amostras (nº 63, 54, 43, 73, 72, 53, 64, 42, 31, 18, 44, 19, 13); no grupo XIX, quarenta e uma amostras (nº 55, 112, 15, 74, 14, 12, 69, 68, 61, 46, 91, 56, 45, 47, 65, 39, 92, 93, 85, 67, 48, 28, 58, 30, 25, 9, 52, 40, 75, 41, 36, 77, 35, 34, 59, 26, 21, 22, 16, 8, 7); no grupo XX, três amostras (nº 118, 116, 113); no grupo XXI, três amostras (nº 120, 119, 98); no grupo XXII, dezoito amostras (nº 103, 105, 100, 110, 121, 102, 101, 96, 109,108, 99, 95, 107, 114, 104, 117, 115, 5); no grupo XXIII, uma amostra (nº 49); no grupo XXIV, três amostras (nº 38, 33, 4); no grupo XXV, uma amostra (nº 86); no grupo XXVI, nove amostras (nº 83, 80, 94, 88, 79, 89, 78, 84, 62); no grupo XXVII, duas amostras (nº 81, 20); no grupo XXVIII, duas amostras (nº 51, 50); no grupo XXIX, uma amostra (nº 2); no grupo XXX, uma amostra (nº 97); no grupo XXXI, uma amostra (nº 1).

Adotou-se como critério para definição dos grupos o gráfico das distâncias de ligação nos sucessivos passos da análise de agrupamento. Este método baseia-se na identificação de um platô no sentido vertical, o que significa que muitos grupos foram formados na mesma distância de ligação. Esta distância pode ser um ponto ótimo de corte no dendrograma determinando o número de grupos formados. No presente trabalho o ponto ótimo para corte escolhido foi 4,3, representado pela linha tracejada na Figura 1. O ponto ótimo para o corte foi baseado na identificação de um platô no sentido vertical, o que significa que muitos grupos foram formados na mesma distância de ligação, sendo esta distância o ponto ótimo de corte para o fenograma, determinando o número de grupos formados (Figura 2)


Observa-se que os méis de eucaliptos formaram dois grupos ficando apenas quatro amostras (amostras 97, 106, 111, 112) (legenda da Figura 1), declaradas como de eucaliptos, fora destes grupos. Pela análise polínica destas quatro amostras verificou-se que elas continham pólen de eucaliptos, mas, uma quantidade variável de outros pólens, podendo, portanto, ser classificados como méis poliflorais. As demais 23 amostras declaradas como de eucalipto foram confirmadas pela análise polínica. Por outro lado os méis declarados pelos apicultores como silvestres, o que foi confirmado pela análise polínica, formaram diversos grupos devido a grande variedade de tipos polínicos.

Pela análise dos componentes principais, pode-se verificar que os caracteres que mais influenciaram no agrupamentos das amostras de méis foram condutividade elétrica e quantidade de K no eixo X e índice de formol e umidade no eixo Y.

Segundo BOGDANOV [10] a condutividade elétrica é considerada um bom critério para indicar a origem floral do mel pois é influenciada por ácidos e pelo conteúdo de cinzas. Méis de diferentes origens florais têm valores diferentes de condutividade elétrica.

4 - CONCLUSÕES

Dentre as 121 amostras de méis do Estado de São Paulo analisadas as de eucaliptos e as silvestres formam grupos distintos quanto aos caracteres físico-químicos, o que confirma que a origem floral interfere decisivamente nas características dos méis.

Os valores médios dos parâmetros analisados e que constam da legislação vigente, encontram-se dentro dos limites estabelecidos, com exceção da umidade em 36,40% das amostras de méis de eucaliptos.

5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Recebido para publicação em 16/01/2002. Aceito para publicação em 02/02/2005 (000795).

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  • 1
    Parte da tese de Livre Docência apresentada pelo primeiro autor à ESALQ/USP.
    *
    A quem a correspondência deve ser enviada.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Set 2005
    • Data do Fascículo
      Mar 2005

    Histórico

    • Recebido
      16 Jan 2002
    • Aceito
      02 Fev 2005
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