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Discurso e Contexto: Uma abordagem sociocognitiva

NOTAS SOBRE LIVROS BOOKNOTES

Cláudia Moreira dos Santos

(Doutoranda LAEL-PUC-SP), E-mail: cmsantos17@gmail.com

DIJK, Teun A. van. Discurso e Contexto: Uma abordagem sociocognitiva. (Tradução: Rodolfo Ilari). SP: Editora Contexto, ISBN 978-85-7244-693-8, p. 330, 2012.

Com tradução de Rodolfo Ilari, acaba de ser lançado um importante livro do conhecido estudioso da relação entre texto e contexto, Teun A. vanDijk. O livro trata de uma noção até hoje difícil de definir: o contexto. A influência do contexto é, muitas vezes, sutil, indireta, complexa, confusa e contraditória, com resultados bem distantes dos efeitos óbvios das variáveis sociais independentes, e, embora haja um interesse crescente no estudo do contexto, esse interesse ainda carece de foco.

Este livro é o primeiro inteiramente dedicado à noção de contexto e, portanto, avisa van Dijk (2012), deve ser encarado como um estudo de caráter explorativo. É um estudo teórico, inspirado por ideias e desenvolvimentos ocorridos na Linguística, na Sociolinguística e na Psicologia Cognitiva. Ele resenha um grande número de estudos empíricos, mas não relata nenhum estudo ou experimento etnográfico novo sobre contexto. Ao invés disso, van Dijk ilustra a teoria, exemplificando-a por meio de um dos mais influentes discursos dos últimos anos: o debate sobre o Iraque na Câmara dos Comuns Britânica. Em seu discurso pronunciado nesse debate, Tony Blair apresentou e defendeu uma moção que visava a legitimar a Guerra contra o Iraque.

Na realidade, continua o autor, no estudo da língua e do discurso, o contexto é concebido em termos de variáveis sociais independentes, como o gênero, a classe, a etnia e a idade, quando não em termos de condições sociais do texto e da fala. A grande maioria desses estudos usa a palavra informalmente, como 'ambiente circunstante', 'condições', 'situação' ou 'pano de fundo' de caráter social, político, geográfico ou econômico, mas quase nunca no sentido especifico de 'contexto do texto ou da conversa'.

O autor dá uma visão, então, das várias áreas do estudo da linguagem em que a análise das condições contextuais não conseguiu desenvolver teorias do contexto mais específicas, como fundamento para seu próprio empreendimento crítico: a teoria dos Atos de Fala, a Análise do Discurso Crítica, a Psicologia Cognitiva, a Inteligência Artificial, a Psicologia Social, a Sociologia (com a contribuição importante de Goffman), a Antropologia (em especial a Etnografia da Fala e a Antropologia Linguística, quando cita Dell Hymes e Gumperz), concluindo que, na maioria das disciplinas humanísticas e sociológicas, há um interesse crescente no estudo do contexto, mas um interesse que ainda carece de foco.

São poucos os livros em Linguística, nos estudos sobre discurso e nas Ciências Sociais, que usam a noção de contexto em termos de restrições no discurso e consequências do discurso, mas a maioria desses estudos enfoca especificamente o discurso, e não a natureza complexa de seus contextos. Isso, evidentemente, não causa surpresa, porque a noção mesma de 'contexto' implica uma definição relativa a 'texto', e nesse caso o 'texto' (ou a conversa) é o fenômeno focal.

É muito bem vindo esse livro que tem como meta levar os contextos a sério, desenvolvendo teorias explícitas a respeito deles e da maneira como se entende que se relacionam ao discurso e à comunicação. Sem dúvida, preenche uma lacuna nos estudos da pragmática, envolvendo conceitos sociais e cognitivos, que, dessa forma, atinge um alcance maior no tratamento dos fenômenos da comunicação.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Fev 2013
  • Data do Fascículo
    2012
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