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Recontextualização e sedimentação do discurso e da prática social: como a mídia constrói uma representação negativa para o professor e para a escola pública

Recontextualisation and sedimentation of discourse and social practice: how media constructs a negative representation for teacher and public school

RESUMO

O tema abordado nesse artigo é a representação do professor produzida pela mídia brasileira e o modo como essa representação, através da recontextualização da docência em diversos gêneros, se sedimenta na sociedade, inclusive na escola e no discurso do próprio professor. Como referencial teórico, adotamos a vertente da Análise Crítica do Gênero proposta em Bonini (2013)______. 2013. Análise crítica de gêneros discursivos no contexto das práticas jornalísticas. In: SEIXAS, Lia; PINHEIRO, Najara Ferrari. (Org.). Gêneros: um diálogo entre Comunicação e Linguística Aplicada. Florianópolis: Insular. p. 103-120., que toma por base a perspectiva crítica proposta pela Análise Crítica do Discurso (Fairclough 1992FAIRCLOUGH, Norman. 1992. Discourse and social change. Cambridge: Polity Press., 2003______. 2003. Analysing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge.), acrescida de uma teoria de gênero. Nessa linha, discutimos como a prática social da docência (e seu agente principal, o professor) é recontextualizada de forma negativa em gêneros da mídia jornalística (notícia e reportagem) e em gêneros de outras mídias (charge, meme, vídeo, postagem de blog, página do Facebook).

Palavras-chave:
Discurso midiático; Representação do professor; Recontextualização; escola

ABSTRACT

This article explores the representation of teacher identity produced by the Brazilian media and how this representation, by being recontextualized in different genres, is reinforced and disseminated socially, including in the school environment and in the voice of teachers themselves. The theoretical background comes from Critical Genre Analysis (Bonini 2013______. 2013. Análise crítica de gêneros discursivos no contexto das práticas jornalísticas. In: SEIXAS, Lia; PINHEIRO, Najara Ferrari. (Org.). Gêneros: um diálogo entre Comunicação e Linguística Aplicada. Florianópolis: Insular. p. 103-120.), an approach based on the critical perspective proposed by Critical Discourse Analysis (Fairclough 1992FAIRCLOUGH, Norman. 1992. Discourse and social change. Cambridge: Polity Press., 2003______. 2003. Analysing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge.), in conjunction with a genre theory. In this article we discuss how the social practice of teaching (and its main agent, the teacher) is negatively recontextualized in genres of the journalistic media (news report and reportage) and in genres from other media (cartoon, meme, video, blog post, Facebook page).

Key-words:
Media discourse; Teacher representation; Recontextualization; School

Introdução

O tema abordado nesse artigo é a representação fragilizada que a mídia constrói para o professor e o modo como essa representação, por meio da recontextualização e circularidade em diversos gêneros, se sedimenta na sociedade, inclusive na escola e no próprio discurso do professor. A partir de nossa experiência cotidiana como consumidores de mídia, formulamos a premissa de que o jornalismo hegemônico disponibiliza uma representação negativa da docência e da escola, que vai sendo sedimentada ao longo de uma cadeia de recontextualizações em diversas mídias e gêneros - a representação do professor perdedor, coitado, pobre, com baixo status social, um profissional que exerce seu ofício quase sempre em condições precárias de trabalho (em escolas representadas como ‘zonas de guerra’ e de abandono).

No curso de nossas reflexões, adotamos como balizamento teórico a vertente da Análise Crítica do Gênero proposta em Bonini (2013)______. 2013. Análise crítica de gêneros discursivos no contexto das práticas jornalísticas. In: SEIXAS, Lia; PINHEIRO, Najara Ferrari. (Org.). Gêneros: um diálogo entre Comunicação e Linguística Aplicada. Florianópolis: Insular. p. 103-120. (doravante ACG). Em suas várias proposições (cf.: Meurer 2002MEURER, José L. 2002. Uma dimensão crítica do estudo de gêneros textuais. In: _____; MOTTA-ROTH, Desirée. (Org.). Gêneros textuais e práticas discursivas: subsídios para o ensino da linguagem. Bauru: EDUSC: 17-29.; Bhatia 2004BATHIA, Vijai. 2004. Worlds of written discourse: a genre-based view. London; New York: Continuum., 2008______. 2008. Towards critical genre analysis. In: _____; FLOWERDEW, John; JONES, Rodney H. (Eds.). Advances in discourse studies. London; New York: Routledge. ; Motta-Roth 2008MOTTA-ROTH, Désirée. 2008. Análise crítica de gêneros: contribuições para o ensino e a pesquisa de linguagem. DELTA. 24(2): 341-383.; Bonini 2010BONINI, Adair. 2010. Critical genre analysis and professional practice: the case of public contests to select professors for Brazilian public universities. In: PARODI, Giovanni; BALTAR, Marcos (Org.) Linguagem em (dis)curso, “Gêneros e atividades profissionais”. 10(3): 485-510., 2013______. 2013. Análise crítica de gêneros discursivos no contexto das práticas jornalísticas. In: SEIXAS, Lia; PINHEIRO, Najara Ferrari. (Org.). Gêneros: um diálogo entre Comunicação e Linguística Aplicada. Florianópolis: Insular. p. 103-120.), a ACG tem sido pensada como um composto teórico que toma por base a perspectiva crítica do discurso aberta por Norman Fairclough (1992FAIRCLOUGH, Norman. 1992. Discourse and social change. Cambridge: Polity Press., 2003______. 2003. Analysing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge.), acrescida de uma teoria de gênero (sóciorretórica, sistêmica-funcional, dialógica, etc.), de modo que o gênero passa a ser lido como parte da semiose social e como instância de realização da prática social.

Na perspectiva discursiva crítica, o discurso, ou a semiose, é um dos elementos da prática social. Nela, o discurso comparece de três modos: 1) como formas de entender e representar a própria prática (discursos), 2) como formas de ação social (gêneros) e 3) como formas de ser e estar no mundo (estilos identitários) (cf.: Chouliaraki e Fairclough 1999CHOULIARAKI, Lilie; FAIRCLOUGH, Norman. 1999. Discourse in late modernity: Rethinking critical discourse analysis. Edinburgh: Edinburgh University Press.), essa última dimensão não explorada no presente artigo. Neste trabalho, analisamos como a prática social da docência (e seu agente principal, o professor) é recontextualizada de forma negativa em gêneros da mídia jornalística (notícia e reportagem) e em gêneros de outras mídias (charge, meme, vídeo, postagem de blog, página do Facebook) onde ressoam os discursos de diversos agentes sociais, inclusive dos próprios professores.

1. O gênero como prática social: análise crítica

Os trabalhos desenvolvidos dentro da perspectiva da ACG adotam um viés claramente crítico para a análise dos gêneros discursivos. O termo “crítico” remete ao posicionamento teórico marxista, principalmente às relações de poder e exploração entre grupos (cf.: Ferretti-Soares e Bonini, 2016FERRETTI-SOARES, Vanessa; BONINI, Adair. 2016. Gênero e prática social: como a Rede Globo inventa uma identidade positiva a partir do programa “O Sagrado”. In: SOUZA, Sweder; SOBRAL, Adail. (Org.). Gêneros, entre o texto e o discurso: Questões Conceituais e Metodológicas. Campinas, SP: Mercado de Letras, p. 173-196. ). Assim como no marco analítico proposto por Fairclough (2003)______. 2003. Analysing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge., a abordagem da ACG se dá “como parte de discussões em torno de um problema social” (Bonini 2010BONINI, Adair. 2010. Critical genre analysis and professional practice: the case of public contests to select professors for Brazilian public universities. In: PARODI, Giovanni; BALTAR, Marcos (Org.) Linguagem em (dis)curso, “Gêneros e atividades profissionais”. 10(3): 485-510.: 490), buscando intervir nesse problema por meio de sua explicitação e tematização. O problema pode estar ligado às atividades produzidas em uma, ou ligadas a uma, prática social (por ex., a baixa procura por vagas em cursos de licenciatura em universidades brasileiras1 1 . Segundo o Censo Nacional da Educação (Censup) de 2013, produzido pelo INEP/MEC, no período 2012-2013 a matrícula cresceu 4,4% nos cursos de bacharelado, 0,6% nos cursos de licenciatura e 5,4% nos cursos tecnológicos. Os cursos de bacharelado têm uma participação de 67,5% na matrícula, enquanto os cursos de licenciatura e tecnológicos participam com 18,9% e 13,7%, respectivamente. Os dados do Censup mostram que o número de formandos em licenciaturas vem caindo nos últimos anos, com 238.107 concluintes no grau acadêmico em 2011, 223.892 em 2012 e 201.353 em 2013. ), ou à construção reflexiva de uma prática social (por ex., as representações negativas e fragilizadas da docência e do professor em discursos como os da mídia, do senso comum e dos próprios professores2 2 . Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), da Organização para a Cooperação (OCDE), divulgada em 2014, mostrou que quase 90% dos professores brasileiros acreditam que a profissão não é valorizada na sociedade. (Fonte: http://www.brasil.gov.br/educacao/2014/10/mec-incentiva-formacao-e-consolidacao-de-licenciaturas). ).

Em resumo, o foco da análise na ACG é a prática social, sobretudo os seus aspectos semióticos, como os discursos, os gêneros e os estilos (Fairclough 2003______. 2003. Analysing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge.). As práticas sociais, elementos constitutivos da vida social diária, são entendidas como “formas habituais, ligadas a tempos e lugares específicos, por meio das quais as pessoas utilizam recursos (materiais ou simbólicos) para agirem juntas no mundo” (Chouliaraki e Fairclough 1999CHOULIARAKI, Lilie; FAIRCLOUGH, Norman. 1999. Discourse in late modernity: Rethinking critical discourse analysis. Edinburgh: Edinburgh University Press.: 21). Como maneiras habituais de agir em conjunto, as práticas sociais são constituídas tanto de discurso/semiose, quanto de atividade material, participantes, fenômeno mental e relações sociais (cf.: Chouliaraki e Fairclough 1999CHOULIARAKI, Lilie; FAIRCLOUGH, Norman. 1999. Discourse in late modernity: Rethinking critical discourse analysis. Edinburgh: Edinburgh University Press.). Em outras palavras, uma prática particular articula, de forma localizada e específica, diferentes elementos da vida social: certas atividades, realizadas de formas particulares em tempos e locais específicos; participantes específicos, com suas vivências, conhecimentos e disposições, engajados em relações sociais particulares; recursos semióticos específicos e formas particulares de usar a linguagem; etc. Segundo Harvey (1990)HARVEY, David. 1990. The condition of postmodernity. Oxford: Blackwell., os distintos elementos mobilizados e postos em ação numa dada prática constituem ‘momentos’ dessa prática.

As práticas sociais se tornaram o foco atual das perspectivas discursivas críticas (ACD, ACG) por serem dimensões intermediárias entre as estruturas sociais (e seus mecanismos) e os eventos sociais concretos e específicos - um extrato intermediário entre a ‘sociedade’ e as pessoas vivendo suas vidas diárias. O foco na prática social permite investigar como o discurso (e os gêneros, como formas discursivas de ação) funciona em relação a outros aspectos não discursivos da vida social. O discurso em si não possui força ou efeitos sociais; ele só se torna relevante e poderoso na medida em que passa a ser parte integrante e constitutiva das práticas sociais diárias. Nesse sentido, a lógica da ACD e da AGC é relacional/dialética, ou seja, “orientada para acessar como o momento discursivo funciona dentro da prática social, do ponto de vista de seus efeitos sobre lutas pelo poder e relações de dominação” (Chouliaraki e Fairclough 1999CHOULIARAKI, Lilie; FAIRCLOUGH, Norman. 1999. Discourse in late modernity: Rethinking critical discourse analysis. Edinburgh: Edinburgh University Press.: 67).

Nessa concepção dialética de construção do social, “sociedades” e “indivíduos”, ou estruturas (conjuntos de regras e recursos implicados, de modo recursivo, na vida social) e agência humana (capacidade das pessoas para realizar coisas), não são redutíveis uns aos outros, mas são interdependentes em termos causais (cf.: Fairclough 2003______. 2003. Analysing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge.). Isso é o que Giddens (1984/1989)GIDDENS, Anthony. 1989 [1984]. A constituição da sociedade. São Paulo: Martins Fontes. chama de “dualidade da estrutura” - a propriedade da estrutura social ser tanto meio para a agência humana quanto resultado da ação que ela recursivamente organiza (cf.: Ramalho, 2008RAMALHO, Viviane C. Vieira Sebba. 2008. Discurso e ideologia na propaganda de medicamentos: Um estudo crítico sobre mudanças sociais e discursivas. Tese (Doutorado em Linguística). Brasília: Universidade de Brasília (UnB).: 49). Em resumo, a relação entre estrutura e agência é dual: a estrutura é tanto condição, ou causa material, para a ação humana, quanto é resultado da atividade humana que, por sua vez, produz e reproduz as estruturas sociais. Assim, podemos afirmar que os seres humanos não criam estruturas, mas as reproduzem e modificam à medida que as utilizam em suas atividades (cf.: Bhaskar 1998BHASKAR, Roy. 1998. Philosophy and scientific realism. In: ARCHER, Margaret; BHASKAR, Roy; COLLIER, Andrew; Lawson, Tony & Norrie, Alan. (Eds.). Critical realism: essential readings. London/New York: Routledge.; Ramalho 2008RAMALHO, Viviane C. Vieira Sebba. 2008. Discurso e ideologia na propaganda de medicamentos: Um estudo crítico sobre mudanças sociais e discursivas. Tese (Doutorado em Linguística). Brasília: Universidade de Brasília (UnB).). Nas palavras de Ramalho,

[...] ação e estrutura constituem-se transformacional e reciprocamente, de maneira que uma não pode ser separada da outra, ou mesmo reduzida à outra. Em práticas sociais, agentes individuais se valem da estrutura social, (re)articulando mecanismos e poderes causais, e a (re)produzem, gerando no mundo efeitos imprevisíveis. (2008: 50).

Nessa linha, as análises de viés crítico devem se voltar tanto para as estruturas quanto para as ações sociais, no sentido de investigar e gerar entendimentos sobre como os recursos estruturais, condições para as ações sociais, são apropriados e aplicados, de formas conservadoras ou transformadoras, no nível local das práticas sociais.

O gênero, como um dos aspectos semióticos das práticas sociais, corresponde a formas de agir pela linguagem, sendo também um dos elementos mediante os quais as práticas são reproduzidas ou alteradas. Fairclough (2003)______. 2003. Analysing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge. define gêneros como aspectos discursivos das formas humanas de ação e interação em eventos sociais, isto é, formas particulares de relações sociais entre agentes sociais (indivíduos e organizações).

Aqui é importante enfatizar a forte ligação, nas sociedades contemporâneas, entre discursos, gêneros e poder. Se analisarmos as relações de dominação em uma perspectiva histórica, podemos observar que, em sociedades profundamente semiotizadas como as atuais, as formas de exercício do poder têm migrado cada vez mais de atividades materiais para atividades simbólicas ou discursivas (por ex., via gêneros), sendo exercidas preferencialmente por essas últimas. Assim, a problematização de certos gêneros é, consequentemente, a problematização das práticas sociais que eles representam e recontextualizam e de seu papel na estruturação social. Como aponta Fairclough (1992)FAIRCLOUGH, Norman. 1992. Discourse and social change. Cambridge: Polity Press., a luta por determinada articulação é também por uma determinada ordem das coisas.

A ACG proposta por Bonini (2013)______. 2013. Análise crítica de gêneros discursivos no contexto das práticas jornalísticas. In: SEIXAS, Lia; PINHEIRO, Najara Ferrari. (Org.). Gêneros: um diálogo entre Comunicação e Linguística Aplicada. Florianópolis: Insular. p. 103-120. também se vale da perspectiva freiriana para discutir e problematizar a prática social. Dessa visada discursiva crítica, analisa-se um gênero tanto para conhecer seu funcionamento social quanto para intervir em um problema social ao qual ele esteja atrelado (por ex., através da forma com esse gênero representa, recontextualiza e (re)constrói o problema social), com o objetivo político de estimular ou impedir a transitividade da consciência (a relação entre visões de mundo), a dialogação (a construção do consenso e da mediação pelo embate de posições) e o autogoverno3 3 . Esse conceito foi incialmente discutido, mais ou menos nos mesmos termos, por Antonio Gramsci (1999), autor do qual Paulo Freire (1967/2009) se aproxima em muitos momentos de sua reflexão. (a possibilidade da autonomia dos atores sociais pela crítica e tomada de posição). Como afirmam Ferretti-Soares e Bonini (2016FERRETTI-SOARES, Vanessa; BONINI, Adair. 2016. Gênero e prática social: como a Rede Globo inventa uma identidade positiva a partir do programa “O Sagrado”. In: SOUZA, Sweder; SOBRAL, Adail. (Org.). Gêneros, entre o texto e o discurso: Questões Conceituais e Metodológicas. Campinas, SP: Mercado de Letras, p. 173-196. : 4), “uma ACG com orientação freireana considera a desmassificação e a desmistificação como projeto social, onde a criticidade transforma-se em um patrimônio coletivo, necessário à concretização do autogoverno”.

2. A construção de representações por meio de cadeias de recontextualizações

Dada a pluralidade discursiva das sociedades contemporâneas, uma mesma prática social pode ser representada de diversas formas. Segundo van Leeuwen (2008)VAN LEEUWEN, Theo. 2008. Discourse and practice: new tools for critical discourse analysis. Oxford: Oxford UP., todas as representações do mundo e do que nele ocorre, sejam elas mais ou menos abstratas, devem ser interpretadas como representações (ou recontextualizações) de práticas sociais. Para refletir sobre as representações dessas práticas, van Leeuwen utiliza o conceito de recontextualização proposto por Bernstein. Para esse autor, os conhecimentos produzidos num campo, ao serem transferidos para outro para fins de reprodução e disseminação (por exemplo, da produção científica para o ambiente de ensino), sofrem processos de mudança semântica (leia-se ressignificação) “regidos por princípios recontextualizadores que, de forma seletiva, se apropriam, reorganizam, alteram o foco e se relacionam com outros discursos para constituir sua própria ordem e ordenamentos” (Bernstein 1990BERNSTEIN, Basil. 1990. The structuring of pedagogic discourse. London: Routledge.: 184). Transferindo esse conceito para outros discursos além do pedagógico, podemos dizer que todo discurso recontextualiza práticas sociais, e que todo o conhecimento é calcado, em última análise, na prática (cf.: Van Leeuwen 2008VAN LEEUWEN, Theo. 2008. Discourse and practice: new tools for critical discourse analysis. Oxford: Oxford UP.). Porém, é importante lembrar que as recontex­tualizações, como processos de ressignificação, não são imparciais; ao contrário, na medida em que representam escolhas relativas a como significar uma prática social, elas ecoam e reproduzem discursos e interesses específicos.

Segundo Giddens (1991)______. 1991. Modernity and self-identity. Cambridge: Polity., virtualmente toda experiência humana é mediada (i.e. intermediada) por nossa socialização e, em particular, pela aquisição da linguagem. A isso podemos acrescentar o caráter altamente fragmentado e semiotizado da vida em sociedades contemporâneas, principalmente a partir do surgimento e disseminação das TICs (tecnologias de informação e comunicação) e das mídias digitais, que permitem que o indivíduo vivencie (ou testemunhe) experiências e formas de vida não necessariamente em primeira mão, mas através da mediação tecnológica. É importante lembrar que nosso interesse aqui não é criticar nem demonizar os processos tecnológicos de mediação de práticas e eventos sociais, mas sim apontar que a mediação e a recontex­tualização das práticas sociais nunca são ingênuas ou neutras, mas permitem tanto a disseminação e o fortalecimento de representações ideológicas, isto é, representações que contribuem para a construção e reprodução de relações de poder e de dominação, quanto a criação de espaços de resistência e quebra dessas representações (cf.: Fairclough 2010______. 2010. Critical discourse analysis. Revised edition. London: Longman.).

A partir de uma concepção teórica discursiva crítica, as representações de práticas sociais não são o mesmo que as práticas sociais em si. Embora possamos argumentar que os mesmos roteiros subjazem tanto às práticas sociais quanto nossa habilidade de representá-las, podemos também argumentar, como van Leeuwen (2008)VAN LEEUWEN, Theo. 2008. Discourse and practice: new tools for critical discourse analysis. Oxford: Oxford UP., que há uma diferença entre fazer algo e falar sobre algo - o autor acredita que há, nos distintos espaços sociais, um número cada vez mais restrito de procedimentos, templates e gêneros (um bom exemplo é a disseminação e proliferação do formato ‘TV realidade’ na grade de programação de canais de TV abertos e fechados), e em contrapartida há um número cada vez mais amplo de discursos (o formato ‘TV realidade’ pode explorar diversas temáticas e apresentar distintos discursos, como o do culto ao corpo, da maternidade, do consumo, do amor romântico, da saúde), gerando o que van Leeuwen (2008VAN LEEUWEN, Theo. 2008. Discourse and practice: new tools for critical discourse analysis. Oxford: Oxford UP.: 4) chama de “homogeneidade genérica e heterogeneidade discursiva”.

Segundo van Leeuwen, as práticas sociais recontextualizadas nos textos podem ser: (1) uma sequência de ações não linguísticas, como vestir-se ou tomar banho; (2) uma sequência que alterna elementos linguísticos e não linguísticos (por ex., um experimento em um laboratório; um encontro romântico); ou (3) uma sequência de ações linguísticas (e/ou semióticas) (por ex., uma aula). A docência, como conjunto de práticas, envolve todos os três tipos de ações: desde as não-linguísticas (organizar o espaço físico da sala de aula, apagar o quadro), passando aquelas ações que combinam aspectos linguísticos e não linguísticos (interagir com os alunos presencialmente, realizar uma visita de campo), até as ações eminentemente linguísticas e semióticas (preparar e ministrar aulas, interagir com os alunos online).

Já a prática recontextualizadora (por ex., as representações midiáticas dessa prática) sempre é composta por uma sequência de atividades linguísticas e/ou semióticas, ou seja, trata-se sempre de um ou mais gêneros, muitas vezes parte de uma cadeia ou sistema de gêneros, onde as práticas sociais são recontextualizadas, ressignificadas e postas em circulação social. As recontextualizações podem alterar a representação de uma prática substituindo elementos dessa prática por outros, apagando ou rearranjando elementos, fazendo acréscimos e repetições, apresentando avaliações e legitimações, etc. (cf.: van Leeuwen 2008VAN LEEUWEN, Theo. 2008. Discourse and practice: new tools for critical discourse analysis. Oxford: Oxford UP.). Dessa forma, a recontextualizaçao é um dos mecanismos de formação de discursos hegemônicos ou dominantes (cf.: Fairclough 2010______. 2010. Critical discourse analysis. Revised edition. London: Longman.), e pode ser traçada (acompanhada) ao longo de fronteiras estruturais e entre distintos campos sociais - no caso deste artigo, por exemplo, da esfera da mídia jornalística tradicional (jornais, sites de notícias, redes de TV, etc.) até a esfera das demais mídias (blogs, redes sociais, etc.).

Voltamos nosso foco de análise, sobretudo, para as recontextualizações jornalísticas da docência por considerarmos que a mídia jornalística funciona como um dos aparatos atuais da governança social, uma vez que, como argumenta Fairclough (2003______. 2003. Analysing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge.: 34),

Mídias como os noticiários de televisão recontextualizam e transformam outras práticas sociais, por exemplo, as da política e do governo e, por sua vez, são recontextualizadas nas notícias e interações de diversas outras práticas, incluindo, de forma crucial, a vida diária, espaço onde contribuem para moldar as formas como vivemos e os significados que atribuímos a nossas vidas.

Como parte da perspectiva crítica da ACD e da ACG, nos interessa investigar e discutir como a mídia jornalística funciona como um “dispositivo ideológico neoliberal” (Gerzson 2007GERZSON, Vera Regina Serezer. 2007. A mídia como dispositivo da governamentalidade neoliberal: os discursos sobre educação nas revistas Veja, Época e Istoé. Tese (Doutorado em Educação). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul.), uma vez que a racionalidade e as práticas neoliberais, que constituem o projeto político predominante nas sociedades contemporâneas, se materializam nos textos midiáticos que reproduzem essa perspectiva. Aplicando essa noção ao problema social em tela, podemos dizer que a mídia jornalística (utilizando cadeias de representações e reconstruções ramificadas e naturalizadas do ofício do professor) faz parte do aparato de relações de poder não como forma de repressão ou autoritarismo, mas como um lócus de criação de supostas ‘verdades’ sobre a escola e a docência que circulam no espaço público com forte poder de convencimento sobre os leitores/ telespectadores/ internautas, incluindo o próprio professorado.

Como formas de cognição social, ou formas sociais específicas de conhecer as práticas sociais, os discursos servem como recursos para representar as práticas em gêneros diversos. E a partir desses gêneros é possível reconstruir as práticas representadas e os discursos que subjazem essas representações. Como aponta Gerzson (2007GERZSON, Vera Regina Serezer. 2007. A mídia como dispositivo da governamentalidade neoliberal: os discursos sobre educação nas revistas Veja, Época e Istoé. Tese (Doutorado em Educação). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul.: 13), as mídias jornalísticas funcionam “como operadoras de ‘pedagogias culturais’, nas quais conhecimentos e saberes circulam e o poder é organizado e difundido”.

3. Análise dos dados

Para discutirmos e investigarmos o problema da frequente e naturalizada representação negativa da docência e do professor, levantamos textos em diversas situações de uso que contemplassem aspectos relativos à representação da escola e da docência, que foram, por sua vez, analisados em termos da recontextualização de discursos e práticas e de sua dispersão em teias de gêneros. Organizamos a seção analítica em quatro partes, onde abordamos: 1) a conjuntura do problema abordado; 2) a prática midiática jornalística e o uso estratégico dos gêneros; 3) a recontextualização da prática no discurso do professor e de outros atores sociais; e 4) novas recontextualizações da prática e a reacentuação do problema. Ressaltamos que nosso propósito neste artigo não é realizar uma análise minuciosa das inter-relações genéricas entre as mídias e gêneros coletados, mas sim apresentar uma análise panorâmica dessas mídias e gêneros no que diz respeito à forma como se articulam na recontextualização da prática social da docência.

3.1. Conjuntura do problema abordado: o ataque à carreira do professor e à escola pública

De modo geral, podemos dizer que, no Brasil, a mídia jornalística hegemônica apresenta uma posição ambivalente e contraditória no que diz respeito à educação e ao papel social da escola. Como corporações capitalistas, os veículos jornalísticos dominantes “apresentam proposições e práticas de controle que são simultaneamente econômicas para a sociedade, para a educação e para o sujeito, segundo a lógica neoliberal” (Gerzson 2007GERZSON, Vera Regina Serezer. 2007. A mídia como dispositivo da governamentalidade neoliberal: os discursos sobre educação nas revistas Veja, Época e Istoé. Tese (Doutorado em Educação). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul.: 144). Embora vista basicamente pelo prisma estreito da capacitação da mão de obra, e como forma de possibilitar aumento de salários e de poder de compra, a educação é concebida pela mídia jornalística, ao mesmo tempo, como parte de um determinado processo civilizatório e de desenvolvimento do país. Ainda que vista como civilizadora, com muita frequência a educação e as escolas brasileiras são descritas pelos veículos dominantes de comunicação como num estado de crise extrema e de quase falência, como vítimas da degradação, do abandono e da violência4 4 . Não pretendemos neste trabalho argumentar que os salários dos professores brasileiros são de fato altos, ou que muitas de nossas escolas não têm problemas de infraestrutura, manutenção, recursos e violência. Reconhecemos que ainda há muito a se alcançar no Brasil em termos do acesso à educação, de maiores investimentos no ensino, na escola e na carreira dos professores. Nosso ponto, entretanto, é que dentre os muitos aspectos da prática social da docência em escolas públicas, a mídia jornalística majoritariamente seleciona como foco aqueles negativos, construindo representações dominantes e consideradas legítimas, mas que resultam no descrédito da educação pública e no desestímulo à carreira docente. . Nesses casos, a cobertura jornalística dominante (em jornais, revistas, rádios e canais de TV, por exemplo) reprova “a educação, responsabilizando os professores pela baixa qualidade do ensino. A conjuntura educacional é criticada por sua incapacidade de responder por problemas sociais e econômicos constituídos historicamente” (Gerzson 2007GERZSON, Vera Regina Serezer. 2007. A mídia como dispositivo da governamentalidade neoliberal: os discursos sobre educação nas revistas Veja, Época e Istoé. Tese (Doutorado em Educação). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul.: 144).

Essa visão de precariedade não se coaduna exatamente, contudo, com a quantidade de investimentos federais que foram feitos na escola pública nos governos Lula/Dilma, sendo alguns exemplos: a seleção e compra de livros didáticos e paradidáticos, a TV Escola, os repositórios de objetos de aprendizagem, os projetos Pibid (de iniciação à docência), Mais Educação, e Observatório da Educação, os mestrados profissionais, os programas de formação continuada como os pactos para a alfabetização e ensino médio, a transformação do ensino médio e a implantação da educação em tempo integral.

Outra questão conjuntural ligada ao que se convencionou chamar de ‘crise’ da docência e da escola é a (des)valorização do professor, debatida com base, sobretudo, na questão salarial, que é cercada, por outro lado, por diversos mitos. Um deles, encontrado tanto no senso comum quanto em discursos públicos de poder (como o jornalístico), é o de que a docência é uma das profissões mais mal pagas, ou seja, de que o professor ganha mal e muito menos que outros profissionais. A título de exemplo, apresentamos abaixo uma breve comparação entre o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica (regido pela Lei nº 11.738, de 16/7/2008 - MEC) e os salários iniciais de profissionais de outras categorias, como Direito, Psicologia, Nutrição, Jornalismo e Cinema, a partir de dados retirados do Guia das Profissões, um dos produtos do grupo IG5 5 . IG é um provedor de acesso à internet, oferecendo também diversos serviços e produtos midiáticos, como o portal de notícias IG (http://www.ig.com.br/). . Consideramos aqui as dez profissões mais concorridas no vestibular da UFSC (universidade na qual atuamos como professores). Como podemos verificar no quadro 1, em termos de ganhos iniciais a docência não é profissão mais mal remunerada.

Quadro 1
Comparação de salários em início de carreira em diversas profissões (adaptado de Guia das profissões IG e Portal MEC)6 6 . Dados disponíveis em: 1. Guia das Profissões – http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/guia-de-profissoes/; 2. MEC - http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=382&id=12253&option=com_content. Coletado em 15/10/14.

Ainda que os salários iniciais de várias categorias profissionais sejam iguais ou mesmo inferiores ao piso nacional dos professores, isso não é suficiente (ou não é um dado conhecido do grande público) para que mais jovens escolham as licenciaturas ao ingressarem na universidade. Dados oficiais do vestibular 2014 da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por exemplo, indicam que pelo menos quatro profissões com piso salariais iniciais inferiores à docência (Direito, Psicologia, Nutrição e Cinema - ver Quadro 2) estão, depois do curso de Medicina (que permanece o mais procurado da UFSC), entre as dez graduações mais concorridas (os números correspondem a candidatos por vaga).

Quadro 2
Relação candidato/vaga no vestibular UFSC 2014 (adaptado do site da UFSC)7 7 . Disponível em: http://www.vestibular2014.ufsc.br/files/2012/11/relacao-CV-cat31.pdf.

Tomando como contraponto a relação candidato/vaga para as licenciaturas em Língua Vernácula (LV) e Línguas Estrangeiras (LE), também do vestibular 2014 da UFSC, podemos ver uma clara queda nos números (Quadro 3).

Quadro 3
com a relação candidato/vaga licenciaturas LV e LE no vestibular 2014 da UFSC (adaptado do site da UFSC)8 8 . Disponível em: http://www.vestibular2014.ufsc.br/files/2012/11/relacao-CV-cat31.pdf.

Se considerarmos a representação midiática da docência, em particular do ensino de línguas e do ensino nas séries iniciais, podemos entender, pelo menos em parte, a baixa procura por vagas nessas áreas. Vejamos um exemplo dessa representação negativa. Segundo o site Brasil Profissões (www.brasilprofissoes.com.br), as Letras e Artes “certamente, não são áreas que o senso comum considera promissoras. Mesmo assim, faz parte do nosso ranking, com média salarial de R$ 3.864,82” (grifos nossos). A Pedagogia também é desestimulada como escolha profissional: “Pedagogia: Nem o salário médio de R$ 3.219,14 parece atrair profissionais para essa área, que é famosa pelo déficit no mercado de trabalho.” (grifos nossos) Em contrapartida, a discursivização de outras áreas não ligadas à docência, porém com salários similares (ou até mesmo inferiores), é construída de forma positiva: “Veterinária: essa profissão já foi muito mal vista pelo mercado de trabalho, mas conseguiu seu triunfo. Hoje, o salário inicial é de cerca de R$ 3.758,94; Estatística: essa é uma das áreas com maior déficit de profissionais do país, mesmo que o salário médio seja de R$ 3.846,21”.

Essas representações reverberam em outros gêneros midiáticos, como se verifica na imagem abaixo (Figura 1), encontrada no blog ‘Jornal Consciência Ambiental - Extremo Sul-BA’, criado, segundo informações do próprio blog, “para lutar por justiça” no caso de dois professores assassinados em Porto Seguro em 2009. O infográfico que parte de uma postagem relativa ao dia do professor não apenas ressalta a baixa atratividade da profissão, como também descreve negativamente o desempenho escolar dos futuros professores.

Figura 1
Infográfico do blog consciência ambiental

3.2. A prática midiática jornalística e o uso estratégico dos gêneros

Os discursos não só envolvem um campo de objetos, mas também definem qual é a perspectiva legítima a ser assumida em relação a esses objetos. Em outras palavras, os discursos não se limitam a representar o que está acontecendo, eles também avaliam, estabelecem objetivos, justificam, legitimam e, em muitos casos, esses aspectos da representação são mais focalizados do que a representação da prática social em si (cf.: van Leeuwen 2008VAN LEEUWEN, Theo. 2008. Discourse and practice: new tools for critical discourse analysis. Oxford: Oxford UP.).

No que se refere à educação, a mídia jornalística brasileira, por meio da aspectualização (pormenorização) de eventos negativos ligados à escola, à docência e ao professor, sobretudo através do uso estratégico dos gêneros notícia e reportagem, constrói, fortalece e dissemina a representação da escola pública como um espaço de fracasso, precariedade e violência. Enfocamos abaixo textos sobre a escola e o professor encontrados na mídia jornalística como forma de evidenciar sua decisiva participação na construção dessas representações negativas. Há que se ressaltar também o caráter dominante e o poder de convencimento da mídia jornalística de massa, em termos da criação e legitimação de representações sociais, se comparada a outras mídias que medeiam interações em um âmbito mais restrito, pois se centram na produção e consumo dos indivíduos entre si, sendo menos “industrializadas”, por exemplo, páginas do Facebook, blogs, e vídeos de internet. No Quadro 4 abaixo listamos notícias coletadas do portal de notícias G1 (Grupo Globo)9 9 . Focalizamos aqui apenas textos do G1 por se tratar do portal de notícias que mais aparecia na busca do Google. , a partir de uma pesquisa no Google com o termo de busca “Escola”:

Quadro 4
O que se encontra no Google, ao se usar como termo de busca a palavra “Escola” (dados do Google, em pesquisa realizada no dia 15/10/14, compreendendo textos publicados em outubro de 2014)

Como argumentamos, a mídia jornalística contribui tanto para a desmoralização da escola pública como espaço precarizado, violento e em crise (ver Quadro 4), quanto do professor como profissional mal pago e mal preparado, como podemos ver no Quadro 5. A partir de uma pesquisa no Google com os termos de busca “salário professores” e “formação professores”, selecionamos as matérias encontradas no portal de notícias G1 (Grupo Globo).

Quadro 5
O que aparece no Google quando se busca com as palavras “salário professores” e “formação professores” (dados do Google, em pesquisa realizada no dia 21/10/14 às 12h5min, compreendendo textos publicados em 2014)10 10 . Nessa amostragem, tomamos textos de diversos dias, mas em nosso levantamento pudemos verificar que essa cobertura negativa é amplamente dominante. Em um período de um dia (12h de 14/10/14 à 12h do dia 15/10/14), verificamos no Google nove textos negativos sobre a escola e apenas um que diríamos ser não negativo (sobre horta e educação ambiental na escola). Apenas um desses textos não provinha do G1, mas do R7: “Adolescente de 13 anos invade escola e estupra vigilante no interior da Bahia”.

A partir das notícias acima, podemos elencar as representações mais recorrentemente discursivisadas sobre a escola e o professor nas matérias do G1:

  1. A escola é um espaço deficitário e um campo de guerra

  2. Os alunos são violentos, vândalos, marginais

  3. Os professores não têm formação acadêmica adequada para lecionar

  4. O salário dos professores é baixo e/ou precarizado

  5. O professor é pobre, sofredor e perdedor.

Em alinhamento com essas representações, uma jornalista recontextualiza, em uma outra notícia, uma mensagem recebida no Facebook, na qual um suposto professor relata ter sido poupado por um ladrão, por pena, ao revelar ser professor. Esta é a interpretação jornalística da história narrada pelo professor (Quadro 6 - itálicos nossos).

Quadro 6
Extrato da notícia “Vítima de assalto em Florianópolis revela ser professor e ladrão fica com pena”

Há que se considerar, além disso, que essas representações, como parte de uma política de noticiabilidade da mídia dominante, aparecem estrategicamente também em outros gêneros dessa mesma mídia, podendo-se citar, a título de exemplo, a Escolinha do Professor Raimundo, e seu encerramento característico com a frase “E o salário, oh!” (Figura 2).

Figura 2
Meme criado a partir de cena do Programa homorístico Escolinha do Professor Raimundo

3.3. A recontextualização da prática no discurso do professor e de outros atores sociais

A recontextualização da prática da docência como um ofício mal pago, desprestigiado socialmente e até mesmo arriscado contribui para o acirramento do problema. Como argumento e evidência dessa asserção, procuramos nesta subseção traçar a construção, sedimentação e disseminação de representações desempoderadas e fragilizadas da carreira de professor no discurso dos próprios professores e de outros agentes sociais, em uma série de meios e gêneros, por exemplo: vídeo, fotografia (e outros gêneros disponíveis no Google Imagens), meme, página do Facebook, blog. Via recontextualização, o discurso produzido pela mídia hegemônica ecoa em outros discursos. Nos exemplos/gêneros das Figuras 3 e 4, podemos ver elementos das notícias do G1 sendo retomados:

  1. Em consonância com a representação do professor encontrada na notícia jornalística do quadro 6 (“o que me deixou chocada mesmo foi o assaltante desistir de seu intento quando soube que a vítima era professor, e o mandou embora quietinho porque não queria “matar um pobre”. Que classe mais desvalorizada, meu Deus, até bandido tem pena!), um vídeo disponível no Youtube (Figura 3) mostra um assaltante desistindo de roubar um professor também “por pena”, só que desta vez dentro de um enquadre jocoso e cômico, inclusive oferecendo uma “ajuda econômica” ao professor pobre, que prontamente a aceita (com trechos de fala como: - Toma aí um pro guaraná! /- Ó, eu vou aceitar só pela sua fama, viu?!).

  2. Ao pesquisarmos a locução nominal ‘professor sofredor’ no banco de imagens do Google Imagens, novamente vemos a recontextualização da representação do professor como pobre e carente (em gêneros como a charge e o meme - Figura 4).

Figura 3
Cena do esquete de humor do Youtube

Figura 4
Charges e meme disponíveis no Google Imagens

Como num círculo vicioso, as representações da mídia jornalística enfatizando a “má remuneração da carreira docente” (“Salário faz professor do DF desistir da carreira para se tornar auditor fiscal” - G1 - Quadro 5 acima) circulam e ressoam no discurso público e privado dos próprios professores, como podemos ver nos exemplos abaixo:

  1. A página “Professores sofredores”, do Facebook (https://www.facebook.com/pages/Professores-Sofredores/310167222377505), produzida por professores e oferecendo “apoio” ao professorado, apresenta a seguinte descrição (itálico nosso): “Se você é professor, da rede pública ou particular, de escolas de idiomas ou profissionalizantes e professor universitário: esta é a comunidade para você desabafar, trocar experiências e reclamar do SALÁRIO e do crescente mau comportamento dos alunos. A classe docente precisa se unir e ser valorizada (logo)!”.

  2. A charge e o meme abaixo (Figura 5) foram postados nas páginas pessoais do Facebook de dois professores.

Figura 5
Charge e meme postados por professores em seus perfis de Facebook.

A representação do professor “coitado”, mal pago e sofredor aparece também em mídias que se posicionam, supostamente, em defesa do professor, como podemos ver neste trecho de uma postagem encontrada no blog ‘Jornal Consciência Ambiental - Extremo Sul-BA’, já acima citado. A postagem (Figura 6) referia-se ao dia do professor.

Dia 15 de outubro, dia do professor ou é o dia do sofredor?

Leia o artigo sobre os educadores escrito em terça 15 outubro 2013 16:03

Figura 6
Artigo de blog tematizando o dia do professor

Como os exemplos discutidos indicam, há uma circularidade entre as representações mais recorrentemente discursivisadas na mídia hegemônica sobre a escola e o professor (sobretudo aquelas que enfatizam a má remuneração e as condições precárias de trabalho) e as recontextualizações da docência encontradas em várias outras mídias (por ex., Facebook, blogs, Instagram), muitas em gêneros produzidos ou disseminados pelos próprios professores, possivelmente influenciados pelo “bombardeio” da mídia jornalística hegemônica.

3.4. Novas recontextualizações da prática e a reacentuação do problema

A bidirecionalidade e circularidade entre representações midiáticas jornalísticas e não jornalísticas tornam-se bastante claras quando o jornalismo de massa retransmite a fala do professor enquadrada dentro do discurso do fracasso da escola e da precariedade da profissão docente. É o que se pode verificar nos depoimentos do portal G1, da editoria de educação, publicados “em homenagem ao dia do professor” (Figura 7). Todos os títulos representam a escola negativamente (‘largou’, ‘encher uma laje’, ‘agredida’). Além disso, títulos e recortes de falas (por ex., “Nunca esperei reconhecimento, faço isso pelos alunos”) simulam uma atitude de doação do professor para que a descrição negativa soe como crítica a qualquer responsável invisível que seja não o professor, agora posto como vítima. Ao invocar um responsável invisibilizado, a mídia viabiliza ataques indiretos a determinados partidos (sugerindo conclusões em reportagens, por ex.) e despolitiza a categoria docente (que, muitas vezes, dirige sua cobrança ao Estado, sem os necessários subsídios quanto às forças políticas que ali se fazem presentes). No mesmo sentido, ao invocar esse profissional sofredor, a mídia empreende uma ação que simula apoio ao professor, quando todo seu trabalho ideológico vai justamente no sentido contrário: inviabilizar a escola (a pública, essencialmente) e o trabalho docente.

Figura 7
Detalhe da edição do portal G1 no dia do professor

O problema maior, instaurado pelo discurso do fracasso escolar, é que a mídia jornalística, composta por corporações pautadas por objetivos comerciais e pelo lucro, produz dois efeitos danosos para a escola pública e a categoria docente: por um lado, calcada no discurso neoliberal defensor da privatização e apropriação das escolas pelas empresas, desestabiliza e enfraquece a imagem do professor, esvaziando-a de poder político; por outro, convence vastos setores sociais de que apontar os problemas da educação (e fazer somente isso e insistentemente) é uma forma de discurso crítico, sendo seus enunciadores (os jornalistas) “paladinos em favor da causa da educação”. Ao convencer o público de que seu discurso é crítico, o jornalismo hegemônico consegue também construir para si uma representação heróica que torna ainda mais convincente o discurso do fracasso e dá margem aos inúmeros discursos recontextualizados em variadas mídias e gêneros que aqui vimos.

Ao analisamos as ações representadas nessa cadeia de recontextualizações, é possível observar que as práticas sociais da docência e da escola são recontextualizadas no discurso jornalístico em termos de outras práticas: a desregulação da educação pública (prática midiático-comercial); a inversão da prática política do professor, materializada na representação do professor sofredor e perdedor; e uma releitura da escola e das práticas escolares, fazendo com que o próprio professor, numa espécie de consciência mágica de que fala Paulo Freire (1967)FREIRE, Paulo. 1967/2009. Educação como prática de liberdade. 32. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra., haja de forma intransitiva, quase passiva, introjetando e reproduzindo as versões dominantes de seu próprio ofício. Embora a recontextualização permeie todos os meios e práticas sociais, o jornalismo é a prática recontextualizadora por natureza, é um dispositivo recontextualizador. Como argumenta Chouliaraki (1999CHOULIARAKI, Lilie. 1999. Media discourse and nationality: Death and myth in a news broadcast. In: WODAK, Ruth; LUDWIG, Christoph. (Ed.) Challenges in a changing world: Issues in critical discourse analysis. Passagem Verlag.: 41), o discurso da mídia jornalística funciona como “um princípio recontextualizador para a apropriação de outros discursos e sua apresentação em relações especiais entre si para fins de sua disseminação e consumo massificados”.

Na sociedade brasileira contemporânea vemos uma clara cisão entre duas formas recorrentes, porém contraditórias, de representar o ofício docente e o professor: por um lado, o professor é considerado necessário para a escolarização dos indivíduos e consequentemente para a educação e o avanço social (por ex., a figura do professor herói, que trabalha por “vocação” e a quem todos nós (sociedade) “devemos” muito); por outro, a do professor sofredor, mal pago e perdedor social, e da docência como carreira nada atraente ou não promissora. Avaliações desse tipo, ao serem construídas e disseminadas pela mídia, passam a fazer parte do senso comum (compartilhadas inclusive pelos próprios professores) e já não precisam ser tão legitimadas - representam as noções naturalizadas de que a profissão docente é penosa, mal remunerada e com baixo status social, e de que os professores, ainda que necessários e até mesmo “nobres”, são perdedores e vítimas.

Assim, podemos afirmar que essa representação desempoderada do professor é ideológica na medida em que serve a relações de poder e dominação: serve a ideologia liberal, que concebe a escola e a educação como produtos, e que reage a uma escola onde a reflexão e a autonomia política sejam o centro irradiador. Uma escola que abre mão de sua luta por transitividade crítica e autogoverno se torna alvo fácil do ensino apostilado, dos sistemas eletrônicos de ensino, e de inúmeras formas de o mercado se tornar o centro do processo de ensino e aprendizagem. Essas ‘facilidades’ empresariais são promessas aparentemente convincentes, mas permeadas por interesses que visam o comércio, a coisificação e o reforço ao individualismo em detrimento da coletividade e da diversidade.

Algumas considerações finais

Partindo da concepção de discurso tanto como constitutivo do, quanto como constituído pelo social, podemos dizer que as semioses contribuem para a construção e institucionalização dos fenômenos sociais e sua retenção no imaginário coletivo. Ou seja, as escolhas semióticas presentes na recontextualização das práticas sociais ajudam a sedimentar, ou estabilizar, a visão social dessas práticas (no presente artigo, a visão da docência). Esse processo de sedimentação se dá pela escolha, ou proeminência, de certos discursos na cadeia de representações de um dado fenômeno ou prática social, o que significa que outros discursos (e outras representações) sobre essa prática são filtrados e excluídos ao longo das cadeias de gêneros que compõem o processo de recontextualização (cf.: Fairclough 2010______. 2010. Critical discourse analysis. Revised edition. London: Longman.).

Os gêneros midiáticos aqui analisados constituem elos em uma cadeia de representações da escola e da docência no Brasil. Esses textos recontextualizam, para o público leigo, as práticas e a imagem dos professores, gerando representações amplamente disseminadas, naturalizadas e legitimadas que não só desregulam e demonizam a escola pública, como também desestimulam a docência como carreira para jovens brasileiros e, o que é pior, enfraquecem profissional e politicamente o professor, que é retirado do centro da construção de sua prática e da construção social da própria escola. A participação social, coletiva e histórica na construção da escola é, de fato, um tema que foi excluído da pauta da grande mídia e, em certa medida, mesmo do debate acadêmico, no qual as pesquisas partem quase sempre da visão de uma escola e de um professor deficitários, sempre descritos como depositários passivos à espera de algum tipo de ‘medicalização’ social. A escola que se fortalece enquanto instituição social precisa de um professor com uma autoimagem mais forte do que essa, que proponha projetos, avalie os resultados e lute por políticas sociais que viabilizem esses projetos. Para que isso ocorra, faz-se urgente uma quebra desse ciclo de boicotes que a escola e seus profissionais têm recebido via construção simbólica que a mídia jornalística produz.

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  • VAN LEEUWEN, Theo. 2008. Discourse and practice: new tools for critical discourse analysis. Oxford: Oxford UP.
  • 1
    . Segundo o Censo Nacional da Educação (Censup) de 2013, produzido pelo INEP/MECBRASIL. INEP/MEC. 2013. Censo Nacional da Educação (Censup)., no período 2012-2013 a matrícula cresceu 4,4% nos cursos de bacharelado, 0,6% nos cursos de licenciatura e 5,4% nos cursos tecnológicos. Os cursos de bacharelado têm uma participação de 67,5% na matrícula, enquanto os cursos de licenciatura e tecnológicos participam com 18,9% e 13,7%, respectivamente. Os dados do Censup mostram que o número de formandos em licenciaturas vem caindo nos últimos anos, com 238.107 concluintes no grau acadêmico em 2011, 223.892 em 2012 e 201.353 em 2013.
  • 2
    . Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), da Organização para a Cooperação (OCDE), divulgada em 2014, mostrou que quase 90% dos professores brasileiros acreditam que a profissão não é valorizada na sociedade. (Fonte: http://www.brasil.gov.br/educacao/2014/10/mec-incentiva-formacao-e-consolidacao-de-licenciaturas).
  • 3
    . Esse conceito foi incialmente discutido, mais ou menos nos mesmos termos, por Antonio Gramsci (1999)GRAMSCI, Antonio. 1999. Cadernos do cárcere: Volume 1: Introdução ao estudo da filosofia. A filosofia de Benedetto Croce. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira., autor do qual Paulo Freire (1967/2009)FREIRE, Paulo. 1967/2009. Educação como prática de liberdade. 32. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. se aproxima em muitos momentos de sua reflexão.
  • 4
    . Não pretendemos neste trabalho argumentar que os salários dos professores brasileiros são de fato altos, ou que muitas de nossas escolas não têm problemas de infraestrutura, manutenção, recursos e violência. Reconhecemos que ainda há muito a se alcançar no Brasil em termos do acesso à educação, de maiores investimentos no ensino, na escola e na carreira dos professores. Nosso ponto, entretanto, é que dentre os muitos aspectos da prática social da docência em escolas públicas, a mídia jornalística majoritariamente seleciona como foco aqueles negativos, construindo representações dominantes e consideradas legítimas, mas que resultam no descrédito da educação pública e no desestímulo à carreira docente.
  • 5
    . IG é um provedor de acesso à internet, oferecendo também diversos serviços e produtos midiáticos, como o portal de notícias IG (http://www.ig.com.br/).
  • 6
    . Dados disponíveis em: 1. Guia das Profissões – http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/guia-de-profissoes/; 2. MEC - http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=382&id=12253&option=com_content. Coletado em 15/10/14.
  • 7
    . Disponível em: http://www.vestibular2014.ufsc.br/files/2012/11/relacao-CV-cat31.pdf.
  • 8
    . Disponível em: http://www.vestibular2014.ufsc.br/files/2012/11/relacao-CV-cat31.pdf.
  • 9
    . Focalizamos aqui apenas textos do G1 por se tratar do portal de notícias que mais aparecia na busca do Google.
  • 10
    . Nessa amostragem, tomamos textos de diversos dias, mas em nosso levantamento pudemos verificar que essa cobertura negativa é amplamente dominante. Em um período de um dia (12h de 14/10/14 à 12h do dia 15/10/14), verificamos no Google nove textos negativos sobre a escola e apenas um que diríamos ser não negativo (sobre horta e educação ambiental na escola). Apenas um desses textos não provinha do G1, mas do R7: “Adolescente de 13 anos invade escola e estupra vigilante no interior da Bahia”.
  • 11
    Disponível em: http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/cultura-e-variedades/mais-estilo/noticia/2014/06/vitima-de-assalto-em-florianopolis-revela-ser-professor-e-ladrao-fica-com-pena-4523897.html
  • *
    Artigo atrelado ao projeto PQ 311642/2015-2, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2017

Histórico

  • Recebido
    01 Nov 2014
  • Aceito
    01 Set 2015
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