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APRESENTAÇÃO

Neste número da Revista Delta, fazemos uma homenagem à Anna Rachel Machado, professora do programa de Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da PUC de São Paulo, que nos deixou em 2012. Essa edição reconta a trajetória de pesquisas da professora, por meio dos artigos de seus ex-orientados, hoje pesquisadores atuando em Universidades pelo Brasil, bem como de colaboradores nacionais e internacionais.

Idealizado, inicialmente, pela própria Anna Rachel a partir de um convite da professora Leila Bárbara para organizar uma revista Delta temática sobre o Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), este número mostra o reconhecimento à contribuição de Anna Rachel para esse aporte teórico. Anna Rachel difundiu o ISD no Brasil por meio da tradução de livros, desenvolvimento de pesquisas, formação de pesquisadores, entre outros. Dentre as muitas traduções das obras genebrinas, merece destaque o primeiro: Atividades de Linguagem, Textos e Discurso (BRONCKART, 1997/2003), que inaugurou os estudos do ISD no Brasil, dando origem a muitos seguidores.

As pesquisas desenvolvidas pelo Grupo ALTER - Análise de Linguagem, Trabalho Educacional e suas Relações - coordenado por Anna Rachel até 2012, seguiram um caminho que foi dos gêneros textuais para o trabalho docente, sem nunca abandonar ou priorizar um dos temas. Parece-nos importante destacar que, apesar da aparente distinção temática, Anna Rachel foi capaz de trabalhar e enriquecer ambos os temas concomitantemente. Desse modo, ao longo dos anos, as pesquisas foram tematizando o desenvolvimento das capacidades de linguagem no ensino de gêneros, o papel dos gêneros no trabalho docente e outras dimensões do trabalho do professor, tendo sempre como preocupação central a questão do desenvolvimento humano.

O percurso de Anna Rachel, desde sua formação no doutorado quando conheceu Jean-Paul Bronckart, seu coorientador, até se tornar pesquisadora e colaboradora do Grupo LAF (Langage, Action, Formation - Genebra) é retomada nas palavras de Bronckart que relembra o caminho acadêmico trilhado por Anna Rachel em uma homenagem singular que somente o 'mestre' (como ela mesma diria) pode expressar para um dos mais brilhantes de seus discípulos.

O tema do desenvolvimento humano é apresentado logo no início do número, no artigo de abertura de Ecaterina Bulea Bronckart (tradução: Ermelinda M. Barricelli e Taiane Malabarba), colaboradora internacional e membro do Grupo LAF que nos apresenta sua contribuição com o artigo "Os tipos de discurso e interpretação do agir: o potencial de desenvolvimento das figuras de ação". Nesse artigo, a autora apresenta reflexões sobre o trabalho em geral e sobre o desenvolvimento pela linguagem.

O artigo de Daniel Faïta da Universidade Aix-Marseille: "Relatos, Discurso, Experiência. O relato: um revelador dos panos de fundo e subentendidos do trabalho: uma ferramenta para formar e transformar" reflete a influência que esse pesquisador exerceu sobre o trabalho desenvolvido por Anna Rachel Machado com suas pesquisas sobre o trabalho em geral e, mais recentemente, sobre o trabalho docente. Faïta foi também um importante interlocutor para as pesquisas desenvolvidas e orientadas por Anna Rachel, promovendo uma rica colaboração que se estendeu durante décadas.

O artigo "Letramentos, gêneros textuais e Prova Brasil: possibilidades de que tipo de desenvolvimento?" de Luzia Bueno, Márcia Aparecida Amador Mascia e Rafaela Scaransi trata das questões dos gêneros e do desenvolvimento humano, aliando dois temas que sempre interessaram Anna Rachel. Do mesmo modo, os artigos sobre gêneros e formação de professores de Adair Vieira Gonçalves e Mariolinda Rosa Romera Ferraz "Sequências Didáticas como instrumento potencial da formação docente reflexiva" e o artigo de Vera Lúcia Lopes Cristovão e Ana Paula Marques Beato-Canato "A formação de professores de línguas para fins específicos com base em gêneros textuais" mostram, ao unir as duas temáticas, a contribuição singular que a questão dos gêneros e do trabalho docente teve na carreira acadêmica de Anna Rachel.

Desenvolvendo pesquisas sobre o trabalho docente, as contribuições de Ermelinda M. Barricelli com o artigo "O processo de elaboração de um documento oficial voltado para a Educação Infantil" e de Siderlene Muniz-Oliveira com o artigo "Uma interpretação discursiva sobre o real da atividade docente no ensino superior: dificuldades e super-ações" avançam na compreensão do papel da linguagem no trabalho. Essas pesquisas mostram um caminho que começou a ser trilhado posteriormente pelos trabalhos do Grupo ALTER, em que as contribuições oriundas da Clínica da Atividade do CNAM, especialmente as discussões do professor Yves Clot, se fazem mais presentes, intensificando o intercâmbio entre brasileiros e franceses e refinando as discussões voltadas para a metodologia intervencionista desenvolvida pelos psicólogos franceses que tem nos métodos conhecidos como Autoconfrontação e Instrução ao Sósia seu ponto principal.

Retomando a temática dos gêneros, uma nova perspectiva se abre avançando para além do ensino e desenvolvimento das capacidades de linguagem nas pesquisas que se voltam para o papel dos gêneros na formação docente. Essa preocupação está presente nos artigos de Rafaela Fetzner Drey e Ana Maria de Mattos Guimarães "Reflexões sobre a formação inicial e a constituição da profissionalidade docente" que, além disso, procura respostas para uma dificuldade metodológica que se apresenta com o uso de dados com imagens como os de filmagens, por exemplo. O artigo de Flavia Fazion e Eliane Gouvêa Lousada "A entrevista em autoconfrontação como motor para o desenvolvimento: diálogo de uma professora com sua prática" também trata de dados provenientes de filmagens, porém discutindo o papel dos métodos de intervenção, como as entrevistas em autoconfrontação, para o desenvolvimento do professor.

Contribuindo para as questões do texto multimodal, o artigo de Anise D'Orange Ferreira e Glenda Cristina Valim de Melo "Análise de textos multimodais da web e o ISD" apresenta uma reflexão importante sobre a ênfase, necessária atualmente, que pode ser dada à análise de textos que combinam aspectos verbais e multimodais. As autoras propõem, assim, uma junção das categorias do ISD com categorias propostas por Baldry e Thibault (2010), visando a enriquecer o modelo de análise textual.

Encerrando esse volume, Joaquim Dolz, com o artigo "As atividades e os exercícios de língua: uma reflexão sobre a engenharia didática", apresenta uma preocupação que Anna Rachel sempre esboçou para o ensino de língua: a importância que deve ser dada ao trabalho com aspectos linguísticos, muitas vezes negligenciados, para o desenvolvimento da produção textual dos alunos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2016
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