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Água mole em pedra dura tanto bate até que fura: uma comparação entre a compreensão de provérbios por crianças e adultos

Water dripping day by day wears the hardest rock away: comparing proverb comprehension by children and adults

RESUMO

Sob a perspectiva da Linguística Cognitiva, analisamos a compreensão de provérbios por crianças e adultos, através de uma tarefa de compreensão. Foram entrevistados três grupos de participantes: 30 adultos; 33 crianças mais novas (m=7,85 anos, dp=7,3 meses); e 25 crianças mais velhas (m=10,59 anos, dp=7,92 meses). Uma análise de variância (ANOVA) de medidas repetidas foi operada e complementada por um teste de Tukey. Foram analisados os itens, os grupos de idade, os tipos de pergunta e as interações entre essas categorias. As análises apresentaram efeito principal de idade, tipo de pergunta e item na compreensão de provérbios dos grupos entrevistados (p<0.05). Quanto mais novo o participante, menores foram seus índices de compreensão dos itens.

Palavras-chave:
Linguística Cognitiva; Compreensão de Provérbios; Provérbios; Tarefa de Compreensão de Provérbios

ABSTRACT

Under the Cognitive Linguistics approach, we analyze proverb comprehension by children and adults, through a comprehension task. Three groups of participants were interviewed:.30 adults over the age of 18; 33 younger children (m=7,5 years old, sd=7,3 months); and 25 older children (m=10,59 years old, sd=7,92 months). A repeated measure analysis of variance (ANOVA) was conducted, complemented by a Tukey test. The items, the age groups, the nature of the questions and the interactions between these categories were analyzed. The analyses presented a main effect of age, nature of the question and item in the proverb comprehension competence of the interviewed groups (p<0.05). The younger the participant, the lower was his/her tendency to comprehend the items.

Keywords:
Cognitive Linguistics; Proverbs Comprehension; Proverbs; Proverbs Comprehension Task

1. Introdução

Ao analisar a linguagem mais de perto, logo se percebe que ela não é tão literal quanto se poderia supor. As figuras de linguagem são fenômenos recorrentes na linguagem e no pensamento. Não é por acaso que o estudo da linguagem figurada é central em uma das perspectivas teóricas contemporâneas dos estudos da linguagem, a Linguística Cognitiva. Nessa perspectiva, adotada neste artigo, as figuras de linguagem são entendidas como fenômenos não só linguísticos, mas também fundamentalmente cognitivos e culturais, uma vez que a linguagem é vista como um reflexo de nossas experiências corpóreas em uma determinada cultura.

Os provérbios estão entre os fenômenos de linguagem figurada que mais evidenciam as normas sociais e os valores culturais de um povo. Definiremos aqui provérbios como pequenas sentenças que expressam verdades bem conhecidas, interligando características culturais e morais de uma sociedade (GIBBS, 1994GIBBS, Raymond. W. 1994. The poetics of mind: figurative thought, language, and understanding. Cambridge: Cambridge University Press., p. 309). Por serem um fenômeno frequente na conversa, os provérbios passam a ser moldadores da linguagem e do pensamento, revelando muito sobre a cultura e o comportamento humano.

Há algumas décadas pesquisadores de diferentes áreas (particularmente da psicologia e da linguística) vêm estudando a aquisição de linguagem figurada. Dentre as pesquisas recentes, há um consenso sobre o fato de que os diferentes fenômenos são adquiridos gradualmente (SIQUEIRA et al., 2017SIQUEIRA, Maity; PEREIRA, Laura Baiocco; FERRARI, Caroline Girardi; LOPES, Nichele. 2017. Mapeamentos metafóricos e metonímicos em provérbios do português brasileiro. ReVEL, vol. 15, n. 29: 159-175.; RUNDBLAD; ANNAZ, 2010RUNDBLAD, Gabriella; ANNAZ, Dagmara. 2010. Development of metaphor and metonymy comprehension: Receptive vocabulary and conceptual knowledge. British Journal of Developmental Psychology, v. 28, n. 3: 547-563.; PÉREZ-HERNÁNDEZ; DUVIGNAU, 2016PÉREZ-HERNÁNDEZ, Lorena; DUVIGNAU, Karine. 2016. Metaphor, metonymy, and their interaction in the production of semantic approximations by monolingual children: A corpus analysis. First language, v. 36, n. 4: 383-406.). Contudo, ainda não há acordo sobre as idades em que se adquirem os diferentes fenômenos. Sabendo que provérbios exigem práticas sociais para serem compreendidos, não se conhece a idade precisa em que uma criança já carrega conhecimentos de mundo suficientes para tal. Portanto, contribuindo para as pesquisas de aquisição de linguagem figurada, este artigo tem como objetivo analisar o desempenho de crianças de séries iniciais do Ensino Fundamental ao compreender provérbios, em comparação ao de adultos, através de uma tarefa de compreensão de provérbios.

O instrumento de compreensão de provérbios aqui tratado faz parte de um teste maior de compreensão de linguagem figurada (COMFIGURA), que abrange também metáforas, metonímias, provérbios e expressões idiomáticas3 3 O COMFIGURA encontra-se em fase final de desenvolvimento pelo grupo METAFOLIA (PPG/Letras UFRGS). . O instrumento de compreensão de metáforas primárias, já amplamente validado (SIQUEIRA, 2004SIQUEIRA, Maity. 2004. As metáforas primárias na aquisição da linguagem: Um estudo interlinguístico. Tese (Doutorado em Letras), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ), indica que crianças brasileiras e norte-americanas, a partir dos 7 anos, apresentam o mesmo desempenho de adultos, mostrando que esta faixa etária já tem um entendimento bastante abrangente do fenômeno. Porém, tendo em vista que provérbios são um fenômeno que envolve uma maior experiência cultural (GIBBS e BEITEL, 1995GIBBS, Raymond. W.; BEITEL, Dinara. 1995. What proverb understanding reveals about how people think. Psychological Bulletin, v. 118, n. 1, p. 133-154.), acreditamos que o mesmo resultado não será encontrado. Por um lado, metáforas primárias têm um grande potencial para a universalidade e são mais diretamente relacionadas a experiências corpóreas básicas, o que pode levar a uma homogeneidade no seu grau de complexidade. Por outro lado, podemos supor que os provérbios, que dependem de aspectos linguísticos, cognitivos e culturais, devam variar muito em relação à sua complexidade, uma vez que algumas experiências são mais corriqueiras e outras são mais elaboradas em termos de suas práticas culturais. Assim, hipotetizamos que a compreensão de provérbios seja uma habilidade de aquisição mais tardia e que se estenda por um período maior do desenvolvimento. Dessa forma, a compreensão do fenômeno se dá como o dito água mole em pedra dura tanto bate até que fura: um item se torna bem compreendido gradualmente, de acordo com sua familiaridade e com o conhecimento cultural e moral do falante em sua comunidade linguística.

2. Provérbios

Quantas vezes dizemos antes só do que mal-acompanhado a um amigo enfrentando problemas de relacionamento, ou devagar se vai ao longe para outro que está se apressando sem necessidade? São inúmeras as oportunidades de uso de provérbios no cotidiano. Sendo um fenômeno de linguagem figurada muito frequente, a sua compreensão se torna importante na comunicação diária.

Sob a perspectiva da Linguística Cognitiva, Gibbs e Beitel (1995GIBBS, Raymond. W.; BEITEL, Dinara. 1995. What proverb understanding reveals about how people think. Psychological Bulletin, v. 118, n. 1, p. 133-154.) definem provérbios como expressões sentenciais não literais, normalmente fixas que fazem parte do conhecimento cultural dos falantes, referindo-se a conhecimentos genéricos e ideias abstratas. Já Duthie et al. (2008DUTHIE, Jill Kathleen; NIPPOLD, Marilyn A.; BILLOW, Jesse L.; MANSFIELD, Tracy C. 2008. Mental imagery of concrete proverbs: A developmental study of children, adolescents, and adults. Applied Psycholinguistics, v. 29, n. 1: 151-173.) definem provérbios como “[...] compactos, rápidos e fáceis de serem memorizados, veiculando crenças, normas sociais ou preocupações morais de uma sociedade”, incluindo interpretação social às sentenças. Portanto, provérbios tratam de sentenças curtas utilizadas para representar um conhecimento culturalmente significativo, sendo tal comunicação baseada na não literalidade da sentença. Em suma, provérbios são fenômenos linguísticos, cognitivos e culturais que dependem fortemente do contexto sociocultural de uso e expressam uma moral para determinado grupo social.

Ao tratar de estrutura, Gibbs e Beitel (1995GIBBS, Raymond. W.; BEITEL, Dinara. 1995. What proverb understanding reveals about how people think. Psychological Bulletin, v. 118, n. 1, p. 133-154.) indicam que provérbios frequentemente possuem características como métrica, rima, slant rhyme4 4 Slant rhyme são rimas imperfeitas, em que as palavras soam semelhantes apesar de não rimarem exatamente (ex: A stitch in time saves nine). , aliteração, assonância, personificação, paradoxo e paralelismo. Por exemplo, no provérbio Onde há fumaça, há fogo, ocorre aliteração, com a repetição do fonema /f/ após o verbo “haver” e paralelismo no encadeamento de orações sintaticamente semelhantes. Além disso, muitos provérbios apresentam estruturas sintáticas análogas, como Quem não X, não Y, observada em ditos como Quem não chora, não mama. Essas características podem auxiliar no reconhecimento de um provérbio como tal, diferenciando-o de outros ditos, como expressões idiomáticas. Através do auxílio dado por esses traços, é possível que mesmo uma sentença desconhecida possa ser reconhecida como um provérbio, tendo ou não seu significado depreendido.

Ainda sobre a compreensão de provérbios, Lakoff e Turner (1989LAKOFF, George; TURNER, Mark. 1989. More Than Cool Reason: A Field Guide to Poetic Metaphor. Chicago: University of Chicago Press.) os analisam através de uma metáfora conceitual que, supostamente, se aplica a todos: GENÉRICO É ESPECÍFICO. Com ela, é possível que um dito como É melhor um pássaro na mão do que dois voando não seja aplicado somente aos pássaros, assumindo contextos mais genéricos de uso através de sua não literalidade. Através dessa metáfora conceitual, uma situação bastante específica, como os pássaros do exemplo, passa a ser abstraída para algo mais genérico, utilizado em diferentes contextos. Tem-se, portanto, na metáfora GENÉRICO É ESPECÍFICO, um princípio de significação que rege todos os provérbios, gerando, junto a outros mapeamentos, os significados desses ditos populares. Conforme Gibbs e Beitel (1995GIBBS, Raymond. W.; BEITEL, Dinara. 1995. What proverb understanding reveals about how people think. Psychological Bulletin, v. 118, n. 1, p. 133-154., p. 135), a especificidade de usos dos provérbios se constrói através da formação desses significados, que se tornam reflexões sobre verdades humanas a partir do contexto em que são aplicados. Logo, as pessoas tendem a utilizá-los sobre suas experiências, conceitualizando-as através desses ditados populares. Assim, os provérbios passam a ilustrar uma gama de experiências individuais e sociais através das metáforas que estão neles contidas.

Ainda que possamos investigar provérbios, metáforas, metonímias e outros fenômenos de linguagem figurada isoladamente, muitas vezes os encontramos interligados em uma mesma atualização linguística. Subjacentes ao provérbio Em boca fechada não entra mosca, por exemplo, observamos a metáfora conceitual RESULTADOS INDESEJADOS SÃO INSETOS e a metonímia conceitual O ESTADO PELO EFEITO DO ESTADO. De fato, a Linguística Cognitiva postula que os fenômenos da linguagem figurada formam um contínuum: para um entendimento mais abrangente sobre cada fenômeno, e também sobre o conjunto ‘linguagem figurada’, os mesmos devem ser analisados de modo interdependente, afinal, um fenômeno sempre pode ser influenciado ou mesclado a outro (SIQUEIRA et al., 2017SIQUEIRA, Maity; PEREIRA, Laura Baiocco; FERRARI, Caroline Girardi; LOPES, Nichele. 2017. Mapeamentos metafóricos e metonímicos em provérbios do português brasileiro. ReVEL, vol. 15, n. 29: 159-175.).

Alguns estudos já foram realizados abrangendo a aquisição de provérbios na linguística. Na maioria desses estudos, os aspectos culturais não são abordados como fatores essenciais, ao invés disso, as análises são mais voltadas à linguagem, como comparações entre compreensão e variáveis como idade e familiaridade. Em inglês, Nippold e Haq (1996NIPPOLD, Marilyn. A.; HAQ, Faridah Serajul. 1996. Proverb comprehension in youth: The role of concreteness and familiarity. Journal of Speech, Language, and Hearing Research, v. 39, n. 1: 166-176.) e Nippold et al. (1998NIPPOLD, Marilyn A.; HEGEL, Susan L.; UHDEN, Linda D.; BUSTAMANTE, Silvia. 1998. Development of proverb comprehension in adolescents: Implications for instruction. Journal of Children’s Communication Development, v. 19, n. 2: 49-55.) analisaram a compreensão de provérbios por participantes em idade escolar, com diferentes graus de familiaridade e concretude. Como seria de se esperar, os resultados desses estudos revelaram efeito principal de idade: a performance dos participantes melhorou de acordo com o aumento da idade. Nippold e Haq (1996NIPPOLD, Marilyn. A.; HAQ, Faridah Serajul. 1996. Proverb comprehension in youth: The role of concreteness and familiarity. Journal of Speech, Language, and Hearing Research, v. 39, n. 1: 166-176.) ainda especificaram que crianças de idade entre 10 e 14 anos tendem a apresentar um aumento bastante significativo em seu desempenho, tendo resultados mais estáveis a partir dos 14 anos. Yoon, Schwarz e Nippold (2016YOON, Hyojin; SCHWARZ, Ilsa; NIPPOLD, Marilyn A. 2016. Comparing proverb comprehension in Korean and American youth. Speech, Language and Hearing, v. 19, n. 3: 161-170. ), por sua vez, compararam a compreensão de provérbios nas línguas inglesa e coreana por estudantes de 5º e 8º ano, além de universitários. Seus resultados indicam que a compreensão de provérbios aumenta com a idade. Ou seja, consideram o aspecto cultural de um provérbio na sua compreensão. Dentre os estudos encontrados, apenas Duthie et al. (2008DUTHIE, Jill Kathleen; NIPPOLD, Marilyn A.; BILLOW, Jesse L.; MANSFIELD, Tracy C. 2008. Mental imagery of concrete proverbs: A developmental study of children, adolescents, and adults. Applied Psycholinguistics, v. 29, n. 1: 151-173.) fizeram uma análise semelhante à tratada aqui. Nesse estudo, os autores dividiram sua amostra em três grupos etários - crianças, adolescentes e adultos -, comparando o desempenho dos participantes entre si. No entanto, o estudo se diferencia do nosso por tratar da compreensão de provérbios através de esquemas de imagem, com falantes de língua inglesa. Seus resultados indicaram que crianças e adolescentes apresentam o mesmo desempenho de adultos em relação à produção de imagens mentais de provérbios mais concretos. Além disso, percebeu-se que a interpretação dos provérbios menos transparentes melhora com a idade.

Em língua portuguesa, encontrou-se somente um estudo sobre compreensão de provérbios por crianças em língua materna (SILVA e LOMÔNACO, 1995SILVA, Cleusa Beatriz Baptista da; LOMÔNACO, José Fernando Bitencourt. 1995. Elaboração e validação de um instrumento para avaliar tipos de pensamento através da interpretação de provérbios. Psicologia: teoria e pesquisa, v. 11, n. 01.). Este desenvolveu um teste psicológico para avaliar pensamentos concretos e abstratos na interpretação de provérbios. Porém, é um estudo que não analisou diferentes faixas etárias, tampouco seguiu a mesma base teórica selecionada para a tarefa de provérbios do COMFIGURA e para a análise aqui realizada.

Há na literatura diversos estudos que tangenciam o tema deste estudo, em diversas abordagens. Muito já se pesquisou no Brasil sobre linguagem figurada (GIBBS, LIMA e FRANÇOZO, 2004GIBBS, Raymond W.; LIMA, Paula Lenz Costa; FRANÇOZO, Edson. 2004. Metaphor is grounded in embodied experience. Journal of pragmatics, v. 36, n. 7: 1189-1210. ; MORATO, 2008MORATO, Edwiges Maria. 2008. O caráter sociocognitivo da metaforicidade: contribuições do estudo do tratamento de expressões formulaicas por pessoas com afasia e com Doença de Alzheimer. Revista de Estudos da Linguagem, v. 16, n. 1: 157-177.; SIQUEIRA e GIBBS, 2007SIQUEIRA, Maity; GIBBS, Raymond W. 2007. Children’s acquisition of primary metaphors: a crosslinguistic study. Organon, v. 21, n. 43: 161-179.; VEREZA, 2010VEREZA, Solange Coelho. 2010. Metáfora e argumentação: uma abordagem cognitivo-discursiva. Linguagem em (Dis)curso, v. 7, n. 3: 487-506.; ZANOTTO, CAMERON e CAVALCANTI, 2008ZANOTTO, Mara Sophia; CAMERON, Lynne; CAVALCANTI, Marilda C. (Eds.). 2008. Confronting metaphor in use: An applied linguistic approach. Amsterdam: Benjamins.), sobre aspectos específicos de aquisição da linguagem (FIGUEIRA, 1995FIGUEIRA, Rosa Attié. 1995. Erro e enigma na aquisição da linguagem. Letras de Hoje, v. 30, n. 4: 145-162.; CORRÊA, 1995CORRÊA, Letícia M. Sicuro. 1995. An alternative assessment of children’s comprehension of relative clauses. Journal of psycholinguistic research, v. 24, n. 3: 183-203.; DE LEMOS, 1984DE LEMOS, Cláudia Thereza Guimarães. 1984. Sobre aquisição de linguagem e seu dilema (pecado) original. Iberoamericana, v. 8, n. 1: 3-16.; GABRIEL, 2001GABRIEL, Rosângela. 2001. A aquisição das construções passivas em português e inglês: um estudo translinguístico. Tese de Doutorado (Programa de Pós-Graduação em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.) e sobre o desenvolvimento de instrumentos psicolinguísticos (PAWLOWSKI et al., 2008PAWLOWSKI, Josiane; FONSECA, Rochele Paz; DE SALLES, Jerusa Fumagalli; PARENTE, Maria Alice de Mattos Pimenta; BANDEIRA, Denise Ruschel. 2008. Evidências de validade do instrumento de avaliação neuropsicológica breve Neupsilin. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 60, n. 2: 101-116.; CASARIN et al., 2013CASARIN, Fabíola Schwengber; SCHERER, Lilian Cristine; PERRINE, Ferré; SKA, Bernardette; PARENTE, Maria Alice Pimenta de Mattos; JOANETTE, Yves; FONSECA, Rochele Paz. 2013. Adaptação do Protocole MEC de Poche e da Bateria MAC Expandida: Bateria MAC Breve. Psico, v. 44, n. 2: 288-299.)5 5 Elencamos aqui um trabalho representativo de cada um desses pesquisadores. Entretanto, é importante ressaltar que esses nomes coordenam grupos atuantes de pesquisa com uma vasta produção nas respectivas áreas de investigação. . Entretanto, são muito raras as análises psicolinguísticas específicas sobre a compreensão de provérbios na aquisição da linguagem em língua portuguesa. Assim, este artigo busca preencher essa lacuna, ao complementar análises já existentes e incrementar a pesquisa psicolinguística tanto na aquisição da linguagem quanto nos estudos sobre linguagem figurada em língua portuguesa.

3. Método

3.1. Participantes

A amostra selecionada é constituída por três grupos etários. Foram entrevistadas 58 crianças, entre 6,8 e 11,9 anos, (m=9,03 anos, dp=1,5 anos) e 30 adultos, entre 18 e 56 anos, (m=30,2 anos, dp=11,71 anos), selecionados por conveniência. O grupo de crianças foi composto por 58 alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental (EF) de uma escola privada de Porto Alegre, dividido em dois subgrupos. Um subgrupo foi formado por 33 alunos de 1º e 2º ano (m=7,85 anos, dp=7,3 meses), e o outro subgrupo por 25 alunos de 4º e 5º ano (m=10,59 anos, dp=7,92 meses). O grupo de adultos compreendeu 30 (m=30,2 anos, dp=11,71 anos) alunos do Ensino Médio, do curso de Aproveitamento de Estudos - Magistério e funcionários de uma escola pública do interior do Rio Grande do Sul.

Como critério de inclusão determinamos a necessidade de ser falante nativo de português brasileiro. Já como critério de exclusão, controlamos a presença de alterações sensoriais, quadros clínicos e comorbidades relatadas pelos próprios participantes, responsáveis ou pela escola, no caso de crianças.

3.2. Instrumento

O Instrumento de Compreensão de Provérbios do teste COMFIGURA foi utilizado para a coleta de dados desta pesquisa. O instrumento é composta por seis provérbios (Quadro 1) e faz parte de um teste maior de compreensão de linguagem figurada (COMFIGURA) que abrange outras tarefas de diferentes fenômenos de linguagem figurada (metáforas, metonímias e expressões idiomáticas).

As características apontadas por Gibbs e Beitel (1995GIBBS, Raymond. W.; BEITEL, Dinara. 1995. What proverb understanding reveals about how people think. Psychological Bulletin, v. 118, n. 1, p. 133-154.), previamente descritas, foram consideradas na seleção dos itens que comporiam a tarefa, juntamente com uma verificação de familiaridade de cada dito selecionado.

Quadro 1
Provérbios selecionados para o Instrumento de Compreensão de Provérbios

A tarefa consiste em seis itens compostos por um provérbio, uma pergunta aberta (questionando o significado do provérbio) e outra fechada (binária). Além dos seis itens, foi incluído um item de treino (Quadro 2).

Quadro 2
Itens de treino e de teste

3.3. Procedimentos

A coleta de dados foi realizada em duas escolas. Todos os participantes receberam, antes da entrevista, um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). No caso de crianças, o TCLE foi entregue aos responsáveis legais e um Termo de Assentimento Livre e Esclarecido foi lido para eles no momento da entrevista.

Cada participante foi entrevistado individualmente, de forma oral, tendo suas respostas registradas pela entrevistadora. A entrevista foi iniciada através de um breve enunciado explicativo sobre a natureza, a aplicação e os objetivos da tarefa. Foi explicado, também, que mais de uma pergunta poderia ser feita para o mesmo provérbio, que não havia uma resposta correta e que os itens não possuíam relação entre si. Ao iniciar a aplicação do instrumento, o participante respondia um item de treino e depois os seis itens da tarefa. As entrevistas duraram cerca de 10 minutos por participante.

As respostas foram corrigidas de modo binário, com 1 ponto dado para respostas esperadas e 0 para respostas incorretas em cada uma das perguntas (aberta e fechada). O escore máximo total da tarefa, portanto, foi de 12 pontos. Foram consideradas respostas esperadas as que demonstravam que o participante compreendia o sentido figurado do provérbio. Foram consideradas incorretas as que não saíam da interpretação literal, ou quando o participante não demonstrava conhecimento sobre o provérbio. Muitos participantes apresentaram respostas um tanto metafóricas, consideradas casos limítrofes. Por exemplo, para o provérbio Quem vê cara não vê coração, alguns participantes responderam que quem julga pela aparência não vê como a pessoa é por dentro, nos gerando dúvidas sobre essa resposta ser parcialmente literal, já que realmente não enxergamos a parte interna do corpo humano, ou uma instância da metáfora conceitual O ESSENCIAL É INTERNO para tratar de sentimentos. Nessas situações, ainda durante a aplicação, pedíamos mais informações sobre a resposta, buscando esclarecer o entendimento do participante. Mesmo assim, se houvesse dúvidas durante a correção, os casos limítrofes eram debatidos pelo grupo de pesquisa até se chegar a um acordo.

4. Resultados

Os dados foram analisados através da linguagem R, versão 3.5.0, utilizando a interface RStudio. Com o objetivo de comparar o desempenho entre os três grupos de idade nos itens, bem como o desempenho nas questões abertas e fechadas, foi feita uma análise de variância (ANOVA) de medidas repetidas. A ANOVA foi complementada pelo Teste Tukey, para encontrar as diferenças apontadas nos grupos.

Foram realizadas análises entre os itens, os grupos de idade, o tipo da questão e interações entre essas variáveis. Conforme os resultados (Tabela 1), todos os efeitos foram significativos ao nível de 95% de confiança (p<0.05), apontando, assim, um efeito principal de idade e de tipo de pergunta na compreensão de provérbios, como era esperado. O efeito das interações encontradas também foi significativo. A análise também indica diferença significativa entre os itens, sugerindo que seu grau de dificuldade é diferente para os participantes.

Tabela 1
Resultados da análise de variância (ANOVA)

4.1. Análise de desempenho por grupo de idade

Considerando a hipótese de que a compreensão de provérbios não seria igual nos três grupos etários da amostra, uma análise post hoc foi realizada comparando o desempenho dos diferentes grupos no instrumento. Crianças de 1º e 2º ano do EF acertaram, em média, 40% dos itens da tarefa (IC6 6 Intervalo de Confiança de 95%. 95% - 35% a 45%); crianças de 4º e 5º ano do EF, por sua vez, alcançaram uma média um pouco mais alta, com 63% de acertos (IC95% - 58% a 68%). Os adultos, como esperado, tiveram uma compreensão quase total dos itens, com 93% de acertos (IC95% - 88% a 97%). A hipótese de que a compreensão das diferentes faixas etárias não acontece da mesma forma é, portanto, corroborada. Em uma diferença de cerca de dois a quatro anos, houve um aumento significativo na compreensão dos dois grupos de crianças (p<.0001). O mesmo ocorre entre os grupos de crianças e o grupo de adultos (p<.0001), como esperado. Através da diferença no desempenho por idade, percebe-se que quanto mais novo o participante, menor a compreensão do fenômeno.

As seguintes respostas, selecionadas nos três grupos, ilustram essa evolução rumo a uma interpretação mais completamente figurada no item Em boca fechada não entra mosca:

(sujeito 36, 6a4m) “Que quando a gente deixa a boca aberta, a mosca pode entrar”.

(sujeito 95, 9a4m) “Que não é pra falar algo pra uma pessoa”.

(sujeito 10, 2a4m) “Não falar mais do que o necessário”.

Tais dados quantitativos e qualitativos indicam um progresso gradual que se aplica não só ao desenvolvimento linguístico, mas presumidamente também ao cognitivo e ao cultural, nas diferentes faixas etárias.

4.2. Análise de desempenho por item e grupo de idade

Uma segunda análise realizada englobou o desempenho dos participantes em cada item do instrumento (Figura 1). No gráfico, as linhas contínuas indicam a média de acertos dos participantes, enquanto as linhas pontilhadas indicam os intervalos de confiança (95%).

Figura 1
Proporção de acertos por item e idade

Em uma primeira apreciação, notamos que o desempenho e os intervalos de confiança das crianças menores não se interseccionam, em nenhum item, com o desempenho e os intervalos de confiança de um adulto (p<0.05). Esse resultado indica que crianças de 1º e 2º ano ainda não vão além do significado literal na grande maioria dos provérbios.

As crianças de 4º e 5º ano do EF, por sua vez, apresentaram um desempenho melhor sobre os itens, gerando intersecções com o desempenho dos adultos em alguns casos, como nos itens 2 (p=0.6263) e 3 (p=0.9968). Isso indica que não há evidências estatísticas de diferença entre os acertos dos dois grupos para estes itens. Mesmo que essa intersecção ocorra em poucos itens, percebemos que há um avanço no conhecimento do fenômeno, sendo este bastante expressivo sobre a capacidade de abstração e compreensão de provérbios. Dessa forma, as crianças mais velhas demonstraram já compreender bem determinados ditos.

Porém, constatamos que essas mesmas crianças apresentam um desempenho intermediário entre os grupos, já que suas retas não só interseccionam com a dos adultos, mas também com a das crianças menores. Nos itens 1 e 4, por exemplo, a proporção de acertos dos dois grupos de crianças não apresentou diferenças significativas (p=1 e p=0.9996, respectivamente), ocorrendo a intersecção dos resultados. Para estes itens, então, não há diferenças na compreensão dos grupos, tendo resultados que se assemelham quantitativamente. Os itens 3 e 5, por sua vez, apresentam diferenças significativas (p=0.0026 e p=0.0003, respectivamente) entre esses grupos, demonstrando que o desempenho das duas faixas etárias já não se assemelha mais para esses itens. Ou seja, mesmo que as crianças de 4º e 5º ano do EF sejam capazes de compreender determinados itens, certas dificuldades na interpretação dos provérbios ainda existem.

Uma certa semelhança na capacidade de compreensão do fenômeno pode ser notada através de itens como o 5 e o 6, nos quais não há intersecção entre nenhum grupo de idade (p<0.05). Assim, percebemos itens mais distribuídos entre os grupos e menos compreendidos entre as crianças. Os itens 4 e 5, por sua vez, se destacam por apresentarem a menor proporção de acertos para os dois grupos de crianças. As seguintes respostas ilustram a dificuldade gerada pelo item 4 (Onde há fumaça há fogo) que gerou um desempenho relativamente baixo nos três grupos:

(sujeito 46, 6a9m) “Que alguma coisa incendiou a casa de outra pessoa”.

(sujeito 40, 10a4m) “Que estão matando uma floresta, ou que há algum mal”.

(sujeito 9, 18a) “Se tu consegues ver de longe, é porque lá tem alguma coisa”.

Possivelmente os itens 4 e 5 sejam menos familiares, talvez pela falta de exposição aos ditos e/ou pela capacidade de abstração da criança ainda não ter se desenvolvido plenamente, levando alguns sujeitos a fornecerem uma interpretação mais literal do que figurada.

4.3. Análise de desempenho por tipo de pergunta e grupo de idade

Em seguida, outra análise post hoc foi realizada, verificando o desempenho dos participantes de acordo com o tipo de pergunta. Por uma questão puramente estatística, já se supunha que as perguntas fechadas gerariam maior quantidade de acertos, uma vez que se tratam de perguntas com somente duas possibilidades de resposta. De fato, questões fechadas obtiveram 84% de acertos (IC95% - 80% a 87%), enquanto questões abertas receberam, em média, 46% de acertos (IC95% - 43% a 50%), confirmando o esperado.

Complementando a análise, a proporção de acertos dos participantes nos grupos de idade foi estudada, de acordo com o tipo de pergunta (Figura 2). No gráfico, as linhas contínuas indicam a média de acertos dos participantes, enquanto as linhas pontilhadas indicam os intervalos de confiança.

Figura 2
Proporção de acertos por tipo de pergunta e idade

Nos três grupos, percebemos uma maior porcentagem de respostas esperadas de questões fechadas. Como esperado, crianças mais novas apresentam uma porcentagem baixa de acertos nas questões abertas, com 12% de respostas esperadas (IC95% - 6 a 17%), que evoluem para 68% nas perguntas fechadas (IC95% - 63 a 74%). Percebemos, assim, que com o auxílio de pistas, crianças de seis a oito anos já conseguem compreender melhor um provérbio, embora ainda não consigam explicar seu significado em outras palavras.

Quanto aos outros grupos, todas as relações foram significativas (p<0.5). O grupo de crianças mais velhas apresentou evolução em relação às crianças mais novas, com cerca de 20% a mais de respostas esperadas do que as crianças mais novas nas questões abertas e fechadas (p<0.5). Para as questões fechadas, é interessante notar que não há diferença significativa entre o grupo de crianças mais velhas e adultos (p=0.223). Isso quer dizer que mesmo que esses dois grupos tenham bastante diferença nas perguntas abertas (p<.0001), com as crianças acertando metade das respostas em relação aos adultos, as perguntas fechadas mostram mais semelhança entre a compreensão dos grupos, com parte das crianças tendo um desempenho parecido com o dos adultos.

4.4. Análise de desempenho por tipo de pergunta e item

A análise seguinte foi o exame dos resultados classificados por tipo de pergunta e pelos itens do instrumento (Figura 3). No gráfico, as linhas contínuas indicam a média de acertos dos participantes, enquanto as linhas pontilhadas indicam os intervalos de confiança.

Figura 3
Proporção de acertos por tipo de pergunta e item

Conforme o previsto, os resultados mostram que as perguntas fechadas geram melhor desempenho em todos os seis itens. Além disso, percebemos que não ocorrem intersecções entre as retas de proporção e os intervalos de confiança, indicando diferença significativa (p<.0001) entre perguntas abertas e fechadas para todos os itens. Assim, sugerimos que o desempenho dos participantes depende muito do tipo de estímulo apresentado. Se há alguma pista, como ocorre nas perguntas fechadas, os participantes tendem a identificar a ideia central do provérbio. Já nas abertas, em que o participante deve verbalizar um sentido figurado para os ditos, nem sempre as respostas dadas correspondem ao que é esperado.

Logicamente, todo o participante que responde de modo esperado à pergunta aberta tende a acertar também a fechada. Ocorre que, durante o processo de aplicação e correção dos dados, verificamos que alguns participantes não souberam se expressar de forma esperada na pergunta aberta dos itens, mas acabaram por acertar a pergunta fechada. Nesses casos, alguns sujeitos podem ter acertado a pergunta fechada por realmente conhecerem o item, embora não soubessem expressar seu significado em outras palavras. De fato, expressar verbalmente uma resposta requer uma habilidade metalinguística, que é uma capacidade diferente e vai além da compreensão do significado figurado do provérbio. Entretanto, outros participantes podem ter acertado a pergunta fechada por mero “chute”, o que não pode ser controlado.

4.5. Análise de interação entre grupo de idade, tipo de pergunta e item

Tendo os resultados das análises que compreendem grupos de idade e tipos de pergunta, um estudo sobre a interação dessas variáveis com os itens do instrumento foi realizado (Figura 4). Para evitar o excesso de informações no gráfico, os intervalos de confiança não serão apresentados na figura, mas no decorrer do texto.

Figura 4
Interação entre idade, tipo de pergunta e item

Nas análises, verificamos interação entre os três grupos etários em parte das perguntas fechadas e, nas perguntas abertas, entre o grupo intermediário de crianças com adultos e com crianças mais novas. Crianças mais novas, por apresentarem um desempenho mais baixo nas questões abertas, não se interseccionaram aos adultos em nenhum dos itens. Uma outra interação apontou para diferenças entre os grupos de crianças nas perguntas abertas. Geralmente, crianças mais novas não atingiram a mesma proporção de respostas esperadas que crianças mais velhas e adultos nesse tipo de pergunta. No entanto, a proporção de respostas esperadas das crianças pequenas interseccionou-se com a dos demais grupos em três perguntas fechadas, indicando certa habilidade de compreensão dos ditos quando há informações nos estímulos.

Quanto aos adultos, percebemos que quase não há diferenças significativas entre perguntas abertas e fechadas, sendo as retas e os intervalos de confiança próximos à totalidade de respostas esperadas (IC95% - 54 a 112%). Esse resultado demonstra que maioria dos adultos soube interpretar os provérbios, respondendo da forma esperada os dois tipos de pergunta realizados na tarefa. Nesse grupo, nenhum item apresentou diferença significativa entre perguntas abertas e fechadas, ocorrendo intersecções entre cinco dos seis itens (p>0.06). Ou seja, no grupo de adultos não houve diferença significativa entre as perguntas abertas e fechadas, em função de um efeito de teto. Assim, os resultados indicam que os adultos compreendem amplamente o fenômeno.

Ao contrário dos adultos, os grupos das crianças não apresentam tanta estabilidade em seus resultados. No grupo de 1º e 2º ano, percebe-se pouco conhecimento dos itens, evidenciado nas perguntas abertas. Alguns itens, como o 4, o 5 e o 6, não geraram nenhuma resposta esperada na pergunta aberta, enquanto os demais alcançaram baixas proporções, entre 10% e 40%, de respostas esperadas (IC95% - 0 a 33%). Isso indica, portanto, que esses provérbios são pouco conhecidos pelas crianças. Mesmo assim, esse grupo se mostrou capaz de depreender o significado dos itens nas perguntas fechadas, que, conforme o gráfico, apresentam mais acertos (30 a 90%; p<0.05; IC95% - 19 a 103%). Com isso, há indícios de que alguns ditos já começam a ser compreendidos por volta dos seis aos sete anos, variando com o tipo de pergunta e, provavelmente, também com a familiaridade da criança para com o item. Ou seja, a criança já mostra ser capaz de compreender que a sentença nem sempre trata do nível literal, mas ainda não possui a habilidade de abstrair o significado figurado da mesma em sua totalidade ou de se expressar propriamente.

Sobre o grupo de crianças de 4º e 5º ano, percebemos uma compreensão intermediária em relação às crianças menores e aos adultos, sendo diversas as intersecções que ocorrem nesse caso. Entre este grupo intermediário e os adultos, por exemplo, ocorre intersecção dos intervalos de confiança em 5 dos 6 itens, nas perguntas fechadas, simbolizando uma compreensão semelhante desses grupos nos 5 itens em questão. Entretanto, também ocorrem intersecções entre os dois grupos de crianças, como nos itens 4 (p=1) e 6 (p=0.9827), também nas perguntas fechadas. Assim, percebemos que as crianças mais velhas se encontram em um estágio de compreensão que ainda não está totalmente atingido, dependendo bastante do provérbio que está sendo questionado. Cabe ressaltar que o item 4 também apresentou intersecção somente entre os grupos de crianças na pergunta aberta indicando que, neste item, as crianças não atingiram um nível de compreensão próximo dos adultos, sendo esse o item mais difícil para toda a amostra.

Curiosamente, nas perguntas fechadas dos itens 1, 2 e 3, os três grupos apresentam intersecções (p>0.6), indicando um nível semelhante de conhecimento sobre esses itens. Porém, é importante lembrar que as perguntas fechadas têm 50% de chance de acerto. Diferentemente das questões fechadas, as intersecções das questões abertas não aconteceram entre os três grupos. No item 1, somente os dois grupos de crianças se interseccionam (p=1; IC95% - 25 a 48% e 35 a 61%); no item 2, não ocorre nenhuma intersecção (p<0.05); e no item 3, por final, somente há intersecção entre crianças mais velhas e adultos (p=0.9167; IC95% - 59 a 85% e 81 a 106%). Novamente, é reforçada a tese de que crianças mais velhas compreendem melhor o fenômeno dos provérbios do que as mais novas e pior do que os adultos, apresentando uma capacidade de abstração do fenômeno que ainda é bastante dependente do item apresentado.

Como não há intersecções entre crianças mais novas e adultos em perguntas abertas, a hipótese de que crianças em início de fase escolar não compreendem provérbios da mesma forma que adultos é corroborada. As análises realizadas apontam para um efeito principal de idade na compreensão de provérbios, o que sugere uma habilidade de abstração em desenvolvimento, bastante dependente do item e do tipo de pergunta realizada para as crianças.

4.6. Análise de desempenho geral

Por fim, uma análise foi feita compreendendo o desempenho de todos os participantes nos itens. Como apontado anteriormente, alguns itens apresentaram maior dificuldade para os grupos, como o 4, o 5 e o 6, nesta ordem. Provavelmente essas dificuldades surgiram por falta de exposição dos participantes da pesquisa a esses itens, mesmo que fossem itens julgados familiares por outros adultos da mesma comunidade linguística das crianças entrevistadas.

Essa dimensão foi aferida através de um teste de familiaridade realizado previamente com 204 sujeitos adultos (SIQUEIRA et al., 2017SIQUEIRA, Maity; PEREIRA, Laura Baiocco; FERRARI, Caroline Girardi; LOPES, Nichele. 2017. Mapeamentos metafóricos e metonímicos em provérbios do português brasileiro. ReVEL, vol. 15, n. 29: 159-175.). Somente itens altamente familiares foram selecionados para compor a tarefa aqui descrita. Mesmo assim, esses itens podem ser não familiares para as crianças entrevistadas.

No Quadro 3, são explicitadas as porcentagens de respostas classificando os provérbios como altamente familiares em uma escala Likert. Conforme os resultados, a porcentagem de familiaridade se mantém entre 78% e 97%.

Quadro 3
Porcentagem de respostas 4 e 5 para os itens na tarefa de familiaridade

As respostas dos participantes no instrumento de compreensão apontaram para diferenças entre os itens, ainda que todos fossem bastante familiares na comunidade linguística entrevistada. Novamente, quanto mais novo o participante, menor a proporção de respostas esperadas para os itens. Ainda assim, mesmo nos grupos de crianças, já havia itens mais bem compreendidos, indicando um aumento gradativo na capacidade de abstração dos provérbios. Por isso, outra análise post hoc foi realizada, tratando de respostas esperadas para cada item com toda a amostra (Tabela 2). Nessa análise buscamos investigar se havia uma tendência de que respostas mais familiares seriam melhor compreendidas.

Tabela 2
Familiaridade e média de respostas esperadas para cada item

De fato, alguns dados da tarefa de compreensão se relacionaram aos valores encontrados na análise de familiaridade. O item 4, por exemplo, teve a menor taxa de familiaridade (78%) e também a menor média de respostas esperadas (50%) na análise apresentada (Tabela 2). Conforme os dados já apontados na Figura 4, as crianças responderam conforme o esperado em apenas 10% das vezes, enquanto os adultos chegaram a cerca de 70%.

Analisando novamente esse item (Onde há fumaça há fogo) qualitativamente, percebemos que as crianças tendem a relacionar o provérbio com brigas e discussões, como segue:

(sujeito 67, 8a3m) “Eles estão lá, só que estão brigando. Então está pegando fogo”.

(sujeito 88, 9a8m) “Que as pessoas estão bravas”.

Tais exemplos demonstram que, se por um lado, tais respostas não são consideradas esperadas, gerando um escore 0, por outro lado elas demonstram uma capacidade de abstração. Esses exemplos também evidenciam uma possível influência da metáfora conceitual INTENSIDADE DE EMOÇÃO É CALOR na interpretação do provérbio. Além disso, percebemos durante as entrevistas que mesmo alguns adultos que afirmavam conhecer e utilizar o provérbio, apresentavam dificuldade para verbalizar o sentido figurado em outras palavras.

O desempenho no item 5 foi similar ao do item 4, com uma média de 53% de respostas esperadas. Nesse caso, a compreensão do item também se compara ao julgamento de familiaridade, uma vez que, mesmo considerado altamente familiar, estava entre os três itens menos familiares. O provérbio Quem não chora não mama apresentou uma quantidade menor de respostas esperadas do que os outros itens, principalmente para as crianças.

O item 6, como já comentado, foi um dos três itens que apresentou maiores dificuldades para os grupos, com a média de 62% de proporção de respostas esperadas. Entretanto, na tarefa de familiaridade, este foi um dos provérbios mais altamente familiares. Acreditamos que essa inversão tenha ocorrido devido à possibilidade de o provérbio Cachorro que late não morde ser pouco utilizado com crianças, fazendo com que suas curvas de compreensão sejam mais tardias do que a de outros itens. Ainda assim, salientamos o fato de que as mesmas crianças puderam depreender melhor o sentido dos ditos com o auxílio da pergunta fechada (conforme a Figura 4).

Ao analisar os intervalos de confiança desses três itens (Tabela 2), uma intersecção entre os pares de itens 4 e 5, e 5 e 6 é constatada. Isso quer dizer que, nestes itens, o desempenho dos participantes não apresenta diferenças, sendo os itens 4, 5 e 6 os três provérbios mais difíceis de interpretar. Averiguando os dados de contraste, verificamos que todos os valores estatisticamente significativos (p<0.5) vêm das comparações destes itens com os mais bem compreendidos, indicando, novamente, a dificuldade desses itens na amostra entrevistada.

Os três primeiros itens da tarefa alcançaram médias de respostas esperadas muito semelhantes, entre 73 e 77%. Percebem-se intersecções entre os três itens, não havendo diferenças significativas (p>0.9) em seus contrastes (Figura 4). Isso ocorre porque somente o grupo de crianças mais novas apresentou proporções baixas de respostas esperadas nesses itens. O grupo de crianças mais velhas, por sua vez, aproximou-se do desempenho de adultos. Supomos que dois fatores estejam imbricados no desempenho desses participantes. Se, por um lado, é provável que os provérbios apresentados nos três primeiros itens sejam mais conhecidos pelas crianças mais velhas, por outro lado, também é provável que esses participantes possuam um nível de abstração mais desenvolvido do que as crianças mais novas. De qualquer forma, os resultados apontam novamente para a diferença na compreensão do fenômeno de acordo com a idade, sendo este um aspecto indispensável nos estudos de compreensão não só de provérbios, mas também da linguagem figurada como um todo.

Com isso, verificamos diferentes fatores que podem ser analisados para revelar maiores detalhes sobre a compreensão de provérbios em faixas etárias variadas. As análises confirmam a idade como uma variável fundamental na compreensão de provérbios, bem como o tipo de pergunta apresentada ao participante, dando pistas sobre o sentido ou deixando a questão em aberto. Os estímulos apresentados também foram determinantes, revelando uma maior ou menor compreensão dos itens de acordo com o provérbio apresentado.

5. Considerações finais

Neste trabalho, investigamos a compreensão de provérbios em adultos e crianças de séries iniciais do Ensino Fundamental, divididas em dois subgrupos: alunos de 1º e 2º ano e alunos de 4º e 5º ano. Com o objetivo de refletir sobre uma possível curva de compreensão do fenômeno, foi comparado o desempenho dos três grupos de participantes nos itens do Instrumento de Compreensão de Provérbios.

Nossas hipóteses eram: (i) que o desempenho dos grupos não seria semelhante entre si, com avanços na compreensão dos itens variando de acordo com o aumento da idade e (ii) que o desempenho de todos os participantes variaria de acordo com o tipo de pergunta, com mais acertos nas perguntas fechadas. Os resultados corroboram ambas as hipóteses, uma vez que o desempenho se modificou em função das variáveis idade e tipo de pergunta. Conforme o esperado, a idade se mostrou uma variável determinante na compreensão desse fenômeno de linguagem figurada. Assim, aventamos a possibilidade de que o fenômeno dos provérbios não é um conhecimento que se aprenda em uma determinada fase da vida, e sim que a compreensão de provérbios depende de uma capacidade de abstração gradativa, desenvolvida aos poucos pelas crianças de acordo com suas experiências no mundo.

Também já era esperado que os diferentes tipos de perguntas contribuíssem significativamente para os resultados. Sabendo que a primeira pergunta realizada sobre os itens é aberta, enquanto a segunda dá indícios da resposta esperada e tem 50% de chances de acerto, torna-se lógico que um participante apresente um melhor desempenho na segunda. Nem todos os participantes que são capazes de compreender a ideia transmitida por alguns provérbios são capazes de expressar adequadamente sua resposta de forma a obter um escore 1 na pergunta aberta. Esses participantes se beneficiam de uma pergunta fechada que dê pistas sobre a resposta.

Não só a idade e o tipo de pergunta apresentaram efeitos significativos nos resultados; os itens da tarefa, mesmo que previamente avaliados em um piloto e controlados quanto ao grau de familiaridade, apresentaram diferenças significativas entre si. É provável que o desempenho dos participantes em alguns itens específicos esteja relacionado não só ao nível de abstração exigido para compreender o significado figurado do mesmo, mas também à dificuldade de expressar adequadamente tal sentido figurado. Falar de indícios ou presságios de algum evento futuro, por exemplo, não é tarefa fácil nem mesmo para falantes maduros de uma língua. Falar das semelhanças entre pais e filhos, por sua vez, se mostrou mais fácil. Faz sentido então supor, no espírito da abordagem experiencialista, que práticas mais rotineiras sejam mais fáceis de compreender e expressar do que aquelas que envolvem eventos menos corriqueiros. Ainda, um outro fator a ser levado em consideração é a presença de mapeamentos metafóricos e metonímicos subjacentes a um dado provérbio7 7 Essa ideia, de fato, é uma das grandes contribuições da Linguística Cognitiva para o estudo dos provérbios. . Apesar de não termos feito um cruzamento entre esses fatores, a complexidade e a compreensão dos provérbios, é possível supor que exista sim uma relação entre eles, relação essa que poderia ser investigada em estudos futuros.

Supomos que a curva de compreensão do fenômeno em uma criança depende de muitos fatores. É provável que um dos fatores relevantes seja sua exposição a determinados provérbios. Como se sabe, um provérbio carrega uma moral que exige conhecimentos culturais para ser bem compreendida. Partindo do pressuposto de que uma criança não costuma ter experiência de mundo suficiente para compreender determinados valores de uma sociedade, presumimos que os provérbios sejam menos utilizados com esse grupo etário devido à essa falta de experiência de mundo para compreender os ditos. Desse modo, conjecturamos que, dada a falta de familiaridade e exposição, a capacidade de compreensão da criança para certos provérbios e a capacidade de expressão desse entendimento passa a ser mais tardia para uns ditos do que para outros.

Além disso, entendemos que a compreensão de provérbios não está relacionada somente a esses fatores, mas também a elementos de letramento, como escolaridade e nível de leitura. Assim como o aumento da idade, a escolaridade e a quantidade de leitura realizada por uma criança permite uma maior exposição a diferentes situações de comunicação. Consequentemente, uma criança com mais carga de leitura tem mais acesso a novas formas linguísticas, incorporando-as em seu repertório linguístico. De certa forma, esse foi um fator controlado neste estudo, uma vez que os grupos etários infantis também corresponderam a diferentes níveis de escolaridade. Os adultos selecionados tinham, no mínimo, o ensino básico completo.

Após os resultados das análises e dada a escassez de estudos em língua portuguesa tratando sobre a compreensão de provérbios, algumas contribuições deste estudo podem ser ressaltadas. Alguns aspectos sobre a curva de compreensão de provérbios em crianças de seis a onze anos foram suscitados e discutidos, como evidências sobre o aumento gradual desse conhecimento e a necessidade de exposição das crianças aos ditos para uma melhor compreensão de seus sentidos. Ademais, a aplicação na tarefa permitiu que algumas melhorias fossem feitas no Instrumento. Novas possibilidades de respostas esperadas foram adicionadas aos critérios de correção do teste COMFIGURA, como a utilização de exemplos que expliquem uma situação possível de uso do provérbio quando o participante não consegue verbalizar um significado propriamente dito.

Mesmo assim, reconhecemos também algumas limitações que devem ser apontadas para fins de pesquisas futuras. Sabemos que provérbios são extremamente dependentes do contexto sociocultural dos falantes. Com isso, é importante ressaltar que os adultos aqui entrevistados não fazem parte da mesma comunidade linguística que os entrevistados no teste de familiaridade, já que o instrumento foi aplicado a participantes da região da Serra do Rio Grande do Sul, enquanto o teste de familiaridade foi realizado com residentes da região metropolitana de Porto Alegre. Assim, podemos considerar a cultura dos participantes adultos entrevistados como uma possível variável interveniente nos resultados.

Outra limitação pode ser apontada nas dificuldades que as crianças podem apresentar ao se expressarem, ou por não terem sido tão expostas a alguns itens da tarefa, compreendendo-os menos. Para isso, um estudo de linguística de corpus poderia complementar os resultados aqui apresentados. Desse modo, as produções linguísticas das crianças utilizando provérbios em contextos mais naturais de fala poderiam ser estudadas. Através de bancos de dados já existentes, como o Child Language Data Exchange System (CHILDES)8 8 Disponível em: <https://childes.talkbank.org/>. , seria possível analisar a fala de crianças em diferentes contextos, faixas etárias e línguas, tratando não só do significado compreendido pelas crianças nas expressões, mas também do que é enunciado nas conversas registradas. Outra sugestão para estudos da mesma natureza é a realização de uma análise de mídias e conteúdos consumidos pelas crianças, como livros, músicas e programas de entretenimento infantis, em diferentes meios de disseminação. Através disso, seria possível observar a ocorrência de estruturas proverbiais às quais as crianças são expostas, além dos contextos de fala cotidiana.

Em resumo, entendemos que a compreensão de provérbios depende da experiência do falante. Há uma tendência de que quanto mais experiência e conhecimento de mundo, melhor um falante compreende os provérbios e os valores contidos neles. Assim, a compreensão de provérbios pode ser bem explicada através do dito água mole em pedra dura tanto bate até que fura, indicando que essa é uma habilidade que se desenvolve através de repetidos eventos comunicativos. A compreensão de provérbios, com isso, é uma habilidade complexa adquirida paulatinamente, exigindo, além de conhecimentos linguísticos, capacidade cognitiva para abstrair e experiência de mundo suficiente para a assimilação dos valores morais e sociais apresentados no fenômeno.

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  • 3
    O COMFIGURA encontra-se em fase final de desenvolvimento pelo grupo METAFOLIA (PPG/Letras UFRGS).
  • 4
    Slant rhyme são rimas imperfeitas, em que as palavras soam semelhantes apesar de não rimarem exatamente (ex: A stitch in time saves nine).
  • 5
    Elencamos aqui um trabalho representativo de cada um desses pesquisadores. Entretanto, é importante ressaltar que esses nomes coordenam grupos atuantes de pesquisa com uma vasta produção nas respectivas áreas de investigação.
  • 6
    Intervalo de Confiança de 95%.
  • 7
    Essa ideia, de fato, é uma das grandes contribuições da Linguística Cognitiva para o estudo dos provérbios.
  • 8
  • *
    Mesmo que este provérbio também seja popular com a variação “Cão que ladra não morde”, a sentença com a palavra “late” foi utilizada por ser, por hipótese, mais conhecida entre crianças (SIQUEIRA et al., p. 169, 2017SIQUEIRA, Maity; PEREIRA, Laura Baiocco; FERRARI, Caroline Girardi; LOPES, Nichele. 2017. Mapeamentos metafóricos e metonímicos em provérbios do português brasileiro. ReVEL, vol. 15, n. 29: 159-175.).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    24 Jul 2019
  • Aceito
    19 Mar 2020
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