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Tipologia das orações-quando/cuando: sintagmas preposicionais e adverbiais em português e espanhol

When-clause Typology: prepositional and adverbial phrases in Portuguese and Spanish

RESUMO

Este artigo discute as propriedades morfossintáticas de sentenças do português e do espanhol em que quando/cuando introduz um sintagma adjetival/nominal (jovem, menino), como em quando jovem/ menino; cuando joven/niño, e um sintagma determinante (a chuva/ la lluvia; a guerra/ la guerra), como em quando da guerra; cuando la guerra. Para o primeiro caso, por um lado, aventamos a existência de um predicado secundário depictivo nas duas línguas. Para o segundo, por outro lado, supomos que quando, em português, é advérbio e requer a presença da preposição dummy ‘de’ para introduzir o DP (quando + de + DP). Diferentemente, em espanhol, cuando tem caráter preposicional, por introduzir diretamente o DP (cuando + (*de) + DP). Nesse aspecto, propomos um contraste quanto ao tratamento de quando/cuando como categoria adverbial ou preposicional nas duas línguas analisadas.

Palavras-chave:
Orações-quando/cuando; Advérbio; Preposição; Predicação secundária

ABSTRACT

This paper discusses the morphosyntactic properties of the sentences from Portuguese and Spanish in which when is followed by an adjective/noun phrase (young, boy), as in quando jovem/ menino; cuando joven/niño [when young] and a determiner phrase (the rain, the war), as in quando da guerra; cuando la guerra [during the war]. In the first case, on the one hand, we will argue that there is depictive secondary predicate in both languages. On the other hand, for the second structure, we hypothesize that when, in Portuguese, is an adverb and requires the presence of a dummy preposition to introduce the DP [when + of + DP]. Unlike, in Spanish, it has a prepositional character, introducing the DP directly (when + (*of) + DP). In this respect, we propose a contrast with respect to the treatment of when as an adverbial or a prepositional category in both languages.

Keywords:
When-clauses; Adverb; Preposition; Secondary predication

Introdução

Neste artigo, discutimos sentenças do português brasileiro (PB) e do espanhol (ES) introduzidas, respectivamente, por quando e cuando, em que são encontradas estruturas reduzidas (distinguindo-se dos casos em que introduzem orações com formas verbais finitas).1 1 . Este artigo é um recorte do trabalho de Silva (2016). Em tais estruturas, esses termos são seguidos por um sintagma nominal/adjetivo (SN/SAdj), conforme ilustrado em (1) e (2), com dados do português e do espanhol, respectivamente:2 2 . De acordo com Alcina e Blecua (1998), esse uso de cuando é comum no espanhol falado na América e em algumas regiões da Galiza, Leão e Basconia. Já Brucart (1999), relaciona o fenômeno ao espanhol de algumas partes da Espanha e da América. Tanto o Corpus diacrónico del español (CORDE) quanto o Corpus de referencia del español actual (CREA) mostram a ocorrência desse tipo de dado. Os fenômenos analisados manifestam-se de forma idêntica nas diferentes variedades do português. Por essa razão, vamos usar os rótulos ‘português’ e ‘espanhol’, sem especificar dialetos, exatamente como é feito em Silva (2016). ,3 3 . A pedido de um parecerista anônimo, traduziremos somente os exemplos do espanhol cujo significado não possa ser inferido da semelhança com o português.

(1) a. Morre mulher que, quando criança, se recusou a cumprimentar o presidente Figueiredo.4 4 . Disponível em: http://migre.me/rZTqT. Acesso em 2/11/2015 (Notícia publicada no site Uai na coluna Política).

b. Você tinha alguma coisa que você sempre esquecia quando criança?5 5 . Dado de fala coletado pelas autoras.

c. “Quem não pensa que é sério quando jovem? Quando jovem, eu pensava dirigir uma peça para mudar o mundo [...].”6 6 . Disponível em: http://bit.ly/1VnAQX0. Acesso em 26/1/2016 (Citação de Antonio Abujamra publicada no site Fullbright).

d. Quando da II Guerra Mundial, o Brasil não ficou neutro.

(2) a. ¿Qué tan adicta a las Barbies eras cuando niña?7 7 . Disponível em: http://migre.me/sbir0. Acesso em 21/11/2015 (Título de texto publicado no site BuzzFeed).

b. Cuando las lluvias, yo estaba preocupado porque las casas coloniales se podían caer [...].8 8 . Disponível em: http://migre.me/s8YAK. Acesso em 17/11/2015 (Reportagem publicada no site Diario Vérsión Final).

c. Aquí te presentamos 9 razones para viajar cuando joven.9 9 . Disponível em: http://migre.me/u5LwS. Acesso em 26/1/2016 (Texto publicado no site Índices Regionales).

Gallego (2011GALLEGO, Ángel. 2011. ‘Cuando’, preposición o adverbio relativo? In: VIDAL, M. V. E., et al. (eds.). 60 problemas de gramática. Akal, Madrid. ) propõe que essas estruturas, no espanhol, caracterizam-se pela presença de um sintagma nominal ou um sintagma adjetivo e pela elisão do verbo. Em sua análise, discute o estatuto categorial de cuando considerando o debate na literatura, formulado por autores como Brucart (1999BRUCART, José María. 1999. La Estructura del Sintagma Nominal: Las Oraciones de Relativo. In: Ignacio Bosque e Violeta Demonte (dir.). Gramatica Descriptiva de la Lengua Española, Espasa, p. 395-522.) e Bosque (1989BOSQUE, Ignácio. 1989. Las categorías gramaticales. Madrid. Síntesis.).

De acordo com Gallego, ainda, sentenças-cuando seguidas de um SN/SAdj não são comuns em muitas línguas. Não ocorrem no inglês com nomes propriamente (*When boy/teacher/ Quando garoto/professor), mas são possíveis com adjetivos (When drunk/ready/ Quando bêbado/pronto).10 10 . No inglês, utiliza-se a conjunção/preposição as (As a boy, I played outside) ou a estrutura com o verbo realizado (When I was a boy, I played outside) para realizar sentença semelhante às do português e do espanhol. Conforme demonstram os dados em (1) e (2), o português alinha-se com o espanhol, uma vez que admite a oração-quando, ocorrendo tanto com sintagmas nominais quanto com sintagmas adjetivos. No entanto, existem algumas diferenças a serem explicadas, como no caso da exigência da preposição de em (1d), em português, mas não em espanhol, conforme (2b), com implicações relevantes para a discussão teórica.

O artigo se estrutura como a seguir: na próxima seção, apresentamos alguns dos autores que discutiram essas construções no espanhol. Na sequência, abordamos dados do português. Não encontramos pesquisas que fizessem referência a esse fenômeno nessa língua, porquanto analisaremos os dados a partir de exemplos que coletamos e da literatura existente para o espanhol. Na seção 3, apresentamos propriedades de quando/cuando, aplicando os testes propostos por Fernández (2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.) principalmente. A seção 4 apresenta a proposta de análise, conforme discussão de Lobato (1989LOBATO, Lucia. 1989. Advérbios e preposições, sintagmas adverbiais e sintagmas preposicionais. D.E.L.T.A., v. 5, nº1, p. 101-120., 1995______. 1995. De novo sobre advérbios e preposições, sintagmas adverbiais e sintagmas preposicionais. In: HEYE, Jügen (org.). Flores verbais: uma homenagem linguística e literária para Eneida do Rego Monteiro Bomfim no seu 70º aniversário. Rio de Janeiro: Ed. 34, p. 23-39.) para a distinção entre sintagmas adverbiais e sintagmas preposicionais. Por fim, a síntese e as referências.

2. O termo quando/cuando em estrutura oracional e não-oracional: análises prévias

2.1. Espanhol

O fenômeno que analisamos é apresentando tanto por gramáticos quanto por linguistas. Aliaga e Escandell (1988ALIAGA GARCÍA, Fernando; ESCANDELL, María Victoria. 1988. Cuando + SN: algunos problemas sintácticos, en C. Martín Vide (ed.). Lenguajes naturales y lenguajes formales, III.2, p. 389-401. apud Fernández 2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.:210) argumentam a favor da hipótese de cuando ser uma preposição. Segundo esses autores, supor que cuando em cuando joven é uma conjunção e que existe a elisão do verbo é o mesmo que atribuir aos dados uma análise radicalmente diferente da que se atribuiria a exemplos como os de (3). Salientamos, no entanto, que essa análise não se sustenta, já que de joven é um constituinte essencialmente não oracional, enquanto em cuando joven essa possibilidade está em aberto, pelo fato de que admite uma contraparte oracional (cuando era joven).

(3) a. De joven, me encantaba ir a bailar.

a. De joven, me encantaba ir a bailar.

b. De niño, tenía muy mal caráter.

c. De estudiante, aceptaba cualquier trabajo.

(Aliaga e Escandell 1988 apud Fernández 2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.:210)

Alarcos Llorach (1994ALARCOS LLORACH, Emilio. 1994. Gramática de La Lengua Española. Madrid: Espasa Calpe, (Real Academia Española). ) ressalta que o advérbio relativo cuando pode aparecer em construções em que ocorre a supressão do verbo, conforme (4), e que esse uso é análogo ao de preposições, como em de chica/de niño.

(4) a. Despreciaba las buenas proporciones y cuando chica comía tierra (=cuando era chica).

b. Cuando niño el muchachito pasaba diariamente al piso (=cuando era niño).

(Alarcos Llorach 1994ALARCOS LLORACH, Emilio. 1994. Gramática de La Lengua Española. Madrid: Espasa Calpe, (Real Academia Española). :102-103)

Também destaca que nem sempre é fácil suprir/resgatar o verbo supostamente elidido, como o é para sentenças do tipo de (4), cujo verbo elidido é ser. Nos dados em (5), não se pode definir exatamente quais foram os verbos suprimidos (cf. discussão proposta por Fernández (2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.) a seguir):11 11 . Os verbos possíveis são: ocorreu, aconteceu, sucedeu. Veremos que construções semelhantes às de (5) não são possíveis em português. A tradução para o português seria como a seguir: (i) Uma tarde contou-nos quando da primeira república. (ii) Fez dinheiro com a máquina no pós-guerra, quando dos anos de fome.

(5) a. Una tarde nos contó cuando la primera república.

b. Hizo dinero con la maquila en la posguerra, cuando los años de hambre.

(Alarcos Llorach 1994ALARCOS LLORACH, Emilio. 1994. Gramática de La Lengua Española. Madrid: Espasa Calpe, (Real Academia Española). :102-103)

Para Alcina e Blecua (1998ALCINA, Franch Juan; BLECUA José Manuel. 1998. Gramática española. Primera edición: Barcelona, Ariel, 1975. Décima edición: Barcelona, Ariel. ), interpreta-se como de uso prepositivo o cuando seguido de um nome (cuando muchacho). Os autores enfatizam que o uso de cuando como preposição parece evidente uma vez que nesse contexto específico tem sentido de al tiempo de ou en el tiempo de. Nas palavras dos autores, a ligação entre ‘cuando’ e o termo que introduz é tão estreita que se pode considerá-lo muitas vezes como intercambiável com ‘de’ (Alcina e Blecua, 1998ALCINA, Franch Juan; BLECUA José Manuel. 1998. Gramática española. Primera edición: Barcelona, Ariel, 1975. Décima edición: Barcelona, Ariel. :1111-1112, tradução nossa).12 12 . Tradução livre de: La cohesión entre ‘cuando’ y el término que introduce es tan estrecha que se ha podido considerar como intercambiable muchas veces por ‘de’. Preposições como de e desde, entre outras, assim como cuando, introduzem domínio temporal, talvez por isso possam ser intercambiáveis:

(6) a. Eso me pasó cuando niño. (de niño)

b. Nos conocimos cuando la guerra. (durante la guerra)

c. Eso son historias de cuando los moros. (del tiempo de los moros)

(Moliner 2007MOLINER, María. 2007. Diccionario de uso del español. Editorial Gredos: Madrid.)

Sobre os dados do tipo de cuando joven, Fernández (2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.) afirma que seria mais coerente se se pudesse aplicar uma mesma análise que a usada para os dados em que cuando é seguido de sintagmas nominais do tipo que aparece em (7). Acrescenta, porém, que esse não é exatamente o caso pelo fato de que não se pode prever qual é o verbo elidido, mas apenas inferir: em (7a), o verbo elidido seria provavelmente reinaba, já que Alfonso XIII era rei; em (7b), poderia ser governaba, porque Felipe Gonzalez era presidente do governo; em (7c/d), não se pode definir o verbo, pois muitos poderiam se encaixar.

(7) a. Eso sucedió cuando Alfonso XIII.

b. Eso sucedió cuando Felipe Gonzalez.

c. Eso sucedió cuando Goya.

d. Eso sucedió cuando la II República.

(Aliaga (c. p.) apud Fernández 2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.:210)

Ressaltamos que com sintagmas nominais/adjetivos como niño e joven a preposição prevista é sempre de. Com sintagmas nominais como os ilustrados em (7), ao contrário, cabem apenas preposições distintas de de, como durante, ou sintagmas preposicionais temporais, por exemplo, en el tiempo de. Esse é um indício para um tratamento diferenciado dessas estruturas.

Brucart (1999BRUCART, José María. 1999. La Estructura del Sintagma Nominal: Las Oraciones de Relativo. In: Ignacio Bosque e Violeta Demonte (dir.). Gramatica Descriptiva de la Lengua Española, Espasa, p. 395-522.) afirma que, nos casos de cuando joven, pode-se supor um verbo elíptico (cuando era joven) e que o constituinte encabeçado por cuando tem realização oracional. Por outro lado, a atribuição dessa mesma análise aos casos de cuando la guerra parece mais problemática, uma vez que não parece simples apenas admitir que existe um predicado (verbal) implícito. Isso faz com que o autor assuma uma proposta em que o item cuando é considerado uma preposição como durante. No entanto, supõe que seja conveniente postular a existência de duas categorias homófonas para cuando, uma preposicional e outra adverbial. O autor sugere que, dadas as propriedades adverbiais (relativas) do termo, deve-se seguir com essa análise também nos casos de cuando la guerra.

(8) a. Cuando joven, prefería jugar al tenis.

b. Cuando la guerra, el número de oficiales en el ejército era de quince mil.

(Brucart 1999BRUCART, José María. 1999. La Estructura del Sintagma Nominal: Las Oraciones de Relativo. In: Ignacio Bosque e Violeta Demonte (dir.). Gramatica Descriptiva de la Lengua Española, Espasa, p. 395-522.:511)

O autor considera, por fim, que esse fenômeno pode ser discutido de duas formas: (i) os termos relativos dessas construções atuam plenamente com valor preposicional devido ao fato de selecionarem um sintagma nominal (preposição + argumento); (ii) os termos relativos seguem tendo valor relativo só que com a omissão do verbo.

Os advérbios donde e como, da mesma forma que cuando, atuariam também como preposições ao introduzirem substantivos ou adjetivos:13 13 . A tradução de sentenças com donde para o português parece menos óbvia. Nesses casos, o significado de lugar é observado na estrutura com o verbo: (i) Vou onde mora/está seu amigo. No entanto, em alguns dialetos do PB, essa estrutura é possível: (ii) Vou onde meu amigo/meus pais. A sentença com como também pode ocorrer no português. Analisando sua denotação, concluímos que ela ocorre nos seguintes termos: enquanto (9c) traz uma denotação comparativa, sem manifestar uma estrutura oracional implícita (trabalha como camareiro (*trabalha)), (9d) não parece introduzir denotação comparativa, ocorrendo como introdutor do núcleo adjetival predicativo, o que explica provavelmente a possibilidade de alternar a preposição (Me tomam por louco/?como louco).

(9) a. Cuando la guerra civil, se vivía muy mal en España.

b. Voy donde tu hermano.

c. Trabaja como profesora.

d. Me tienen como tonto/por tonto.

Gallego (2011GALLEGO, Ángel. 2011. ‘Cuando’, preposición o adverbio relativo? In: VIDAL, M. V. E., et al. (eds.). 60 problemas de gramática. Akal, Madrid. ) traz um estudo sobre o elemento cuando do espanhol em que também questiona seu estatuto sintático/categorial. Segundo o autor, a literatura é divergente entre tratá-lo como preposição ou advérbio relativo. Sua análise parte dos pares de sentenças abaixo que, embora encabeçados pelo item cuando, têm, por hipótese, uma natureza sintática distinta: em (10), cuando introduz constituinte oracional, enquanto em (11), cuando é seguido de constituinte não oracional.

(10) a. Avísame cuando te hayas ido.

b. Habla con Juan cuando estés preparado.

(11) a. Hubo grandes críticas cuando el estreno de su obra.

b. Nadie confió en nosotros cuando la transición.

(Gallego 2011GALLEGO, Ángel. 2011. ‘Cuando’, preposición o adverbio relativo? In: VIDAL, M. V. E., et al. (eds.). 60 problemas de gramática. Akal, Madrid. :9)

O autor defende que, para os casos de cuando el estreno, cuando la transición ou cuando joven, o termo cuando é uma preposição (enquanto em cuando vengas não o é). Ainda que uma análise unificada para (10) e (11) seja preferível conceitualmente, o autor sugere que essa opção não é a mais adequada para a partícula cuando. Assim, propõe que o item cuando que aparece em cuando joven e cuando la guerra é uma espécie de preposição. Por outro lado, em cuando vengas, não terá essa classificação. O autor defende que existem dois tipos distintos de cuando no léxico espanhol, um cuando que introduz sentenças não oracionais e que é variante da preposição de, e um cuando advérbio relativo. Gallego (2011GALLEGO, Ángel. 2011. ‘Cuando’, preposición o adverbio relativo? In: VIDAL, M. V. E., et al. (eds.). 60 problemas de gramática. Akal, Madrid. ) conclui que em sentenças oracionais e não-oracionais, cuando é um SAdv e um SP. Por fim, considera que cuando realiza dois tipos de movimentos. Sendo SAdv (ou SP) realiza movimento de núcleo, conforme (12). Nos casos em que é elemento interrogativo (ou exclamativo), tem-se movimento de sintagma, que dá lugar a um SComp, como em (13).14 14 . Nesse aspecto, a proposta de Gallego (2011) adota a análise de Donati (2006), embora não discuta amplamente seus desdobramentos. A nomenclatura das representações arbóreas é a do autor: SComp (Sintagma complementizador); Comp (Complementizador); ST (Sintagma de Tempo); h (huella/vestígio).

(12) Movimento de núcleo


(13) Movimento de sintagma (interrogativa indireta)

(Gallego 2011GALLEGO, Ángel. 2011. ‘Cuando’, preposición o adverbio relativo? In: VIDAL, M. V. E., et al. (eds.). 60 problemas de gramática. Akal, Madrid. :14)


Conforme os autores apresentados, cuando, seguido de sintagma nominal/adjetivo, corresponde a uma preposição e projeta um Sintagma Preposicional. Essa análise se deve, sobretudo, a essa estrutura ocorrer no mesmo ambiente da preposição de. A seguir, discutimos os dados do português brasileiro, comparando-os com os do espanhol.

2.2. Português brasileiro

Os dados do português brasileiro mostram contrastes com os dados do espanhol em relação às estruturas em que quando introduz categoria não oracional. Descritivamente, as sentenças são boas apenas se temos um sintagma nominal do tipo que aparece nas sentenças em (14) ou um sintagma adjetivo, como (15). Conforme será argumentado a seguir, vamos incluir esses dois tipos de sintagmas em um único grupo, o dos sintagmas modificadores atributivos (equivalentes, portanto, a sintagmas adjetivais):

(14) a. A verdade? Eu passei um tempo aqui quando garoto.15 15 .Dado de fala coletado pelas autoras.

b. É gratificante ele dar um presente que ele não teve quando criança.16 16 .Dado de fala coletado pelas autoras.

c. Quando adolescente, Tavinho (para os íntimos) morou com parentes por quase um ano no Rio de Janeiro, onde ainda hoje tem uma irmã.17 17 .Disponível em: http://migre.me/o3Ahz. Acesso em 10/01/2015 (Notícia publicada no site da Veja).

d. Já sofri por amor, já tive problemas de adulto quando menino, e consegui resolvê-los da melhor forma e, às vezes, da pior.18 18 .Disponível em: http://migre.me/lLX0p. Acesso em 17/09/2014 (Texto publicado no site UOL).

e. Domingos Montagner diz que já fez muita greve quando professor.19 19 .Disponível em: http://migre.me/lLWny. Acesso em 17/09/2014 (Reportagem do site Extra).

f. Aquelas pessoas que são mais oprimidas em sua infância provavelmente terão mais dificuldade em falar “não” quando adultas.20 20 . Disponível em: http://bit.ly/1UkZ3gg. Acesso em 24/1/2016 (Texto publicado em Blog).

g. Greve! Simples assim. Pouca vergonha é o que eu acho. Passei por uma greve quando estudante, é simplesmente ridiculo!21 21 . Disponível em: http://migre.me/s5q7p. Acesso em 11/11/15 (Notícia publicada no site Zero Hora). [sic]

h. É muito curiosa essa intenção, já que, quando prefeito, ele renegociou contratos com as empresas [...].22 22 . Disponível em: http://bit.ly/1r0htu1. Acesso em 20/04/16 (Texto publicado no site Rede Brasil Atual).

(15) a. Eles namoravam quando novos.23 23 . Dado de fala coletado pelas autoras.

b. Isso é você quando jovem.24 24 . Dado de fala coletado pelas autoras.

c. Eu prefiro as loiras, sou morena, ja fui loira e sei bem do sucesso que eu fazia quando loira.25 25 . Disponível em: http://migre.me/lLWvc. Acesso em 17/09/2014 (Comentário publicado no site Adriane Boneck). [sic]

d. 7 lições que os milionários gostariam de ter aprendido quando jovens.26 26 . Disponível em: http://migre.me/lLWMH. Acesso em 11/09/14 (Texto publicado no site Pequenas empresas e grandes negócios).

e. Parece a Christina Aguilera quando morena.27 27 . Dado de fala coletado pelas autoras.

f. Ele já tem antedentes quando menor por roubo e quando maior por receptação.28 28 . Dado de fala coletado pelas autoras.

No entanto, os sintagmas nominais do tipo de estreia e guerra que seguem quando em (16) formam sentenças agramaticais, diferentemente do que ocorre no espanhol (cf. (11)):

(16) a. *Houve muitas críticas quando a estreia da sua peça.

b. *Quando a guerra do Iraque, milhões de inocentes morreram.

Dados desse tipo no português brasileiro requerem que a estrutura introduzida por quando tenha um sintagma verbal realizado, conforme (17a/b); que o termo quando seja substituído por um sintagma preposicional introduzido por em/durante (ou categoria equivalente), como em (18a/b); ou que o termo quando seja seguido da preposição de, como em (19a/b):

(17) a. Houve muitas críticas [quando sua peça estreou].

b. [Quando houve a guerra no Iraque], milhões de inocentes morreram.

(18) a. [Na guerra do Iraque], milhões de inocentes morreram.

b. [Na estreia da sua peça], houve muitas críticas.

(19) a. Houve muitas críticas [quando da estreia da sua peça].

b. [Quando da guerra no Iraque], milhões de inocentes morreram.

Os dados do espanhol também podem ocorrer com o sintagma verbal ou adverbial, como em (20), mas não com cuando seguido da preposição de, conforme (21).

(20) a. [Cuando estrenó su obra], hubo muchas críticas.

b. [En el estreno de su obra], hubo muchas críticas.

(21) a. *[Cuando de la guerra], los españoles lucharon mucho.

b. *Hubo grandes críticas [cuando del estreno] de su obra.

Conclui-se que, no espanhol, a ocorrência dos três tipos de sintagmas é possível, conforme (22), diferentemente do português (cf. (14), (15) e (16)):

(22) a. Cuando niño, jugaba la pelota.

b. Cuando joven, iba mucho al cine.

c. Cuando la guerra, los españoles lucharon mucho.

A construção (quando + de + sintagma nominal) é perfeitamente gramatical no português brasileiro, conforme ilustrado em (23). Em tais casos, essas sentenças, que remetem a um episódio, precisam da inserção da preposição de para ocorrer na língua. Sem a preposição, as sentenças são agramaticais. Curiosamente, ocorre o inverso em espanhol, ou seja, os dados rejeitam a presença da preposição, conforme (21). Isso pode ser um argumento para se postular o caráter preposicional de cuando no espanhol, mas, ao contrário, seria evidência para não se atribuir o mesmo estatuto para quando no português brasileiro. Voltaremos a essa discussão.

(23) a. O Ministério Público Federal entrega nesta segunda-feira (20), aos dois candidatos ao Governo do Rio Grande do Norte, documento contendo orientações sobre algumas cautelas a serem observadas por aquele que for eleito, quando da transição de governo.29 29 .Disponível em: http://migre.me/mYkig. Acesso em 19/11/2014 (Texto informativo publicado no site Tribuna do Norte).

b. Supremo Tribunal Federal ratifica necessidade de processo administrativo quando da revisão de benefício concedido a servidor.30 30 .Disponível em: http://migre.me/mYkAs. Acesso em 19/11/2014 (Texto informativo publicado no site Servidor).

c. [...] a circunstância de o paciente estar de folga quando dos acontecimentos narrados na denúncia.31 31 .Disponível em: http://migre.me/mYnyR. Acesso em 19/11/2014 (Texto publicado no site JusBrasil).

d. Quando da renovação, o corretor precisa saber se algo mudou e, em caso positivo, fazer a alteração.32 32 .Disponível em: http://migre.me/tsdUp. Acesso em 7/04/2016 (Texto publicado no site Uol Economia).

Em estudo prévio, postulamos distinguir o português brasileiro e o espanhol em relação ao uso de quando/cuando como introdutor de sintagma nominal e sintagma adjetival que denota período/fase da vida, como nos dados acima, em termos da oposição advérbio versus preposição (cf. Silva; Salles 2014SILVA, Cristiany Fernandes; SALLES, Heloisa. 2014. Orações Introduzidas por quando/cuando: uma comparação entre o português e o espanhol. XVII Congresso Internacional Associação de Linguística e Filologia da América Latina (ALFAL). Publicado em: http://www.mundoalfal.org/CDAnaisXVII/trabalhos/R0185-1.pdf.
http://www.mundoalfal.org/CDAnaisXVII/tr...
). Nesse sentido, adotamos análise de Lobato (1989LOBATO, Lucia. 1989. Advérbios e preposições, sintagmas adverbiais e sintagmas preposicionais. D.E.L.T.A., v. 5, nº1, p. 101-120., 1995______. 1995. De novo sobre advérbios e preposições, sintagmas adverbiais e sintagmas preposicionais. In: HEYE, Jügen (org.). Flores verbais: uma homenagem linguística e literária para Eneida do Rego Monteiro Bomfim no seu 70º aniversário. Rio de Janeiro: Ed. 34, p. 23-39.), que distingue advérbios e preposições, com base na transitividade: enquanto preposições são sempre transitivas, advérbios são intransitivos, exigindo, portanto, uma preposição dummy (exatamente como nomes e adjetivos) para licenciar as propriedades de Caso de sintagmas nominais realizados em sua projeção sintática. Essa questão será retomada. Na próxima seção, apresentamos algumas propriedades dessas estruturas introduzidas por quando/cuando.

3. Aplicação dos testes

3.1. Propriedades de cuando

Esta seção traz uma síntese do trabalho de Fernández (2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.). O autor afirma que a construção (cuando + sintagma nominal) é muito antiga na língua, estando presente largamente em obras literárias, além de ser comum na língua falada. Nos exemplos em (24), precisamente, o autor diz que o sintagma nominal que segue cuando pode denotar um acontecimento, la guerra, la boda, uma época, la II República, ou um personagem histórico, Alfonso XIII. Já nos exemplos em (25), o sintagma que segue cuando denota um período/estágio da vida (edad del hombre), como niño, estudiante, joven, etc.

(24) a. Se casaron cuando la guerra.

b. Se peleó con su hermano cuando la boda de Pepe.

c. Se peleó con su hermano cuando lo de Pepe.

d. Eso sucedió cuando la II República, no cuando Alfonso XIII.

(25) a. Cuando niño, tenía muy mal caráter.

b. Cuando estudiante, aceptaba cualquier trabajo.

c. Cuando joven, me encantaba ir a bailar.

(Fernández 2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.:209)

Uma restrição desse tipo de construção de cuando é que o sintagma nominal só pode se referir a um momento anterior ao momento da fala, isto é, deve estar num tempo passado, como em (26). Sentenças com projeção de futuro são agramaticais, conforme (27).

(26) a. “Miren, cuando la guerra, yo trabajé con un grupo que combatía aquí en La Habana, entonces fue esa tarea peligrosa.”33 33 . Disponível em: http://migre.me/s8iIm. Acesso em 16/11/15 (Citação de fala publicada no site Radio 36).

b. Cuando el terremoto, yo estaba a cargo de Managua, conocía la casa de Oscar Turcios, quedaba allí por el Teatro Luciérnaga.34 34 . Disponível em: http://migre.me/vkePF. Acesso em 16/11/15 (Relato).

(27) a. *Estoy seguro de que se peleará con su hermano cuando la boda de Pepe.

b. *María trabajará cuando la próxima huelga.

(Fernández 2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.:211)

Segundo Fernández, cuando não aparece com referência ao futuro ao contrário da preposição de, que pode vir tanto em contexto de passado quanto de futuro, o que marca uma distinção entre esses itens:

(28) a. Cuando / De pequeño era PAS. insoportable y ahora mira.

b. *Cuando / De mayor viviré FUT. en los Alpes.

(Fernández 2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.:211)

Embora o autor não mencione, sentenças no tempo presente são agramaticais com cuando e de, conforme (29), exceto se a referência for o presente histórico, conforme (30).35 35 . O presente histórico se refere a um dos usos/aplicações do tempo presente cujo ponto de referência sinaliza um acontecimento no passado. Também pode ser chamado de presente narrativo e apresentar um marcador temporal de passado: (i) En el siglo pasado las mujeres no tienen apenas derechos civiles. (Gutiérrez Araus 2014) A nosso ver, a preposição de antes de cuando em (30) é a responsável pelo licenciamento da sentença, uma vez que sem esse elemento a sentença se torna agramatical, como em (31). A substituição de cuando por de diretamente não mantém a mesma interpretação da sentença, segundo disposto em (32).

(29) *Cuando/De niño, es bueno. (dado nosso)

(30) Eso son historias de cuando los moros. (del tiempo de los moros)

(Moliner 2007MOLINER, María. 2007. Diccionario de uso del español. Editorial Gredos: Madrid.)

(31) *Eso son historias cuando los moros.

(32) Eso son historias de/sobre los moros. (dados nossos)

Um ponto em comum entre cuando e de, ainda conforme o autor, diz respeito a ambos não poderem ser modificados, (33), nem especificados, (34).

(33) a. Cuando/De niño (*de meses) fue raptado por una secta americana.

b. Cuando/De estudiante (*en la Complutense) tuve terribles experiencias.

(34) a. Fue raptado por una secta Americana cuando/ de (*un) niño.

b. Fue raptado por una secta Americana cuando/ de (*el) niño.

(Fernández 2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.:211)

Segundo Fernández, cuando não é capaz de introduzir orações subordinadas de infinitivo, por exemplo, em (35). Esse fato poderia ser uma evidência para se duvidar da natureza preposicional de cuando, pois as preposições comumente admitem orações infinitivas como complemento. Em (35c), hasta/até admite o infinitivo se adquire valor consecutivo. Voltaremos a discutir esse ponto na próxima seção com dados do português.

(35) a. *Juan escuchaba “La Traviata” cuando leer el periódico.

b. *Escuchaba música cuando pelar las patatas.

c. Trabajó duro hasta poder comprarse la casa.

(Fernández 2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.:211)

Aplicaremos os testes propostos por Fernández (2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.) aos dados do português a seguir.

3.2. Propriedades de quando

Conforme demonstrado na seção anterior, Fernández (2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.) aplica testes que identificam propriedades sintáticas da estrutura de cuando seguida de sintagma nominal/adjetivo para o espanhol. Nesta seção, usamos esses testes com dados do português e apresentamos outras características não observadas pelo autor. A primeira propriedade já citada diz respeito aos termos que quando encabeça diretamente: sintagmas nominais e adjetivos que denotam um estágio de vida ou período (menino, estudante, jovem, velho, etc.) (cf. (14) e (15)). Ademais, conforme mencionado, notamos que sintagmas nominais sem uma referência específica, mas que de todo modo denotam um episódio (terremoto, guerra, estreia, etc.), não são possíveis sem a intermediação da preposição de (cf. (16)).

O segundo ponto refere-se ao tempo verbal: em português, somente dados com referência ao passado são gramaticais:36 36 . Aqui nos referimos tanto ao tempo/aspecto: pretérito perfeito e imperfeito.

(36) a. Ele foi doente quando criança.37 37 . Extraído de DUHIGG, C. 2012. O poder do hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios. Rio de Janeiro: objetiva, p. 284.

b. Quando jovem, às vezes percebia que minha mãe ficava um pouco irritada quando a palavra ‘merecer’ surgia na conversa.38 38 . Extraído de BUFFET, P. 2011. A vida é o que você faz dela. Rio de Janeiro: Bestseller, p. 39.

c. Quando criança, não havia água encanada e eletricidade.39 39 . Extraído de BUFFET, P. 2011. A vida é o que você faz dela. Rio de Janeiro: Bestseller, p. 230.

d. Ela adorava as aulas de arte que assistia quando pequena.40 40 . Extraído de BUFFET, P. 2011. A vida é o que você faz dela. Rio de Janeiro: Bestseller, p. 221.

O tempo presente torna a sentença agramatical, conforme (37):

(37) *Quando criança, é muito levado.

Em relação ao tempo futuro, a comparação com o espanhol não é uniforme, porque os dados em (27), citados por Fernandez (2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.), não têm correspondente em português brasileiro, já que a preposição de, ausente no espanhol, seria obrigatória. Considerando os casos em que quando não exige a preposição de, em que introduz um nome que denota um período/ uma fase, o uso do tempo futuro tornaria as sentenças agramaticais em princípio, conforme (38). Alguns falantes, no entanto, consideraram que são aceitáveis se temos em conta uma evolução temporal entre ser bebê, criança, adulto e velho. A passagem temporal licenciaria a produção das sentenças (essa possibilidade não foi testada por Fernandez (2000FERNÁNDEZ, Luis García. 2000. La gramática de los complementos temporales. Visor: Madrid.) para o espanhol).

(38) a. *?Quando criança, será muito levado.

b. *?Quando adulto, será mais organizado, pois terá mais responsabilidades.

c. *?Quando velho, se mudará para a casa dos filhos.

Na seção anterior, vimos que a preposição de em espanhol aceita os tempos passado e futuro, mas não o presente. No português, o tempo passado ocorre com a preposição de, por exemplo, em (39). O tempo presente confere agramaticalidade à sentença, como em (40). O futuro tampouco é permitido, marcando uma oposição entre espanhol e português, conforme (41) (cf. (28)).

Passado

(39) De criança, era muito levado.

Presente

(40) *De criança, é muito levado.

Futuro

(41) a. *De criança, será muito levado.

b. *De adulto, será mais organizado, pois terá mais responsabilidades.

c. *De velho, se mudará para a casa dos filhos.

Sentencas de caráter habitual no pretérito imperfeito, (42), são possíveis no português, assim como em espanhol, (43):

(42) Quando jovem, Beatriz só usava calca jeans, porque saia nao ficava bem nela.

(43) a. Cuando joven, llevaba largos y renegridos cabellos.41 41 Disponível em: http://migre.me/s5VGv. Acesso em 12/11/15 (Texto publicado no site Municipalidad de Alejandro Roca).

b. Cuando joven, iba casi todos los días a nadar a la Playa Verde.42 42 . Disponível em: http://migre.me/s5VON. Acesso em 12/11/15 (ALCOCER, R. El Guardavidas. In: Cuentos a la luz de mi lámpara, 2012).

A generalização descritiva é que quando e cuando ocorrem primordialmente em sentenças no tempo pretérito (aspecto perfectivo/imperfectivo). A ocorrência nos tempos presente e futuro está condicionada aos contextos em que o nome denota o limite final em um intervalo de tempo. A preposição de só ocorre no tempo passado no português (cf. (39)-(41)). No espanhol, ocorre no passado e no futuro (cf. (28)).

Em relação ao teste da modificação do sintagma nominal, dados do português mostram que quando e tampouco de podem vir modificados ou especificados, (44), exatamente como ocorre no espanhol (cf. (33) e (34)):

(44) a. *Quando/De criança (*de meses), foi sequestrado.

b. Foi sequestrado quando/de (*uma) criança.

Se bem que encontramos, em português, dados com um modificador comparativo (como mais), conforme (45). No espanhol, se existe esse modificador, os falantes consultados têm preferência pela estrutura oracional, como em (46).

(45) a. Gostaria de ter feito essa pergunta quando mais jovem.43 43 . Extraído de THIEL, P.; MASTERS, B. 2014. De zero a um. Trad. Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Objetiva.

b. Meus filhos quando mais novos não comiam cebola, tomate [...].44 44 . Dado de fala coletado pelas autoras.

(46) a. *Cuando más joven, me gustaba salir con mis amigos.

b. Cuando era más joven, me gustaba salir con mis amigos.

c. *Cuando más adulto, iba mucho al campo para descansar.

d. Cuando se hizo mayor/fue más adulto, iba mucho al campo para descansar.

Para Fernández, cuando não introduz orações subordinadas de infinitivo (cf. (35 a/b) acima), o que também se aplica ao português em certos casos: o dado em (47a) é agramatical em razão de o conectivo cabível ser enquanto e também devido à ausência de paralelismo verbal entre os tempos e os eventos (a forma do verbo deve ser cozinhava).

O fato de o espanhol não permitir infinitivo poderia ser evidência para se duvidar da natureza preposicional de cuando, pois as preposições admitem introduzir orações infinitivas (cf. (35c) acima e (47b)). Fernández, porém, não menciona que o espanhol emprega al/ao e não cuando diante de infinitivo, conforme (47c). O termo cuando requer o presente do subjuntivo. No português, de igual maneira, ao introduz oração infinitiva, e quando introduz oração finita com o verbo no subjuntivo, como (47d).45 45 . Na verdade, cuando interrogativo pode ser seguido de verbo no infinitivo em sentenças em que se faça uma recomendação ou uma orientação, por exemplo: Cuándo preguntar es peligroso/ Cuándo terminar una relación/ Cuándo comprar acciones/ Cuándo no comprar un inmueble. Também quando, no português, apresenta esse contexto de aplicação: Quando mudar de emprego vale a pena. Marchesan (2012) também considera, para o português, dados como João pôs na agenda (um dia) quando visitar os pais (cf. discussão em Silva 2016).

(47) a. *Ela escutava música quando cozinhar as batatas.

b. Estudou muito até poder apresentar o trabalho com segurança.

c. Al llegar a la escuela, hablaré con el profesor. (=Cuando llegue)

d. Quando/ Ao sair, feche a porta.

A distinção entre predicado de estágio e predicado de indivíduo também é relevante. Essas duas noções foram primeiramente introduzidas por Carlson (1977aCARLSON, Greg. 1977a. An Unified Analyses of the English Bare Plural. Linguistics and Philosophy 1:413-456./b______. Reference to Kinds in English. 1977b. Ph.D. dissertation, University of Massachusetts, Amherst. Published 1980 by Garland Press, New York.) para explicar plurais nus no inglês.46 46 . Traduzimos as expressões do inglês stage level predicate e individual level predicate, citadas em Carlson (1977a/b), como predicado de estágio e predicado de indivíduo, respectivamente. O uso da expressão estágio remete a uma fase em um dado intervalo de tempo. Aplicadas às sentenças essas noções, o predicado de estágio denota uma propriedade que expressa uma situação transitória ― As crianças estão levadas ― e o predicado de indivíduo denota uma característica permanente ― Crianças são levadas. Isso significa que o predicado de indivíduo descreve um atributo resistente temporal e espacialmente. Já o predicado de estágio, denota propriedade transitória dependente de um intervalo de tempo.

Conforme indicam as oposições entre os dados em (48), somente predicados de estágio ocorrem nas sentenças de quando/cuando + SAdj, isto é, admite-se apenas sintagmas do tipo de menino/niño/jovem/joven.

(48) a. Quando *brasileiro/menino/jovem, sempre ia com meu pai ver os jogos.

b. Cuando *brasileño/niño/joven, veía todos los partidos en la tele.

Algo não apresentado pela literatura é o fato de que os sintagmas adjetivos que seguem quando/cuando podem vir coordenados:47 47 . Chamamos a atenção aqui para o fato de que a literatura ainda não havia descrito essa possibilidade para esse tipo de sentença e para o tipo de estrutura que pode estar embutida nesses sintagmas, conforme a análise que se adote: quando (era) adolescente e (quando (era)) adulto. Mas, de fato, conforme o parecerista anônimo aponta, sintagmas de mesma categoria lexical podem vir coordenados.

(49) a. Eu costumava ser gordinho quando criança, fiquei muito mais atlético quando adolescente e adulto, estava em forma e muito otimista de que conseguiria.48 48 . Extraído de LYRA, Eduardo. Jovens Falcões. 2012. São Paulo: Novo Século, p. 125 (Citação de fala).

b. La mayoría de las personas han experimentado, cuando niño y adulto, ir al oculista y sentir el soplo de aire en nuestros ojos para comprobar la presión [...].49 49 . Disponível em: http://migre.me/s5tiD. Acesso em 11/11/15 (Texto publicado no site Epic).

As estruturas de quando/cuando não são subcategorizadas pelo verbo da sentença principal, como parte de suas características adverbiais, e podem ser retiradas da sentença sem prejuízo à gramaticalidade, constituindo uma informação adicional, conforme descrito em (50) e (51). Esse comportamento é o mesmo visto nas sentenças adverbiais oracionais prototípicas:

(50) a. Junior, quando jovem, gostava de estudar.

b. Junior gostava de estudar.

(51) a. A Juan, cuando joven, no le gustaba estudiar.

b. A Juan no le gustaba estudiar.

Para constar, sentenças com de não admitem verbo manifesto, como disposto em (52). Essas observações permitem concluir que quando e de não apresentam exatamente as mesmas propriedades.

(52) a. *De era criança, brincava na rua.

b. *De era niño, jugaba mucho en la calle.

Em um caso em que isso é possível no espanhol, de tem sentido condicional e não pode ser substituído por cuando, conforme (53). Esse uso não é compatível com o português, de acordo com (54).

(53) a. De ser niño, lo llamarán Alejandro. (Si fuera un niño)

b. De tener menos años, viajaría el mundo. (Si tuviera menos años)

c. De vivir/haber vivido en un pueblo pequeño, tendría más libertad.

(Si viviera/hubiera vivido en un pueblo pequeño)

(54) *De ter menos idade, viajaria o mundo. (Se tivesse menos idade)

Como constatamos, quando e cuando compartilham grande parte das propriedades levantadas pelos autores citados e por nós, exceto para os casos de quando da estreia e cuando el estreno em que a preposição se faz necessária no português, enquanto sua ausência é obrigatória no espanhol. Na próxima seção, procedemos à análise dos dados e retomamos as questões em aberto das seções anteriores.

4. Quando/cuando: preposição ou advérbio?

Este trabalho analisa se quando/cuando, introdutor de oração, partilha as mesmas propriedades sintáticas de quando/cuando seguido SN/SAdj, em que não há uma estrutura oracional explícita, e se, de fato, podemos considerar que há dois quando/cuando ― advérbio e preposição ― no léxico do português e do espanhol.

Já vimos que as línguas não compartilham exatamente as mesmas estruturas. Por exemplo, em relação à necessidade de adição de uma preposição de em português, da possibilidade de não se poder prever o sintagma verbal elidido, etc. Por outro lado, se analisamos apenas o aspecto adverbial da sentença, podemos dizer que compartilham as mesmas propriedades (mobilidade dentro da sentença, não ser selecionada pelo verbo).

Vimos que o termo cuando do espanhol pode ser analisado como uma preposição nas estruturas em que é seguido de adjetivo. Verificaremos a possibilidade de estender essa análise também para o português. Ou seja, interessa-nos saber se essa seria uma análise válida para ambas as línguas.

É inegável que as construções com quando/cuando e de têm relação estreita em virtude da temporalidade que expressam. Os autores concordam que esses termos podem ser parafraseados pela expressão no momento em que/en el momento en el que. Essa propriedade parece subsistir nas construções de Quando menino/Cuando niño, sendo equivalentes a No tempo/momento em que era menino. As preposições também são capazes de introduzir um domínio temporal. Preposições como de, durante, desde, por exemplo, expressam tal função. A temporalidade é, portanto, uma propriedade comum entre as estruturas de De jovem/De joven e Quando jovem/Cuando joven e provavelmente por isso uma comparação entre as duas estruturas seja possível.

Entretanto, apesar dessa semelhança, as sentenças com de/de e quando/cuando seguidos de sintagma adjetivo não manifestariam exatamente as mesmas estruturas. Conforme ressaltamos, sentenças com quando, seguidas de sintagmas como jovem, velho e criança, menino, são gramaticais no português. No entanto, sentenças com quando seguido diretamente de sintagmas como transição e estreia são agramaticais. Para o espanhol, há os três paradigmas.

Tendo esse contraste como referência, consideramos que há uma divisão entre os dados, e isso terá impacto na análise a ser proposta para tais construções em cada língua. Da abordagem dos autores citados, concordamos que quando/cuando são advérbios relativos que introduzem estruturas em que ocorre elipse de verbo para os dados em que são seguidos de sintagma adjetival, o qual analisamos como um predicado secundário depictivo ― casos de quando menino/quando jovem e cuando niño/cuando joven.50 50 . Cf. Stowell 1981, 1983; Rothstein 1995, 2001; Foltran 1999. As estruturas quando da estreia e cuando el estreno receberão outra análise a ser explicitada seguir.

Um critério relevante, então, diz respeito aos predicados secundários possuírem a restrição de ocorrerem apenas com propriedades transitórias, ou seja, de corresponderem a predicados de estágios (Rothstein 1985). Os predicados secundários analisados designam ‘estágios de vida’, ser bebê, ser jovem, ser menino, ser adulto, e não constituem, portanto, características permanentes, mas propriedades localizadas temporal e espacialmente.

Ressalte-se, ainda, a possibilidade de os predicados secundários serem parafraseados por verbo de cópula e conectivo quando/cuando, como em (55)-(58).

(55) a. Ana chegou cansada.

b. Ana estava cansada quando chegou.

(56) a. Ana comprou o carro quebrado.

b. O carro estava quebrado quando Ana comprou.

c. ?Ana comprou o carro quando estava quebrado.

(57) a. Ana llegó cansada.

b. Ana estaba cansada cuando llegó.

(58) a. Ana ha comprado el coche averiado.

b. El coche estaba averiado cuando Ana lo compró.

c. ?Ana ha comprado el coche cuando estaba averiado.

As estruturas de quando/cuando que estamos analisando são semelhantes nesse quesito e formam uma espécie de tríade:

(59) a. Ana foi para a creche quando era bebê.

b. Ana foi para a creche quando bebê/?de bebê.

c. Ana foi para a creche bebê/pequena.

(60) a. Julinho viajou de avião quando era criança.

b. Julinho viajou de avião quando criança/?de criança.

c. Julinho viajou de avião criança/jovem.

No entanto, existe uma diferença importante entre o português e o espanhol. Os sintagmas nominais (adjetivos) do tipo chico, bebé, niña não ocorrem sozinhos, como no português (cf. (59c) e (60c) acima), mas apenas sintagmas adjetivos propriamente, como (62) e (63).

(61) a. Juan empezó a estudiar inglês cuando/de chico.

b. Ana empezó a nadar cuando/de bebé.

c. Ana empezó a bailar flamenco cuando/de niña.

(62) a. Juan empezó a estudiar inglês *chico.

b. Ana empezó a nadar *bebé.

c. Ana empezó a bailar flamenco *niña.

(63) a. Ana ha salido de la casa de los padres joven.

b. Ana se sacó el carné de conducir (ya) vieja.

c. Ana empezó con clases de inglés joven.

A conclusão é que, em espanhol, nomes realizados como predicados secundários não podem funcionar como complemento circunstancial de tempo sem que estejam introduzidos pela preposição de, ou pelo item cuando ou ainda um gerúndio (siendo) e por isso a agramaticalidade das sentenças em (62).51 51 . Dados com gerúndio no português, em comparação com o espanhol, parecem agramaticais: Espanhol (i) Una de cada tres mujeres fue obligada a casarse siendo niña. ‘Uma em cada três mulheres foi obrigada a se casar [*?sendo criança/quando criança/?de criança/ainda criança].’ Disponível em: http://migre.me/sfMfl. Acesso em 29/11/2015. Português (ii) Mi padre me construyó un columpio siendo niña, básicamente me enseñó a volar. ‘Minha mãe construiu um balanço para mim [*sendo criança/quando eu era criança/?quando criança], basicamente me ensinou a voar.’ Disponível em: http://migre.me/sfMhO. Acesso em 29/11/2015. Essa distinção não terá repercussão nas perguntas que nos propomos responder no início desta seção, mas é interessante registrar como uma questão que merece ser analisada posteriormente.

Pensando em uma análise de quando como uma preposição, haveria para os casos de quando da estreia e quando dos acontecimentos duas preposições concatenadas em uma configuração hierárquica se se tomasse como verdadeira a assunção de que quando é preposição nesses casos. É verdade que existem construções em que ocorrem duas preposições em português, por exemplo, em (64) e sentenças como respeito para com os amigos, voar por sobre/ entre as flores.52 52 . Em espanhol, há expressões semelhantes como por entre, de entre, para conmigo. No entanto, uma característica relevante dessas estruturas é a dispensabilidade da primeira preposição, conforme (64); inversamente, se for retirada a segunda preposição, a sentença fica agramatical, conforme (65), ou não se obtém o mesmo significado.

(64) a. A bola passou (por) sobre o gol.

b. A bola passou (por) entre as pernas do goleiro.

(65) a. *A bola passou pelo [=por +o] gol.

b. *A bola passou pelas [=por +as] pernas do goleiro.

Por outro lado, nos dados de quando + de, do português brasileiro, nenhum dos termos pode ser omitido, como em (66b/c).53 53 . Alguns falantes julgam que o dado é aceitável se o interpretam como Da época da estreia da peça/ Por ocasião da estreia da peça, os patrocinadores fizeram uma festa. Caso se tratasse de um dado como Da estreia da peça, nada se sabe, a contração de + a tem sentido de sobre. Em espanhol, a sentença só é gramatical se temos cuando + SN, conforme (67a). A ocorrência de cuando + de + SN ou apenas de + SN torna a sentença agramatical, como em (67b/c).54 54 . Sentenças gramaticais são: Antes del estreno/ En el estreno de la serie/ Cuando se estrenó la serie, hubo muchas críticas.

Português

(66) a. Quando da estreia, os patrocinadores fizeram uma festa.

b. *Quando a estreia da peça, os patrocinadores fizeram uma festa.

c. *Da estreia da peça, os patrocinadores fizeram uma festa.

Espanhol

(67) a. Cuando el estreno de la serie, hicieron una fiesta.

b. *Cuando del estreno de la serie, hicieron una fiesta.

c. *Del estreno de la serie, hubo muchas críticas.

O paralelismo entre quando, cuando e de + SAdj (do tipo de menino/niño e jovem/joven), não existe com quando, cuando e de + SN (do tipo de estreia/estreno, etc.), de acordo com (66) e (67).

A conclusão em relação aos testes aplicados aos dados em (63)/(64), por um lado, e (66), por outro, é que a expressão quando + de + SN não envolve duas preposições concatenadas. Obviamente, no caso de cuando (*de) + SN, do espanhol, esse problema não se coloca.

Ademais, contrariamente aos exemplos de quando criança/cuando niño, em que o sintagma adjetivo/depictivo introduz uma variável que tem sua referência determinada em uma relação de controle por um argumento na oração principal (Cuando pequeño i, Ronald Mayorga i quería ser cura, médico o actor),55 55 . Disponível em: http://migre.me/s7gBo. Acesso em 14/11/15 (Citação publicada no texto Publimetro). as sentenças de quando da estreia/cuando el terremoto não apresentam essa característica.56 56 . Agradecemos ao parecerista anônimo por nos alertar quanto à possibilidade de que nessas estruturas pode haver um pronome nulo (PRO). Discutimos essa hipótese na nota 58. Assim, pode-se dizer que a relação de controle é um critério que distingue tais sentenças do predicado secundário depictivo realizado por categoria que descreve estágio da vida (quando/cuando + SN/SAdj[estágio] em português e espanhol).

Tendo em vista o contraste entre o português e o espanhol nas construções de quando + de / cuando + (*de) + SN, supomos que a diferença entre as línguas reside no fato de que quando é um advérbio e por isso requer a presença da preposição dummy para introduzir o SN. Nesse sentido, relacionamos essas estruturas às chamadas locuções prepositivas, como junto de, perto de, longe de, em cima de, adiante de, depois de, antes de, conforme a análise de Lobato (1989LOBATO, Lucia. 1989. Advérbios e preposições, sintagmas adverbiais e sintagmas preposicionais. D.E.L.T.A., v. 5, nº1, p. 101-120., 1995______. 1995. De novo sobre advérbios e preposições, sintagmas adverbiais e sintagmas preposicionais. In: HEYE, Jügen (org.). Flores verbais: uma homenagem linguística e literária para Eneida do Rego Monteiro Bomfim no seu 70º aniversário. Rio de Janeiro: Ed. 34, p. 23-39.). Em particular, assumimos que quando projeta um SAdv, que entra em uma relação predicativa com um SN como estreia, sendo essa configuração/relação selecionada (sintaticamente) por uma preposição dummy. Em algum nível da derivação, o SAdv se desloca para o especificador do SP, obtendo-se a ordem desejada, conforme ilustrado em (68). Em resumo, estendemos a análise de Lobato para as locuções prepositivas aos dados de quando + de + SN:

(68) [SP [SAdv quandoj] [P’ Pde [SN [SAdv tj] [SD a [SN estreia]]]]]

Seguindo Lobato, assumimos que essa configuração capta a impossibilidade de quando realizar um argumento na posição de complemento, por um lado, e a possibilidade de entrar em uma relação em que predica de um SN, por outro lado. Uma consequência dessa análise é que a preposição dummy de licencia as propriedades de Caso do DP a estreia.

Nas estruturas depictivas, em que de está ausente tanto em português quanto em espanhol, fica evidente que não existem exigências de Caso envolvidas, já que o termo depictivo (seja SAdj ou SN) é um predicado e, como tal, não exige Caso.

Diferentemente, no espanhol, a possibilidade de se introduzir o SN sem a preposição dummy aponta para a existência no léxico do espanhol de duas categorias homônimas e homófonas, uma adverbial e outra preposicional. O estatuto de cuando como preposição, em espanhol, nesse contexto, se define essencialmente pela capacidade de tomar o DP el estreno diretamente como complemento. Inversamente, a necessidade de se inserir a preposição no português seria uma evidência de que existe apenas o quando adverbial nessa língua.57 57 . Outra hipótese seria considerar a existência de uma preposição silenciosa em espanhol (cf.: Mesquita 2008 para Libras). No entanto, consideramos que as evidências que trazemos apontam para a análise aqui considerada. Dessa maneira, temos a seguinte configuração para o espanhol:

(69) [SP cuando [SD el [SN estreno]]]

Em ambas as línguas, o quando/cuando adverbial introduz oração ou o SN/SAdj depictivo/predicado secundário, o que corresponde, neste último caso, às estruturas em (70), em que Caso não é requerido:58 58 . Existem várias propostas de derivação para predicados secundários/small clauses (Stowell 1981, 1983; Williams, 1983; Kitagawa 1985; Winkler 1997; Rothstein 1995, 2001). Não estamos nos comprometendo com nenhuma delas neste momento. Interessa-nos entender, primordialmente, que o termo que segue quando/cuando diz respeito a um predicado secundário que projeta um sintagma adjetivo (do tipo de menino/jovem/niño/joven). Mas algumas questões importantes acerca dos depictivos estão certamente relacionadas a como tais sintagmas são gerados. É relevante entender, por exemplo, de que modo o argumento do sintagma depictivo está presente na estrutura (como uma variável ligada a um argumento do predicado matriz, ou como uma categoria pronominal nula na projeção do predicado secundário, e correferencial com um argumento no predicado matriz). Importante salientar também que não existe um consenso na literatura quanto a se o predicado secundário e o elemento que ele modifica constituem small clause. Alguns autores utilizam os termos como sinônimos (den Dikken 2006).

(70) a. [SAdv quando/cuando quandoj [SC [Sadv tj] [SAdj jovem]]]

b. [SAdv cuandoj [SC [Sadv tj] [SAdj joven]]]

A obrigatoriedade no uso da preposição de na estrutura de quando em português mostra que nessa língua quando não manifesta a propriedade de selecionar um argumento na posição de complemento, como a preposição, sendo um advérbio relativo em todos os contextos. Já em espanhol, cuando lexicaliza o traço categorial P e Adv, projetando a configuração SP ou SAdv. Isso responde a nossa segunda pergunta de análise quanto ao estatuto categorial de quando e cuando nas duas línguas.59 59 . Anteriormente, designamos o sintagma adverbial a partir da sigla do inglês (AdvP), seguindo os autores discutidos. Nesta seção, adotamos a denominação e as siglas dos rótulos em português e em espanhol (SAdv) uma vez que os autores aqui discutidos o fazem.

O comportamento de cuando se diferencia do de quando em mais um caso. Enquanto o termo cuando no espanhol admite ser seguido por nomes próprios, (71), o PB não realiza dados desse tipo, nem mesmo na presença da preposição dummy ‘de’ (72):

(71) Cuando Redondo, el Real Madrid jugaba mejor.

Leitura: Na época em que Redondo jogava, o Real Madrid jogava melhor.

(Gallego 2011GALLEGO, Ángel. 2011. ‘Cuando’, preposición o adverbio relativo? In: VIDAL, M. V. E., et al. (eds.). 60 problemas de gramática. Akal, Madrid. :10)

(72) a. *Quando Neymar, a seleção joga melhor.

b. *Quando do Neymar, a seleção joga melhor.

Para (71) acima, assumimos que cuando e o SN são realizados em uma estrutura semelhante à de cuando el estreno.

Existe ainda outro tipo de estrutura introduzida por nomes próprios cuja interpretação se diferencia da de (71). Segundo Moreno (2009MORENO, Julián Santano. 2009. De morfologia y sintaxis españolas. Dos estudios interpretativos. Edozioni Universitarie di Lettere Economia Diritto, Milano.), nos dados em (73), cuando tem sentido de en el mismo momento que. Nas palavras do autor, cuando segue tendo natureza oracional e a omissão do verbo se dá por questões de redundância, sendo possível recuperá-lo. A interpretação é a de que Antonio llegó cuando llegó Rosa. O português não permite esse tipo de construção, conforme (74).

(73) Antonio llegó cuando Rosa.

(Moreno 2009MORENO, Julián Santano. 2009. De morfologia y sintaxis españolas. Dos estudios interpretativos. Edozioni Universitarie di Lettere Economia Diritto, Milano.:88-89)

(74) *Bruna entrou quando Bete.

Retomando os dados inicias norteadores da discussão, concluímos que nossa proposta se diferencia da de Gallego (2011GALLEGO, Ángel. 2011. ‘Cuando’, preposición o adverbio relativo? In: VIDAL, M. V. E., et al. (eds.). 60 problemas de gramática. Akal, Madrid. ), na medida em que não consideramos que cuando nos dados do tipo cuando joven/cuando niño seja também uma preposição: nessa estrutura há uma relação de predicação, com a omissão do verbo (cópula), que pode ser recuperado de forma consistente e uniforme. Em tais casos quando e cuando são advérbios relativos que ocorrem como correlatos de orações relativas (livres).60 60 . Os detalhes da análise de orações de quando/cuando como relativas livres são discutidos em Silva (2016), que estende a essas orações a análise de Donati (2006) para relativas livres, propondo movimento da categoria QU-/WH- como núcleo para a periferia da oração, o qual projeta o sintagma correspondente (SAdv). A assimetria só se revela para os casos de cuando el estreno/quando da estreia. Conforme mencionado, no espanhol, o item cuando é uma preposição, enquanto no português, quando é um advérbio, o que explica a necessidade da preposição (dummy) de em português, mas não em espanhol. No que se refere ao comportamento intralinguístico de cuando/quando, no espanhol pode ser categorialmente preposição e advérbio e em português apenas advérbio. Em espanhol, cuando toma um sintagma nominal na posição de complemento. Em português, quando requer a presença da preposição marcadora de Caso de.

Assumindo a operação Agree no licenciamento do DP (nos termos de Chomsky 2001CHOMSKY, Noam. Derivation by Phase. 2001. In: KENSTOWICZ, Michael (ed.). Ken Hale: a Life in Language. Cambridge, MA: MIT Press, p. 1-52.), propomos que na expressão do tipo quando (de)/ cuando (*de) + SN, cuando, no espanhol, sendo uma categoria transitiva do tipo P, manifesta traços phi (não interpretáveis); quando, no português, diferentemente, sendo uma categoria adverbial, não manifesta traços phi (não interpretáveis). Em razão de o núcleo do SAdv não ter as propriedades formais para realizar a operação Agree (não tem traços phi), é inserida a preposição dummy ‘de’ para licenciar o traço de Caso do sintagma nominal. Pode-se dizer, então, que a diferença em relação ao espanhol é que cuando tem traços phi não interpretáveis nessa língua, daí não ser necessária a inserção da preposição.

Concordamos, finalmente, com a hipótese de haver dois cuando no léxico do espanhol, um preposicional e outro adverbial, o que não ocorre no português, em que só existe uma categoria quando com estatuto de advérbio. Esse contraste está sistematizado no quadro a seguir:

Quadro 1
Estatuto categorial lexical de quando/cuando

Argumentamos que o contraste entre I e II, por um lado, como estruturas de relativização, e III e IV, por outro, interage com o fato de que as estruturas de SAdj (depictivo), em II, introduzem eventos de predicados de estágio, enquanto as de III e IV, remetem a eventos episódicos/pontuais, essas últimas sem estabelecer relação de correferência com argumento na oração principal.

5. Considerações finais

Este artigo trouxe os casos em que quando/cuando é seguido de sintagma nominal (do tipo de estreia, guerra) e sintagma adjetivo/nominal (do tipo de jovem, menino). Fizemos essa distinção entre dois tipos de sintagmas porque no primeiro caso, o sintagma nominal ocupa uma posição argumental, enquanto no segundo caso é um predicado. Diante disso, incluímos os sintagmas adjetivos/nominais nesse tipo de estrutura na classe dos sintagmas adjetivos. Os dados mostraram uma oposição entre o português e o espanhol e um debate importante quanto ao tratamento de quando/cuando como categoria adverbial ou preposicional, casos em que definem uma estrutura argumental.

Na comparação entre o espanhol e o português, as sentenças-quando/cuando seguidas de sintagmas adjetivos apresentam algumas propriedades exclusivas: (i) são usadas no tempo passado; (ii) introduzem uma variável que é ligada por um argumento na oração a que se vincula (como predicado secundário); (iii) introduzem um SN (predicativo) que não pode ser modificado ou especificado; (iv) estão em uma estrutura de predicação; (v) o sintagma adjetivo introduzido por quando/cuando é depictivo, além de denotar uma interpretação do tipo stage-level/predicado de estágio. As sentenças-quando/cuando seguidas de sintagmas nominais denotam uma situação episódica/ pontual, apresentando uma circunstância temporal para o predicado.

Os estudos prévios do espanhol analisam o item cuando nessas estruturas como uma preposição ou como um advérbio em uso preposicional, devido à possibilidade de substituí-lo por de. Concluímos que essa análise não pode ser estendida ao português (nem ao espanhol). Propusemos que há uma divisão em relação ao tipo categorial dos itens quando/cuando. Para os casos de quando/cuando introdutor de sintagmas adjetivos e nominais (depictivos), o termo é um advérbio relativizador, exatamente como nas estruturas em que quando/cuando introduz oração. Para os casos em que quando/cuando introduz o sintagma nominal (não depictivo), cuando ocorre como preposição introdutora de argumento SN, mas não quando. No português, diferentemente, o termo mantém o estatuto de advérbio, sendo o SN licenciado pela preposição (dummy) de (quando da estreia/*quando a estreia). A preposição de marca Caso, função que no espanhol é exercida pelo próprio cuando. Essa análise corrobora o tratamento de quando introdutor de oração (finita) como advérbio relativo, que se move como núcleo, dando origem a uma oração relativa livre (cf. Silva 2016SILVA, Cristiany Fernandes. 2016. Orações introduzidas por quando/cuando: uma comparação entre o português e o espanhol. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília: Brasília.). A questão não se encerra aqui, havendo outros aspectos dos fenômenos aqui discutidos para serem ponderados.

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  • WINKLER, Susanne. 1997. Focus and secondary predication. Berlin/New York, Mouton de Gruyter.
  • 1
    . Este artigo é um recorte do trabalho de Silva (2016SILVA, Cristiany Fernandes. 2016. Orações introduzidas por quando/cuando: uma comparação entre o português e o espanhol. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília: Brasília.).
  • 2
    . De acordo com Alcina e Blecua (1998ALCINA, Franch Juan; BLECUA José Manuel. 1998. Gramática española. Primera edición: Barcelona, Ariel, 1975. Décima edición: Barcelona, Ariel. ), esse uso de cuando é comum no espanhol falado na América e em algumas regiões da Galiza, Leão e Basconia. Já Brucart (1999BRUCART, José María. 1999. La Estructura del Sintagma Nominal: Las Oraciones de Relativo. In: Ignacio Bosque e Violeta Demonte (dir.). Gramatica Descriptiva de la Lengua Española, Espasa, p. 395-522.), relaciona o fenômeno ao espanhol de algumas partes da Espanha e da América. Tanto o Corpus diacrónico del español (CORDE) quanto o Corpus de referencia del español actual (CREA) mostram a ocorrência desse tipo de dado. Os fenômenos analisados manifestam-se de forma idêntica nas diferentes variedades do português. Por essa razão, vamos usar os rótulos ‘português’ e ‘espanhol’, sem especificar dialetos, exatamente como é feito em Silva (2016SILVA, Cristiany Fernandes. 2016. Orações introduzidas por quando/cuando: uma comparação entre o português e o espanhol. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília: Brasília.).
  • 3
    . A pedido de um parecerista anônimo, traduziremos somente os exemplos do espanhol cujo significado não possa ser inferido da semelhança com o português.
  • 4
    . Disponível em: http://migre.me/rZTqT. Acesso em 2/11/2015 (Notícia publicada no site Uai na coluna Política).
  • 5
    . Dado de fala coletado pelas autoras.
  • 6
    . Disponível em: http://bit.ly/1VnAQX0. Acesso em 26/1/2016 (Citação de Antonio Abujamra publicada no site Fullbright).
  • 7
    . Disponível em: http://migre.me/sbir0. Acesso em 21/11/2015 (Título de texto publicado no site BuzzFeed).
  • 8
    . Disponível em: http://migre.me/s8YAK. Acesso em 17/11/2015 (Reportagem publicada no site Diario Vérsión Final).
  • 9
    . Disponível em: http://migre.me/u5LwS. Acesso em 26/1/2016 (Texto publicado no site Índices Regionales).
  • 10
    . No inglês, utiliza-se a conjunção/preposição as (As a boy, I played outside) ou a estrutura com o verbo realizado (When I was a boy, I played outside) para realizar sentença semelhante às do português e do espanhol.
  • 11
    . Os verbos possíveis são: ocorreu, aconteceu, sucedeu. Veremos que construções semelhantes às de (5) não são possíveis em português. A tradução para o português seria como a seguir: (i) Uma tarde contou-nos quando da primeira república. (ii) Fez dinheiro com a máquina no pós-guerra, quando dos anos de fome.
  • 12
    . Tradução livre de: La cohesión entre ‘cuando’ y el término que introduce es tan estrecha que se ha podido considerar como intercambiable muchas veces por ‘de’.
  • 13
    . A tradução de sentenças com donde para o português parece menos óbvia. Nesses casos, o significado de lugar é observado na estrutura com o verbo: (i) Vou onde mora/está seu amigo. No entanto, em alguns dialetos do PB, essa estrutura é possível: (ii) Vou onde meu amigo/meus pais. A sentença com como também pode ocorrer no português. Analisando sua denotação, concluímos que ela ocorre nos seguintes termos: enquanto (9c) traz uma denotação comparativa, sem manifestar uma estrutura oracional implícita (trabalha como camareiro (*trabalha)), (9d) não parece introduzir denotação comparativa, ocorrendo como introdutor do núcleo adjetival predicativo, o que explica provavelmente a possibilidade de alternar a preposição (Me tomam por louco/?como louco).
  • 14
    . Nesse aspecto, a proposta de Gallego (2011GALLEGO, Ángel. 2011. ‘Cuando’, preposición o adverbio relativo? In: VIDAL, M. V. E., et al. (eds.). 60 problemas de gramática. Akal, Madrid. ) adota a análise de Donati (2006DONATI, Caterina. 2006. On wh movement. In: CHENG, L.; CORVER, N. (eds.). Wh-movement - Moving on. MA., MIT Press.), embora não discuta amplamente seus desdobramentos. A nomenclatura das representações arbóreas é a do autor: SComp (Sintagma complementizador); Comp (Complementizador); ST (Sintagma de Tempo); h (huella/vestígio).
  • 15
    .Dado de fala coletado pelas autoras.
  • 16
    .Dado de fala coletado pelas autoras.
  • 17
    .Disponível em: http://migre.me/o3Ahz. Acesso em 10/01/2015 (Notícia publicada no site da Veja).
  • 18
    .Disponível em: http://migre.me/lLX0p. Acesso em 17/09/2014 (Texto publicado no site UOL).
  • 19
    .Disponível em: http://migre.me/lLWny. Acesso em 17/09/2014 (Reportagem do site Extra).
  • 20
    . Disponível em: http://bit.ly/1UkZ3gg. Acesso em 24/1/2016 (Texto publicado em Blog).
  • 21
    . Disponível em: http://migre.me/s5q7p. Acesso em 11/11/15 (Notícia publicada no site Zero Hora).
  • 22
    . Disponível em: http://bit.ly/1r0htu1. Acesso em 20/04/16 (Texto publicado no site Rede Brasil Atual).
  • 23
    . Dado de fala coletado pelas autoras.
  • 24
    . Dado de fala coletado pelas autoras.
  • 25
    . Disponível em: http://migre.me/lLWvc. Acesso em 17/09/2014 (Comentário publicado no site Adriane Boneck).
  • 26
    . Disponível em: http://migre.me/lLWMH. Acesso em 11/09/14 (Texto publicado no site Pequenas empresas e grandes negócios).
  • 27
    . Dado de fala coletado pelas autoras.
  • 28
    . Dado de fala coletado pelas autoras.
  • 29
    .Disponível em: http://migre.me/mYkig. Acesso em 19/11/2014 (Texto informativo publicado no site Tribuna do Norte).
  • 30
    .Disponível em: http://migre.me/mYkAs. Acesso em 19/11/2014 (Texto informativo publicado no site Servidor).
  • 31
    .Disponível em: http://migre.me/mYnyR. Acesso em 19/11/2014 (Texto publicado no site JusBrasil).
  • 32
    .Disponível em: http://migre.me/tsdUp. Acesso em 7/04/2016 (Texto publicado no site Uol Economia).
  • 33
    . Disponível em: http://migre.me/s8iIm. Acesso em 16/11/15 (Citação de fala publicada no site Radio 36).
  • 34
    . Disponível em: http://migre.me/vkePF. Acesso em 16/11/15 (Relato).
  • 35
    . O presente histórico se refere a um dos usos/aplicações do tempo presente cujo ponto de referência sinaliza um acontecimento no passado. Também pode ser chamado de presente narrativo e apresentar um marcador temporal de passado: (i) En el siglo pasado las mujeres no tienen apenas derechos civiles. (Gutiérrez Araus 2014GUTIÉRREZ ARAUS, María Luz. 2014. Problemas fundamentals de la gramática del español como segunda lengua. Madrid: Arco Libros.)
  • 36
    . Aqui nos referimos tanto ao tempo/aspecto: pretérito perfeito e imperfeito.
  • 37
    . Extraído de DUHIGG, C. 2012. O poder do hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios. Rio de Janeiro: objetiva, p. 284.
  • 38
    . Extraído de BUFFET, P. 2011. A vida é o que você faz dela. Rio de Janeiro: Bestseller, p. 39.
  • 39
    . Extraído de BUFFET, P. 2011. A vida é o que você faz dela. Rio de Janeiro: Bestseller, p. 230.
  • 40
    . Extraído de BUFFET, P. 2011. A vida é o que você faz dela. Rio de Janeiro: Bestseller, p. 221.
  • 41
    Disponível em: http://migre.me/s5VGv. Acesso em 12/11/15 (Texto publicado no site Municipalidad de Alejandro Roca).
  • 42
    . Disponível em: http://migre.me/s5VON. Acesso em 12/11/15 (ALCOCER, R. El Guardavidas. In: Cuentos a la luz de mi lámpara, 2012).
  • 43
    . Extraído de THIEL, P.; MASTERS, B. 2014. De zero a um. Trad. Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Objetiva.
  • 44
    . Dado de fala coletado pelas autoras.
  • 45
    . Na verdade, cuando interrogativo pode ser seguido de verbo no infinitivo em sentenças em que se faça uma recomendação ou uma orientação, por exemplo: Cuándo preguntar es peligroso/ Cuándo terminar una relación/ Cuándo comprar acciones/ Cuándo no comprar un inmueble. Também quando, no português, apresenta esse contexto de aplicação: Quando mudar de emprego vale a pena. Marchesan (2012MARCHESAN, Ani Carla. 2012. As relativas livres em português brasileiro. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Santa Catarina: Florianópolis.) também considera, para o português, dados como João pôs na agenda (um dia) quando visitar os pais (cf. discussão em Silva 2016SILVA, Cristiany Fernandes. 2016. Orações introduzidas por quando/cuando: uma comparação entre o português e o espanhol. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília: Brasília.).
  • 46
    . Traduzimos as expressões do inglês stage level predicate e individual level predicate, citadas em Carlson (1977aCARLSON, Greg. 1977a. An Unified Analyses of the English Bare Plural. Linguistics and Philosophy 1:413-456./b______. Reference to Kinds in English. 1977b. Ph.D. dissertation, University of Massachusetts, Amherst. Published 1980 by Garland Press, New York.), como predicado de estágio e predicado de indivíduo, respectivamente. O uso da expressão estágio remete a uma fase em um dado intervalo de tempo.
  • 47
    . Chamamos a atenção aqui para o fato de que a literatura ainda não havia descrito essa possibilidade para esse tipo de sentença e para o tipo de estrutura que pode estar embutida nesses sintagmas, conforme a análise que se adote: quando (era) adolescente e (quando (era)) adulto. Mas, de fato, conforme o parecerista anônimo aponta, sintagmas de mesma categoria lexical podem vir coordenados.
  • 48
    . Extraído de LYRA, Eduardo. Jovens Falcões. 2012. São Paulo: Novo Século, p. 125 (Citação de fala).
  • 49
    . Disponível em: http://migre.me/s5tiD. Acesso em 11/11/15 (Texto publicado no site Epic).
  • 50
    . Cf. Stowell 1981STOWELL, Tim. 1981. Origins of phrase structure. Tese. MIT. , 1983______. 1983.Subject across categories. The Linguistic Review, v. 2, p. 285-312.; Rothstein 1995ROTHSTEIN, Susan. Small clauses and copular constructions. 1995. In: CARDINALETTI, A.; GUASTI, M. T. (ed.). Syntax and Semantics. London & New York: Academic Press, p. 27-48. , 2001______. Predicates and their subjects. 2001. Dordrecht: Kluwer.; Foltran 1999FOLTRAN, Maria José. 1999. As construções de predicação secundária no português do Brasil: aspectos sintáticos e semânticos. Tese (Doutorado em Linguística) - Universidade de São Paulo, São Paulo. .
  • 51
    . Dados com gerúndio no português, em comparação com o espanhol, parecem agramaticais: Espanhol (i) Una de cada tres mujeres fue obligada a casarse siendo niña. ‘Uma em cada três mulheres foi obrigada a se casar [*?sendo criança/quando criança/?de criança/ainda criança].’ Disponível em: http://migre.me/sfMfl. Acesso em 29/11/2015. Português (ii) Mi padre me construyó un columpio siendo niña, básicamente me enseñó a volar. ‘Minha mãe construiu um balanço para mim [*sendo criança/quando eu era criança/?quando criança], basicamente me ensinou a voar.’ Disponível em: http://migre.me/sfMhO. Acesso em 29/11/2015.
  • 52
    . Em espanhol, há expressões semelhantes como por entre, de entre, para conmigo.
  • 53
    . Alguns falantes julgam que o dado é aceitável se o interpretam como Da época da estreia da peça/ Por ocasião da estreia da peça, os patrocinadores fizeram uma festa. Caso se tratasse de um dado como Da estreia da peça, nada se sabe, a contração de + a tem sentido de sobre.
  • 54
    . Sentenças gramaticais são: Antes del estreno/ En el estreno de la serie/ Cuando se estrenó la serie, hubo muchas críticas.
  • 55
    . Disponível em: http://migre.me/s7gBo. Acesso em 14/11/15 (Citação publicada no texto Publimetro).
  • 56
    . Agradecemos ao parecerista anônimo por nos alertar quanto à possibilidade de que nessas estruturas pode haver um pronome nulo (PRO). Discutimos essa hipótese na nota 58.
  • 57
    . Outra hipótese seria considerar a existência de uma preposição silenciosa em espanhol (cf.: Mesquita 2008MESQUITA, Aline Camila Romão. 2008. A categoria preposicional na interlíngua do surdo aprendiz de português (L2). Dissertação de mestrado. Universidade de Brasília, UnB, Brasília. para Libras). No entanto, consideramos que as evidências que trazemos apontam para a análise aqui considerada.
  • 58
    . Existem várias propostas de derivação para predicados secundários/small clauses (Stowell 1981STOWELL, Tim. 1981. Origins of phrase structure. Tese. MIT. , 1983______. 1983.Subject across categories. The Linguistic Review, v. 2, p. 285-312.; Williams, 1983WILLIAMS, Edwin. 1983. Against small clauses. Linguistic Inquiry, 14 (2), 287-308.; Kitagawa 1985KITAGAWA, Yoshihisa. 1985. Small but clausal. Papers from the Regional Meeting of the Chicago Linguistic Society, 21, 210-220.; Winkler 1997WINKLER, Susanne. 1997. Focus and secondary predication. Berlin/New York, Mouton de Gruyter.; Rothstein 1995ROTHSTEIN, Susan. Small clauses and copular constructions. 1995. In: CARDINALETTI, A.; GUASTI, M. T. (ed.). Syntax and Semantics. London & New York: Academic Press, p. 27-48. , 2001______. Predicates and their subjects. 2001. Dordrecht: Kluwer.). Não estamos nos comprometendo com nenhuma delas neste momento. Interessa-nos entender, primordialmente, que o termo que segue quando/cuando diz respeito a um predicado secundário que projeta um sintagma adjetivo (do tipo de menino/jovem/niño/joven). Mas algumas questões importantes acerca dos depictivos estão certamente relacionadas a como tais sintagmas são gerados. É relevante entender, por exemplo, de que modo o argumento do sintagma depictivo está presente na estrutura (como uma variável ligada a um argumento do predicado matriz, ou como uma categoria pronominal nula na projeção do predicado secundário, e correferencial com um argumento no predicado matriz). Importante salientar também que não existe um consenso na literatura quanto a se o predicado secundário e o elemento que ele modifica constituem small clause. Alguns autores utilizam os termos como sinônimos (den Dikken 2006den DIKKEN, Marcel. 2006. Relators and linkers: The syntax of predication, predicate inversion, and copulas. Cambridge, MA.: The MIT Press. ).
  • 59
    . Anteriormente, designamos o sintagma adverbial a partir da sigla do inglês (AdvP), seguindo os autores discutidos. Nesta seção, adotamos a denominação e as siglas dos rótulos em português e em espanhol (SAdv) uma vez que os autores aqui discutidos o fazem.
  • 60
    . Os detalhes da análise de orações de quando/cuando como relativas livres são discutidos em Silva (2016SILVA, Cristiany Fernandes. 2016. Orações introduzidas por quando/cuando: uma comparação entre o português e o espanhol. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília: Brasília.), que estende a essas orações a análise de Donati (2006DONATI, Caterina. 2006. On wh movement. In: CHENG, L.; CORVER, N. (eds.). Wh-movement - Moving on. MA., MIT Press.) para relativas livres, propondo movimento da categoria QU-/WH- como núcleo para a periferia da oração, o qual projeta o sintagma correspondente (SAdv).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2018

Histórico

  • Recebido
    03 Nov 2016
  • Aceito
    26 Mar 2018
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