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A geração Z e a evolução das revistas científicas

EDITORIAL

A geração Z e a evolução das revistas científicas

Generation Z and the evolution of scientific journals

Jorge Faber

Editor-chefe. faber@dentalpress.com.br

Durante sua vida, Charles Darwin enviou pelo menos 7591 cartas e recebeu 6530.Albert Einstein, por sua vez, enviou mais de 14500 e recebeu mais de 162001.Isso significa que escreveram, respectivamente, 0,59 e 1,02 cartas por dia durante os últimos 30 anos de vida. Essa impressionante disciplina nos faz imaginar que número de mensagens trocadas por eles teria sido especialmente astronômico se tivessem vivido na era dos emails e redes sociais. Pois, em 2010, estima-se que, incluindo somente emails — e excluindo os spams —, foram aproximadamente 4,5 mensagens ao dia por habitante do planeta2.

O aumento na interação entre nós tem forçado uma redução no tamanho das mensagens enviadas. Tanto é assim que a regra número 1 de etiqueta em emails é escrever pouco, ser conciso3. O crescente encolhimento das mensagens foi um dos fatores que preparou o ambiente para o sucesso das redes sociais: elas não existiriam na prolixidade. Nesses ambientes virtuais, as informações são transferidas de forma rápida e, muitas vezes, utilizando recursos além da palavra escrita. Ideias — tanto boas quanto ruins — são propagadas em palavras, imagens, vídeos e sons, que são utilizados de forma isolada ou não.

A internet e as redes sociais criaram vários fenômenos simultâneos. Entre eles está a existência de uma geração, chamada Geração Z, que consome informação de forma compartimentada, como se cada compartimento fosse uma peça de quebra-cabeça. Ninguém mais quer montar todo o quebra-cabeça. As pessoas querem separar apenas as peças que as interessam para lhes dar o conhecimento desejado. Assim, a coesão entre as peças não é dada por elementos textuais, mas pela curiosidade individual, pelo interesse específico de cada pessoa.

É por isso que longos textos informativos têm se tornado desinteressantes. Eles simplesmente requerem tempo demais para se extrair o conteúdo importante. É uma questão de relação custo/benefício: por que gastar muito tempo para aprender aquilo que poderia ser aprendido em minutos?

Essas pressões de seleção levaram à evolução de várias tecnologias, tanto de hardware quanto de software. Apenas para citar um exemplo, os celulares mais atuais — que foram expandidos nos tablets — foram desenvolvidos para atender à necessidade desse fluxo de informações. Eles não são meros telefones, permitem acesso às redes sociais, guias de restaurantes, GPS, emails, jogos, etc. São mini-centrais de entretenimento e comunicação.

A Geração Z nunca concebeu o planeta sem computadores, chats, telefones celulares. Sua maneira de pensar foi influenciada, desde o berço, pelo mundo complexo e veloz que a tecnologia criou, e seu conceito de mundo é desapegado das fronteiras geográficas. Eles já atingiram a idade de tomar decisões de consumo. Consomem videogames, mas, também, carros, imóveis, eBooks e, naturalmente, literatura científica.

Todas essas pressões estão agindo para a seleção das revistas científicas, e pressionarão muito mais ainda. Aquelas que não abrirem os olhos para essa obviedade serão extintas.

Nós, do Dental Press Journal of Orthodontics, estamos na vanguarda do processo ensino-aprendizado. Tornamos-nos a primeira revista científica da Ortodontia mundial disponível para iPad. Temos um dos melhores projetos gráficos da atualidade e grande versatilidade no formato dos artigos publicados. Entretanto, avançaremos muito mais.

Os trabalhos passarão a ser aceitos apenas com um limite de 3500 palavras, incluindo título, abstract e referências. Os autores serão estimulados a lançar mão de mais recursos multimídia e utilizaremos a propulsão do Portal Dental Press para disponibilizar esses recursos. Informações não essenciais para a compreensão do artigo serão apendiculadas na web, tornando o conteúdo dos artigos mais direto e fácil de ser compreendido. Fortaleceremos o valor clínico da informação incluindo nos artigos um quadro intitulado Relevância Clínica. Nele, os autores salientarão o ponto mais importante de seu trabalho e que pode se reverter em uma prática clínica ainda melhor, como se fosse uma "dica clínica baseada em evidências". Por fim, os autores serão estimulados a formular questões para serem incluídas na versão online dos trabalhos. Os objetivos são dar a chance para os leitores testarem seu conhecimento, e estimular professores de graduação e pós-graduação a incluírem essas questões para seus alunos.

Einstein uma vez disse que "é importante nunca parar de se questionar". Somente assim podemos realmente evoluir e concretizar algo que faça a diferença.

Boa leitura.

REFERÊNCIAS

1. Oliveira JG, Barabási A. Human dynamics: Darwin and Einstein correspondence patterns. Nature. 2005;437(7063):1251.

2. Sverdlik Y. How many emails were sent in 2010? 2011. [Cited 2011 July 14]. Available From: http://www.datacenterdynamics.com/focus/ archive/2011/02/how-many-emails-were-sent-in-2010

3. Email etiquette. [Cited 2011 July 14]. Available from: http://www.emailreplies.com/

  • 1. Oliveira JG, Barabási A. Human dynamics: Darwin and Einstein correspondence patterns. Nature. 2005;437(7063):1251.
  • 2. Sverdlik Y. How many emails were sent in 2010? 2011. [Cited 2011 July 14]. Available From: http://www.datacenterdynamics.com/focus/ archive/2011/02/how-many-emails-were-sent-in-2010
  • 3. Email etiquette. [Cited 2011 July 14]. Available from: http://www.emailreplies.com/

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Nov 2011
  • Data do Fascículo
    Ago 2011
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