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Estudo qualitativo fotoelástico do sistema de forças gerado pela mola "T" de retração com diferentes pré-ativações

Resumos

OBJETIVO: avaliar o sistema de forças gerado pela mola T utilizada para fechamento de espaços. MÉTODOS: por meio do método experimental fotoelástico, avaliou-se a mola T utilizada no fechamento de espaços com duas variações de pré-ativação em sua porção apical, sendo uma com 30º e a outra com 45º. As molas foram confeccionadas com fio retangular de titânio-molibdênio (TMA) de secção 0,017" x 0,025", centralizadas no espaço interbraquetes de 27mm e ativadas em 5,0mm, 2,5mm e posição neutra. Para melhor confiabilidade dos resultados, os testes foram repetidos em três modelos fotoelásticos igualmente reproduzidos e confeccionados pelo mesmo operador. Para compreensão dos resultados, as franjas fotoelásticas visualizadas no polariscópio foram fotografadas e analisadas qualitativamente. RESULTADOS: por meio da análise qualitativa da ordem de franjas no modelo fotoelástico, notou-se que, nas extremidades de retração e ancoragem, a mola T com 30º de ativação apical apresentou um acúmulo de energia discretamente maior para o sistema de forças liberado.

Fechamento de espaço ortodôntico; Mola T; Estudo fotoelástico; Retração


OBJECTIVE: Evaluate the force system produced by the T-spring used for space closure. METHODS: By means of the experimental photoelastic method, we evaluated the T-spring-used for space closure-with two different preactivations on its apical portion, i.e., one with 30° and one with 45º. The springs were fabricated with rectangular 0.017 X 0.025-in titanium-molybdenum alloy (TMA), centered in a 27.0 mm interbracket space and activated at 5.0 mm and 2.5 mm, and in a neutral position. For more reliable results, tests were repeated on three photoelastic models duplicated and prepared by the same operator. To better understand the results, the fringes seen in the polariscope were photographed and analyzed qualitatively. RESULTS: Through qualitative analysis of the fringe order in the photoelastic model it was noted that at the retraction and anchoring ends the T-spring with 30° apical activation showed a slightly greater accumulation of energy relative to the force system that was generated.

Closing of orthodontic space; T loop; Photoelastic study; Retraction


ARTIGO INÉDITO

Estudo qualitativo fotoelástico do sistema de forças gerado pela mola "T" de retração com diferentes pré-ativações

Luiz Guilherme Martins MaiaI; Vanderlei Luiz GomesII; Ary dos Santos-PintoIII; Itamar Lopes JúniorIV; Luiz Gonzaga Gandini Jr.V

IProfessor da Disciplina de Ortodontia do curso de Odontologia da Universidade Tiradentes/SE. Coordenador do curso de Especialização em Ortodontia da Universidade Tiradentes/SE. Especialista em Ortodontia - EAP/APCD - UNESP - Araraquara. Mestre em Ciências Odontológicas - Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP. Doutorando em Ciências Odontológicas - Ortodontia na Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP

IIProfessor Titular de Prótese Removível e Materiais Odontológicos da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia. Mestre e Doutor em Odontologia pela USP - Ribeirão Preto /SP

IIIProfessor Livre Docente/Adjunto da Disciplina de Ortodontia do Departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP

IVAluno do curso de Mestrado em Reabilitação Oral - Universidade Federal de Uberlândia

VProfessor Livre Docente/Adjunto da Disciplina de Ortodontia do Departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP. Professor Assistente Adjunto Clínico do Departamento de Ortodontia da "Baylor College of Dentistry - Dallas/TX"

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Luiz Guilherme Martins Maia Rua Terêncio Sampaio, 309 CEP: 49.025-700 - Aracaju / SE E-mail: orthomaia2003@yahoo.com.br

RESUMO

OBJETIVO: avaliar o sistema de forças gerado pela mola T utilizada para fechamento de espaços.

MÉTODOS: por meio do método experimental fotoelástico, avaliou-se a mola T utilizada no fechamento de espaços com duas variações de pré-ativação em sua porção apical, sendo uma com 30º e a outra com 45º. As molas foram confeccionadas com fio retangular de titânio-molibdênio (TMA) de secção 0,017" x 0,025", centralizadas no espaço interbraquetes de 27mm e ativadas em 5,0mm, 2,5mm e posição neutra. Para melhor confiabilidade dos resultados, os testes foram repetidos em três modelos fotoelásticos igualmente reproduzidos e confeccionados pelo mesmo operador. Para compreensão dos resultados, as franjas fotoelásticas visualizadas no polariscópio foram fotografadas e analisadas qualitativamente.

RESULTADOS: por meio da análise qualitativa da ordem de franjas no modelo fotoelástico, notou-se que, nas extremidades de retração e ancoragem, a mola T com 30º de ativação apical apresentou um acúmulo de energia discretamente maior para o sistema de forças liberado.

Palavras-chave: Fechamento de espaço ortodôntico. Mola T. Estudo fotoelástico. Retração.

INTRODUÇÃO

A filosofia extracionista defendida por Tweed na década de 40 levantou uma nova perspectiva para o tratamento ortodôntico, gerando o interesse dos ortodontistas pela mecânica de retração. A partir daí, surgiram vários dispositivos mecânicos para esse propósito e o conhecimento sobre o sistema de forças gerado por cada um deles tornou-se um foco constante de pesquisas16,17.

No movimento de retração, é imperativo ao ortodontista conhecer os princípios mecânicos envolvidos nesse sistema, para que o movimento dentário ocorra com o máximo de eficiência e o mínimo de esforço aos tecidos periodontais adjacentes1,12. O ideal é que o fechamento de espaço ocorra por movimento de retração resultante dos dispositivos ortodônticos do tipo "alça". Nesse caso, a força se torna previsível por exercer íntima relação com a dimensão do fio, desenho da alça, tipo de liga, posicionamento da mola, quantidade de ativação, constância das forças, magnitude de força e magnitude do momento2,3,10,11,13,14,18-21,23,24.

Já nos dispositivos de retração do tipo "deslizamento", o sistema de forças gerado se torna menos previsível, uma vez que a magnitude de força é de difícil mensuração, pois parte dela é dissipada pelo atrito durante o movimento1,12.

Burstone2, em 1982, citou três propriedades que um dispositivo deve exercer durante o movimento de retração: a proporção momento/força, conseguida pela incorporação de dobra do tipo "Gable" e dobras de pré-ativação; a magnitude de força durante as ativações; e a proporção carga/deflexão, representada pela quantidade de energia perdida durante as desativações.

Outra propriedade importante ao plano de tratamento é o tipo de ancoragem que se deseja para a obtenção de uma boa relação dentária2,14. Nesse contexto, a eficiência da mola T idealizada por Burstone e Koenig3 agrega várias características ideais para a otimização do fechamento de espaços. As propriedades biomecânicas desse dispositivo já foram alvo de muitos estudos na comunidade ortodôntica e seu sistema de forças é conhecido2,3,10,11,19-22,24 somente com pesquisas utilizando ensaios mecânicos3,10,11,17-24 ou elementos finitos13. Daí o interesse em avaliar esse sistema por meio do método experimental fotoelástico5-9,15,25.

A utilização desse dispositivo na clínica de Pós-graduação em Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Araraquara é frequente e se faz presente por meio de constantes pesquisas. O propósito deste trabalho foi avaliar, por meio da fotoelasticidade5-9,15,25, o sistema de forças da mola T centralizada no espaço interbraquetes, utilizando dois tipos de pré-ativações14,20,21 .

MATERIAL E MÉTODOS

Inicialmente, foram realizados testes experimentais em 5 modelos-piloto, com a finalidade de permitir a correta investigação da metodologia, selecionar materiais a serem utilizados, definir o número de repetições necessárias, aprimorar a técnica de confecção dos modelos, técnica de leitura e a calibração do pesquisador para obtenção de resultados precisos15.

Dois modelos fotoelásticos foram obtidos a partir de um modelo-mestre, construído de fórmica, com as seguintes dimensões: 60mm de comprimento, 40mm de altura e 20mm de espessura (Fig. 1).


Após a obtenção da caixa matriz, utilizou-se dois dentes de acrílico da marca MOM® (Manequins Odontológicos de Marília, Marília/SP) para serem posicionados e colados nessa caixa matriz. Com o intuito de padronizar o posicionamento desses dentes, foi feito um negativo a partir do modelo-piloto, utilizando borracha de silicona ASB-10 Azul e catalisador para borracha ambos da marca POLIPOX (São Paulo) (Fig. 2), misturados e manipulados seguindo as recomendações do fabricante.


Em seguida, foi confeccionada uma caixa de cera utilidade com as seguintes dimensões: 120mm de largura, 140mm de comprimento e 90mm de altura, para que pudesse ser posicionado o modelo matriz e, posteriormente, despejada a silicona de adição de acordo com a recomendação do fabricante, obtendo-se, assim, o negativo (Fig. 3).


Nessa fase, outros dentes foram posicionados em seus respectivos locais, tomando-se cuidado para que não houvesse contaminação por umidade ou oleosidade na superfície de suas raízes e na silicona. Nesse momento, manipulou-se, em um recipiente de vidro escalonado em mililitros, a resina fotoelástica (marca POLIPOX, CMR-201 Flexível, componente A, código: 584-4, lote: 17680) e o componente endurecedor (CME-252 Flexível, código: 1322-6, lote: 17873) (Fig. 4).


Os dois componentes foram manipulados cuidadosamente durante um período de 10 minutos e, em seguida, verteu-se a mistura no molde obtido anteriormente. Esse molde contendo a resina fotoelástica foi levado à estufa, a uma temperatura constante de 25ºC durante 24 horas, para completa reação de polimerização da resina (Fig. 5).


Nessas fases, a resina foi manipulada cuidadosamente para se evitar a incorporação de bolhas de ar.

Decorrido esse tempo, removeu-se o modelo do molde e, nessa fase, foi necessário checar as condições ópticas do modelo fotoelástico no polariscópio. Caso o modelo não apresentasse as propriedades ópticas satisfatórias15, o que prejudicaria a análise, era descartado e novamente repetidos os passos até se obter o modelo ideal (Fig. 6).


Com os dois modelos fotoelásticos definidos, fixou-se um tubo cruzado da marca Morelli® (Sorocaba/SP) em cada dente (Fig. 7) e, para isso, foi feita uma canaleta vertical utilizando-se uma broca cilíndrica em baixa rotação, onde os tubos eram encaixados e colados com resina acrílica.


Para cada modelo, utilizou-se uma mola T, confeccionada com fio de titânio-molibdênio (TMA) de marca Ormco® (Glendora, CA, EUA) com secção transversal de 0,017" x 0,025". No intuito de manter o padrão das molas T, utilizou-se um gabarito com as seguintes dimensões: 10mm de comprimento e 7mm de altura.

Foram utilizadas duas pré-ativações da base apical, sendo que, para um modelo, foi inserida uma mola T com pré-ativação na base apical de 45 graus14,21 e, para outro modelo, foi inserida uma mola T com pré-ativação na base apical de 30 graus20 (Fig. 8).


Após a checagem em posição neutra das molas T, essas foram inseridas nas canaletas horizontais dos tubos cruzados, centralizadas em uma distância interbraquetes de 27mm10 e avaliadas em três ativações: 5,0mm, 2,5mm e em posição neutra. Para observar a fidelidade dos resultados, esses testes foram repetidos por mais duas vezes e mostraram-se coincidentes.

Os testes foram realizados no laboratório de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Uberlândia/MG (Departamento de Física), avaliados através de um polariscópio de refração e fotografados com equipamento digital Canon Rebel EOS 300D (6,3 megapixels, lente Canon macro 100mm Ultrasonic e flash circular Canon Macro Ring Lite MR-14EX) (Fig. 9).


RESULTADOS

Os resultados foram obtidos pela leitura das franjas fotoelásticas nos modelos, com a utilização de molas T de Burstone2 com dois diferentes tipos de pré-ativação14,20,21 . A mola foi analisada em três ativações diferentes, sendo a primeira em posição neutra, a segunda com ativação de 2,5mm e a última com ativação de 5,0mm.

As interpretações foram avaliadas de maneira descritiva, sendo as leituras realizadas em gráficos divididos para as três porções de cada dente, sendo uma mesial, uma apical e outra distal, avaliadas uma a uma separadamente e depois comparadas com o dente adjacente (Fig. 10).


A leitura da ordem das franjas foi realizada através da interface do violeta e azul, formada nas superfícies distal, mesial e apical de cada dente, tomando-se a distância como referência para realizar-se os gráficos de análise. Em uma escala crescente, formam-se as seguintes cores: preto, amarelo, vermelho, azul, amarelo, vermelho, verde, amarelo, vermelho e verde (Fig. 11).


A figura 12 mostra a ordem de franja de 0,0 no modelo fotoelástico, em decorrência da ausência da mola T. Nesse caso, o modelo fotoelástico está livre de qualquer interferência de forças.


O gráfico 1 representa um modelo fotoelástico livre de tensão, onde a ordem de franja é de 0,0 em toda a superfície radicular de ambos os dentes.


Ordem de franja e interpretação da mola T com pré-ativação preconizada por Souza et al.20

Em posição neutra, a mola T com pré-ativação preconizada por Souza et al.20 demonstrou ordem de franja inferior a 0,5 em toda a superfície radicular. Isso quer dizer que, nessa análise qualitativa, o estresse, apesar de ser distribuído igualmente desde a região cervical até o ápice radicular, sugere pouca quantidade de energia ou uma magnitude de força muito baixa aplicada nesses dentes (Fig. 13).


A representação no gráfico 2 demonstra que a mola T com pré-ativação de Souza et al.20, na posição neutra, formou uma ordem de franja de 0,0 em toda a superfície mesial, com exceção da região cervico-mesial do dente 23. Nessa região, a ordem de franja foi de 0,0 a 0,5 e não representou relevância.


O gráfico 3 demonstra que a mola T com pré-ativação de Souza et al.20, na posição neutra, gerou uma ordem de franja de 0,0 em toda a extensão apical para ambos os dentes.


No gráfico 4, verifica-se que a mola T com pré-ativação de Souza et al.20, na posição neutra, exibiu ordem de franja de 0,0 em toda a extensão distal.


Ao analisar a figura 14, observa-se que, nos terços médio e cervical dos dentes 13 e 23, a ordem de franja apresenta-se entre 1,5 e 2,0. Já na região disto-apical dos dentes 13 e 23, a ordem de franja apresenta-se em 0,5, considerada com pouca energia gerada para essa região, o que sugere movimento de inclinação controlada. Uma discreta assimetria foi observada na região disto-apical do dente 13, porém sem relevância significativa para a análise qualitativa, sugestiva de ativação assimétrica ou posicionamento discretamente descentralizado ou, ainda, alguma interferência na confecção da mola.


No gráfico 5, verifica-se que a mola T com 2,5mm de ativação e pré-ativação preconizada por Souza et al.20 exibiu concentração de franjas de 1,5 e propagação dessa ordem de franja de maneira simétrica.


No gráfico 6, verifica-se que a mola T com 2,5mm de ativação e com pré-ativação preconizada por Souza et al.20 exibiu uma concentração de franjas próxima de 0,0, porém discretamente maior para o dente 13.


No gráfico 7, verifica-se que a mola T com 2,5mm de ativação e com pré-ativação preconizada por Souza et al.20 exibiu uma concentração de franjas de 0,5 no terço disto-cervical do dente 23 e ordem de franja de 0,5 no terço inferior distal do dente 13.


Na figura 15, observa-se ordem de franja discretamente maior que 2,5, demonstrando que a mola T com pré-ativação de 30° apresenta um acúmulo de energia maior em relação à mola T com pré-ativação de 45°, na mesma ativação.


No gráfico 8, pode-se verificar que a mola T com 5,0mm de ativação e com pré-ativação preconizada por Souza et al.20 exibiu uma concentração de franjas entre 0,5 na região do terço médio radicular e 2,5 na região do terço médio cervical.


No gráfico 9, verifica-se que a mola T com 5,0mm de ativação e com pré-ativação preconizada por Souza et al.20 exibiu uma concentração de franjas entre 0,0 e 0,5 para o dente 23, e discretamente maior a 0,5 na região apical para o dente 13.


No gráfico 10, verifica-se que a mola T com 5,0mm de ativação e com pré-ativação preconizada por Souza et al.20 exibiu uma concentração de franjas de 0,5 em toda a superfície distal radicular dos dentes 23 e 13.


Ordem de franja e interpretação da mola T com pré-ativação preconizada por Marcotte14

Em posição neutra, a mola T com as pré-ativações preconizadas por Marcotte14 demonstrou que a ordem de franja foi inferior a 0,5 em toda a superfície radicular. Isso quer dizer que, nessa análise qualitativa, o estresse, apesar de ser distribuído igualmente desde a região cervical até o ápice radicular, sugere pouca quantidade de energia ou magnitude de força baixa aplicada nos dentes (Fig. 16).


No gráfico 11, verifica-se que a mola T com pré-ativação de Marcotte14, na posição neutra, exibiu, em toda a extensão mesial, a ordem de franja de 0,0.


No gráfico 12, verifica-se que a mola T com pré-ativação de Marcotte14, na posição neutra, exibiu, em toda a extensão apical, a ordem de franja de 0,0.


No gráfico 13, na representação gráfica da mola T com pré-ativação de Marcotte14 na posição neutra, observa-se que, em toda a extensão distal, a ordem de franja foi de 0,0.


Na figura 17, observa-se ordem de franja discretamente menor que 1,5, demonstrando que a mola T com pré-ativação de 45° apresenta um acúmulo de energia discretamente menor em relação à mola T com pré-ativação de 30°, quando ativada a 2,5mm.


No gráfico 14, verifica-se que a mola T ativada 2,5mm e com pré-ativação preconizada por Marcotte14 exibiu concentração de franjas entre 0,0 no terço médio da superfície radicular e 1,5 no terço cervical.


O gráfico 15 demonstra que a mola T com 2,5mm de ativação e com pré-ativação preconizada por Marcotte14 gerou uma concentração de franjas próxima a 0,0 no terço apical.


No gráfico 16, verifica-se que a mola T com pré-ativação de Marcotte14, na ativação de 2,5mm, exibiu, em toda a extensão distal, a ordem de franja de 0,0.


Na figura 18, observou-se ordem de franja aquém de 1,5, o que demonstra que a mola T com pré-ativação de 45° apresenta acúmulo de energia discretamente menor em relação à mesma mola com pré-ativação de 30°, quando ativada a 2,5mm. Ao comparar as figuras 17 e 18, observou-se uma ordem de franja diferente entre as ativações de 2,5mm e de 5,0mm utilizando-se a pré-ativação preconizada por Marcotte14, sendo que houve maior energia para a ativação de 5,0mm.


No gráfico 17, verifica-se que a mola T com 5,0mm de ativação e com pré-ativação preconizada por Marcotte14 exibiu uma concentração de franjas entre 0,0 no terço médio e 1,5 no terço cervical. Ao comparar-se com o gráfico 8, observou-se que a ordem de franja foi mais intensa para a mola T com pré-ativação preconizada por Souza et al.20 ativada a 5,0mm, demonstrando que a energia gerada por aquela mola é mais alta.


No gráfico 18, verifica-se que a mola T com 5,0mm de ativação e com pré-ativação preconizada por Marcotte14 exibiu uma concentração de franjas entre 0,0 e 0,5 no terço apical, porém houve energia mais alta para o dente 13.


No gráfico 19, verifica-se que a mola T com 5,0mm de ativação e com pré-ativação preconizada por Marcotte14 exibiu uma concentração de franjas próxima de 0,5 na região disto-cervical do dente 23 e uma ordem de franja de 0,5 na superfície distal no terço inferior do dente 13.


Ao analisar cada figura, notou-se que, para ambas as pré-ativações, a concentração de energia desprendida é muito semelhante e acontece de forma simétrica em todos os testes. Observou-se presença de pequena assimetria e acredita-se que essa seja decorrente da discreta descentralização da mola no ato da instalação e/ou em sua ativação ou, ainda, uma assimetria ocorrida em sua confecção.

DISCUSSÃO

O fechamento de espaços na Ortodontia deve ser realizado conforme a necessidade apresentada em cada caso específico2,3,4,6,11,13,14,17-24. A escolha adequada dos diversos mecanismos requer profundo conhecimento da biomecânica apresentada pelos dispositivos de retração, assim como o sistema de forças liberado por eles. Para isso, as molas de fechamento de espaço deverão liberar uma baixa proporção carga/deflexão e uma alta proporção momento/força, possibilitando, desse modo, um bom controle do movimento dentário.

O objetivo deste trabalho foi avaliar, pelo método experimental fotoelástico, o sistema de forças da mola T centralizada com dois tipos de pré-ativação, de 30 graus20 e de 45 graus14,21.

O fenômeno fotoelástico foi introduzido em 1935 por um ortodontista25 que, em sua pesquisa utilizando dentes esculpidos à base de resina com propriedade fotoelástica, avaliou as áreas de pressão e tensão nas suas raízes quando forças eram aplicadas. A partir daí, a fotoelasticidade tomou seu lugar permanentemente nas pesquisas para avaliar as propriedades de materiais odontológicos que sofrem, de alguma forma, certo tipo de força intrabucal6,8,9,15. Ela se baseia no fato de um material transparente ser opticamente ativo sob situações de carga quando iluminado por luz monocromática. Dessa forma, linhas escuras e claras intercalam-se, formando o que se denomina de linhas isocromáticas e isoclínicas. Esse efeito óptico, denominado franja fotoelástica, traduz a tensão ou deformação sofrida pelo corpo, podendo ser mensurado tanto qualitativa como quantitativamente9.

Esse método avalia a situação inicial de tensão, limitando-se apenas à fase inicial do movimento dentário13, registrado por um equipamento denominado polariscópio, que, em sua operação, utiliza as propriedades da luz polarizada. Essas ondas são usadas para determinação do estado de tensão através do padrão de interferência luminosa7 formada por um sistema de iluminação, um par de polarizadores e uma estrutura para sustentar e estabilizar o modelo analisado8.

Para determinar os resultados qualitativos da ordem de franjas isocromáticas e isoclínicas, necessitou-se de um grande número de pontos e de medidas, além de tempo para sua obtenção e interpretação. Após a tomada fotográfica, as imagens deverão ser impressas, parâmetros deverão ser traçados e um mapa da ordem de franja deverá ser construído para a obtenção dos resultados.

Inicialmente, foram realizados testes experimentais em modelos-piloto, com a finalidade de permitir a correta investigação da metodologia e dos materiais a serem utilizados, definir o número de repetições necessárias, técnica de confecção desses modelos, técnica de leitura, calibração do pesquisador e obtenção de resultados confiáveis15.

Para a construção de um modelo fotoelástico ideal, foram seguidos alguns princípios básicos para que não ocorressem erros. A utilização de dentes multirradiculares em modelos fotoelásticos pode comprometer a interpretação dos resultados, devido à sobreposição de franjas que, possivelmente, irão ocorrer em função da proximidade entre as raízes4,6.

Evitou-se material resinoso com retorno lento em condição de estresse e que apresentasse tensão residual antes e depois da suspensão das forças aplicadas. Além disso, obrigatoriamente, esse deveria ter baixo módulo de elasticidade, alta constante óptica e resistência, ser de fácil manipulação e baixo custo15.

Ao surgir o interesse pela análise da mola T em modelo fotoelástico, e considerando-se que o estudo seria limitado aos movimentos iniciais do dente, optou-se pela análise de um padrão de ativação inicial (posição neutra), para, posteriormente, se analisar a mola T com ativação intermediária e, finalmente, em ativação máxima. Segundo Burstone e Koenig2,3, a ativação máxima da mola T seria de 6,0mm e a posição neutra seria de 0,0mm. Outros autores consideram que a ativação máxima desse dispositivo seria de 5,0mm, sendo que em posição neutra ela apresentaria uma ativação de 2,0mm14,20,21.

Em relação ao tipo de liga utilizada na confecção da mola T, optou-se pela de titânio-molibdênio, uma vez que, clinicamente, seria a mais indicada devido à magnitude de força ser menor24 quando comparada àquelas confeccionadas com fio de aço inoxidável19,22,23.

A mola T centralizada no espaço interbraquetes apresenta valores semelhantes para o sistema de forças liberado entre os segmentos da unidade de ancoragem e a de retração10,17,20,21, resultantes da dobra de pré-ativação em "V" simétrico, provocando clinicamente movimentos dentários mais simétricos.

Na análise dos gráficos, nota-se, tanto para a pré-ativação de 30 graus como a de 45 graus, que: na base apical, pode-se observar que, em posição neutra, a distribuição das franjas fotoelásticas ocorreu simetricamente em ambas as pré-ativações. A diferença ocorrida foi na quantidade das franjas, que aumentou gradativamente conforme o aumento da ativação. Isso gerou, consequentemente, maior magnitude de força. Ao comparar a magnitude de força entra as duas pré-ativações (Gráf. 8 e Gráf. 17), pode-se afirmar que a maior magnitude foi observada na pré-ativação de 30 graus.

O posicionamento da mola T no espaço interbraquetes e a quantidade de ativação estão diretamente relacionados ao tipo de movimento gerado por esse dispositivo. Ao ativar a mola T em 5,0mm, a proporção M/F é de 7,6, permitindo movimento de inclinação controlada, pois seu centro de rotação estará posicionado mais para apical3. Após 1,0mm de desativação, a proporção M/F será de 9,1. Nessa, os dentes se movimentarão por translação. Se essa desativação continuar, o movimento dentário irá ocorrer por movimento radicular3 e, nessa hora, a mola deverá ser reativada para evitar contato entre as raízes dos dentes adjacentes às extrações dentárias.

Nesse estudo experimental fotoelástico, observou-se uma concentração maior de franjas fotoelásticas na região cérvico-mesial e nenhuma franja na região disto-apical na ativação máxima de ambas as molas. Conforme a desativação acontecia, essa ordem de franja diminuía na região cérvico-mesial e aumentava na região mesio-apical, até a ordem de franja alcançar maior concentração de energia na região mesio-apical e menor nas regiões cérvico-mesial e disto-apical. Com essas características qualitativas, pode-se deduzir que, em ativação máxima, as molas promoveram tendência de movimento radicular na ativação de 0,0mm; movimento de corpo na ativação média; e, finalmente, na ativação máxima, movimento de inclinação controlada.

Nos gráficos 2, 6, 7, 15, 18 e 19 a ordem de franja apresenta-se inferior a 0,5. Algumas assimetrias, observadas nos gráficos 2, 5, 6, 7, 9, 15, 18 e 19, demonstram valores insignificantes. É importante ressaltar que essas assimetrias podem ser resultantes de uma excentricidade no posicionamento da mola T ou diferença ocorrida no desenho final da mesma.

Também nota-se que o sistema de forças liberado, em todos os grupos de teste, mostrou-se simétrico para ambos os dentes (13 e 23). Os resultados são coerentes aos observados em testes realizados com ensaios mecânicos3,11,19,20,21,23,24, que mostram-se significativamente semelhantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Utilizando o método experimental fotoelástico para análise qualitativa do sistema de forças liberado pela mola T centralizada e confeccionada com fio de TMA 0,017" x 0,025", pode-se concluir que:

O estado de tensão em toda a superfície radicular da mola T com pré-ativação preconizada por Souza et al.20 mostrou-se discretamente maior quando comparado com a mola T com pré-ativação preconizada por Marcotte14.

Com ativação de 2,5mm, a ordem de franjas exibiu uma tendência de movimento de inclinação controlada.

A ordem de franjas mostrou-se semelhante na ativação de 2,5mm para as pré-ativações de 30° e de 45°.

Com ativação de 5,0mm, a concentração de energia, ou de força, mostrou-se claramente maior em ambas as pré-ativações.

Enviado em: setembro de 2007

Revisado e aceito: novembro de 2008

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  • Endereço para correspondência:

    Luiz Guilherme Martins Maia
    Rua Terêncio Sampaio, 309
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Ago 2010
    • Data do Fascículo
      Ago 2010

    Histórico

    • Recebido
      Set 2007
    • Aceito
      Nov 2008
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