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Dialética e ação política: sobre o Dar corpo ao impossível de Vladimir Safatle

Desde que Merleau-Ponty, Andrew Arato/Paul Breines e Perry Anderson evidenciaram a existência de outra modalidade de marxismo,1 1 Ver sobre este debate: Merleau-Ponty (2006), Andrew Arato e Paul Breines (1986) e Perry Anderson (2004). surgiu no seio da teoria social de esquerda a compreensão da existência de dois grupos. Por um lado a concepção de que um conjunto de pensadores e militantes dedicaram suas obras (teoria e ação) à transformação das estruturas de exploração e dominação constitutivas do capitalismo, e por outro que um grupo de intelectuais abandonaram aquela perspectiva e passaram a, meramente, especular e a propor reflexões críticas sobre as condições de existência numa sociedade em que a integração total, os processos de alienação, o consumismo dos trabalhadores, as formas de controle psíquico e a força imperceptível da dessublimação da energias disruptiva haviam comprometido os ideais de revolução ou mesmo de reformas sociais efetivas. Entre aqueles primeiros (o marxismo clássico) estavam Kautsky, Rosa Luxemburgo, Plekhanov, Trotski, Lenin, Otto Bauer e Bukharin. e entre os segundos (os marxistas ocidentais) estavam Adorno, Althusser, Sartre, Lukács, Marcuse e Della Volpe. Mas nenhum outro autor ficou mais associado ao niilismo, à melancolia e pessimismo do marxismo ocidental: do que Theodor Adorno. É como se seu nome e seus escritos ao serem pronunciados fossem o dispositivo mobilizador para o abandono completo e inarredável de qualquer possibilidade de alteração prática da ordem social capitalista.

O último livro de Vladimir Safatle se não for bem-sucedido em outros aspectos, o que não é o caso aqui - é sem dúvida um evento intelectual decisivo para o debate teórico e político da esquerda contemporânea, de modo a desfazer parte desse equívoco sobre a obra adorniana. Dar corpo ao impossível: o sentido da dialética a partir de Theodor Adorno demonstra os limites de certas leituras apressadas, pouco rigorosas e não atentas aos textos de Adorno. Pois mesmo o principal pensador marxista vivo, o historiador inglês Perry Anderson - lendário editor da New Left Review, capaz de ler e falar com fluência em mais de sete idiomas vivos2 2 Se é certo que foi Merleau-Ponty quem criou ou ao menos sugeriu a existência de, a expressão marxismo ocidental; é Perry Anderson e seu prestígio como editor da principal publicação de esquerda no último quarto do século XX, a New Left Review, que deu maior sentido e popularidade acadêmica ao termo. Diferente de Ponty e, mesmo Arato e Breines que viram virtudes nele, Anderson foi bastante crítico dos modos de teorização e “atuação” dos marxistas ocidentais. Para o ensaísta inglês, o abandono da compreensão política e econômica das sociedades capitalistas ocidentais, ao contrário da geração de Kautsky, Lenin e Plekhanov prejudicou, sobremaneira a luta pelo socialismo. Ainda assim, Anderson anos depois soube reconhecer que não era possível que qualquer perspectiva de esquerda na busca por transformar o mundo não incorporasse o que de melhor a teoria social crítica do século XX construiu ao longo dos anos. Ele saberia distinguir a diferença entre Adorno e Habermas, e Foucault, Lacan e Derrida e Furet, Lefort e Gauchet e Fraser e Rawls. Ver: Perry Anderson (2000, 2008, 2008, 2005, 2009). - não esteve livre de erros básicos ao abordar a obra filosófica, sociológica, psicanalista e de crítica literária de Adorno. O ex-aluno de Bento Prado Jr. e Alain Badiou, herdeiro da cultura filosófica do mítico departamento de filosofia da USP, apresenta-nos, assim, estudo esmerado e imponente sobre o que disse e quis dizer um dos mais importantes teóricos da assim chamada Escola de Frankfurt. Isso foi possível porque Vladimir Safatle lê a teoria social (filosofia, psicanalise, crítica de música e da cultura e sociologia) de Adorno articulando três eixos, quais sejam: 1) a dialética adorniana aqui é lida na linha sucessória da dialética hegeliana e marxista (importa dizer desde já que não há leitura linear no texto de Safatle); 2) a análise imanente dos textos do teórico alemão, procedimento esse por vezes esquecido pela fortuna crítica sobre Adorno; 3) e a confrontação do pensamento crítico-dialético do autor de Mínima moralia, Notas de literatura e Aspectos do novo radicalismo de direita com as filosofias adversárias, a saber, Husserl, Heidegger e Gilles Deleuze. No que segue apresento um ensaio interpretativo sobre Dar corpo ao impossível: o sentido da dialética a partir de Theodor Adorno, tendo no horizonte o modo pela qual podemos vislumbrar na obra de Safatle a irrupção de uma modalidade sugestiva e peculiar de ação política com vistas à emancipação radical e efetiva para os dias de hoje.

Antes gostaria de formular algumas considerações de advertência ao livro de Safatle, que eventualmente podem ser um estímulo para nosso debate acerca do pensamento crítico. Três ponderações ao menos entendo como importantes ao portentoso trabalho do filósofo da USP. A primeira é que Dar corpo ao impossível... poderia ter enfrentado com maior vagar - em algum momento da estrutura expositiva do livro - as gerações que sucederam aos membros fundadores que estavam ao lado de Adorno na reinvenção do legado de Marx. Por contraste, asserções sobre teóricos críticos contemporâneos como Honneth e Fraser, Benhabib e Amy Allen, Young e Forst nos possibilitariam perceber por um lado, o aspecto comprometido e radical de Adorno com as lutas sociais e a busca pela emancipação efetiva, pode-se dizer até que o núcleo revolucionário da obra adorniana seria mais bem assentada e, por outro lado, daria andamento (via dialética negativa) a um quadro compreensivo acerca de como o mainstream da teoria crítica atual se adaptou sobremaneira aos modos de organização política das democracia capitalistas ocidentais. (Aqui, o eco da filosofia moral-normativa norte-americana3 3 Essa guinada já havia sido dada por Habermas nos anos 1980. O debate com o teórico político americano John Rawls e outros filósofos morais, também norte americanos, como Frank Michelman, serão decisivos para teoria crítica habermaseana - e as que vieram na esteira de suas abordagens. Ver sobre isto Axel Honneth (2001). se justapõe à crítica da sociedade: tornando-a muito mais uma agenda de pesquisa que um impulso para a ação nos quadros de um teoria política emancipatória.) A segunda ponderação, que gostaria de propor, está relacionada ao eixo interpretativo do livro concernente a Guimarães Rosa, pois aqui Safatle tinha condições de nos ofertar conexões históricas e literárias de sorte a compreendermos com maior sentido de porque dar andamento à reflexão sobre o autor de Grande sertão: veredas, dito de outra maneira por que não Graciliano Ramos ou a poesia de Carlos Drummond de Andrade, ou mesmo os contemporâneos Luiz Ruffato, Paulo Lins e Bernardo Guimarães? A opção teórica e filosófica pela prosa roseana é, dialeticamente, sensível - ainda assim, o enlace com nossa fundamental literatura (e sua história literária) como expressão do pensamento social e político crítico brasileiro poderia ser ensaiado. Minha última ponderação observa que Dar corpo ao impossível... estiliza passagens cruciais para as questões mais urgentes do debate político atual, as considerações feitas acerca dos limites filosófico-político da noção de lugar de fala, e do paradigma comunicativo-institucional na resolução consensual de conflitos tinham de ser mais claros e diretos, sem perder o refinamento próprio ao autor. Ponderações sugeridas, o que nos diz Safatle?

Porquanto e de certa maneira tenha analisado o sentido filosófico da dialética (moderna), subjaz ao Dar corpo ao impossível... a construção de uma peculiar ação política. Assim, a dialética não é apenas um modo de apreender objetivamente o mundo - um tipo privilegiado de teoria do conhecimento -, e de refletir em busca de substâncias (ocultas) plenas de sentido à espera de algum pensador da contradição para se revelar. O que Safatle quer é - “o satanismo” (p.18) do pensamento. É pôr o “mundo enquanto estrutura” (ibidem) de opressão e sofrimento, em tensão com o desejo de uma “práxis transformadora” (p.19), em vista a fazer irromper a liberdade efetiva. Em seu texto, portanto, a dialética adquire a forma de experiências sociais “irredutivelmente revolucionária[s]” (p.23). Enfrentando os desafios do tempo, o pensar por contradição de Theodor Adorno, transfigura-se de proposição especulativa sobre os indivíduos e a sociedade em arma crítico-política aos modelos prevalecentes de “gestão social e de práticas disciplinares próprias ao capitalismo” (p.27).

Com isso, mais do que conformar padrões reconstrutivos obcecados em estabelecer justificações argumentativas - um modo corriqueiro da teoria crítica contemporânea habermaseana e pós-habermaseana - Dar corpo ao impossível... incita a pensarmos figurações contingenciais “não relacionais” (p.33), de tal modo que no âmbito imanente da ação (dialético-disruptiva) possamos “permitir o advento de outra situação” social (ibidem). Safatle aqui é um preceptor da rebeldia intelectual; pois enquanto alguns sustentam a ponderação na pesquisa bem fundamentada, atenta ao que a literatura especializada internacional está a nos dizer, nem sempre de maneira mais sugestiva para a práxis: ele apresenta-nos a dialética como “estratégia [...] [que] acabará por se realizar no que se pode [...] chamar de dialética emergente, ou seja” (p.34), uma modalidade de reflexão política com vistas ao “diferente [de algo] que ainda não começou” (ibidem). Ora, por isso o teórico da USP propõe ler o pensamento adorniano (e nesse aspecto, também, o marxista e hegeliano) enquanto “a negatividade do movimento dialético[,] [...] a manifestação da emergência da noção de infinito” (p.42). Atrevo-me a argumentar que este é o núcleo fundante e decisivo de Dar corpo ao impossível - no que concerne à ação política emancipatória. (Sobretudo, diante da constelação conservadora que organiza e gestiona as não experiências sociais). Gostaria de ensaiar neste ponto uma leitura da crítica de Safatle - via Adorno - à filosofia de Husserl e Heidegger.

Safatle compreendeu bem porque Theodor Adorno, “durante 35 anos [...] se confront[ou] com Heidegger” (p.145). E a presciência do autor da Dialética negativa sobre o significado social e cultural dos escritos hedeggerianos é um dos aspectos mais relevantes do seu percurso intelectual. Com efeito, Dar corpo ao impossível... articula a seguinte formulação - sobrepondo à crítica de Marx aos ideólogos a percepção de Adorno concernente a “fenomenologia alemã” (p.148) das primeiras décadas do século XX chega-se à conclusão: de que posições teóricas e interpretativas como a de Martin Heidegger são substantivamente “conservadoras” (ibidem). (Um desvio: a construção da teoria política contemporânea, sobretudo a se forjou nos Estados Unidos com a presença dos emigrados alemães, em especial as obras de Leo Strauss, Eric Voegelin e Hannah Arendt, sofreu influência importante da filosofia de Heidegger.4 4 Ver sobre isto os vários estudos do cientista político norte-americano John Gunnell (1986). Ver também: Peter Graf Kielmanseggg et al. (1997), Antonio Lastra e Bernat Torres Morales (2009) e Sylvie Courtine-Denamy (2014). Strauss e Arendt foram seus alunos na Marburg5 5 Conferir sobre os cursos de Heidegger em Marburg nos anos 1920, Enrico Berti (1997). Segundo Berti, Heidegger foi responsável no contexto alemão do começo do século pela retomada da filosofia prática de Aristóteles, e seus discípulos deram continuidade a ela na filosofia política como observamos. nos anos 1920 e Voegelin, ainda que não sendo seu discípulo direto, viveu o ambiente espiritual germânico da época em que o autor de Ser e tempo era figura filosófica destacada. Os três teóricos conservadores, angustiados com as mudanças de uma modernidade irresistível impulsionada por uma subjetividade persistente (Pippin, 2005PIPPIN, R. The Persistence of Subjectivity: On the Kantian Aftermath. New York: Cambridge University Press, 2005.), entenderam o que Heidegger pretendeu explicitar em sua filosofia. Voltando ao desvelamento do ser, na sua pureza, autenticidade originária, no seu modo de ser sem os convencionalismos históricos, não mediado pela teoria e a razão, ou seja, o ser enquanto ordem e arrebatamento natural - poderia o ocidente resguardar aquilo que se mostra como é (Zuben, 2011ZUBEN, N. A. von. A Fenomenologia como Retorno à Ontologia em Martin Heidegger. Transformação, v.34, n.2, 2011., p.93) na linguagem ordinária da verdade (Rée, 2000RÉE, J. Heidegger: história e verdade em Ser e Tempo. São Paulo: Editora Unesp, 2000., p.32 e 36). Nos Estados Unidos, os children of Heidegger (Wolin, 2001WOLIN, R. Heidegger’s Children: Hannah Arendt, Karl Löwith, Hans Jonas and Herbert Marcuse. New Jersey: Princeton University Press, 2001.) transfiguraram Ser e tempo em filosofia política. A busca pelo que Vladimir Safatle chama de “objeto esquecido, [...] [o] ser autoidentido” (p.150) foi a obsessão duradoura dos escritos de Strauss, Voegelin e Arendt: a ida ao mundo antigo - seja a polis grega ou a Civitas romana, seja a ciência política de Sócrates, Platão e Aristóteles -, a reconstrução do sentido lídimo da religiosidade (e da bíblia), a exploração de uma hierarquia (natural, e consequentemente política) das origens e a recusa intransigente aos aspectos constitutivos da era moderna revelariam a face conservadora e por vezes reacionária dos referidos autores e seus projetos teóricos de reinterpretação do sentido do século XX. Não foi ocasional eles serem recebidos com satisfação no país que iria encarnar, a salvaguarda das sociedades e cultura ocidental. Leo Strauss, Eric Voegelin e Hannah Arendt, heideggeriamente, compreenderam que os Estados Unidos poderia ser aquele sopro divino que detém e aniquila, o Katechon, os que negam a lei, os sem lei - os que desejam a universalidade infinita.)

A seu modo, Adorno, nos diz Safatle, entendeu com radicalidade crítica o sentido imanente da postura heideggeriana que retrocede ao ser. A devastação social pela regressão demonstrando impotência cultural e subjetiva (ibidem) poderia reaparecer a qualquer tempo. Dialética negativa representava, portanto, a explicitação, a ação política emancipatória, contra aquele tipo de pensamento das origens. Vejamos isto com maior vagar no texto de Dar corpo ao impossível...

Se Husserl propôs uma fenomenologia subjetiva-natural pura, “pré-cultural” (p.155), Martin Heidegger construiu “seu projeto”, argumenta Safatle (p.156), a partir de uma recusa da dialética (ibidem). Assim, ao proferir vários cursos e escrever artigos sobre a Fenomenologia do espírito, Heidegger, tinha a pretensão de “distinguir duas fenomenologias” (ibidem); a de Hegel, orientada ao entendimento da manifestação e exteriorização do sujeito moderno - “e a que nos leva à compreensão da história da ocultação do ser” (ibidem). Pode-se dizer que o que Dar corpo ao impossível... está nos chamando atenção, é o fato da recusa intransigente de Heidegger e seus seguidores em reconhecer a persistência da subjetividade (dialética) e suas implicações fundamentais tanto para a filosofia como para a política no século XX. A formulação de Safatle aqui é lapidar;

Heidegger chama [e entende tal circunstância como] “diferença ontológica” entre ser e ente [...] Tudo se passa, portanto, como se houvesse uma antropologia insidiosa a se confundir com a modernidade [...] [E] a possibilidade de a filosofia abandonar uma época histórica marcada pela metafísica [...] (metafísica do sujeito) estaria vinculada à sua capacidade de acordar do sono antropológico o qual encontraria seu ápice em Hegel. (p.159, grifo meu)

Como vimos, a mensagem de Heidegger foi recebida pela filosofia política contemporânea (nos Estados Unidos), a volta às “cercanias do ser” (Heidegger apud Safatle, p.159) transfigurada em hierarquia natural imutável porque “sem-nome [...] [e com] pouca [...] a dizer” (ibidem) era a condição necessária para o ocidente sair da crise. Aqui a busca pela estrutura originaria do ser, vale dizer, a aceitação do espaço existencial da finitude - uma outra forma de dizer que a humanidade está fadada primordialmente pelo fato da morte e como tal deve se abrir ao decisionismo da existência - foi percebido por Adorno na Dialética negativa. Com efeito, Dar corpo ao impossível..., a partir daí, sustenta que Adorno para responder ao projeto heideggeriano e suas consequências (políticas) e ao mesmo tempo não se enredar no elogio ingênuo de uma racionalidade representacional e teleológica: se propôs “a configuração [de um] pensamento no qual o reconhecimento da não identidade vinda da não-conformidade à normatividade implícita na universalidade abstrata” (p.167) tornar-se-ia fundamental em vista da emancipação efetiva.

A linguagem interpretativa de Safatle será decisiva nesse aspecto. Pois quando falamos que a referida obra comentada aqui do filósofo da USP pode ser lida do ângulo constitutivo da ação política para os dias atuais, é nessa interpretação que estamos pensando. Se a não identidade adorniana é o contraponto à finitude da estrutura originária de Heidegger - as cercanias hierárquicas e naturais do ser -, qual a forma social que ela adquire? A não identidade possui uma álgebra?

Se bem entendi o texto de Dar corpo ao impossível: o sentido da dialétia a partir de Theodor Adorno, ele articula, magistralmente, a noção de não-identidade de Adorno ao conceito imanente de proletariado de Marx. Voltarei a essa problemática mais à frente quando tratar da relação construída por Safatle entre Adorno e Lenin. Por hora essa combinação, que nos tráz estranheza é certo, é que torna a teoria dialética de Vladimir Safatle uma modalidade disruptiva e radical de pensar a política - orientada para nossos tempos. O não-dêntico articula-se com o proletariado para dar passagem a uma teoria da ação política radicalmente outra. Nos termos precisos de Safatle surge com essa combinação-articulação-justaposição: uma “práxis com potencial revolucionário de transformação” (p.116).

Teoricamente, então, a resposta de Dar corpo ao impossível... ao projeto filosófico (conservador) de Heidegger de busca pelo ser natural primordial e puro (hierárquico e imutável na ciência política do herdeiro Leo Strauss) dirá que o pensamento crítico-dialético lança os conceitos e seus objetos de adequação na tormenta contingente da não-realização - “os objetos não se adequam mais a seus próprios conceitos” (p.116) - de tal modo que os sujeitos (por oposição ao ser heideggeriano) agora somente conseguirão o reconhecimento se eles estabelecerem para si, um si coletivo-universal, um infinito concreto que dá na sistematicidade da não realização que faça desabar todo processo de normatização predicativa. Pois ação política e “liberdade não [são] algo que se predica [a] um sujeito” (p.117). Ora, Safatle, num movimento interpretativo, significativamente, sugestivo imbrica a posição adorniana acerca da não identidade, a não realização do conceito que se transfigura em ação política (livre e radical) por reconhecer tal dialética contingente-infinita, na noção de despossessão de Marx.

Desse modo, “[a] emergência de sujeitos políticos” (p.128), ou a construção mesma de uma teoria da ação política - disruptiva, insurrecional e emancipatória -, dar-se-á nessa tempestade radical, nesse conchavo filosófico contra os poderes vigentes dos que querem sempre o regresso do ser natural originário - o “objeto esquecido” nos diz Safatle - entre Adorno e Marx. A estratégia, então, forjada por Dar corpo ao impossível... é fazer que o conceito de proletariado - visto sempre como ponto investigativo de certas monografias sociológicas - haja enquanto sensibilidade esteticamente aberta a “implicações multilatera[is]” (p.131), de sorte a que o proletariado (mesmo) possa não ficar submetido às figuras e ao “paradigma do trabalho, de seus modos de relação e de sua produção de valor” (p.132). É por isso que; a “aproximação com Marx serve, entre outras coisas, para nos lembrar como os conceitos adornianos têm um potencial político crítico na medida em apontam para a superação da sociedade do trabalho” 6 6 Nas ciências humanas em geral, invariavelmente, costuma-se desmarxizar Adorno e o conjunto da teoria crítica da primeira geração. Walter Benjamin é um exemplo cristalino desse procedimento. (p.134).

Segue-se, então, que, para Safatle, as potencialidades radicais de transformação da sociedade capitalista, com seus “sofrimentos sociais” (ibidem), está lá onde os trabalhadores recusam fazer uma apropriação dos modos de normatividade econômico-moral da ordem social construída. Não se trata de requerer um direito, ou vários direitos, consensualmente aceitos (distribuição de renda, políticas públicas burocráticas para as minorias, reconhecimento pelos arranjos jurídicos de formas de vida controladas); trata-se, isso sim, “de formas de apropriação sem possessão [não idênticas] que modificam as determinações essenciais da [...] humanidade [...]” (ibidem). São, por outras palavras: “induções materiais da sensibilidade [que] como atividade de combate [..] procura abrir espaço a outras modalidades de práxis social” (ibidem) que não aceitam as formas de identificação integradoras da sociedade do capital-trabalho. Aqui “sensibilidade [dialética] é revolução” (p.131).

Mas, se “despossessão e desindetificação” (p.141) expressam as figurações mesmas do proletariado enquanto emergência dialética do não idêntico - de modo a que daí irrompa o sujeito político para a ação emancipatória, quais as possibilidades, então, vislumbradas por Safatle de se pensar maneiras de organizar aqueles? É nos factível que a dialética adorniana como ação política adquira organização real?

O filósofo da USP abordará, dessa maneira, a posição de Adorno na política alemã dos anos 1960 (p.213). Ensaiemos esse ponto. No contexto da Alemanha Pós-Segunda Guerra Mundial a esquerda conhecerá ali “o esgotamento do horizonte de ação política institucional” (p.210). Safatle observa que nessas circunstâncias, precisamente 1966, forma-se a “grande coalizão entre o Partido Social-Democrata e a União Cristã Democrata” (ibidem). O objetivo impulsionador da aliança foram as leis de exceção - que para Adorno “ressoa[vam] o artigo 48 da Constituição de Weimar” (ibidem) - legalizando a cessação das garantias constitucionais.7 7 O artigo 48 da Constituição de Weimar, que teve como um de seus arquitetos Max Weber (ver: Isabel Loureiro (2005), dizia que: “no caso em que a segurança e a ordem pública sejam perturbadas ou ameaçadas seriamente, o presidente do Reich poderá tomar medidas necessárias com o fim de restaurar a segurança e a ordem pública, e se necessário, intervindo com as forças armadas” (Bolsinger, 2001, p.62, nota 19). Dar corpo ao impossível... ainda acresce mais dois eventos para pensar as possibilidades de organização da dialética adorniana como modo particular de ação política. Com o programa de Godesberg escrito em 1959 o SPD sepultava qualquer vestígio de marxismo de suas intenções, plano de atuação e compreensão teórica da sociedade - diz Safatle: “[a] capitulação da social-democracia às dinâmicas do livre-mercado evidenciavam a hegemonia política absoluta da ‘economia social de mercado’ na Alemanha federal, com seu capitalismo de regulação estatal” (ibidem).

Além disso, a situação de então demostrava para a esquerda alemã e seus intelectuais públicos o “fortalecimento do radicalismo de direita [e] [...] a naturalização de posições conservadoras por antigos atores da esquerda, [exemplo] como fazia o SPD à época [...]” (p.212). Ora após fazer essa reconstrução histórica e social detalhada da vida política dos alemães nos anos 1960 - irrompe no texto de Safatle a formulação de que “Adorno insit[ia] na astúcia de Lenin” (p.213) em se valer das forças e instituições políticas mesmas para acender a centelha da emancipação radical. Com efeito; se por um lado o próprio nome Lenin evocado pelo filósofo da USP enuncia o aspecto factível da organização mesma da dialética para a ação política; por outro lado a controvertida junção Adorno-Lenin proposta por Dar corpo ao impossível... explicitava que organização política de (esquerda) é, e deve procurar ser, o encontro na luta por emancipação de um lugar em que o “proletariado” (p.213) como sujeito emergente da ação política possa expressar sua linguagem não-idêntica e de despossessão concreta da vida burguesa. Quer dizer: “Adorno insistirá que o futuro das lutas de emancipação dependeria da possibilidade de [se] encontrar tal ponto e lugar” (ibidem). Percebe-se nestas observações certas dificuldades de organização e ação. Mas isso decorre da própria ambiguidade da noção de dialética, enquanto o não idêntico, que Safatle quer construir. (No nosso tempo em que os grupos, movimentos e forças de esquerda - de partidos comunistas a coletivo feministas e de raça (que reivindicam o lugar de fala), passando por social-democratas e sociais-liberais - institucionalizam as lutas e demandas no âmbito restritivo das democracias constitucionais com suas normas burocráticas, jogo partidário e representativo, a leitura de Safatle acerca das condições de organização da dialética como ação política em Adorno é significativamente sugestiva - ainda que ambíguas e por vezes etéreas.)

Na última parte da obra encontramos Vladimir Safatle tratando da dialética em solo nacional. Que é pertinente para os dias atuais. Paulo Arantes, seu autor preferido por aqui, e Roberto Schwarz que leu Machado de Assis por intermédio da fala do diabo (fáustico) são os autores nacionais que dão andamento ao argumento. No entanto, é na dicção de Guimarães Rosa que a dialética se exprime para nosso autor. Minha tentativa final será sobre esse ponto.

Foi em Guimarães Rosa que a dialética encontrou sua voz em nossa sociedade. Se com Machado de Assis os enredos romanescos explicitavam as contradições formais de um país que não se reconhece cinicamente em si mesmo, mas que incita com desfaçatez de classe esse mesmo não reconhecimento para perpetuar sua sobrevivência - em Guimarães Rosa, mesmo o desavergonhamento, passa pela dialética da decomposição dos modos de ser nacional. Aqui Safatle se pronuncia com esmero: “Grande sertão: veredas pode ser lido como o desenvolvimento de uma experiência literária fundada na desintegração da comunicação possível entre um jagunço em crise e a urbanidade de um doutor que nunca aparece” (p.287). Assim, é como se na leitura do filósofo o romance roseano estivesse a dizer que numa sociedade como a brasileira nenhuma forma de comunicação, mínima e frágil que seja, possa ser vislumbrada concernente à resolução de nossos problemas. Pois no Brasil as possibilidades mesmas para a existência livre e igualitária, vale dizer, a construção mesma da ação política, como caminho para a negação da totalidade não-autêntica, deve abdicar de qualquer espaço de integração; para nós a “linguagem [tem de] [...] se confronta[r] com a astucia do movimento imanente das coisas, [tem de] [...] remexer [...] seus lugares não se acomodando às estruturas de começo, meio e fim” (p.287).

Daí que Dar corpo ao impossível... dá passo à interpretação em um texto como Grande sertão: veredas, ou mesmo o Corpo de baile, de modo a que a não identidade adorniana seja encontrada na “intervenção do demoníaco, [...] [no] movimento aberrante que dá consistência à errância [e na] passagem da contingência à necessidade [...] [de] um encontro impossível” (p.289) entre Adorno, Marx, Guimaraes Rosa - e por que não Lenin? E Riobaldo (os Riobaldos...) constitui-se, enquanto tal; como sujeito emergente a ser o enunciador de uma ação política que impulsionando aquelas circunstâncias dialéticas faça deslocar o que Safatle chama de “letramento burguês” nacional (p.292): e sua insistência violenta de integração daqueles que nunca foram e nunca serão “integrados” (aspas minha). Com efeito, é na “errância” de Riobaldo, na “jagunçagem” (dialética) de Diadorim, na “epopeia negativa” do enredo romanesco de Grande sertão: veredas, em outras palavras, em um “trajeto de negações” - que a fala de Guimarães Rosa é ao mesmo tempo a expressão de “um país que não ocorreu” e a latência de uma ação política à beira de emergir a qualquer momento. Se o que dissemos até aqui acerca do livro de Safatle tiver algum sentido é nos factível tentar fazer irromper, em termos mais sintéticos, do seu texto a dialética (adorniana e também hegeliana, marxista e Roseana) como modo peculiar de ação política emancipatória. Vejamos.

Na fatura do livro a formulação da dialética como ação política aparece de maneira esparsa, por isso a dificuldade em delineá-la com mais clareza. Ou pode-se dizer que a noção é a cada estrutura argumentativa fundamentalmente pressuposta. Com isso, para bem problematizar essa proposta de leitura reconstrutiva do livro de Vladimir Safatle pode ser estratégico voltar aos pontos em que ele incessantemente teoriza sobre o sujeito que se articula na dialética adorniana (hegeliana e marxista). Porquanto enfatizasse os aspectos de abertura e multiplicidade imanente da língua do diabo, Dar corpo ao impossível... quer refletir, ainda assim, sobre a “força crítica capaz de empurrar a revolta para a consolidação de uma forma de vida por vir” (p.31). Pelo que a dialética em Adorno tentará, sempre, “insistir” (p.33) que a ação política - pressuposta, porque esparsa - não está na estrutura convencional da ordem social, mas na “contingência da produção singular” daqueles que sofrem as opressões.

Ora, na argumentação de Safatle, ainda que ele não diga explicitamente, é possível desvelar a dialética como ação política quando ele está a nós dizer que mesmo na dificuldade de fazer emergir “uma consciência de classe”, como o queria a esquerda dos primeiros anos do século XX, “há [ainda e por sorte] uma irredutibilidade do inconsciente, para além de sua espoliação social, que será politicamente decisiva” (p.37, grifo meu), e ela está presente na reflexão adorniana sobre a dialética como o negativo. Mesmo que por vezes seus leitores apressados o esqueçam. No entanto, se a ação política está sugerida em Dar corpo ao impossível... é porque Safatle enfrenta um problema que boa parte da teoria social crítica busca resolver. Onde encontrar o sujeito político da ação? Por vezes as soluções de nosso autor são ambíguas. (O que torna seu trabalho mais instigante.)

Assim, ocasionalmente, o esforço filosófico em apresentar uma teoria do sujeito da ação fica enredado na própria trama de inúmeras sugestões (de leitura) que atravessam o Dar corpo ao impossível..., de modo que se dá a impressão que para Adorno o sujeito (e a ação política) está lá onde todo sistema de opressão opera. O que do ponto de vista do pensamento estratégico, ou mesmo de uma filosofia política - pode ser pouco produtivo. Dois momentos do livro expressam meu comentário. Ao mobilizar a categoria de emergência na primeira parte de Dar corpo ao impossível..., Safatle dá andamento à contradição entre a emergência como resultado “das potencialidades imanentes às formas sociais capitalistas” (p.52) e o que Adorno entende por “diferença” (ibidem). Mas dessa articulação contraditória é difícil observar o momento mesmo da ação política: se nas brechas das potencialidades imanentes da experiência capitalista ou se na diferença como contradição?

O outro momento ocorre quando Vladimir Safatle está a nos falar da interessantíssima noção de não predicação. Aqui, a formulação é construída a partir da teoria da classe proletária de Marx: que Safatle, como já abordamos, demonstra estar além das meras e frágeis argumentações sociológicas, e ele está correto. Mas se o proletariado em Marx (e Adorno) não se estrutura por aquilo que o constitui (em termos de pátria, família, cultura e moral), ou seja, não possui predicados de identidade - como pode ele, então, se transfigurar em sujeito mesmo da ação política? A despossessão não exigiria um grau mínimo para o impulso estratégico e emancipatório, de sorte a ultrapassarmos concretamente nossas sociedades capitalistas integradas e opressivas? Mesmo que “a dialética” como força política e modalidade de ação “desloca[ndo] seu sistema de posições e pressuposições, retraindo a enunciação de certos horizontes de reconciliação [predicados]” (p.128) necessitária de um eixo, mesmo que infinitesimal, para operar nas lutas políticas.

Com efeito, se na fatura da obra é possível ao mesmo tempo propormos um jogo de postulações, que ora irrompe aqui e ali sugerindo o sujeito e a ação política e ora se torna opaca na teia das ambiguidades - é porque Dar corpo ao impossível... compreendeu com imaginação crítica e radical o sentido mesmo da dialética em Adorno e nos seus antecessores. Se ainda assim, mesmo a dialética em Safatle oscilando entre o irromper e a hesitação, constitui-se como uma modalidade sugestiva de ação política (que se expressa na emergência dos sujeitos que não querem mais ser integrados às reconciliações capitalistas) não é porque desde o início ele tinha claro o que era ela. Mas porque mais do que uma teoria estática, racionalista, positivista e simplistamente dada, a dialética é a língua pela qual se expressa aqueles que desejam a liberdade efetiva e nada mais: e “se quisermos um belo exemplo da força política [...] de intervenção dialética [como ação política emancipatória], talvez valesse a pena dar um salto no tempo e meditar sobre a experiência da revolução haitiana dos ex-escravos” (p.261). Essas são as lições de Vladimir Safatle em seu Dar corpo ao impossível: o sentido da dialética a partir de Theodor Adorno. Um livro necessário para nosso atual momento política, social e cultural.

Referências

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  • ANDERSON, P. Renovaciones. New Left Review, n.2, 2000.
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Notas

  • 1
    Ver sobre este debate: Merleau-Ponty (2006), Andrew Arato e Paul Breines (1986) e Perry Anderson (2004).
  • 2
    Se é certo que foi Merleau-Ponty quem criou ou ao menos sugeriu a existência de, a expressão marxismo ocidental; é Perry Anderson e seu prestígio como editor da principal publicação de esquerda no último quarto do século XX, a New Left Review, que deu maior sentido e popularidade acadêmica ao termo. Diferente de Ponty e, mesmo Arato e Breines que viram virtudes nele, Anderson foi bastante crítico dos modos de teorização e “atuação” dos marxistas ocidentais. Para o ensaísta inglês, o abandono da compreensão política e econômica das sociedades capitalistas ocidentais, ao contrário da geração de Kautsky, Lenin e Plekhanov prejudicou, sobremaneira a luta pelo socialismo. Ainda assim, Anderson anos depois soube reconhecer que não era possível que qualquer perspectiva de esquerda na busca por transformar o mundo não incorporasse o que de melhor a teoria social crítica do século XX construiu ao longo dos anos. Ele saberia distinguir a diferença entre Adorno e Habermas, e Foucault, Lacan e Derrida e Furet, Lefort e Gauchet e Fraser e Rawls. Ver: Perry Anderson (2000, 2008, 2008, 2005, 2009).
  • 3
    Essa guinada já havia sido dada por Habermas nos anos 1980. O debate com o teórico político americano John Rawls e outros filósofos morais, também norte americanos, como Frank Michelman, serão decisivos para teoria crítica habermaseana - e as que vieram na esteira de suas abordagens. Ver sobre isto Axel Honneth (2001).
  • 4
    Ver sobre isto os vários estudos do cientista político norte-americano John Gunnell (1986). Ver também: Peter Graf Kielmanseggg et al. (1997), Antonio Lastra e Bernat Torres Morales (2009) e Sylvie Courtine-Denamy (2014).
  • 5
    Conferir sobre os cursos de Heidegger em Marburg nos anos 1920, Enrico Berti (1997). Segundo Berti, Heidegger foi responsável no contexto alemão do começo do século pela retomada da filosofia prática de Aristóteles, e seus discípulos deram continuidade a ela na filosofia política como observamos.
  • 6
    Nas ciências humanas em geral, invariavelmente, costuma-se desmarxizar Adorno e o conjunto da teoria crítica da primeira geração. Walter Benjamin é um exemplo cristalino desse procedimento.
  • 7
    O artigo 48 da Constituição de Weimar, que teve como um de seus arquitetos Max Weber (ver: Isabel Loureiro (2005), dizia que: “no caso em que a segurança e a ordem pública sejam perturbadas ou ameaçadas seriamente, o presidente do Reich poderá tomar medidas necessárias com o fim de restaurar a segurança e a ordem pública, e se necessário, intervindo com as forças armadas” (Bolsinger, 2001, p.62, nota 19).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2023

Histórico

  • Recebido
    20 Abr 2020
  • Aceito
    11 Maio 2020
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