Com o objetivo de ampliar a discussão em torno do discurso de Bourdieu e Wacquant, o objetivo deste artigo é fazer uma intervenção específica em resposta ao artigo deles no que diz respeito ao Movimento Negro no Brasil, o movimento por direitos civis nos Estados Unidos e políticas negras transnacionais. O principal argumento do autor é que a crítica dos dois autores baseia-se em suposições e métodos analíticos críticos que privilegiam o Estado nacional e a cultura "nacional" como objetos únicos da análise comparativa ignorando como a política afro-brasileira, os movimentos por direitos civis nos EUA, em particular, e a política negra transnacional, de maneira mais geral, problematizam as distinções fáceis, até mesmo os superficiais, entre Estados-nações e populações imperialistas e antiimperialistas dessa crítica. Ambos, o Movimento Negro brasileiro e o movimento por direitos civis nos EUA, são analisados unicamente como fenômenos de territórios nacionais, inteiramente auto-referentes (ou seja, provincianos), sem ligações entre si. Tais limitações de interpretação brotam da incapacidade de identificar e reconhecer formas de cultura e política não necessariamente coincidentes com política partidária, nacionalista (identidade) e sindicalista classista, formas de política das quais, na maior parte do século XX, as populações negras dos Estados Unidos, Brasil e até mesmo França, ficaram, em larga medida, excluídas e até mesmo marginalizadas.
relações raciais; movimento negro no Brasil; movimento negro americano; Bourdieu; Wacquant