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Enfermagem : arte e ciência do cuidado

EDITORIAL

Enfermagem : arte e ciência do cuidado

Marcia de Assunção Ferreira

Doutora em Enfermagem. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisadora 2 do CNPq

O tema "teorias, modelos e processos de cuidar" deste número que encerra o ano de 2011 é bastante oportuno para as questões que importam à enfermagem contemporânea. Isto porque a área da enfermagem vive um momento importante, e peculiar, no cenário da ciência e tecnologia. A trajetória histórica da enfermagem moderna ao longo dos seus 150 anos, desde sua fundação no século XIX, como profissão voltada à arte de cuidar, mostra o investimento que vem sendo empreendido, paulatina e sistematicamente, na construção de uma prática cientificamente fundamentada em vista da constituição de um campo de ciência próprio e apropriado à abordagem das pessoas que necessitam de conforto, bem-estar, atenção, alívio dos sofrimentos de cuidado.

Os acontecimentos nesta trajetória da enfermagem no campo científico indicam os modos como as enfermeiras, intelectuais da área, vêm desenvolvendo a ciência da enfermagem no alcance de status no campo científico. Neste processo de (re)construção do conhecimento,1 1 Utilizou-se esta expressão com base em Demo (2000), pois em sua obra sobre metodologia do conhecimento científico, este autor opta por aludir à reconstrução do conhecimento e não à construção, pois defende que se parta, sempre, de algo que já se sabe sobre o objeto investigado. a pesquisa ocupa lugar fundamental, pois permite (re)elaborar os saberes necessários que sustentam a ciência. Na enfermagem, a pesquisa é parte importante do processo de revisão, proposição e testagem de conceitos, significados, teorias, modelos e processos de cuidar (re)afirmando a arte e (re)construindo a ciência do cuidado.

Não se pode, então, falar de ciência sem que se fale de pesquisa, e esta se define, em especial, por aplicação de teorias e métodos. Assim, se estamos envidando os esforços no sentido de se constituir um estatuto epistemológico que assegure à enfermagem o status de ciência, o cuidado, seu objeto, exige abordagem sistemática, embasada em explicações e metodologias, particularmente expressas em teorias próprias, modelos de cuidado e em processos de cuidar para que se possa, seguramente, fundamentar o conhecimento da área e sustentar suas afirmações.

Se a ciência se faz com teoria e método, o cuidado de enfermagem se faz com arte e ciência e, neste intento, há que se considerar que o sentido de nossa ciência, da enfermagem, está na prática, espaço de exercício de sua arte, campo de aplicação de seus conhecimentos. Logo, trazer à pauta de discussão as teorias de enfermagem e sua aplicabilidade à pesquisa e ao cuidado de enfermagem; os enfoques conceituais e epistemológicos do cuidado de enfermagem; os processos de cuidar-assistir; os modelos assistenciais e os modelos de cuidar da enfermagem, além da sistematização da assistência e linguagem diagnóstica de enfermagem, objetos do temário central em tela, nos dá a oportunidade de refletir, criticar, refutar, (re)afirmar e confirmar nosso conhecimento, em (re)construção desde a fundação da profissão por Florence Nightingale.

Em homenagem a Florence Nightingale, que se dedicou ao cuidado de pessoas doentes e em razão disso agiu em prol da vida e da saúde humana, convidamos os leitores da Escola Anna Nery Revista de Enfermagem a refletir e discutir sobre como a produção científica acerca do cuidado de enfermagem está sendo organizada, o que está sendo feito com os produtos de nossas pesquisas, que resultados estamos obtendo com as aplicações destas produções e que impactos sociais a enfermagem vem causando. Buscar tais respostas e agir em prol delas é nosso dever, compromisso e responsabilidade social.

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    Utilizou-se esta expressão com base em Demo (2000), pois em sua obra sobre metodologia do conhecimento científico, este autor opta por aludir à reconstrução do conhecimento e não à construção, pois defende que se parta, sempre, de algo que já se sabe sobre o objeto investigado.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Mar 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2011
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