Diferença entre as pessoas (percebida pela distância entre elas no final da Caminhada) |
A distância como representação concreta das desigualdades |
“Eu esperava... ficar um pouco lá atrás, mas não tão no final, né? Eu descobri que as diferenças estão bem maiores do que eu imaginava...” (OIEM). |
“Eu esperava que ia ter uma diferença, mas eu achava que essa diferença ia ser, tipo, pequena, sabe? Ia todo mundo ficar, tipo, dentro de um mesmo quadrado. [...] Eu esperava diferenças, mas não tantas” (DEZEM). |
Diferenças não são diretamente visíveis ou abordadas no cotidiano escolar |
“[interessante] o fato de todos nós virmos todos os dias à escola, passarmos seis horas, cinco horas por dia e a gente perceber que existem diferenças, assim, discrepantes assim, na vida de cada um, entendeu?” (NOVEM). |
“[...] por mais que a gente estude numa escola onde a gente tenta passar por tudo igual, a gente não é igual e a gente nunca fala abertamente sobre as diferenças que a gente passa, você até pode falar sobre alguma coisa, mas a gente vê que tem muita coisa que a gente nunca discutiu com as pessoas e tem muita coisa que a gente também não sabe” (DEZEM). |
Identificação de experiências dolorosas (Processo facilitado pela Caminhada) |
Experiências podem ser comuns e reais |
“[...] não é coisa que você vê na televisão, que acontece com os outros. Acontece com você e com as pessoas que estão ao seu redor também” (QUAEM4). |
Falta de comunicação sobre experiências |
“[tem] uma falta de costume da gente se comunicar, nesse ponto de ser completamente sincero com relação as nossas experiências [...]” (OIEM). |
Efeitos do uso da 3ª pessoa para o debate de temas sensíveis
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Distanciamento dos temas |
“A gente discute... a população LGBT sofre, mas a gente não fala, eu sofro...” (CINEM). “A gente não fala da nossa desigualdade pessoal, a gente fala da desigualdade da estatística [...]” (OIEM). |
“[...] aí fica assim: ah porque os negros, os gays... parece que é uma coisa abstrata, que não é uma coisa que tá acontecendo, parece que é uma entidade superior que atua, não parece que é assim tão real [...]” (NOVEM). |
Impessoalidade do discurso pode dificultar identificação |
“Na verdade parte disso, é um discurso que a gente aprende a fazer propriamente sabe, não criticando a forma como é trabalhada na escola, quando a gente vai escrever uma redação, geralmente a professora fala assim: Ah, você não pode, é, não seja subjetivo, você tem que falar numa linguagem que atenda a todos, sendo que na verdade as vezes isso acontece [...] mas existem diversas pessoas, entendeu, que as vezes ela contando sua experiência particular dela podem se vir a identificar [...]” (NOVEM). |
Meritocracia e esforço não são os únicos fatores de êxito |
Influência familiar |
“Não mérito ... assim, você conseguiu porque se esforçou por isso, mas o mérito dos seus pais, você conseguiu essa vaga” (ONZEM). |
Oposição mérito e privilégio |
“Aquela que ela [ONZEM] falou da meritocracia, na minha opinião, é privilégio. De você conseguir alguma coisa por algum amigo” (DEZEM) |
Oposição igualdade e meritocracia |
“[...] é difícil falar de meritocracia tendo em vista que não é uma igualdade na nossa sociedade” (QUAEM). |
Chances desiguais |
Desigualdades de acesso a oportunidades |
“[...] as chances, até mesmo, sei lá, até um emprego normal, vendedora de loja para uma menina negra e para uma menina branca, é muito diferente [...]” (OIEM). |
“E é injusto você comparar essa pessoa com uma pessoa que teve os estudos durante toda a vida pago e de qualidade [...]” (NOVEM). |
Fatores responsáveis pelas chances desiguais |
Necessidade de sustentar a família [na adolescência] |
“[...] tem pessoas que interrompem os estudos para trabalhar e isso é injusto porque às vezes essas pessoas necessitam sustentar a família” (NOVEM). |
Contexto social e familiar |
“[não é] a mesma situação social, o mesmo convívio familiar, isso tudo influencia [...]” (QUAEM). |
Traços físicos, padrão hegemônico de beleza e racismo |
[...] as pessoas falam, ah mas agora está na moda né, está na moda usar black. Tá, mas a gente sabe que ela não vai ser considerada tão bonita, ela não vai ter a aparência para trabalhar naquela loja muitas vezes [...] simplesmente porque ela é negra e ela vai ficar desempregada e as pessoas vão dizer para ela que se ela tivesse se esforçado, se ela tivesse ido em mais lojas, ela conseguiria ter arranjado um emprego” (OIEM) “quer que você cumpra um padrão de beleza, né?” (DOZEM) |
“Você tem usar as maquiagens de afinar no nariz” (ONZEM). “se você é negra, você tem que entrar com o cabelo liso, você tem que vim maquiada, porque assim, você não é ‘bonita’, você tem que se maquiar” (DOZEM). |
Principais temas que emergiram (relacionados às sentenças da Caminhada) |
Bullying, preconceito e racismo |
“[...] parte que fala, você já sofreu bullying, ou zoação por alguma característica que você não pode mudar” (OIEM). |
Assédio Sexual |
“a questão sobre sair na rua sem medo” (SEISEM). |
Interseccionalidade raça, gênero e orientação sexual |
“Foram vários então né, vamos lá né, pelo fato de nós sermos mulheres e eu por não ser hétero e ser mulher e a [OIEM] por ser negra e mulher, e uma coisa particular minha sobre meu pai, por alguns motivos eu não falo com ele até hoje e me tocou muito, por isso eu comecei a chorar e por ver a [OIEM] indo lá trás e o [DEZEM] lá na frente. “Por eu conhecer eles tão bem, que eu sei porque o [DEZEM] estava lá na frente e a [OIEM] estava lá trás e é muito pesado refletir sobre isso, muito pesado” (DOZEM). |
Interrupção de estudos e necessidade de trabalhar |
“Acho que eram as questões que falavam sobre é... tipo trabalho e sobre, se você já interrompeu os estudos... para trabalhar” (NOVEM). |
Heteronormatividade e conflito familiar |
“Teve um dia que eu me estressei e falei assim: ‘Olha só, você não quer aceitar, tudo bem, vou continuar sendo sua filha [...], vou continuar sendo não hétero e você vai ter que me aceitar’. Porque eu continuava sendo e escondido e eu achava aquilo errado porque eu sempre contei tudo para a minha mãe. Eu cheguei para ela e falei: ‘Mãe, olha só, eu gosto de meninas, eu gosto de gays...’ E ela simplesmente falou assim: ‘Não, mas você não pode gostar’. E eu fiquei com medo de questionar isso... Mas ela é minha mãe, entendeu? É a pessoa que tem que me aceitar. Se ela não vai me aceitar, quem vai aceitar? [...] Eu entrei em depressão por coisas relacionadas a isso, eu tomo remédio mas, entendeu? Eu pensava assim: com quem eu vou conversar? Com a minha psicóloga? Alguém que não tem nenhum vínculo comigo? [...] É muito bom conversar com alguém que não tem vínculo com você, porque não vai te julgar, mas, poxa, por que você não pode conversar com a sua mãe? [...] hoje ela me aceita, mas eu sei que há casos e casos [...], por exemplo ela aqui [aponta para a colega], é... estão sofrendo muito por causa disso, muito mesmo e são famílias totalmente distintas e eu não posso chegar e falar, mas você tem que contar para sua mãe [...]” (DOZEM). |
Efeitos da Caminhada sobre as emoções |
Choque |
“Só que quando a gente vê de fato, o que aconteceu agora, é totalmente diferente, não tem como você mascarar pelos outros, é a sinceridade de cada um e sempre é chocante quando você vê como é desigual de verdade” (QUAEM). |
Dor ao falar |
“[...] a gente fala da desigualdade lá de fora, mas do que você viveu especificamente, às vezes é um pouco mais doloroso de falar, eu acho...” (OIEM). |
Desconforto e insegurança |
“[...] é uma coisa de um desconforto, de uma insegurança, porque quando as pessoas que estão à volta de você parecem privilegiadas, parece muito superiores a você, não sei” (OIEM). |
Estratégias de proteção |
Diminuir para não doer |
“Porque por mais que a gente saiba que tem essa desigualdade toda, a gente prefere, é... meio que diminuir para não doer tanto na gente [...]” (QUAEM). |
Camuflar as desigualdades Quem não viveu vai sentir pena |
“A pessoa, meio que tenta camuflar, gera um desconforto muito grande você chegar e falar todas, assume todas as suas desigualdades, todas as suas mazelas, sendo que aquela pessoa não viveu aquilo e sei lá. Ela vai olhar para você e tipo, que pena, né?” (OIEM). |