Acessibilidade / Reportar erro

Editorial

EDITORIAL

Aos leitores da Educação em Revista, este número oferece um repertório instigante de textos, a começar pelos nove artigos que compõem o dossiê Infâncias na história, organizado por Heloísa Helena Pimenta Rocha e Maria Cristina Soares de Gouvêa. A importância dessa temática é visível pelo expressivo crescimento da produção e de grupos de pesquisa sobre a infância. Com tantas possibilidades de escolha, o argumento organizador da arquitetura desse conjunto de trabalhos propõe que, diante das múltiplas "infâncias", múltiplas também são as possibilidades de contar a sua história. Nessa direção, as autoras reúnem estudos sobre diferentes momentos e contextos históricos, desenhando os possíveis deslocamentos e permanências gerados nesse campo historigráfico.

Mais sete artigos, versando sobre temáticas diversas, levantam questões que vêm desafiando o campo da pesquisa educacional: a problemática étnico-racial, o letramento informacional, a remuneração de professores, o Exame Nacional do Ensino Médio, a educação inclusiva, o estágio e a formação de professores de História, a repercusão das práticas escolares na representação de crianças sobre a escola.

No artigo Pedagogia decolonial e educação antirracista e intercultural no Brasil, Luiz Fernandes de Oliveira e Vera Maria Ferrão Candau fazem uma síntese das discussões propostas pelo grupo "Modernidade-Colonialidade" em torno de questões étnico-raciais no campo da educação no Brasil. Formado preferencialmente por intelectuais latino-americanos, esse grupo conta com a presença do filósofo argentino Enrique Dussel, do sociólogo peruano Aníbal Quijano, do semiólogo e teórico cultural argentino-norte-americano Walter Mignolo, do sociólogo porto-riquenho Ramón Grosfoguel, da linguista norte-americana radicada no Equador Catherine Walsh, do filósofo porto-riquenho Nelson Maldonado Torres, do antropólogo colombiano Arturo Escobar, entre outros. O sociólogo norte-americano Immanuel Wallerstein é também um interlocutor desse grupo. Ao distinguir os conceitos de colonialismo e colonialidade, o artigo põe em realce o conceito de pedagogia decolonial, elaborado por Catherine Walsh e sustentado no pressuposto de "uma práxis baseada numa insurgência educativa propositiva - portanto, não somente denunciativa - em que o termo insurgir representa a criação e a construção de novas condições sociais, políticas, culturais e de pensamento", concebendo a pedagogia como uma política cultural. Ultrapassando o nível do tratamento de conceitos, os autores do artigo nos propõe uma interrogação rumo à mudanças no campo educacional: É possível desenvolver uma pedagogia decolonial, intercultural e antirracista na educação brasileira hoje?

Letramento informacional é o tema do trabalho de Kelley Cristine G. D. Gasque e Ricardo Tescarolo, especialistas em ciência da informação e biblioteconomia. Conforme sugerido pelo próprio título - Desafios para implementar o letramento informacional na educação básica - os autores instigam os educadores a refletir sobre possibilidades de projetos pedagógicos que visem ensinar a aprender, a construir um cidadão reflexivo e autônomo. No momento em que o conceito de letramento entra numa complexa rede de usos e significados, esse artigo oferece a oportunidade de situar uma determinada concepção voltada para o modo como os sujeitos lidam com a informação na sociedade contemporânea e como a escola pode atuar nesse campo do letramento ou da relação dos sujeitos com a informação. Letramento informacional leva em conta, entre outros condicionantes, os conhecimentos prévios, experiências, conhecimentos factuais e processo metacognitivo. Um projeto pedagógico de letramento informacional deverá, segundo as autoras, privilegiar o protagonismo do aluno, que "precisa aprender estratégias que o ajudem a selecionar as informações relevantes para torná-las significativas, isto é, relacionar as novas informações com o que já se conhece para estabelecer uma vinculação entre elas."

A remuneração do professor é baixa ou alta? Esta é a pergunta lançada por Amanda O. Rabelo e complementada pela proposta de uma contra-posição de diferentes referenciais. Envolvendo professores do sexo masculino que trabalham no ensino público primário brasileiro (Rio de Janeiro) e português (Aveiro), o artigo analisa as condições salariais do professor e suas repercussões sobre a escolha profissional e o nível de satisfação com o trabalho docente. Sustentado por uma vasta revisão bibliográfica que atravessa diferentes momentos históricos, o trabalho aponta interessantes aspectos contrastivos próprios ao contexto brasileiro e português.

No trabalho intitulado A performatividade nas políticas de currículo: o caso do ENEM, as autoras Alice Casimiro Lopes e Silvia Braña López analisam documentos relativos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para identificar o tipo de individuo que esses documentos buscam formar. Defendem que o foco desse exame é a formação do indivíduo onicompetente para a eficiência social do sistema. Contudo consideram que, diferentemente de outras épocas, esse exame forma um tipo de individuo centrado na autorregulação de suas performances.

O artigo, de autoria de Fernanda Bazon, Michele Reis e Daniela Eufrásio, intitulado A formação do professor para o ensino superior: prática docente com alunos com deficiência visual, discute a formação de professores universitários no curso de licenciatura em Ciências Biológicas para o atendimento de pessoas com deficiência visual no sistema universitário. As autoras salientam que, apesar das políticas voltadas para propiciar o acesso dos alunos com necessidades educacionais especiais ao ensino regular, inúmeras barreiras são encontradas para que esse processo se efetive, sendo uma delas a formação do professor. Para elas, ainda são grandes as dificuldades encontradas no processo de inclusão, tanto devido a lacunas na formação docente quanto à postura adotada pelo professor em sala de aula.

No artigo intitulado Atualizando a Hidra? O estágio supervisionado e a formação docente inicial em História, Cristiani Bereta da Silva se propõe a pensar o currículo e a formação docente inicial em História, sobretudo a partir do lugar construído para a prática de ensino e estágio supervisionado. Para a autora o que se destaca na formação docente são algumas permanências que seguem atualizando velhos problemas. A partir de elementos da trajetória histórica da disciplina nos últimos 30 anos e de narrativas de professores, a Cristiani Silva retoma os problemas que considera históricos da área e discutindo-os com o propósito de contribuir para o debate sobre a formação docente em História nos dias atuais.

Em Ambientes educativos e conhecimento social: um estudo sobre as representações de escola, Taislene Guimarães e Eliane Giachetto Saravali apresentam parte de uma pesquisa sobre concepções de crianças de 7 a 8 anos a respeito da escola. Contrastando dois ambientes, nomeados pelas autoras como ambiente tradicional e ambiente sócio-moral construtivista, o artigo considera que modos diferentes de organização geram concepções diferentes sobre a escola. Enquanto as crianças inseridas no ambiente tradicional levam em conta somente aspectos materiais da escola, aquelas inseridas no ambiente sócio-moral construtivista incluem também as pessoas e "os aspectos subjetivos e referentes a comportamentos considerados adequados para a caracterização de uma boa escola, o que não ocorre com os alunos do ambiente tradicional". As análises dialogam com estudiosos interessados no conhecimento social, em especial, os estudos de Piaget.

Como o que mais nos interessa são os leitores e as leitoras, desejamos a todos uma ótima leitura, esperando encontrá-los no próximo número de Educação em Revista.

Eduardo Fleury Mortimer (Editor)

Marildes Marinho

Marlucy Alves Paraíso

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Maio 2010
  • Data do Fascículo
    Abr 2010
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antonio Carlos, 6627., 31270-901 - Belo Horizonte - MG - Brasil, Tel./Fax: (55 31) 3409-5371 - Belo Horizonte - MG - Brazil
E-mail: revista@fae.ufmg.br