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Pesquisa qualitativa em Educação Física: possibilidades de construção de conhecimento a partir do referencial cultural

Qualitative research in physical education: possibilities for knowledge building from the cultural frame of reference

Resumos

Este trabalho aponta pressupostos para a pesquisa qualitativa em Educação Física, a partir de revisão de literatura, com base no referencial cultural. Primeiramente, apresentamos o debate sobre as Ciências da Natureza e Ciências Humanas e implicações para a Educação Física; em seguida, partimos de um eixo cultural como base para as pesquisas na área, propondo a "descrição densa" como possibilidade de construção de conhecimento; finalmente, trazemos exemplos de estudos realizados a partir do enfoque em questão. Esse aporte teórico-metodológico permite estudar o ser humano como um ser cultural, contrapondo-se, assim, à visão naturalizada de homem, predominante na Educação Física.

Pesquisa Qualitativa; Cultura; Etnografia; Educação Física


This work indicates presuppositions for the qualitative research in Physical Education, starting with a literature review based on the cultural frame of reference. Firstly, we introduce the debate concerning the natural and the human sciences and implications for the Physical Education; we then use a cultural axis as a ground basis for the research in the area, proposing the 'dense description' as a possibility for knowledge building; finally, we bring up examples of studies conducted with such an approach. This theoretical methodological approach allows the study of the human being as a cultural being, thus opposed to the naturalised view of a human - predominant in Physical Education.

Qualitative Research; Culture; Ethnography; Physical Education


ARTIGOS ARTICLES

Pesquisa qualitativa em Educação Física: possibilidades de construção de conhecimento a partir do referencial cultural

Qualitative research in physical education: possibilities for knowledge building from the cultural frame of reference

Cinthia Lopes da SilvaI; Emerson Luís VelozoII; José Carlos Rodrigues JrIII

UNICAMP

IDoutoranda na Faculdade de Educação Física da UNICAMP / Bolsista CAPES. Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa Educação Física e Cultura (GEPEFIC). E-mail: cinthialsilva@uol.com.br

IIDoutorando na Faculdade de Educação Física da UNICAMP. Docente do Departamento de Educação Física da UNICENTRO. Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa Educação Física e Cultura (GEPEFIC). E-mail: emersonvelozo@yahoo.com.br

IIIMestrando na Faculdade de Educação Física da UNICAMP. Bolsista CNPq. Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa Educação Física e Cultura (GEPEFIC). E-mail: rodriguesjcrj@hotmail.com

Contato

RESUMO

Este trabalho aponta pressupostos para a pesquisa qualitativa em Educação Física, a partir de revisão de literatura, com base no referencial cultural. Primeiramente, apresentamos o debate sobre as Ciências da Natureza e Ciências Humanas e implicações para a Educação Física; em seguida, partimos de um eixo cultural como base para as pesquisas na área, propondo a "descrição densa" como possibilidade de construção de conhecimento; finalmente, trazemos exemplos de estudos realizados a partir do enfoque em questão. Esse aporte teórico-metodológico permite estudar o ser humano como um ser cultural, contrapondo-se, assim, à visão naturalizada de homem, predominante na Educação Física.

Palavras-chave: Pesquisa Qualitativa; Cultura; Etnografia; Educação Física

ABSTRACT

This work indicates presuppositions for the qualitative research in Physical Education, starting with a literature review based on the cultural frame of reference. Firstly, we introduce the debate concerning the natural and the human sciences and implications for the Physical Education; we then use a cultural axis as a ground basis for the research in the area, proposing the 'dense description' as a possibility for knowledge building; finally, we bring up examples of studies conducted with such an approach. This theoretical methodological approach allows the study of the human being as a cultural being, thus opposed to the naturalised view of a human – predominant in Physical Education.

Keywords: Qualitative Research; Culture; Ethnography; Physical Education

INTRODUÇÃO

Para entender o que é fazer pesquisa qualitativa em Educação Física é preciso compreender a tradição acadêmica da área. Isso se dá pelo fato de que este tipo de estudo é de ordem teórico-metodológica diferente das pesquisas realizadas em áreas que lidam com o conhecimento da natureza. Historicamente, a Educação Física tem partido de referenciais teórico-metodológicos das Ciências Naturais para a compreensão do homem e de suas expressões corporais. Seguir essa linha pressupõe certa concepção do que é o ser humano.

Quando vemos alguém fazendo musculação em um parque público, por exemplo, para além do simples gesto biomecânico que envolve contração muscular, flexão e extensão de braços e pernas, há um conjunto de significados que justificam a opção do sujeito por esse tipo de prática.

O conhecimento das ciências da natureza tem como característica a objetividade na sistematização do saber sobre o corpo e das práticas corporais. Voltando ao exemplo do parágrafo anterior, o pesquisador pautado exclusivamente no método das Ciências Naturais pode ter como finalidade de estudo o desenvolvimento de um treino sistematizado para a otimização da aptidão física, porém de maneira descontextualizada e generalizada. Ele se centrará no que há de semelhante entre os homens, o organismo e seu funcionamento, não se preocupando com as diferenças entre eles, diferenças essas que os humanizam, já que não é o organismo que determina as ações dos indivíduos, mas as influências que recebem no meio em que vivem.

A pesquisa em Educação Física tem se constituído predominantemente pela tradição das Ciências da Natureza, cujas interpretações constroem um modelo biologizado de ser humano. Isso fica claro nas considerações de Soares (1994) quando afirma que, desde o século XIX, a Educação Física tem se pautado numa visão anátomo-fisiológica de corpo, inspirada pela filosofia positivista, produzindo, portanto, um conceito a-histórico de corpo humano. A partir dessa tradição, o conhecimento construído implica um conceito de "corpo objeto", cuja abordagem para o seu tratamento é eminentemente biológica e mecânica. Um corpo que pode ser fragmentado, analisado e manipulado segundo os postulados cartesianos. Além disso, os referenciais das Ciências Sociais e Humanas, quando utilizados, conservavam as características da tradição positivista e funcionalista do conhecimento.

Mesmo num período mais recente, pode-se verificar a hegemonia da pesquisa de caráter quantitativo e de enfoque biológico. O Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, por exemplo, importante instituição acadêmico-científica representativa da área da Educação Física, fundado em 1978, nasceu nos moldes do Colégio Americano de Medicina Esportiva, cujo modelo de orientação é o biomédico. No decorrer das décadas de 1980 e 1990, essa instituição sofreu mudanças no seu caráter epistemológico. Foi neste período que os intensos debates acadêmicos questionaram a hegemonia das pesquisas quantitativas e biologicamente orientadas na área da Educação Física. Segundo Daolio (2002), foi somente a partir da década de 1980 que o predomínio biológico na fundamentação acadêmica da Educação Física foi questionado e contraposto.

Há cerca de duas décadas, portanto, a forma tradicional de pesquisa da Educação Física passou a ser questionada com mais intensidade. Profissionais e pesquisadores da área começaram a buscar respostas para seus temas em outros campos do conhecimento: Sociologia, Antropologia, Filosofia, História, ou seja, nas Ciências Humanas1 1 No texto, optamos por utilizar o termo Ciências Humanas de maneira abrangente, mesmo quando nos reportamos às várias disciplinas que podem ser consideradas como pertencentes às Ciências Sociais. , para revisão dos conceitos de corpo, saúde, Educação Física Escolar, lazer, esporte, etc. Essa iniciativa foi fundamental para reconhecer que o ser humano é, ao mesmo tempo, objeto e sujeito na construção do conhecimento. Isso implica uma nova forma de fazer pesquisa para a Educação Física.

A partir das questões discutidas aqui, nos propomos apontar pressupostos para o estudo do ser humano a partir do referencial cultural, centrado nas Ciências Humanas. Para isso, organizamos o texto da seguinte maneira: primeiramente, apresentamos um debate sobre as Ciências da Natureza e as Ciências Humanas e implicações para a Educação Física; em seguida, partimos de um eixo cultural como base para as pesquisas na área, propondo a "descrição densa" como possibilidade de construção de conhecimento; finalmente, trazemos exemplos de estudos realizados a partir do enfoque em questão.

1. O "FAZER" PESQUISA DAS CIÊNCIAS DA NATUREZA E CIÊNCIAS HUMANAS: IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA

É inquestionável que, para a produção do conhecimento, a Educação Física lance mão do suporte teórico e metodológico proveniente de outras áreas do conhecimento como História, Filosofia, Antropologia, Física, Química e Biologia, o que lhe faz estar perto ora das Ciências Sociais e Humanas, ora das Ciências Exatas e Naturais.

Entre as várias disciplinas acadêmicas que constituem a construção do conhecimento na área da Educação Física, podemos considerar dois importantes paradigmas de pesquisa: o quantitativorealista, que tem suas raízes na visão de mundo realista-objetivista; e o qualitativo-idealista, cujas raízes estão na visão de mundo idealistasubjetivista. Ambos tornaram-se hegemônicos nas pesquisas em Ciências Sociais e em Educação a partir da década de 1980, porém suas bases conceituais remontam às idéias do século XIX. A relação entre os dois paradigmas inicia-se com o sucesso e prestígio dos métodos de pesquisa adotados pelas Ciências Naturais. Desta forma, alguns filósofos e pesquisadores acreditavam e defendiam uma unidade das ciências. As Ciências Sociais e Humanas adotariam o mesmo método (já consagrado) das Ciências Naturais (SANTOS FILHO, 2000). No entanto, essa unidade científica significava mais o predomínio de certa concepção de ciência (positivista) do que uma unidade efetiva na construção do conhecimento sobre o ser humano.

Numa certa tradição de pesquisa social, Auguste Comte fundou o positivismo e assinalou esta abordagem como a mais adequada para se obter o conhecimento e comparou as Ciências Sociais às Ciências Físicas, tanto em sua epistemologia quanto em seu método (SANTOS FILHO, 2000). Nessa perspectiva, os objetos sociais mereciam ser tratados da mesma forma que os objetos físicos. Outro ponto defendido pelos positivistas era que a pesquisa em Ciências Sociais deveria ser uma atividade neutra, sem sofrer avaliações ou julgamentos pelo pesquisador social.

A maneira positivista de fazer ciência segue pressupostos já consagrados pelas Ciências Naturais. Santos Filho (2000) afirma que, aplicado à Sociologia, à Psicologia e à Educação, o método científico das Ciências Naturais apresenta três características básicas: (1) o dualismo epistemológico, isto é, a separação radical entre sujeito e objeto do conhecimento; (2) acredita numa ciência social neutra ou livre de valores e; (3) considera que o objetivo da ciência social é encontrar regularidades e relações entre os fenômenos sociais.

A crítica ao positivismo presente nas Ciências Sociais iniciou-se na segunda metade do século XIX e referia-se à demasiada ênfase dada ao lado biológico e social do ser humano, em detrimento da sua liberdade e individualidade. Dilthey2 2 A obra principal de Dilthey é Introdução ao estudo das ciências humanas (1883), em que critica a concepção positivista da explicação (causal e racionalista) e procura compreender a realidade humana, essencialmente social e histórica (cf. JAPIASSÚ; MARCONDES, 1996. p. 72). , um dos primeiros críticos do emprego do positivismo nas Ciências Sociais, afirmava que, nas Ciências Culturais, não se lida com objetos inanimados que existem fora de nós ou com um mundo de fatos externos e cognoscíveis objetivamente. O objeto das Ciências Culturais refere-se aos produtos da mente humana que estão intimamente conectados com valores (SANTOS FILHO, 2000).

Ainda que esse estudioso não estivesse inserido em um momento histórico de intensidade de produções teóricas que questionassem o positivismo, parece que sua grande contribuição foi o fato de romper com a maneira empírico-analítica de produzir conhecimento, própria das Ciências Naturais. Nesse sentido, Dilthey concluía não ser possível a existência de uma realidade objetiva no contexto da realidade humana, pois o que se pode conhecer é que certos eventos significam alguma coisa para certas pessoas que os realizam e vivem por meio deles. Assim, os seres humanos são, ao mesmo tempo, objeto e sujeito de estudo nas Ciências Sociais, sendo estas o estudo de nós mesmos (SANTOS FILHO, 2000).

A regularidade defendida pelo positivismo também é criticada por Dilthey, que aponta para a complexidade da vida social, a variedade de interações, as contínuas mudanças ao longo do tempo e a mudança cultural, o que impede a introdução de leis gerais. Na linha do autor, o dualismo sujeito-objeto das Ciências Naturais não é adequado às Ciências Humanas, e a tarefa do pesquisador nas Ciências Sociais não é descobrir leis, mas engajar-se numa compreensão interpretativa da mente daqueles que são parte da pesquisa (SANTOS FILHO, 2000).

Os paradigmas científicos remontam a certas concepções de pesquisa e também de áreas de conhecimento - Ciências Naturais, Ciências Humanas, Ciências Exatas-, que muitas vezes são entendidas de forma rígida, mais com o intuito de delimitar modelos que lhes dêem garantias de legitimação do que considerar o ser humano na complexidade da vida. Para nos livrar da armadilha das classificações Ciências Naturais, Ciências Humanas, etc., é importante refletir sobre o que afirma Geertz (1997) sobre as divisões do saber científico:

Rubricas abrangentes como "Ciência Natural", "Ciência Biológica", "Ciência Social" e "As Humanidades" têm lá sua utilidade para organizar currículos, ou para separar doutos em grupos exclusivos ou comunidades profissionais, e para distinguir amplas tradições de estilo intelectual. É bem verdade que o tipo de produção que surge em cada uma dessas áreas apresenta algumas semelhanças gerais e algumas diferenças reais entre si. Mas, pelo menos até agora, não existe nenhuma historiografia do movimento; e inércia, em romances, quer dizer outra coisa. Quando essas rubricas, no entanto, passam a ser consideradas mapas da vida intelectual moderna, com limites e territórios, ou, pior ainda, algo assim como um catálogo Linnaean, no qual são classificadas as espécies escolásticas, acabam escondendo o que realmente acontece lá fora, onde homens e mulheres têm suas idéias e escrevem o que pensaram (GEERTZ, 1997. p.15).

Há uma mistura de gêneros que faz com que as diversas áreas do saber apresentem semelhanças e diferenças entre si, e o próprio conceito sobre o que é ou não ciência acaba se tornando pouco estável. Ou seja, o conhecimento acadêmico e, no nosso caso, a área da Educação Física, não pode ter suas potencialidades punidas em virtude de classificações e divisões que só contribuem para a falta de comunicação e para as relações de hegemonia entre as diversas subáreas.

Qualquer intervenção em Educação Física, seja do ponto de vista da Biomecânica, da Bioquímica ou da Fisiologia, é, em última instância, uma intervenção humana. É uma intervenção humana tanto no sentido de que é realizada por humanos quanto no sentido de o objeto ser o "ser humano" e, portanto, um sujeito.

Nos cursos de formação da área, é comum os alunos terem, nos anos iniciais, disciplinas como Anatomia, Fisiologia, Cinesiologia, Biomecânica. Essas disciplinas são direcionadas ao estudo do ser humano como objeto a ser descoberto. Ao tocá-los para identificar os nomes das partes do corpo, suas características e funcionamento, o propósito é a identificação e o reconhecimento de como o corpo é internamente, como um objeto, uma coisa.

Esse tipo de conhecimento apresenta uma concepção de ser humano desprovido de cultura, história, emoção, pensamento, sentidos, como se fosse possível conhecer os sujeitos isolando sua subjetividade, seu contexto social e sua história de vida. Algo próximo à concepção "estratigráfica" de ser humano, citada e contraposta por Clifford Geertz. Nessa concepção, os fatores biológico, psicológico, social e cultural são compreendidos como níveis superpostos um ao outro, de maneira que o mais profundo – o biológico – seria a base de sustentação dos demais. Seguir essa linha de pensamento significa analisar o ser humano por camadas. Se fosse possível "descascá-lo", a camada mais superficial seria a cultura, a responsável por tornar os seres humanos diversos entre si. Logo abaixo, estariam as regularidades de estrutura e organização social. Mais uma camada retirada e a identificação do fator psicológico, responsável pelas características que demarcam a individualidade, e, mais profundamente, "a base do edifício" da vida, os fundamentos biológicos (GEERTZ, 1989).

Na perspectiva apresentada, o ser humano não é visto como síntese dos fatores biológico, psicológico, social e cultural, mas como uma reunião desses elementos. Perde-se, assim, a própria dinâmica cultural porque se busca a compreensão do homem repartido, fragmentado. Talvez esse caminho justifique, nos cursos de Educação Física, a predominância das disciplinas direcionadas aos conhecimentos biológicos logo nos primeiros anos de faculdade. A idéia parece ser conhecer primeiro "a base do edifício" da vida, para depois conhecer as diversas possibilidades de viver/ser humano. Isso quando os conhecimentos biológicos não são exclusivos durante todos os anos de curso.

Essa maneira de estudar e pensar provoca questionamentos e contrapontos. A simples identificação dos sistemas orgânicos também não é uma construção humana, de determinada sociedade e de sujeitos – biólogos, médicos, professores de Educação Física, cientistas – que explicam a vida dessa maneira específica? Coração, pulmão, ossos, músculos falam por si mesmos? Há como compreender as questões humanas dissociando o corpo matéria dos valores e do contexto cultural?

A concepção sintética de homem, definida por Geertz (1989), esclarece essas questões. O autor parte do olhar para a unidade entre forma de fazer (gestos, práticas, rituais, etc.) e significado, de maneira que estudar o ser humano é identificar suas particularidades e diferenças. Nessa concepção, não faz sentido pensar o homem por camadas, como se elas pudessem ser analisadas separadamente, sendo posteriormente reunidas para explicar o que o homem é e faz.

As disciplinas provindas das Ciências Humanas e Ciências Biológicas são imprescindíveis para a formação do profissional de Educação Física. Entretanto, é fundamental (re)conhecer os limites desses conhecimentos. Assumir uma posição científica e pedagógica – portanto, política – de intervenção de Educação Física, a partir de um referencial cultural, é atuar no e por meio do corpo e escrever certos textos em um contexto específico. As Ciências Humanas e Sociais não só complementam, mas humanizam a área da Educação Física.

Para pensar a área da Educação Física a partir das Ciências Humanas é também necessário delimitar: de que referencial dessas ciências estamos falando? Quais autores, teorias, valores, visões de sociedade e de mundo? Essas questões talvez ajudem a esclarecer a perspectiva assumida de Educação Física por parte do pesquisador e de cercar um certo tipo de pesquisa.

Grosso modo, há um grupo de pesquisadores que partem dos referenciais das Ciências Sociais e Humanas com o intuito de estudar valores, crenças, significados, interesses de certos grupos e sociedades, particularidades, relações de poder, etc. Esse grupo pode ser exemplo do que aqui entendemos por pesquisa qualitativa.

Para esclarecer o que é pesquisa qualitativa, partimos de pressupostos/critérios apontados por Minayo (2003), que delimitam o fazer pesquisa nas Ciências Sociais e Humanas.

O primeiro critério citado pela autora é o fato de o objeto de estudo das Ciências Sociais ser histórico. Para compreender o que os sujeitos são, como pensam e vivem, é necessário estabelecer relações com o passado. O contexto social atual é marcado por constante embate entre o que está dado e o que está sendo construído. Daí as características fundamentais para qualquer questão social: a provisoriedade, o dinamismo e a especificidade (MINAYO, 2003).

Decorrente desse primeiro critério está o fato de o objeto de estudo das Ciências Sociais possuir consciência histórica. Ou seja, não é somente o pesquisador que atribui sentido ao seu trabalho, mas também os sujeitos e grupos participantes da pesquisa expressam uma intencionalidade em suas ações.

Ao estabelecer contato com sujeitos que realizam certas práticas corporais, podemos ter acesso aos significados atribuídos ao corpo e à tais práticas, teremos, então, condições de identificar os porquês de determinadas ações, mas não no sentido utilitarista, típico de uma visão naturalizada de homem, mas como uma construção cultural e coletiva. Ao relacionar o que os sujeitos dizem e fazem com o contexto social em que vivem, teremos pistas do que são certos fenômenos como o lazer, a busca pela beleza corporal, o trabalho, a construção de políticas públicas, entre outros temas.

O terceiro critério apresentado por Minayo (2003) para a realização de pesquisa nas Ciências Sociais é assumir o fato de que o objeto de estudo dessas ciências constitui-se também em sujeito. Por lidar com seres humanos, o pesquisador possui uma comum identidade com seus pesquisados. Isso implica o fato de a pesquisa ser uma construção conjunta entre ambos.

O quarto aspecto distintivo das Ciências Sociais é o fato de ela ser intrínseca e extrinsecamente ideológica, portanto, é parcial. Há o reconhecimento de que as ações que orientam tanto o pesquisador quanto os pesquisados expressam certas visões de mundo, historicamente construídas. Esta visão, por sua vez, é parte de todo o processo de construção de conhecimento e, portanto, da concepção de objeto de estudos, realização da pesquisa e de seus resultados (MINAYO, 2003).

O último aspecto é referente ao fato de o objeto das Ciências Sociais ser essencialmente qualitativo. A intervenção dar-se-á na própria realidade de vida, no contexto escolar, no parque, na academia de ginástica, na praça, no bairro e assim por diante. Com isso, há que se reconhecer os limites desse estudo. Não é intenção, e nem poderia ser, estudar determinado tema tentando atingir a totalidade que envolve os fenômenos sociais, a realidade de vida é muito mais rica, complexa e abrangente do que qualquer estudo pode descrever ou analisar. No entanto, o que será apresentado ao término das pesquisas é um recorte que represente a dinâmica que cerca os grupos estudados, reconhecendo que quaisquer descrições e análises serão sempre incompletas, imperfeitas e insatisfatórias (MINAYO, 2003).

Na área da Educação Física, em particular, a produção e a publicação de pesquisas baseadas em pressupostos de um estudo qualitativo têm sido intensificadas nas últimas décadas. As primeiras publicações nesse âmbito ocorreram a partir do final da década de 1970, com as obras A Educação Física cuida do corpo... e 'mente', de João Paulo S. Medina (MEDINA, 1989), em que o autor critica o fazer da área focado predominantemente no corpo como objeto, e não nos significados das ações humanas. A publicação do livro Metodologia do ensino da Educação Física (COLETIVO DE AUTORES, 1992) é outro exemplo de estudo centrado em um eixo sociocultural. Com uma discussão na metodologia do ensino de Educação Física na escola, os autores partem da noção de cultura corporal como finalidade da ação pedagógica dessa disciplina escolar, em contraponto à concepção de ações pedagógicas com finalidade de melhoria da aptidão física dos sujeitos.

Desde então, diversos autores têm contribuído com seus estudos de viés qualitativo para o debate na Educação Física, a partir de temas e de matizes teóricas orientadas por um referencial sociocultural, tais como: Educação Física e Saúde Coletiva (CARVALHO, 2001a, 2001b, 2006), corpo/corporeidade (FENSTERSEIFER, 2001, 2006), (SILVA, 2001), história do corpo (SOARES, 1998), Educação Física escolar (DAOLIO, 1995, 2004), (BRACHT, 1992), Educação Física e mídia (BETTI, 1998, 2003), (PIRES, 2003), entre outros.

Esses autores têm orientado monografias de graduação, iniciações científicas, dissertações de mestrado e teses de doutorado e têm formado grupos de estudo e pesquisa que alimentam e atualizam o debate na área da Educação Física. Exemplo disso são as produções do Grupo de Estudo e Pesquisa Educação Física e Cultura (GEPEFIC), que tem influenciado a elaboração de trabalhos que serão apresentados a seguir, no âmbito da pesquisa etnográfica.

Os pressupostos apontados aqui delimitam o que entendemos por pesquisa qualitativa e instiga a assumir determinada posição dentro do debate sobre as Ciências Humanas e Sociais para pensar a Educação Física. Adiante, procuramos esclarecer essa questão.

2. A EDUCAÇÃO FÍSICA PELO REFERENCIAL CULTURAL: PRINCÍPIOS PARA UMA"DESCRIÇÃO DENSA"

Direcionar o olhar para a complexidade da vida e suas possibilidades implica ver o que parece invisível, intocável, que não pode ser medido, pesado, comprovado: o significado das ações humanas, ou seja, a leitura do "outro" e dos fatos sociais como texto3 3 Para M. Bakhtin, o ponto de partida de qualquer tema que seja discutido com base nas Ciências Humanas é o texto. . Isso significa considerar o sujeito como agente, atuante na sociedade em que vive e estudá-lo a partir das mediações realizadas com outros de seu meio.

Para Bakhtin (2003), as emoções, lembranças, percepções que se tem são mediadas pela relação com o outro. O autor facilita a compreensão desse conceito ao dar como exemplo o lidar com a perda, a morte de uma pessoa próxima. Só é possível saber o que é esse sentimento passando por essa situação. Os processos biológicos de nascimento e morte de si próprio são marcas do tempo. A composição da estética do mundo, a visão que temos do mundo, depende da relação com os outros que participam de nossa existência. Os sentimentos, significados e enunciações captadas compõem a vida interior e exterior. Um exemplo disso é quando vemos alguém realizando práticas corporais (corrida, caminhada, musculação, ginástica, etc.). Os significados atribuídos a essas manifestações são mediados pela visão de mundo do praticante e pelas influências recebidas de seu meio social. Essa discussão é de grande contribuição para ampliar o conceito de práticas corporais. Faz contraponto ao sentido restrito do termo atividade física4 4 Segundo Carvalho (2001ª, p. 69), "o termo atividade física carrega toda e qualquer ação humana que comporte a idéia de trabalho como conceito físico. Realiza-se trabalho quando há gasto de energia". , para ser pensada como manifestação coletiva, ou seja, inserida em determinada dinâmica sociocultural.

O corpo, estudado pelo referencial cultural, é considerado como síntese e não como fragmento. Síntese de determinado contexto, de uma identidade social. Aí está presente a construção ao mesmo tempo individual e coletiva de ser humano. As marcas inscritas no corpo, as pinturas, as roupas, os adornos, a maneira como se gesticula, as práticas corporais que se realiza são registros de um tempo, de um contexto social específico. O que torna o sujeito parte de uma sociedade é o modo como ele identifica essas marcas, as significa, de como quer ser visto.

Para a compreensão dos significados das ações humanas em determinada sociedade é necessário identificar as intenções, as emoções, as expressões que os diferentes sujeitos realizam, a posição ocupada por eles no contexto em que vivem, suas condição e história de vida, as enunciações expressas e (re)conhecer a si próprio como sujeito e, ao mesmo tempo, como outro.

Por exemplo, realizar pesquisa em Educação Física Escolar a partir da base das Ciências Humanas, mais especificamente apoiando-se nos conceitos de Bakhtin (2003), implica justamente compreender a aula como prática social que depende da interação entre os sujeitos envolvidos, sobretudo professores e alunos, de suas visões de mundo, vivências e compreensões a respeito do corpo e das influências que circulam no meio em que ambos estão inseridos, demarcando certa intenção e certo projeto para a realização dessa intenção, expresso pela ação pedagógica. Para esse modo de fazer pesquisa, talvez seja necessário um aporte teórico que situe o debate acadêmico da própria área.

Betti (2002) afirma que a Educação Física não é uma disciplina científica, mas uma área de conhecimento e intervenção pedagógica que expressa projetos sociais e historicamente condicionados e, no âmbito escolar, a Educação Física objetiva a apropriação crítica da cultura corporal de movimento. Talvez, mais importante do que determinar se a Educação Física é uma ciência ou uma prática pedagógica seja investigar as implicações que a incorporação de práticas científicas tem gerado para esta área de conhecimento. Assim como Betti, vários autores da Educação Física brasileira consideram que o objeto de estudo da área é a cultura corporal, também chamada de cultura corporal de movimento, cultura de movimento ou cultura física5 5 Neste texto, não temos o intuito de uma discussão mais aprofundada sobre esses termos. Usaremos essas expressões de maneira abrangente em relação às manifestações corporais: esporte, danças, jogos, ginásticas, lutas, mímica, etc. . A cultura corporal pode ser considerada como uma parte da cultura humana que se relaciona com os aspectos do homem relativos ao corpo.

Há cerca de duas décadas, a Educação Física começou a ser pensada na perspectiva da cultura corporal, pois todas as manifestações humanas originam-se, desenvolvem-se e orientam-se no seio de um contexto específico. O termo "cultura corporal" está bastante presente na Educação Física, porém, segundo Daolio (2004), o principal problema é a compreensão, muitas vezes superficial, que o conceito de cultura adquire na área, como, por exemplo, sua compreensão como conseqüência da maturação do sistema nervoso.

Daolio (2004) afirma que a Cultura é a principal categoria para o estudo da Educação Física, pois todos os elementos tematizados pela área estão inseridos em um contexto específico. Ao problematizar o conceito de cultura, presente nas obras de vários autores da Educação Física brasileira, Daolio, com base nas idéias de Clifford Geertz, sugere um "modelo mais dinâmico" (que contrapõe a concepção estratigráfica de homem) e procura contemplar, de "forma espiralada", a discussão sobre o modo de abordagem e compreensão do ser humano. Esse formato espiral enfatiza a inter-relação e a comunicação das dimensões motora, psicológica, social e cultural, contribuindo para a substituição de uma visão fragmentada por uma compreensão sintética de homem.

Baseados na perspectiva da cultura como categoria central para a compreensão do sujeito é que acreditamos em uma Educação Física que considere o outro – o aluno na escola, o atleta, o freqüentador de academia – a partir de uma relação intersubjetiva e que assuma humildemente os limites da ciência. Nesse sentido, a atuação sobre o ser humano deverá considerar que as manifestações corporais são parte de uma dinâmica cultural e, portanto, são simbólicas.

As idéias de Geertz (1997) podem contribuir para o aprofundamentos na discussão. O autor associa o pensamento (conhecimento) à noção de cultura. Os conhecimentos não podem ser apreendidos por leis gerais, na medida em que são construções culturais. Isso não é negar que as ciências produzam conhecimentos verdadeiros e úteis (isso seria no mínimo ingenuidade ou demonstração de desconhecimento total do que é a ciência), mas considerar que a própria ciência e o conhecimento que ela produz são determinados culturalmente.

Se, por um lado, a cultura da Educação Física começa a ser apropriada pela ciência, ou seja, seus elementos, os jogos, os esportes, as ginásticas, as danças e as lutas começam a ser estudados academicamente, por outro lado, o que convencionalmente chamamos de ciência deve ser considerado também como fenômeno cultural. Há grupos sociais que não conhecem a ciência do modo como conhecemos, mas têm sua própria "ciência", seu próprio modo de saber. E este modo de saber particular pode funcionar muito melhor para determinados sujeitos do que os nossos modelos fundados a partir da racionalidade e da objetividade ocidentais. É como se, para tais comunidades, a objetividade e a racionalidade vigentes fossem outras.

Podemos considerar que a Educação Física é uma comunidade específica que se dedica ao estudo da cultura corporal, assim como há uma comunidade de antropólogos que estuda a cultura de forma mais geral. A aproximação da Educação Física com as Ciências Humanas possibilita estudar os temas dessa área a partir de diferentes olhares e com objetivos específicos.

O percurso metodológico que tem como intenção a interpretação dos significados das ações humanas distingue-se das ciências da natureza pelo seu próprio objeto de estudos: "um ser falante e expressivo" (BAKHTIN, 2003. p. 395). Quando buscamos identificar o porquê de certo piscar de olhos, aperto de mãos, da realização de práticas corporais em parques públicos, na escola, na praça, no clube para determinado grupo social, estamos nos aproximando do olhar das Ciências Humanas e de uma possível interpretação do que tais expressões significam para certos sujeitos. No entanto, a "leitura" do símbolo será sempre mediada pela subjetividade do pesquisador, dos encontros e confrontos com os pesquisados, pelas entrelinhas dos porquês durante o contato com os sujeitos participantes. Nesse sentido, a interpretação do símbolo será sempre uma racionalização possível, sem deixar de permanecer símbolo. Segundo Bakhtin (2003, p. 398), "(...) toda interpretação do símbolo permanece ela mesma símbolo, só que um tanto racionalizado, isto é, um tanto aproximado do conceito".

Essas idéias são próximas do que afirma o antropólogo norteamericano Clifford Geertz. Para o autor, o conceito de cultura abrange a construção de uma rede de significados produzida pelos grupos sociais em seu cotidiano e sua interpretação. Para que essa rede possa ser estudada, pesquisada e conhecida é necessário pensar uma nova forma de fazer ciência. Nesse sentido, Geertz (1989, p. 15) afirma que: "(...) se você quer compreender o que é a ciência você deve olhar, em primeiro lugar, não para as suas teorias ou para as suas descobertas, e, certamente não para o que seus apologistas dizem sobre ela; você deve ver o que os praticantes da ciência fazem".

Em Antropologia, ou na Antropologia Social, o que fazem os praticantes é a etnografia, diz Geertz, que busca não uma ciência experimental à procura de leis, mas uma ciência interpretativa à busca de significados. Em Sociologia, Biologia, Psicologia e em todas as outras ciências se fazem coisas diferentes. Usam-se metodologias diversas, com visões de mundo diferentes. Dessa forma, os paradigmas não são os mesmos entre as ciências e também dentro de cada uma delas. Existem físicas, biologias, sociologias, psicologias. Na prática, os antropólogos vão a campo, os físicos vão aos laboratórios e os médicos vão aos hospitais de clínicas. Fazem coisas específicas, o que leva a conhecimentos singulares. Entre tantas coisas que distinguem as ciências e dificultam uma ampla compreensão do que ela é, Geertz nos indica um caminho a ser considerado: ver o que os praticantes da ciência fazem.

(...) praticar etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário, e assim por diante. Mas não são essas coisas, as técnicas e os processos determinados, que definem o empreendimento. O que o define é o tipo de esforço intelectual que ele representa: um risco elaborado para uma "descrição densa" (GEERTZ, 1989, p.15).

Ou seja, ao aproximar-se de grupos sociais específicos para compreender o que fazem, como fazem e como justificam aquilo que fazem, a tentativa é identificar o significado de suas ações e, especificamente na Educação Física, o estudo do corpo e das práticas corporais. Para isso, são necessários não somente observações, anotações, questionamentos, entrevistas, mas um esforço intelectual para interpretar o que fazem e dizem. Essa interpretação é feita procurando identificar o não-dito.

Ao descrever todas as informações recebidas e observadas, procuramos realizar algo próximo a uma "descrição densa" (GEERTZ, 1989), ou seja, realizar uma interpretação das estruturas significantes relacionadas ao corpo e às práticas corporais. Geertz (1989) é cauteloso ao reconhecer os limites da prática etnográfica, afirmando que se trata de uma interpretação de segunda e terceira mão, já que somente o sujeito da pesquisa faz a interpretação em primeira mão, pois é a sua cultura que está sendo descrita. Trata-se, portanto, de uma construção por parte do pesquisador. Ao reconhecer esses limites, o autor identifica três características da descrição etnográfica: "(...) ela é interpretativa; o que ela interpreta é o fluxo do discurso social e a interpretação envolvida consiste em tentar salvar o "dito" num tal discurso da sua possibilidade de extinguir-se e fixá-lo em formas pesquisáveis (...)" (GEERTZ, 1989. p. 31).

Há ainda uma quarta característica que o autor identifica em seu modo de praticar a etnografia – "ela é microscópica" (GEERTZ, 1989. p. 31). Essa parece ser uma característica que delimita o campo do pesquisador, embora o autor reconheça que isso não significa que não haja interpretações antropológicas em grande escala, de sociedades inteiras. Pelo contrário, o autor propõe uma extensão das análises a contextos mais amplos, ou seja, ao fazer uma descrição densa da cultura de grupos ou sociedades específicas, o antropólogo parte de tal contexto para compreender questões mais amplas da estrutura social.

No âmbito da Educação Física brasileira, as pesquisas realizadas a partir do enfoque sociocultural, de cunho qualitativo, têm aumentado de forma significativa nos últimos anos. Isso parece demonstrar uma preocupação maior por parte dos pesquisadores, nessas últimas décadas, em estudar temas relacionados às questões culturais, crenças, significados e costumes de diferentes grupos sociais. Não de maneira marginal, como um estudo complementar às preocupações centrais da área, mas como o próprio eixo de discussão acadêmica. Exemplo disso são as produções do Grupo de Estudo e Pesquisa Educação Física e Cultura (GEPEFIC)6 6 Este grupo de estudos está em atividade desde 2000 e é coordenado pelo Prof. Dr. Jocimar Daolio, da Faculdade de Educação Física da Unicamp. Atualmente, é composto por estudantes de graduação, pós-graduação e pesquisadores interessados na discussão da Educação Física a partir do enfoque cultural. As linhas de pesquisa são: 1. Corpo e Cultura; 2. Educação Física Escolar; 3. Futebol e Cultura; e 4. Pedagogia do Esporte. , atualmente com projetos, teses e dissertações em andamento, além dos trabalhos individuais e coletivos de seus membros, tendo o conceito de cultura e a etnografia pensada a partir da "descrição densa" como categoria central para pensar a Educação Física.

É preciso certo entendimento do que é cultura para pensá-la como base para as questões e os problemas da Educação Física. Nesse ponto, a opção teórico-metodológica do GEPEFIC tem sido a Antropologia Social, especificamente os estudos de Clifford Geertz. A Educação Física que nos propomos pensar faz pesquisa de cunho qualitativo, utilizando o referencial etnográfico. Essa aproximação é uma renovação conceitual para a área, tanto no sentido do produto quanto no do processo de construção de conhecimento.

3. POSSIBILIDADES DE ETNOGRAFIA NA EDUCAÇÃO FÍSICA

Apresentamos a seguir três temas de pesquisas do GEPEFIC. A tentativa é de olhar certas questões-problemas da Educação física pelo referencial cultural e de apontar possibilidades de realização de "descrições densas" na área. Os critérios seguidos para os comentários dos temas são: 1. o que foi realizado na pesquisa; 2. como o trabalho foi desenvolvido; e 3. as possibilidades de construção de conhecimento a partir de tal referencial teórico-metodológico e suas contribuições à Educação Física.

A opção pelos três exemplos de pesquisa se deve ao fato de que eles possuem um eixo que os aproxima: são orientados teóricometodologicamente pelos pressupostos da antropologia interpretativa de Clifford Geertz. A etnografia – ou etnologia, na tradição francesa – possui diferentes orientações, de acordo com a escola antropológica à qual esteja vinculada. Entre as várias etnografias possíveis, portanto, as pesquisas exemplificadas neste texto seguem aquilo que Geertz (1989) chamou de "descrição densa" de uma hierarquia estratificada de estruturas significantes.

Os significados das práticas corporais para freqüentadores de um parque público7 7 Este tema é parte da dissertação de mestrado intitulada A "midiação" das práticas corporais: significados da musculação para freqüentadores de um parque público. O trabalho foi defendido no ano de 2003, na Faculdade de Educação Física da Unicamp, sob orientação do Prof. Dr. Jocimar Daolio.

Este trabalho teve como objetivo analisar os significados que sete freqüentadores de um parque público da cidade de Campinas-SP atribuem à musculação e como compreendem as influências da mídia na difusão de informações e imagens sobre o corpo e as práticas corporais. Para isso, partiu-se dos pressupostos da pesquisa qualitativa, mais especificamente das idéias de Clifford Geertz sobre a realização de uma "descrição densa". A tentativa foi interpretar os significados atribuídos pelos sujeitos às práticas corporais, à musculação e às influências da mídia.

Esse caminho teórico-metodológico envolveu revisão de conceitos dos temas corpo, beleza corporal, saúde, influências da mídia, tendo como base o referencial cultural. Como dito anteriormente, o corpo, para além de seu funcionamento orgânico, é uma construção de sujeitos inseridos em determinado contexto cultural. Estudar os significados que os entrevistados atribuem à musculação no parque é seguir as "teias" de significados que os orienta, teias essas construídas coletivamente, culturalmente.

A revisão de conceitos e o aprofundamento bibliográfico foram o primeiro passo da pesquisa, para, só então, ser iniciado o contato com os freqüentadores do parque, na pesquisa de campo. A opção pelos praticantes de musculação foi feita considerando o fato de os sujeitos estarem em uma área mais ou menos delimitada no parque, permitindo, assim, um acompanhamento mais próximo das atividades realizadas e favorecendo a interação com os mesmos.

Entre vários sujeitos que freqüentam o espaço da musculação no parque, tivemos contato mais aproximado com sete deles. Foram marcados vários encontros que compunham entrevistas, observações, comentários sobre o que fazem e como constroem cotidianamente os significados atribuídos à musculação e a outras práticas realizadas no parque, com os outros sujeitos.

Para as entrevistas formais, duas perguntas iniciavam as conversas: 1. Qual o significado da musculação e das outras práticas que você realiza aqui no parque?; 2. Você percebe as influências da mídia nessa(s) opção(ões)? Essas questões eram elaboradas a cada encontro de maneira diferente, mas com o mesmo intuito: identificar os significados que tais sujeitos atribuem às práticas que realizam e como entendem as mensagens difundidas pela mídia referentes ao corpo e às práticas corporais.

As respostas dadas eram diversas a cada encontro realizado. Por exemplo, um dos entrevistados comentava, em um primeiro momento, que fazia musculação no parque porque criava vínculos com outros sujeitos, fazendo novas amizades. Em outro encontro, o mesmo sujeito mencionava preocupação com sua magreza, afirmando que teve épocas do ano que consumiu produtos específicos para o aumento de massa muscular, citando, inclusive o nome do produto. Em outro momento, menciona preocupação com a saúde. Com relação à mídia, esse mesmo sujeito negou, em certos momentos, ser influenciado pelas informações dos meios de comunicação, reconhecendo que esses transmitem certos padrões corporais de beleza (de corpo "sarado", "bombado") e que não achava isso interessante. Em outro momento, disse que realiza as práticas corporais para ficar com o corpo "em forma", ficar com um corpo "legal". Esses são apenas exemplos das conversas que tivemos e como a identificação dessa rede de significados que orienta os sujeitos em suas práticas expressa certas "contradições", sutilezas que dão pistas para a sua interpretação.

Realizar uma "descrição densa" é seguir essas sutilezas, considerar o que, em primeiro momento, parece confuso, contraditório, desconexo. Partir dessas "pistas" para dar conta de uma explicação teórica. Ou seja, foi feito um esforço intelectual para interpretar o que os participantes da pesquisa dizem e fazem. Por exemplo, como se dá a construção da beleza corporal no contexto social em que os sujeitos vivem? O que a mídia transmite? Por que eles buscam mudanças corporais? Qual a relação entre as mudanças corporais e a construção de seus papéis sociais? Qual a relação entre beleza corporal e saúde? O que as imagens e mensagens difundidas na atual sociedade afirmam?

Ao cruzar esses dados, tentamos sustentar certa posição e a possibilidade de interpretação, aproximando a base teórica estudada dos dados da pesquisa de campo.

Esse tipo de pesquisa contribui com a Educação Física no sentido de permitir o acesso ao conjunto de significados que certos grupos atribuem às práticas que realizam, lançando pistas para uma atuação profissional que considere a dinâmica cultural em que os sujeitos estão inseridos. A construção de conhecimento pela pesquisa se dá à medida que permite identificar como grupos e sociedades específicas constroem suas "teias" de sentidos que são, em primeiro momento, invisíveis, estranhas ou familiares demais ao olhar do pesquisador e aos profissionais de Educação Física.

Os saberes nas aulas de Educação Física escolar: uma visão a partir da escola pública8 8 Este tema é parte da dissertação de mestrado intitulada Os saberes nas aulas de Educação Física escolar: uma visão a partir da escola pública. O trabalho foi defendido no ano de 2004, na Faculdade de Educação Física da Unicamp, sob orientação do Prof. Dr. Jocimar Daolio.

O objetivo desta pesquisa foi compreender como é construída a especificidade do conhecimento veiculado pela Educação Física escolar. Questões como: o tipo de saber veiculado (científico, senso-comum, razão mítica, etc.); sua origem (curso de graduação, cursos e palestras, livros, experiência, etc.); seu conteúdo (esportes, danças, jogos, ginásticas e lutas, entre outros) constituíram o tema central do trabalho.

O estudo contou com revisão bibliográfica, a partir da Teoria do Conhecimento – a Filosofia Anarquista de Paul Feyerabend –, da Antropologia – a etnografia de Clifford Geertz – e do pensamento acadêmico da Educação Física, pela qual foi possível construir um olhar para o contexto a ser investigado.

A análise e a discussão das aulas e das entrevistas mostraram o trato dos professores em relação ao saber da Educação Física, ou seja, como concebem, elegem e trabalham com o conhecimento e os conteúdos da área, e como entendem o papel da Educação Física no cenário da Educação escolar.

É possível compreender o modo de realização das aulas de Educação Física como uma expressão da cultura escolar, cultura esta que é passível de descrição densa. Para tal, consideramos alguns empreendimentos tradicionalmente associados à etnografia: a observação participante, a entrevista e a análise de documentos.

Foram observadas 20 aulas de três professoras em turmas do 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental, ministradas em escolas públicas do município de Irati, no estado do Paraná. Complementarmente à observação das aulas, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com as professoras e ainda uma análise dos currículos dos cursos de graduação em que as mesmas se formaram.

A observação participante foi imprescindível neste estudo, pois "ver" e "interagir" pode ser mais rico do que apenas ouvir os depoimentos dos professores. O modo como as professoras resolvem os problemas do seu cotidiano dificilmente poderia ser visualizado por entrevistas ou pela simples entrega de questionários. Nesse sentido, as entrevistas foram complementares às observações, auxiliando na busca da coerência entre o que as professoras faziam e o que falavam sobre o que faziam.

A dinâmica que as aulas de Educação Física assumem nas escolas estudadas parece estar atrelada à tradição que a área possui, configurando certo estilo de ser, em que certas práticas são mitificadas como se fosse a forma natural e imutável de Educação Física. As aulas de Educação Física pareceram estar pouco atreladas aos saberes acadêmicos. Ao contrário, os problemas do cotidiano escolar são resolvidos a partir de ações com base mais no senso comum (ou no bom senso) do que em investigações científicas ou filosóficas.

Os saberes nas aulas de Educação Física parecem sofrer uma determinação cultural. Assim, o conhecimento não está simplesmente nos conteúdos que são ensinados pelo professor, mas é algo que está presente em todas as ações realizadas pelos atores da escola. Os valores, interesses, ideais, entre várias outras coisas, norteiam as ações dos sujeitos, dentro e fora da escola, e isso contribui para a formação da visão de mundo desses indivíduos.

Percebemos grande envolvimento das professoras com a ação pedagógica, buscando, na própria tradição das aulas, a solução para os problemas. Nesse sentido, as questões teóricas da Educação Física acabam se afastando do cotidiano das professoras e as aulas são balizadas pela tradição da prática. A discussão acadêmica fica, dessa forma, em segundo plano, exercendo pouca influência ou mudança na docência e, conseqüentemente, nos saberes tratados em aula.

O motivo da escolha da pesquisa etnográfica se deu pela origem deste tipo de pesquisa. A etnografia é o trabalho do antropólogo na tentativa de descrever a cultura e é caracterizada por ser uma "descrição densa" A noção de descrição densa, emprestada do filósofo Gylbert Ryle, evidencia o objeto da etnografia: "uma hierarquia estratificada de estruturas significantes" (GEERTZ, 1989. p. 17).

A pesquisa etnográfica da Educação Física escolar pode fazer emergir fatos ainda obscuros sobre a prática pedagógica e levar a uma melhoria na discussão sobre a construção do saber nas aulas de Educação Física.

A compreensão de professores de educação física sobre o conhecimento prévio de seus alunos9 9 Este tema é parte da dissertação de mestrado intitulada A compreensão de professores de educação física sobre o conhecimento prévio de seus alunos. O trabalho encontra-se em andamento, na Faculdade de Educação Física da Unicamp, sob orientação do Prof. Dr. Jocimar Daolio.

A pesquisa de cunho qualitativo com o intuito de uma "descrição densa" nos permite um olhar bastante particular, preocupado com os significados que nos possibilitam chegar aos motivos e aspirações que permeiam as ações humanas. Estes são revelados nos contextos em que os indivíduos estão inseridos, por meio das relações estabelecidas, dos gestos realizados, das falas dos diferentes atores sociais e de certas atitudes.

Diante disso, a criança que chega às séries iniciais do processo de escolarização detém conhecimentos, certa bagagem cultural construída ao longo de sua convivência no seio da cultura em que está imersa, no ambiente familiar, em seu círculo de amizades e na interação com diferentes fontes de informação, como a televisão e o rádio. O professor poderá partir do conhecimento prévio do aluno para a construção de sua ação pedagógica.

O professor atento a esse fenômeno pode proporcionar em suas aulas momentos nos quais os educandos revelem seus conhecimentos, e esses poderão ser grande fonte de saber para uma prática docente que encaminhe discussões, no sentido de levar em consideração a realidade do aluno.

Essa forma de abordagem terá como intuito a re-significação dos conhecimentos adquiridos até então, havendo grande possibilidade para o professor favorecer a construção de novos conceitos e diferentes visões sobre o que está sendo estudado, ampliando a bagagem de conhecimentos dos alunos. Dessa forma, o professor estará contribuindo para a diminuição do vazio entre a realidade dos alunos e o escopo de conhecimento a ser socializado pela escola. Como aponta Daolio (2002)

A educação física escolar (...) não deve ser vista como a área que apenas e tão somente irá ensinar aos alunos as técnicas "corretas", (...) mas a área que vai partir da dinâmica cultural específica de seus alunos no que se refere às questões do corpo, do movimento, dos esportes, etc. para ampliá-la, discuti-la, confrontá-la, refutá-la, enfim, tornar o aluno um sujeito emancipado e autônomo nas questões corporais (DAOLIO, 2002. p. 94).

Essa é uma das temáticas para as quais o grupo tem voltado o olhar, na tentativa de compreender as ações de professores e propor formas diferenciadas de atuação na escola. O conhecimento prévio é condição imprescindível para uma prática escolar efetiva, devendo sua compreensão e sua utilização serem consideradas pelo professor.

Este estudo procura, por meio da etnografia, construir elementos que tragam respostas às seguintes questões: Como o professor de Educação Física lida, em seu fazer pedagógico, com o conhecimento prévio de seus alunos? Como se dá esse processo no contexto da aula?

Acreditamos que a etnografia é um caminho profícuo para que possamos interpretar e chegar ao "fluxo do discurso social" que os professores produzem ao mediarem e intervirem nas relações estabelecidas em suas aulas.

A ação pedagógica que se inicia pela apropriação e pela transformação do conhecimento prévio do aluno é considerada, neste trabalho, como eixo principal que pode encaminhar (tanto aluno quanto professor) a uma atuação mais autônoma, crítica, criativa, interessante e motivadora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tratamento que a Educação Física historicamente deu para as manifestações corporais, considerando o corpo como um conjunto de células, nervos, ossos e músculos, acaba negando todo o significado que o corpo possui como produto da cultura. Se tentássemos construir uma epistemologia do corpo, talvez pudéssemos afirmar que, disciplinarmente, temos olhado para o corpo por meio das Ciências Naturais e, metodologicamente, por um olhar e uma intervenção extremamente objetivistas.

As pesquisas de cunho qualitativo estudam os sujeitos, grupos e sociedades de maneira contextualizada, tendo como finalidade a interpretação dos significados de ações humanas, valores, crenças, mitos, construídos culturalmente. Nessa direção, podemos pensar que há diferentes possibilidades de pesquisa nesse campo, e não modelos isolados e rígidos. O presente trabalho procurou apontar uma forma específica de construção de conhecimento na Educação Física, partindo do conceito de cultura como central para a área e em interface com um referencial teórico-metodológico da Antropologia Social.

Os exemplos de etnografia em Educação Física que trouxemos configuram certo olhar para temas específicos da área. Neles, identificamse semelhanças no sentido de terem uma direção aproximada para o estudo do ser humano, a de ver como se dá determinada ordem cultural. No entanto, os contatos com os sujeitos investigados e as particularidades dos temas enriquecem a Educação Física. Isso ocorre pelos diferentes modos como os pesquisadores se envolveram em seus estudos e pelo que foi possível na relação com os contextos investigados. Esse tipo de pesquisa configura-se como uma construção conjunta entre pesquisador e pesquisados.

Essa visão renova a área, quando passamos a compreender o corpo, as práticas corporais e as aulas de Educação Física pela interpretação dos significados que os sujeitos atribuem a essas manifestações, portanto, mediada pelo olhar do pesquisador, e não restrita aos fatos, como se eles, por si sós, se manifestassem de maneira objetiva.

NOTAS

Contato:

Emerson Luís Velozo

Rua Beija-Flor, 322

Bairro DER

Irati - PR

CEP 84500-000

Brasil

Recebido: 02/11/2006

Aprovado: 28/01/2008

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  • 1
    No texto, optamos por utilizar o termo Ciências Humanas de maneira abrangente, mesmo quando nos reportamos às várias disciplinas que podem ser consideradas como pertencentes às Ciências Sociais.
  • 2
    A obra principal de Dilthey é
    Introdução ao estudo das ciências humanas (1883), em que critica a concepção positivista da explicação (causal e racionalista) e procura compreender a realidade humana, essencialmente social e histórica (cf. JAPIASSÚ; MARCONDES, 1996. p. 72).
  • 3
    Para M. Bakhtin, o ponto de partida de qualquer tema que seja discutido com base nas Ciências Humanas é o texto.
  • 4
    Segundo Carvalho (2001ª, p. 69), "o termo atividade física carrega toda e qualquer ação humana que comporte a idéia de trabalho como conceito físico. Realiza-se trabalho quando há gasto de energia".
  • 5
    Neste texto, não temos o intuito de uma discussão mais aprofundada sobre esses termos. Usaremos essas expressões de maneira abrangente em relação às manifestações corporais: esporte, danças, jogos, ginásticas, lutas, mímica, etc.
  • 6
    Este grupo de estudos está em atividade desde 2000 e é coordenado pelo Prof. Dr. Jocimar Daolio, da Faculdade de Educação Física da Unicamp. Atualmente, é composto por estudantes de graduação, pós-graduação e pesquisadores interessados na discussão da Educação Física a partir do enfoque cultural. As linhas de pesquisa são: 1. Corpo e Cultura; 2. Educação Física Escolar; 3. Futebol e Cultura; e 4. Pedagogia do Esporte.
  • 7
    Este tema é parte da dissertação de mestrado intitulada
    A "midiação" das práticas corporais: significados da musculação para freqüentadores de um parque público. O trabalho foi defendido no ano de 2003, na Faculdade de Educação Física da Unicamp, sob orientação do Prof. Dr. Jocimar Daolio.
  • 8
    Este tema é parte da dissertação de mestrado intitulada
    Os saberes nas aulas de Educação Física escolar: uma visão a partir da escola pública. O trabalho foi defendido no ano de 2004, na Faculdade de Educação Física da Unicamp, sob orientação do Prof. Dr. Jocimar Daolio.
  • 9
    Este tema é parte da dissertação de mestrado intitulada
    A compreensão de professores de educação física sobre o conhecimento prévio de seus alunos. O trabalho encontra-se em andamento, na Faculdade de Educação Física da Unicamp, sob orientação do Prof. Dr. Jocimar Daolio.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Jan 2009
    • Data do Fascículo
      Dez 2008

    Histórico

    • Aceito
      28 Jan 2008
    • Recebido
      02 Nov 2006
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