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Editorial

EDITORIAL

Neste número 48 de Educação em Revista, anunciamos mudanças importantes no nosso periódico. A partir do número 49, portanto no 25º ano de Educação em Revista, passaremos a publicar três números anuais. O primeiro sairá em abril e os outros dois, em agosto e dezembro. A partir deste primeiro fascículo de 2009, adotaremos a numeração por volume, o que significa que este número 49 sairá como volume 25, número 1. Teremos, então, três números por volume, completando a nova periodicidade quadrimestral de Educação em Revista. Consideramos essa mudança fundamental para dar mais espaço aos nossos colaboradores e aumentar a presença de Educação em Revista no cenário educacional brasileiro. Publicaremos, neste número 1 do volume 25, um dossiê temático sobre Psicanálise e Educação, coordenado por Marcelo Ricardo Pereira, Ana Lydia Santiago e Eliane Marta Teixeira Lopes. Esse dossiê terá 8 artigos de autores nacionais e estrangeiros sobre o tema, como pode ser visto no sumário publicado no número 48. Anunciamos, ainda, para o número 2 do volume 25, que sairá em agosto de 2009, o dossiê temático Educação Ambiental, coordenado por Luiz Marcelo de Carvalho e Clarice Sumi Kawasaki. Neste número 48, está publicada uma chamada para a submissão de artigos à organização do dossiê.

No artigo que abre este número 48, intitulado "Pesquisa na Escola: Que espaço é esse? O do conteúdo ou o do pensamento crítico?", Maria Otilia Guimarães Ninin discute o papel da pesquisa nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, tendo como eixo a concepção de ensino na perspectiva da pedagogia crítica. O artigo busca oferecer ao professor subsídios para o trabalho com a pesquisa em sala de aula, de modo a propiciar aos alunos o desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas às quatro formas de aprendizagem: aprender a fazer, aprender a ser, aprender a conviver e aprender a aprender. A autora conclui que a postura do educador em relação à pesquisa exige conhecimento consciente e deliberado, além de comprometimento em relação à sua intervenção permanente no desenvolvimento do educando.

Em "Pesquisa qualitativa em Educação Física: possibilidades de construção de conhecimento a partir do referencial cultural", Cinthia Lopes da Silva, Emerson Luís Velozo e José Carlos Rodrigues Jr. apresentam uma abordagem à pesquisa qualitativa em Educação Física, com base no referencial cultural, o qual permite estudar o ser humano como um ser cultural e contrapor-se, assim, à visão naturalizada de homem, predominante na Educação Física. Os autores argumentam que a abordagem da Educação Física às manifestações corporais que consideram o corpo como um conjunto de células, nervos, ossos e músculos acaba negando todo o significado que o corpo possui como produto da cultura. Os autores procuram desenvolver outra visão, que estuda os sujeitos, grupos e sociedades de forma contextualizada, tendo como finalidade a interpretação dos significados das ações humanas, construídos culturalmente.

Em "A formação de professores e os currículos praticados em um movimento de educação popular na Rocinha", Rodrigo Torquato da Silva apresenta as práticas pedagógicas presentes no cotidiano de um movimento social de educação popular, o Pré-Vestibular Comunitário da Rocinha (PVCR). O autor considera que a força emancipatória desse movimento reside nos conflitos, o principal deles o que opõe os projetos individuais de aprovação no vestibular ao projeto político de conscientização que integra a proposta pedagógica do PVCR. Nesse espaço de educação popular, os professores tensionam os textos e as noções trabalhadas na academia aos dilemas do cotidiano em que se encontram. Nessa tensão, criam-se outros saberes, os saberes da experiência, os saberes práticos oriundos de um cotidiano complexo, cujos valores pessoais são confortados a outros valores que se criam nesse espaço.

"¿Una educación de referencia femenina? Uma educação de referência feminina?". Esse é o título do artigo de Consuelo Flecha García, da Universidad de Sevilla. Analisando os processos da educação feminina, a autora sinaliza as contradições vivenciadas pelas mulheres, que, ao mesmo tempo que conquistam "novas oportunidades de vida e de atuação", perdem o lugar de protagonistas de determinados saberes e práticas anteriormente a elas destinados. Garcia sugere que é preciso ultrapassar a noção de igualdade como "igualitarismo e uniformidade", buscando as noções de liberdade e de saber, as quais são marcadas por aspectos ligados ao gênero, não sendo, portanto, nem neutras e nem universais.

Maria Isabel Edelweiss Bujes, em "Artes de governar a infância: linguagem e naturalização da criança na abordagem de educação infantil da Reggio Emília", analisa uma experiência desenvolvida por um sistema de educação para a infância, no nordeste da Itália, considerado, segundo a autora, um dos melhores do mundo. Inspirado nos estudos foucaultianos, o trabalho busca mostrar "os efeitos produtivos do poder" ou interrogar "como uma abordagem para a educação infantil, neste caso, propõe-se pensar e encontrar modos de agir e de intervir sobre atitudes, disposições e comportamentos dos alunos?".

Carminda Mendes André, no trabalho "Espaço inventado: o teatro pós-dramático na escola", reitera as funções e possibilidades de existência da arte na escola. Numa instigante discussão, o texto problematiza as equivocadas abordagens e funções que têm sido dadas à arte, na escola, focalizando a especificidade da experiência artística em relação a outras disciplinas escolares. Acreditando que a arte só é arte se provoca crises, a autora propõe o resgate da arte, na escola, por meio do "teatro pós-dramático", uma alternativa inovadora e possível.

Em "Os efeitos do FUNDEF nas políticas educacionais dos municípios mineiros", Vanda Catarina Duarte e Bruno Lazzarotti Diniz Costa discutem os efeitos do FUNDEF sobre as políticas educacionais dos municípios de Minas Gerais. Com base em entrevistas realizadas com secretários de educação de vários municípios do estado, o artigo mostra como o Fundo tem sido visto por esse público e discute sua importância e seus limites no contexto brasileiro atual. Os efeitos e as dificuldades relacionados ao FUNDEF são analisados tomando-se como referência um conjunto de argumentos, apresentados na literatura por diferentes especialistas da área da educação.

Claude Carpentier, no artigo intitulado: "As desigualdades escolares na África do Sul: 'força das coisas' e política educativa (o exemplo da Província do Cabo)", faz uma avaliação do que chama de "o peso da 'força das coisas'" nas desigualdades escolares na África do Sul. O artigo, de forma bastante elucidativa, discorre sobre a mudança política que ocorreu na África do Sul em 1994, mostrando como isso está na origem de um debate naquele país "cuja aposta é saber se as decisões tomadas visando a erradicar as discriminações herdadas do passado em matéria de acesso à educação foram efetivadas dez anos mais tarde ou se estão sendo aplicadas". Por meio da análise de dados oficiais disponíveis para a Província do Western Cape, o autor mapeia a amplitude da desagregação racial institucional da escola após o período do apartheid; mostra o peso dos determinantes sociais que estão em sua base; e discute como as heranças do passado e o funcionamento da sociedade sul-africana têm efeitos sobre as desigualdades escolares naquele país.

Por fim, na seção Palavra Aberta deste número, temos uma instigante discussão feita por Carlos Roberto Jamil Cury sobre a educação escolar como um dos direitos mais importantes da cidadania. Intitulada: "A educação escolar, a exclusão e seus destinatários", o texto coloca em questão quem são e por que o são aqueles que se vêem privados desse "bem universal". Em sua discussão, o autor problematiza a categoria exclusão, tão usada na educação para falar da desigualdade na apropriação dos bens socialmente produzidos, ja que considera que "não se pode torná-la um conceito de tal modo abrangente e genérico que venha a ser empregado para significar e conceituar todo e qualquer problema social, de qualquer momento histórico ou de qualquer contexto social". Os leitores e as leitoras de Educação em Revista certamente encontrarão nas palavras do Cury uma argumentação clara, contundente e pouco comum sobre educação e exclusão. Nesse sentido, já convidamos leitores e leitoras para continuar o debate sobre o tema, submetendo textos para a seção Palavra Aberta, que tem por objetivo colocar em discussão temas atuais e/ou polêmicos sobre a educação.

Assim, desejamos a todos e a todas uma boa leitura e reiteramos o compromisso de Educação em Revista em contribuir para a difusão e o aprofundamento da pesquisa em educação no Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jan 2009
  • Data do Fascículo
    Dez 2008
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