SOBRE DOCÊNCIA, PROFISSÃO E FORMAÇÃO DE PROFESSORAS/ES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA¹

ON TEACHING, PROFESSION AND TRAINING OF TEACHERS FOR BASIC EDUCATION

DE LA DOCENCIA, LA PROFESIÓN Y LA FORMACIÓN DE DOCENTES PARA LA EDUCACIÓN BÁSICA

O objetivo desta resenha consiste em analisar o artigo submetido por Schuchte e Lomba (2023) ao periódico “Educação em Revista”, no contexto de ações e reflexões relacionadas à Ciência aberta. A resenha está dividida em três partes: a) “Ciência aberta: algumas sinalizações”, b) “Conhecendo o artigo proposto por Schuchte e Lomba (2023)” e c) “(In)completudes: apontamentos e sugestões”.

CIÊNCIA ABERTA: ALGUMAS SINALIZAÇÕES

O conhecimento científico é da ordem do humano, sendo produzido no contexto das interações sociais. Ele está enraizado em territórios onde se entrelaçam objetividade e subjetividade, elementos inerentes à produção e difusão da ciência. Essas dimensões exigem da comunidade científica um esforço contínuo e coletivo para aprimorar nossa capacidade de lidar, de forma cada vez mais crítica, com os “processos de produção, comunicação, avaliação e legitimação do que conta como uma afirmativa de conhecimento válida”, no âmbito científico, como analisado por Kelly (2008 apud Mendonça e Franco, 2021, p.01).

É neste contexto que situamos a discussão sobre a Ciência Aberta, da qual esta resenha é produto e, ao mesmo tempo, produtora. A Ciência Aberta é definida por Mendonça e Franco (2021) como “um movimento da comunidade acadêmica [capaz] de tornar a pesquisa científica (em termos de seus produtos e processos) acessíveis e utilizáveis por todos” (p.01). De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ, online), este movimento “propõe mudanças estruturais na forma como o conhecimento científico é produzido, organizado, compartilhado e reutilizado. É um novo modo de fazer ciência, mais colaborativo, transparente e sustentável”. Em outros termos, é um modo “coletivo, abrangente e democrático” de fazer ciência, que deve ser pensado de modo estratégico por instituições e sujeitos, individuais e coletivos, envolvidos com esta questão (FIOCRUZ, s/d, online).

Para Mendonça e Franco (2021), uma revista científica tem um papel crucial “nas interações discursivas críticas para o estabelecimento do que conta como conhecimento” (p.01). Sendo assim, por consequência, revistas desta natureza têm um papel essencial quando se pensa nos processos concernentes à Ciência Aberta, podendo ser consideradas como um dos elementos-chave para a transformação da relação com o conhecimento científico.

Com base em Longino (2002), os autores destacam alguns critérios e normas da produção social do conhecimento que estabelecem relações com o papel de um periódico científico frente à Ciência aberta. São eles: a) existência de “Fóruns públicos de discussão”, b) “Receptividade à crítica”, c) garantia da “Igualdade moderada de autoridade intelectual” e d) delimitação de “Padrões públicos de análise” (MENDONÇA E FRANCO, 2021, p.01-02).

Quanto aos “Fóruns públicos de discussão” e ao estabelecimento de “Padrões públicos de análise” na avaliação de materiais submetidos a periódicos científicos, é importante destacar a relevância da avaliação por pares com base em “critérios que balizam a aceitação ou rejeição de determinadas pesquisas e que são compartilhados e públicos numa determinada comunidade” (op.cit., p.02). Mendonça e Franco (2021, p.01) entendem a avaliação por pares como uma das principais formas contemporâneas de legitimar o conhecimento. Em suas palavras, trata-se de um “método acadêmico que visa avaliar e garantir a qualidade, a completude e a originalidade de um trabalho acadêmico. Tem como objetivo melhorar o trabalho acadêmico conforme os critérios de qualidade tomados pelo periódico em diálogo com o campo disciplinar (Ross-Hellauer & Görögh, 2019 apud op.cit., p.01, grifo nosso).

Considerando estas questões e, principalmente, a necessidade de sugerir aprimoramento do artigo de Schuchte e Lomba (2023) submetido ao periódico “Educação em Revista”, é que foi elaborada esta resenha. A sistematização apresentada aqui deriva da discussão e compartilhamento de alguns de seus elementos entre os pares, por meio de uma reunião on-line entre membros da equipe editorial da revista, as avaliadoras e as autoras, seguindo critérios previamente estabelecidos.

Destaco, de acordo com afirmações dos autores mencionados anteriormente, que minha análise se baseia na defesa da necessidade de garantir a “igualdade moderada de autoridade intelectual”, que valoriza o posicionamento quanto à pesquisa e não somente o status de determinado pesquisador ou grupo de pesquisa (op.cit., p.01). Além disso, defendo a “receptividade à crítica”, que implica estar aberto/a a “críticas e modificações de princípios que balizam determinada pesquisa, aceitando e revendo suas declarações” e argumentos (op.cit., p.01). Neste sentido, é importante ressaltar que minhas considerações, apresentadas nas próximas páginas, também estão sujeitas à avaliação crítica, especialmente por parte das autoras do trabalho em questão e da equipe editorial do periódico, buscando coerência e alinhamento com a perspectiva da Ciência Aberta. Tendo em vista tais questões, descrevo o trabalho apresentado pelas autoras e, em seguida, avalio alguns de seus aspectos.

CONHECENDO O ARTIGO PROPOSTO POR SCHUCHTE E LOMBA (2023)

O trabalho analisado, de autoria de Schuchte e Lomba (2023), tem como objetivo geral apresentar, a partir de uma perspectiva histórica e reflexiva, conceitos e referenciais teóricos concernentes à docência, à profissão e à formação de professoras e professores da Educação Básica, conforme expresso no título da proposta. No resumo do trabalho, as autoras sublinham que, de forma específica, buscam apresentar e discutir “desafios, dimensões e perspectivas na busca por uma formação docente mais satisfatória e significativa" (p.01). As autoras indicam que, para isso, realizaram uma pesquisa bibliográfica embasada em diferentes autoras e autores, visando alcançar os objetivos do trabalho.

O texto possui 14 (catorze) páginas e está dividido em 06 (seis) partes, assim intituladas: a) “Introdução: desafios e provocações”; b) “O que é docência? conceitos, contextos e perspectivas históricas”; c) “Como se constitui e se forma o ser-docente?”; d) “Como vem se caracterizando a formação de professores para a educação básica?”, e) “Considerações finais e contribuições para a formação docente: o que referenciais teóricos nos apontam?” e f) Referências.

Na primeira parte do trabalho, entre outros aspectos, as autoras mencionam que o artigo é um recorte de suas teses de doutorado, defendidas em 2017 (SCHUCHTER) na Universidade Federal de Juiz de Fora e em 2020 (LOMBA) na Universidade Federal de Minas Gerais. Elas detalham que, em termos metodológicos, o artigo se baseia em artigos de periódicos, teses, entrevista e capítulos de livros. Para justificar o estudo, as pesquisadoras destacam que, desde 2010, a renomada autora Bernadete Gatti, referência nos estudos da área temática em questão, tem apontado para a insuficiência na formação docente para a Educação Infantil e para os Anos Iniciais do ensino fundamental no Brasil. As autoras explicam que, para a pesquisadora, isso ocorre devido à falta de efeitos esperados das políticas e dos programas nacionais, seja devido à descontinuidade em suas implementações ou reformulações sucessivas, seja devido à fragmentação de ações entre vários órgãos governamentais.

Na segunda parte do artigo, as autoras abordam conceitos e contextos relacionados à questão central “o que é docência?”, apresentando uma perspectiva histórica. A discussão começa com a menção do sentido etimológico da palavra “docência”, seguido por um breve histórico sobre o exercício da função docente ao longo do tempo, iniciado no âmbito de associações religiosas. A partir de diferentes autoras/es, Schuchte e Lomba (2023) sinalizam aspectos e reflexões relacionados: à docência como “profissão com estratégias orientadas por objetivos e por uma ética” (p.03), aos saberes docentes, docência como “prática reflexiva na e sobre a ação” (p.04), à docência “como atividade de trabalho desenvolvida em organizações em que os professores interagem com outros indivíduos com os quais realizam trocas” (p.04) e, também, à condição docente (com foco na relação entre docentes e discentes, entendida como aquilo que está na sua fundação, conforme discute Teixeira, 2007 e reforçam Gatti et al., 2019).

Na terceira parte do trabalho, ao trazer discussões em torno de diferentes perguntas inter-relacionadas - “como se constitui um ser docente? Como se forma? Como e quando se torna, se identifica e se percebe profissional, capaz de mediar, ensinar, aprender, contribuir com a construção de conhecimentos no outro (discente e seus pares)?” (p.05) -, as autoras discorrem sobre alguns aspectos que se desdobram desta discussão, com o objetivo de ampliar a compreensão e a construção de significado para a formação docente” (p.06). Vale destacar que as autoras abordam a discussão sobre “identidade profissional docente (ou professoralidade)” (p.06) com base em autores de referência na área, como Carlos Marcelo Garcia.

Na quarta parte do artigo, que trata da caracterização da formação de professoras e professores para a Educação Básica, as autoras discutem o tema com enfoque no curso de Pedagogia, na Educação Infantil e, também, na formação inicial de professoras e professores. De maneira geral, elas indicam que, ao longo da história, tanto o desenvolvimento da “educação inicial escolar” como o processo de formação docente foram lentos. Citando Gatti (2019, p.20), as autoras sinalizam que essa demora reflete o pouco interesse do Brasil pela educação básica de sua população ao longo dos governos.

Por fim, nas considerações finais, a partir da pergunta, aqui adaptada, “o que referenciais teóricos nos apontam para pensar possíveis contribuições para a formação docente?”, as autoras mencionam reflexões elaboradas por diferentes autoras/es, incluindo Paulo Freire, Bernadete Gatti (e seus colaboradores de sua pesquisa), Antônio Nóvoa e Maurice Tardif. Schuchte e Lomba (2023) afirmam que abordar o tema proposto sob uma perspectiva histórica permite conhecer e analisar, de forma consciente e crítica, os conceitos fundamentais ligados à profissão, bem como as políticas públicas de formação para a Educação Básica, as condições dos cursos de licenciatura e de formação continuada e dos contextos institucionais de atuação destes profissionais (p.09). As autoras concluem o texto expressando a esperança de que, por meio de um processo de comprometimento responsável e de estudo pessoal e/ou com seus pares, docentes possam compreender e intervir consciente e criticamente em sua formação, identidade e realidade socioprofissional (p.11).

(IN)COMPLETUDES: APONTAMENTOS E SUGESTÕES

Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. (FREIRE, 1987, p.44)

Passando à análise do artigo, destaco a passagem em epígrafe, de autoria de Paulo Freire, quando nos lembra que o diálogo é uma “necessidade existencial”, por meio da qual encontramos nosso significado enquanto humanos (FREIRE, 1980, p.42). Neste sentido, coloco-me em diálogo com o material cuidadosamente produzido por Schuchte e Lomba (2023), sinalizando (in)completudes.

Após a leitura do material, por um lado, é fundamental destacar que a temática escolhida pelas autoras para a elaboração de seu artigo possui elevada relevância para o campo educacional. O estudo se justifica, como afirmam, devido à urgência de ampliar a qualidade dos estudos sobre docência, profissão docente e formação de professoras/es da Educação Básica em nosso país. No artigo, é evidente o esforço das autoras em enriquecer a discussão, especialmente por meio do diálogo com autoras e autores nacionais e internacionais reconhecidos em sua área de estudos sobre o tema em debate.

Por outro lado, ao sinalizar aspectos a serem aprimorados, destacam-se 04 (quatro) questões: a) A adequação do objetivo geral e o tratamento dos conceitos/categorias analíticas (escolhas, definições e discussões); b) O uso de bibliografia atual; c) A estrutura do texto e a interação entre as autoras e outros/as autores/as trabalhados/as por elas, promovendo diálogos significativos; d) A caracterização do artigo e sua conformidade com a política editorial da revista.

a) A adequação do objetivo geral e o tratamento dos conceitos/categorias analíticas (escolhas, definições e discussões)

Conforme descrito anteriormente, o artigo tem como objetivo geral apresentar, de forma histórica e reflexiva, conceitos relacionados à docência e formação de professores. No entanto, para aprimorar o objetivo do estudo, seria importante que as autoras indicassem de forma evidente, no início do texto, quais conceitos e referenciais teóricos foram selecionados para a produção do estudo e, especialmente, o/s motivo/s que embasam tais escolhas. Essa definição seria um suporte crucial no trabalho, uma vez que poderia evitar algumas indefinições e inconsistências conceituais. A título de exemplo, destacamos duas passagens do texto.

A primeira passagem diz respeito ao fato de as autoras enfatizarem que o intuito específico do texto consiste em sinalizar "os desafios, dimensões e perspectivas na busca por uma formação docente mais satisfatória e significativa" (grifo nosso). A este respeito, surge a pergunta: qual referência está sendo utilizada para definir que a formação que se busca é mais satisfatória e significativa? Em outras palavras, uma formação docente mais satisfatória e significativa para quem? Embora, na página 03, seja mencionada a busca por uma "formação de professores significativa e transformadora para esses profissionais e para a sociedade", tal indicação é genérica, exigindo uma ampliação da discussão de modo a evidenciar qual a compreensão das autoras sobre a questão posta.

A segunda passagem está relacionada a alguns conceitos mencionados no texto que não são devidamente definidos, especialmente com base em referências atuais. Destaca-se a discussão, mencionada no resumo como possível resultado do estudo e na página 11, sobre "necessidade de engajamento e conscientização por parte dos professores" (grifo nosso). O que exatamente significa "engajamento" docente? Qual a sua relação com a discussão sobre "corresponsabilidade de todos os profissionais da educação" e a "a complexidade da docência e das responsabilidades e desafios a ela atribuídos" (p.11)? Até que ponto o termo “engajamento”, mencionado sem uma definição e discussão adequadas, pode estar conectado e/ou levar a interpretações vinculadas ao discurso da responsabilização docente? A este respeito, segundo Oliveira (2004), com base em diversos autores, “muito se tem discutido sobre a centralidade dos professores, nos programas governamentais, como agentes responsáveis pela mudança nos contextos de reforma” (p.1131). Neste contexto, tem sido comum o fato de que docentes sejam

considerados os principais responsáveis pelo desempenho dos alunos, da escola e do sistema. Diante desse quadro, os professores vêem-se, muitas vezes, constrangidos a tomarem para si a responsabilidade pelo êxito ou insucesso dos programas. O professor, diante das variadas funções que a escola pública assume, tem de responder a exigências que estão além de sua formação. Muitas vezes esses profissionais são obrigados a desempenhar funções de agente público, assistente social, enfermeiro, psicólogo, entre outras. Tais exigências contribuem para um sentimento de desprofissionalização, de perda de identidade profissional, da constatação de que ensinar às vezes não é o mais importante (Noronha, 2001). Essa situação é ainda mais reforçada pelas estratégias de gestão já mencionadas, que apelam ao comunitarismo e voluntariado, na promoção de uma educação para todos. Nesse contexto é que se identifica um processo de desqualificação e desvalorização sofrido pelos professores (OLIVEIRA, 2004, p.1132, grifo nosso).

Considerando as questões levantadas, é fundamental que as autoras aprofundem a discussão sobre o que nomeiam como “engajamento” docente e forneçam definições evidentes para o conceito utilizando referências atualizadas. De modo geral, é importante ressaltar a necessidade de atenção quanto ao trabalho com conceitos/categorias analíticas (incluindo escolhas, definições e adequações) durante a revisão do artigo avaliado. Neste sentido, entre as sugestões de aprimoramento, salientamos a exploração, de forma mais detalhada e explícita, das escolhas conceituais e teóricas feitas no estudo, fornecendo justificativas consistentes para essas escolhas. Salientamos ser fundamental garantir a consistência conceitual ao longo do texto, evitando indefinições. Isto pode ajudar a fortalecer a fundamentação conceitual do artigo em análise. Lembro que essas são sugestões para aprimorar o trabalho com conceitos/categorias analíticas. Cabe aos autores avaliar e ajustar de acordo com o contexto específico do artigo em questão.

b) Uso de bibliografia atual

Dando continuidade, é importante ressaltar que o tema e sua abordagem são parcialmente embasados em bibliografia atualizada sobre formação de professoras e professores. Além do exemplo mencionado no item anterior, é necessário considerar que o texto faz menção apenas a duas referências relacionadas à legislação educacional: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e o Parecer 3/2006, referente ao Reexame do Parecer CNE/CP nº 5/2005, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (conforme consta no corpo do texto e nas referências). Não são abordadas discussões referentes a legislações mais recentes, como a Resolução CNE/CP nº 02/2019, que estabelece Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação).

A omissão das legislações atualizadas acarreta inúmeras implicações e reverberações para a discussão proposta pelas autoras. A Resolução mencionada traz mudanças significativas no que diz respeito à formação docente, o que deveria ser mencionado e discutido no texto, evidenciando o conhecimento das autoras sobre os desafios que atualmente permeiam o campo dos estudos escolhido por elas. Isso seria fundamental para atualizar o debate e apresentar possíveis contribuições. É importante que as autoras revisem e atualizem o texto quanto ao aspecto abordado neste item, levando em consideração as sugestões mencionadas e adaptando-as de acordo com o contexto do artigo.

c) A estrutura do texto e a interação entre as autoras e outros/as autores/as trabalhados/as por elas, promovendo diálogos significativos

Quanto à estruturação do texto, saliento que no último subitem, intitulado "Considerações finais e contribuições para a formação docente: o que referenciais teóricos nos apontam?", as autoras desenvolvem uma discussão central para o texto, que consiste em apresentar diferentes perspectivas sobre a formação docente com base em diversos referenciais teóricos. Contudo, tal discussão é feita na última parte do texto. Sugere-se, neste sentido, rever a estrutura do texto, organizando as discussões de forma mais coerente e fluída, a fim de evitar a fragmentação e proporcionar uma melhor articulação dos argumentos e considerações finais, o que pode contribuir para a melhoria da proposta.

Ainda sobre esta parte do texto, a exemplo do que acontece na página 10, as autoras apresentam, em formato de tópicos ou listagem, algumas características e conceitos relacionados ao tema. Contudo, estas discussões não são conectadas entre si (no sentido de apontar convergências, divergências e complementações), o que resulta em uma fragmentação do texto avaliado. Esta fragmentação também ocorre em outras partes do texto (com destaque para a Parte 3). Isto prejudica a construção e fundamentação de argumentos e a apresentação evidente de considerações, dificultando a identificação das contribuições consistentes do estudo.

Neste sentido, surgem alguns questionamentos: em que medida as/os autoras/es mencionados por Schuchte e Lomba (2023) dialogam entre si, se contrapõem, conflitam entre si ou se complementam na discussão sobre o tema em pauta? Qual é a interpretação das autoras do texto em relação às discussões abordadas nas referências bibliográficas?

Entendemos que a completude e a originalidade do trabalho acadêmico proposto residem no diálogo estabelecido entre as autoras mencionadas, bem como nos diálogos estabelecidos entre Schuchte e Lomba (2023) e essas referências, proporcionando possibilidades de interpretações cruzadas e significativas sobre o tema. Neste sentido, sugere-se a realização de um entrecruzamento interpretativo entre as autoras e as referências bibliográficas por elas utilizadas, promovendo uma análise original e contributiva para a compreensão do tema, aspecto que pode ser de grande valia para o aprimoramento do artigo.

Consideramos que essas sugestões visam fortalecer a argumentação e promover uma análise mais consistente. É importante que as autoras reflitam sobre elas e as adaptem, caso julguem ser pertinentes, de acordo com as especificidades do texto em questão.

d) A caracterização do artigo e sua conformidade com a política editorial da revista

A política editorial da revista em questão estabelece categorias para avaliação dos textos. Sugere-se a caracterização dos artigos como aqueles que apresentam “resultados de pesquisa empírica ou teórica” e aqueles que podem ser identificados como “revisão crítica sistemática e integrativa da produção científica e acadêmica na área" (EDUCAÇÃO EM REVISTA, s/d, online). Neste contexto, por avaliarmos que o artigo analisado não apresenta resultados de pesquisa empírica ou teórica, consideramos mais apropriado caracterizá-lo como um "estudo sistemático ou integrativo de revisão da produção" para atender à política editorial da revista. No entanto, para que essa caracterização seja adequada, é necessário que as autoras delimitem de forma mais precisa o objetivo do estudo, indicando explicitamente os conceitos a serem estudados, além de justificar e fundamentar devidamente a escolha da produção bibliográfica para discussão (para além da simples caracterização de autores como referências “relevantes e potentes sobre os temas propostos", p.02).

Segundo o material produzido pela equipe da Biblioteca Prof. Paulo de Carvalho Mattos, da Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP Campus de Botucatu, intitulado “Tipos de revisão de literatura (UNESP, online), o tipo de revisão que mais se aproxima do estudo em análise é a “revisão integrativa”, devido ao método de elaboração. Este tipo de estudo pode ser definido como uma:

alternativa para revisar rigorosamente e combinar estudos com diversas metodologias, por exemplo, delineamento experimental e não experimental, e integrar os resultados. Tem o potencial de promover os estudos de revisão em diversas áreas do conhecimento, mantendo o rigor metodológico das revisões sistemáticas. O método de revisão integrativa permite a combinação de dados da literatura empírica e teórica que podem ser direcionados à definição de conceitos, identificação de lacunas nas áreas de estudos, revisão de teorias, análise metodológica dos estudos sobre um determinado tópico. A combinação de pesquisas com diferentes métodos combinados na revisão integrativa amplia as possibilidades de análise da literatura (UNESP, 2015, p.02 - online, Grifo nosso).

Em outros termos, para que o estudo possa ser adequadamente caracterizado como uma “revisão integrativa”, é fundamental que delimitações e escolhas feitas pelas autoras sejam realizadas e apresentadas de maneira mais rigorosa e sistemática, e que os critérios utilizados sejam devidamente expostos e justificados no corpo do texto. Assim, as autoras terão a oportunidade de fornecer uma visão panorâmica e crítica de parte da produção bibliográfica sobre o tema, destacando as principais tendências, lacunas e debates na área de estudo. Isso pode contribuir para uma análise mais abrangente e fundamentada, permitindo que o estudo apresente formulações relevantes e conclusões ainda mais embasadas sobre o tema escolhido para debate.

PARA NÃO FINALIZAR

De modo geral, reconhecemos o potencial do trabalho, especialmente no que diz respeito à importância da temática abordada para o campo educacional. Contudo, considerando as indefinições, algumas inconsistências e lacunas mencionadas anteriormente, salientamos que a contribuição do artigo submetido à avaliação não está definida de modo evidente. Tendo isto em vista, recomendamos uma revisão cuidadosa, a fim de tornar o texto um elemento catalizador de contribuições consistentes sobre questões ligadas à docência, profissão e formação de professoras/es para a Educação Básica. Essa temática é de grande relevância para todos/as nós, que desejamos ver o avanço do direito à educação em nosso país, com foco na justiça social e na dignidade para todos/as.

É fundamental que o estudo seja aprimorado, tanto em relação à fundamentação teórica quanto em relação à atualização bibliográfica e diálogo com as principais legislações educacionais vigentes. Além disso, é importante estabelecer conexões e diálogos mais aprofundados com e entre os autores e autoras trabalhados, buscando identificar convergências, divergências e complementaridades em relação ao tema em pauta. Uma revisão cuidadosa permitirá que o artigo cumpra seu potencial de contribuir de maneira significativa para a área da educação, proporcionando formulações valiosas, promovendo o avanço do conhecimento e contribuindo para a melhoria da formação docente e, consequentemente, para a promoção de uma Educação Básica de qualidade e socialmente referenciada em nosso país.

Ao finalizar, reiteramos a importância de uma abordagem rigorosa, fundamentada e atualizada, em conformidade com as diretrizes da política editorial da revista. Desejamos sucesso na revisão do artigo com vistas ao alcance de repercussões positivas na área da educação.

REFERÊNCIAS

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• FIOCRUZ. Ciência aberta na Fiocruz. s/d. Disponível em:<Disponível em:https://portal.fiocruz.br/ciencia-aberta >, acesso em: 05/06/2023
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• FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação - uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 4. ed. São Paulo: Moraes, 1980. 102 p.
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• LOMBA, Maria Lúcia de Resende. Docência na Educação Infantil: percursos de vida, formação e condições institucionais das experiências de professoras no cuidado e educação de crianças de 4 e 5 anos. 2020. Tese (Doutorado em Educação). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/34717/3/1%20TESE%20 DOUTORADO%20VES%c3%83O%20FINAL%202020.pdf > Acesso em:05/06/2023.
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Editado por

1

Editora-Chefe participante do processo de avaliação por pares aberta: Suzana dos Santos Gomes.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  04 Dez 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  06 Jun 2023
• Aceito
  01 Jul 2023