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A elite dos colunistas de economia como comunidade epistêmica: uma análise de redes (2019-2021)

The economics columnists elite as an epistemic community: a network analysis (2019-2021)

La elite de los columnistas de economía como comunidad epistémica: un análisis de las redes (2019-2021)

Resumo

O objetivo deste artigo é analisar os colunistas de economia dos principais jornais brasileiros a partir do conceito de comunidade epistêmica. Para tanto, o artigo realizou uma prosopografia desses colunistas e, em seguida, analisou os dados coletados por meio da análise de redes sociais. O trabalho revela, por um lado, a pluralidade da rede quando analisada a partir da formação acadêmica e, por outro, a centralidade dos colunistas ortodoxos quando se leva em conta a trajetória profissional completa deles, algo que reforçaria a utilidade do conceito de comunidade epistêmica.

Palavras-chave:
Colunistas econômicos; Ortodoxia; Comunidades epistêmicas; Prosopografia; Análise de redes sociais

Abstract

The aim of this article is to analyze the economics columnists of the main Brazilian newspapers based on the concept of epistemic community. Therefore, the article carried out a prosopography of these columnists and then analyzed the data collected by social network analysis. The work reveals, on the one hand, the plurality of the network when analyzed from the perspective of academic training and, on the other hand, the centrality of orthodox columnists when considering their complete professional trajectory, something that would reinforce the usefulness of the concept of epistemic community.

Keywords:
Economics columnists; Ortodoxy; Epistemic communities; Prosopography; Network analysis

Resumen

El objetivo de este artículo es analizar a los columnistas de economía de los principales diarios brasileños a partir del concepto de comunidad epistémica. Para ello, este artículo realizó una prosopografía de estos columnistas y, luego, analizó los datos recopilados mediante el análisis de redes sociales. El trabajo revela, por un lado, la pluralidad de la red cuando se analiza desde la perspectiva de la formación académica y, por otro, la centralidad de los columnistas ortodoxos al tomar en cuenta la trayectoria profesional completa de sus integrantes, lo que reforzaría la utilidad del concepto de comunidad epistémica.

Palabras clave:
Columnistas económicos; Ortodoxia; Comunidades epistémicas; Prosopografía; Análisis de redes sociales

Introdução

Parcela substancial da literatura sobre jornalismo econômico no Brasil parte da sociologia francesa como ponto de referência teórico para investigar os mecanismos de atuação do campo jornalístico. Nessa linha, argumenta-se que, em razão da produção jornalística ser organizada e controlada por condições sociais impostas pela lógica de mercado, os jornalistas estão estruturalmente condenados a produzir sob restrições políticas e econômicas que os colocam numa situação de ambiguidade e double dépendance [dupla dependência]. Desse modo, o jornalismo é uma atividade intelectual muito particular, a qual só pode existir e durar se for economicamente rentável no curto prazo ( Bourdieu, 1997BOURDIEU, Pierre. A influência do jornalismo. In: BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão: seguido de A influência do jornalismo e Os Jogos Olímpicos. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.; Champagne, 1995CHAMPAGNE, Patrick. La Double Dépendance: quelques remarques sur les rapports entre les champs politique, économique et journalistique. Hermès, Paris, v. 17/18, n. 3/4, p. 215-229, 1995., 2000)CHAMPAGNE, Patrick. Introduction: Le Journalisme à l’économie. Actes de la recherche en sciences sociales, Paris, v. 131/132, p. 3-7, 2000.. No subcampo do jornalismo econômico, Julien Duval ( 2020: 366DUVAL, Julien. O espaço do jornalismo econômico na França. Tradução Allana Meirelles e Marcello G. P. Stella. Plural, São Paulo, v. 272, n. 2, p. 355-376, 2020.) sustenta que essa ambiguidade vivida pelos jornalistas tende a se acirrar, uma vez que “estabelecer e preservar laços com leitores fortemente integrados ao campo econômico é o princípio de uma dinâmica própria do polo dominante do espaço”.

Esse elemento deve ser pensado em uma perspectiva de transformação histórica do campo do jornalismo econômico, ou seja, de constituição de um subcampo mais especializado, menos generalista, determinado por fatores internos e externos ao campo ( Marchetti, 2020MARCHETTI, Dominique. Os subcampos especializados do jornalismo. Plural, São Paulo, v. 27, n. 2, p. 240-269. 2020. DOI: 10.11606/issn.2176-8099.pcso.2020.179832.
https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099....
). No Brasil, a literatura identificou um baixo grau de autonomia do jornalismo de economia em relação ao campo econômico. Foi sobretudo durante o Regime Militar de 1964 que ocorreu uma notória alavancagem do jornalismo econômico em nosso país ( Abreu, 2003ABREU, Alzira Alves de. Jornalistas e jornalismo econômico na transição democrática. In: ABREU, Alzira Alves de; LATTMAN-WELTMAN, Fernando; KORNIS, Mônica Almeida. Mídia e política no Brasil: jornalismo e ficção. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.). Lene (2020)LENE, Hérica. O jornalismo de economia no Brasil: os economistas como fontes e os jornalistas. In: PEDROSO NETO, Antonio José; NASCIMENTO, Romário Rocha do. Fontes e vozes do jornalismo econômico. Palmas: EdUFT, 2020. cita os três principais fatores para a economia ganhar espaço como temática jornalística durante aquele período: o esvaziamento da cobertura política, que foi gradualmente ocupada pela econômica; ascensão e predominância de economistas nos órgãos de Estado em postos-chave do governo; e o incremento de uma classe média consumidora de informações sobre o mundo econômico.

Essa “cultura” de valorização da economia e fortalecimento institucional dos economistas, consolidada durante a Ditadura, acabaria se estendendo ao jornalismo e aos jornalistas dessa área ( Lene, 2020LENE, Hérica. O jornalismo de economia no Brasil: os economistas como fontes e os jornalistas. In: PEDROSO NETO, Antonio José; NASCIMENTO, Romário Rocha do. Fontes e vozes do jornalismo econômico. Palmas: EdUFT, 2020.), produzindo um cenário de legitimação recíproca entre os economistas — sobretudo os ocupantes dos cargos governamentais — e os jornalistas econômicos, uma vez que aqueles se tornaram as principais fontes de informação e análise para estes. Diante desse quadro, Pedroso Neto e Undurraga (2017)PEDROSO NETO, Antonio José; UNDURRAGA, Tomas. The Elective Affinity between Elite Journalists and Mainstream Economists in Brazil. Journalism Studies, London, v. 19, p. 12, p. 2243-2263, 2017. sugerem existir uma “afinidade eletiva” entre a elite do jornalismo econômico e os principais economistas do país. A partir daí, o tipo de jornalismo praticado no Brasil teria favorecido uma relação de mútua influência, que contribuiu para alçar a geração mais antiga ao topo da carreira e do prestígio na área. Ademais, tal relação permitiu legitimar e popularizar certas visões sobre a economia, que passam a ser apresentadas como um saber técnico consensual, o único legítimo para conduzir os debates em torno da produção de políticas públicas.

Sendo assim, o perfil dos colunistas econômicos recrutados pelos veículos de comunicação é um dado relevante para entender as origens desse padrão identificado pela literatura. Estudá-lo contribui para identificar as razões do predomínio da matriz teórica utilizada nas análises econômicas em nossa imprensa especializada. Por essa razão, este artigo tem como objeto os colunistas econômicos que escrevem nos cadernos de economia dos principais jornais do Brasil. Nosso objetivo é analisá-los a partir do conceito de comunidade epistêmica, e isso por duas razões interligadas.

A primeira delas diz respeito à própria economia como discurso científico sobre a realidade. No discurso dominante, a ciência econômica é quase sempre apresentada como um corpus de proposições cognitivas pretensamente universais. No entanto, diversos cientistas sociais de distintos campos do conhecimento (sociologia, história, antropologia, economia) enfatizam o caráter histórico e culturalmente situado do pensamento econômico ( Bourdieu, 2017BOURDIEU, Pierre. Anthropologie économique: cours au Collège de France (1992-1993). Paris: Seuil, 2017.; Gudeman, 1986GUDEMAN, Stephen. Economics as Culture. London: Routledge, 1986.; Hirschman, 1977HIRSCHMAN, Albert O. The Passions and the Interests: Arguments for Capitalism before its Triumph. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1977.), e, no caso brasileiro, o quanto as teorias econômicas influem na formação dos tomadores de decisão ( Loureiro, 1997LOUREIRO, Maria Rita. Os economistas no governo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1997.; Marques, 2024MARQUES, Francisco. As disputas entre ortodoxos e heterodoxos: o que é (e o que não é) economia. Dados, Rio de Janeiro, v. 67, n. 2, p. 1-51, 2024.). A segunda é que pensar o discurso econômico como estruturado em torno de um conjunto de proposições cognitivas historicamente situadas combina com uma série de discussões teóricas recentes que pensam acerca do terreno mais amplo das políticas públicas. Também nessa literatura, por meio de conceitos diversos, as crenças e os aparatos cognitivos dos atores são vistos como histórica e culturalmente localizados e como fator fundamental para o entendimento dos processos de formulação daquelas políticas ( Axelrod, 1976AXELROD, Robert. Structure of Decision: The Cognitive Maps of Political Elites. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1976.; George, 1979GEORGE, Alexander L. The Causal Nexus between Cognitive Beliefs and Decision-Making Behavior: The “Operational Code” Belief System. In: FALKOWSKI, Lawrence S. (ed.). Psychological Models in International Politics. Boulder, CO: Westview, 1979.; Haas, 1992HAAS, Peter. Introduction: Epistemic Communities and International Policy Coordination. International Organization, Cambridge, v. 46, n. 1, p 1-35, 1992.; Hall, 1989HALL, Peter. Introduction. In: HALL, Peter (ed.). The Political Power of Economic Ideas: Keynesianism across Nations. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1989.; Sabatier, 1988SABATIER, Paul. An Advocacy Coalition Framework of Policy Change and the Role of Policy-Oriented Learning Therein. Policy Sciences, Berlin, v. 21, p. 129-168, 1988.).

Para a nossa pesquisa, o conceito de comunidade epistêmica é útil porque propõe uma articulação (e não uma oposição) entre conhecimentos técnicos especializados e orientações normativas. Nesse caso, ciência e política não são dois polos antinômicos, mas duas dimensões articuladas. Nesse sentido, segundo uma definição canônica, comunidades epistêmicas são redes de pessoas que: a) partilham determinadas crenças normativas sobre o que é certo e errado, bom ou ruim, justo ou injusto; b) compartem determinadas crenças causais (procedimentos a serem adotados para a realização dos ideais normativos); c) partilham um conhecimento especializado e tido como legítimo pela sociedade (ferramenta a ser utilizada para operacionalizar as crenças causais e realizar os ideais normativos); e d) têm um objetivo político comum: influenciar uma política pública específica de modo coerente com as crenças normativas da comunidade epistêmica em questão ( Haas, 1992HAAS, Peter. Introduction: Epistemic Communities and International Policy Coordination. International Organization, Cambridge, v. 46, n. 1, p 1-35, 1992.).

Essa articulação entre crenças e conhecimento especializado, por sua vez, faz da elite dos jornalistas econômicos um grupo interessante, pois, embora muitos deles não sejam economistas de profissão, são capazes de mobilizar o conhecimento produzido pelos economistas profissionais para referendar análises e visões de mundo, e, nesse sentido, cumprem papel primordial na disseminação dos fundamentos de uma certa ciência econômica entre os leitores e as elites políticas responsáveis por tomar decisões nessa área. Na medida em que operam várias das crenças causais formuladas pela teoria econômica a fim de legitimar determinadas políticas, os jornalistas econômicos podem ser vistos como parte importante da elite política que constitui uma comunidade epistêmica mais ampla, em especial, a parte responsável pela produção de consensos públicos em torno de determinadas formas de conhecimento e de prescrições políticas delas derivadas. A coluna do jornalismo econômico deve ser vista, portanto, como um espaço em que cabe ao jornalista mobilizar a racionalidade técnica da economia para legitimar certos objetivos (tidos como os mais racionais dadas as recomendações científicas) e condenar práticas que ameaçam contrariar tais prescrições.

A mais notória manifestação desse amálgama de conhecimento científico com orientações normativas voltada para a produção de consensos no campo da política econômica é o conhecido debate entre ortodoxia e heterodoxia na ciência econômica, debate que se reflete no meio jornalístico.

Não há consenso entre o que seria uma visão ortodoxa da política econômica. Dequech (2007)DEQUECH, David. Neoclassical, Mainstream, Orthodox, and Heterodox Economics. Journal of Post Keynesian Economics, London, v. 30, n. 2, p. 279-302, 2007. divide as explicações do que seria a ortodoxia em duas matrizes: a sociológica e a intelectual. Na definição sociológica, o conceito de ortodoxia estaria eminentemente conectado ao conceito de mainstream. Enquanto este designaria o conjunto de pensamentos econômicos dominantes em um determinado período, a ortodoxia seria a linhagem de pensamento hegemônica no interior do mainstream. De maneira simplificada, o pensamento dominante entre os pensamentos dominantes num dado momento histórico. E esse é um ponto importante porque a definição sociológica historiciza a definição tanto de mainstream quanto de ortodoxia. A definição intelectual, ao contrário, identifica o conceito de ortodoxia como uma unidade epistemológica. Para Mollo (2004)MOLLO, Maria de Lourdes Rollemberg. Ortodoxia e heterodoxia monetária: a questão da neutralidade da moeda. Brazilian Journal of Political Economy/Revista de Economia Política, São Paulo, v. 24, n. 3, pp. 323-345. 2004., a ortodoxia econômica está ancorada na noção de neutralidade da moeda e na adoção da lei de Say. 1 1 A proposição teórica, criada pelo economista político francês Jean-Baptiste Say, vincula a moeda diretamente ao valor de produção. Assim, não poderia haver emissão de moeda para além do valor produzido sem provocar graves distorções na economia. Para Mollo, os “neoclássicos, novos clássicos e novos keynesianos aceitam a lei de Say e a teoria quantitativa da moeda, pertencendo, por isso, à chamada ortodoxia econômica” ( Mollo, 2004MOLLO, Maria de Lourdes Rollemberg. Ortodoxia e heterodoxia monetária: a questão da neutralidade da moeda. Brazilian Journal of Political Economy/Revista de Economia Política, São Paulo, v. 24, n. 3, pp. 323-345. 2004.: 325). Caminho semelhante é adotado por Blyth (2019)BLYTH, Mark. Austeridade. São Paulo: Autonomia Literária, 2019, que insere a ortodoxia e a sua expressão pelo monetarismo a partir da década de 1970 como um dos “ativadores” apresentados para propor políticas públicas austeras. No entanto, apesar dessa diferença entre uma definição histórica e outra epistemológica, parece haver uma convergência entre essas duas posturas. O próprio Dequech (2007)DEQUECH, David. Neoclassical, Mainstream, Orthodox, and Heterodox Economics. Journal of Post Keynesian Economics, London, v. 30, n. 2, p. 279-302, 2007. observa que, hoje, a interpretação sociológica identifica a teoria econômica neoclássica com a ortodoxia, aliando-se, assim, à interpretação intelectual. Desse modo, neste artigo, quando nos referimos à ortodoxia, estamos falando da visão neoclássica da economia, sobretudo no que se refere à moeda enquanto valor neutro, orientação que resulta em políticas de austeridade.

Desafio maior seria definir a heterodoxia, que pode ser sinônimo tanto de não mainstream quanto de não ortodoxia, quanto, também, portadora de uma definição epistemológica própria ( Dequech, 2007DEQUECH, David. Neoclassical, Mainstream, Orthodox, and Heterodox Economics. Journal of Post Keynesian Economics, London, v. 30, n. 2, p. 279-302, 2007.). Para todos os efeitos, pensamos a heterodoxia como a não ortodoxia, ou seja, políticas que, em diferentes níveis, desconsideram, ou relativizam, a neutralidade da moeda enquanto valor.

Tendo em vista o que foi dito antes, são dois os objetivos do artigo. Primeiro, apresentar ao leitor uma prosopografia da elite dos colunistas de economia que compõem o nosso universo de análise, isto é, aqueles que atuam nos principais jornais do país, definidos em termos de sua circulação, visando identificar a formação desses comunicadores, sua trajetória profissional e seus vínculos políticos. Segundo, apresentar, por meio da análise de redes sociais (ARS), informações detalhadas sobre a importância de certas instituições na formação acadêmica e na trajetória profissional desses indivíduos, contribuindo para a sua formação como comunidade epistêmica, isto é, a rede de atores coletivos com formação e trajetórias específicas, cujos discursos e ações se orientam por crenças causais e normativas. Como recorte temporal, escolhemos os colunistas que escreveram nos principais jornais brasileiros nos três primeiros anos do governo Bolsonaro, de 2019 a 2021.

Para realizar esses objetivos, o artigo tem a seguinte estrutura: além desta introdução, a segunda seção apresenta a metodologia do trabalho, descrevendo como montamos o nosso universo de colunistas; na terceira seção, examinamos os dados sobre a prosopografia dos nossos colunistas; na quarta, tratamos dos sociogramas sobre a suas trajetórias acadêmicas e profissionais; e, na quinta seção, sistematizamos os nossos achados e apontamos os passos futuros de nossa pesquisa.

Metodologia

Banco de dados: definição do escopo

Para definir o universo da elite dos colunistas econômicos a serem pesquisados, combinamos o critério posicional com o critério reputacional de identificação de elites ( Codato, 2015CODATO, Adriano. Metodologia para identificação de elites: três exemplos clássicos. In: CODATO, Adriano; PERISSINOTTO, Renato (org.). Como estudar elites. Curitiba: Editora UFPR, 2015.). O critério posicional se refere ao exercício do colunismo econômico nos principais jornais do país: O Globo, Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e Valor Econômico. Os três primeiros foram selecionados por serem os jornais de maior circulação impressa do Brasil. 2 2 Excluímos o periódico Super Notícia, que, apesar de ter a maior circulação impressa do país, tem cobertura apenas local, em Minas Gerais. O Valor Econômico entrou por ser o sexto jornal de maior circulação e ter recorte editorial que privilegia a cobertura econômica, sendo o periódico econômico de maior circulação nacional ( Yahya, 2022YAHYA, Hanna. Jornais em 2021: impresso cai 13%, digital sobe 6%. Poder360, Brasília, DF, 1 fev. 2022. Disponível em: https://www.poder360.com.br/economia/jornais-em-2021-impresso-cai-13-digital-sobe-6/. Aceso em: 6 jul. 2023.
https://www.poder360.com.br/economia/jor...
).

O critério reputacional se refere à opinião de especialistas em análise econômica. Para tanto, enviamos, para os professores dos programas em pós-graduação em Economia de diferentes universidades brasileiras, 3 3 As universidades em questão foram: Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). A Universidade de São Paulo (USP) ficou de fora da lista porque sua orientação epistemológica não é tão vinculada à ortodoxia ou à heterodoxia econômica. Sobre esse ponto, ver Codato et al. (2016). um questionário solicitando que indicassem quais seriam os três colunistas considerados por eles mais relevantes em cada jornal, deixando aberta a possibilidade para preencher menos nomes, ou mesmo nenhum, em caso de desconhecimento. O questionário não sugeria nomes, deixando a cargo do respondente indicar os que melhor lhes conviesse. No total, foram 117 e-mails enviados.

Ao todo, recebemos 23 respostas ao questionário, com indicação de 58 colunistas. Filtramos estes conforme os seguintes critérios: 1) o colunista tem de ter sua coluna publicada em algum momento entre 2019 e 2021; 2) ter sua coluna publicada no caderno de economia da edição impressa do jornal em questão, como forma de contemplar textos que alcançassem, ao mesmo tempo, as circulações impressas e virtuais. Flexibilizamos o critério 2 para o caso do Valor Econômico por ser um periódico setorizado, em que todos os cadernos tratam, de alguma maneira, de temáticas econômicas. Excluímos dezenove nomes por não atenderem a esses critérios, ou por não serem colunistas de nenhum dos quatro jornais analisados ( Quadro 1).

Quadro 1 -
Lista de colunistas analisados no trabalho

Coleta e análise dos dados prosopográficos

Estabelecido o recorte, partimos para a coleta dos dados prosopográficos. 4 4 Na definição canônica de Lawrence Stone ( 2011, p. 115), prosopografia “é a investigação das características comuns de um grupo de atores na história por meio de um estudo coletivo de suas vidas. O método empregado constitui-se em estabelecer um universo a ser estudado e então investigar um conjunto de questões uniformes — a respeito de nascimento e morte, casamento e família, origens sociais e posição econômica herdada, lugar de residência, educação, tamanho e origem da riqueza pessoal, ocupação, religião, experiência em cargos e assim por diante. Os vários tipos de informações sobre os indivíduos no universo são então justapostos, combinados e examinados em busca de variáveis significativas. Eles são testados com o objetivo de encontrar tanto correlações internas quanto correlações com outras formas de comportamento ou ação”. Construímos o banco de dados a partir das variáveis apresentadas no Quadro 2.

Quadro 2 -
Lista de colunistas analisados no trabalho

As informações produzidas por essa coleta foram publicadas no banco Albuquerque et al. (2022)ALBUQUERQUE, Mateus C. M. de; PORTELA, Paula de O.; BEFF, Pedro Henrique C. A. Coalizões em conflito: as discordâncias políticas entre membros do CMN e sua formação educacional (1995-2018). In: ALBUQUERQUE, Mateus C. M. de; SANGALLI, Amanda. O Estado, os políticos e os empresários: vinte anos do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política. Rio de Janeiro: Editora dos Autores, 2022., junto com as fontes consultadas. As fontes para estas informações foram diversas, mas utilizamos sobretudo da plataforma Lattes; do perfil dos colunistas no LinkedIn; no website Portal dos Jornalistas; e nos próprios jornais para os quais os colunistas trabalham. A partir desse banco de dados, produzimos também uma tabela codificada para facilitar a demonstração dos dados, publicada no mesmo banco.

Os dados prosopográficos foram analisados através de frequências e por meio da metodologia de ARS. Em relação a esta, é necessário observar que as redes aqui analisadas não representam uma interação compartilhada entre os indivíduos. A ARS, nesse caso, é mobilizada para sistematizar as informações de trajetória (acadêmica e profissional), considerando a centralidade das instituições na constituição dessa comunidade epistêmica. Tal procedimento tem a vantagem de não reduzir a análise da trajetória profissional dos indivíduos a sua última ocupação, como fazem vários outros estudos de elites. Trabalha-se com as trajetórias completas dos indivíduos, um procedimento já mobilizado em trabalhos como Perissinotto et al. (2017)PERISSINOTTO, Renato; CAVALIERI, Marco; DANTAS, Eric Gil; DIAS, Rodolfo Palazzo. Redes sociais e recrutamento: o caso dos diretores e presidentes do Banco Central do Brasil (1994-2016). Tempo Social, São Paulo, v. 29, n. 3, p. 61-82, 2017. DOI: 10.11606/0103-2070.ts.2017.125881.
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e Tokumoto et al. (2021)TOKUMOTO, Alessandro; DIAS, Rodolfo; PERISSINOTO, Renato; DANTAS, Eric Gil. Specialists and Politics: The Recruitment of Presidents and Directors of BNDES in the PSDB and PT Administrations. Brazilian Political Science Review, São Paulo, v. 15, n. 2, 2021. DOI: 10.1590/1981-3821202100020005.
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. Diferentemente desses estudos, trabalhamos com as redes em seu formato modo 2, enquanto redes de afiliação. Isso significa que existem dois gêneros de atores nessas redes (pessoas e instituições), precisando por isso de procedimento metodológico específico para serem analisadas (centralidade de autovetor) 5 5 A centralidade de autovetor é uma medida mais sofisticada que a simples somatória do número de conexões de um agente (também chamada de grau), e consiste na mensuração da importância de determinado nó proporcionalmente à importância dos nós adjacentes ( Faust, 1997: 169). Mais do que estar conectado com vários agentes, para a elevação numérica nessa medida de centralidade, o nó precisa estar conectado com outros nós que também têm várias conexões. Cherven (2015) coloca que essa medida é importante para discutir influência, e Faust (1997) ressalta o uso frequente dessa medida para redes de afiliação (redes modo 2). ( Cherven, 2015CHERVEN, Ken. Mastering Gephi Network Visualization: Produce Advanced Network Graphs in Gephi and Gain Valuable Insights into Your Network Datasets. Birmingham: Packt, 2015.; Faust, 1997FAUST, Katherine. Centrality in Affiliation Networks. Social Networks, Amsterdam, v. 19, n. 2, 1997.). O programa utilizado para a análise das redes foi o Gephi 0.9.2, mobilizando além da métrica de autovetor, também o algoritmo Force Atlas para a regulagem da distribuição dos nós no sociograma. O algoritmo realizou a distribuição inicial, havendo, depois, a regulagem manual dos nós que permaneceram sobrepostos.

Quem são os colunistas econômicos?

Nossos dados revelam que 76,92% (30) dos nossos colunistas são homens e 23,08% (9) são mulheres. Todos os colunistas têm pelo menos uma graduação de nível superior. Destes, 79,48% (31) realizaram a sua graduação em instituições públicas, 15,39% (6) em instituições privadas e 5,12% (2) realizaram uma graduação em uma instituição pública e outra em uma instituição privada. A maioria, 92,3% (36), cursou universidades no Brasil. Quando analisamos a área de formação, 56,41% (22) se formaram em Economia ou em Economia e em outras disciplinas; 23,08% (9) em Jornalismo ou em Jornalismo e em outras disciplinas; e 20,51% (8) têm outras formações.

Quanto às pós-graduações, 82,05% (32) têm pós-graduação em algum nível. Dentre os que têm pós-graduação, 75% (24) são doutores, 21,87% (7) são mestres e 3,13% (1) são especialistas. Uma maioria de 90,63% (29) tem como maior nível de pós-graduação um curso em Economia e derivados. Dentre estes pós-graduados em Economia, 41,38% (12) realizaram o maior nível de sua pós-graduação no Brasil. O mesmo número (12) realizou nos Estados Unidos; 10.34% (3) no Reino Unido e 6,9% (2) na França. Assim, uma maioria de 58,62% (17) cursou o maior nível de sua pós-graduação em Economia no exterior. Quanto ao envolvimento em think tanks, 6 6 Think tanks [usina de ideias] são instituições que atuam no processo de consolidação de projetos e teorias específicas ( Barbosa, 2016). Surgidos nos Estados Unidos e no Reino Unido ao longo das décadas de 1950 e 1960, eles tinham como foco apresentar soluções para as políticas públicas nacionais ( Rich, 2004; Teixeira, 2007). Ao longo dos anos, surgem diferentes tipos de think tanks, como os advocacy think tanks (dedicados a militar em prol de uma ideia) e think tank acadêmicos (voltados para a promoção de discussões acadêmicas e científicas) ( Rocha, 2017). 53,85% (21) não tem qualquer envolvimento com esse tipo de organização. Em relação à entrada nos governos, 56,41% (22) nunca assumiu cargo de nomeação no governo federal, em governos estaduais ou em prefeituras de capitais. Outra informação relevante é que, dos 39 indivíduos que compõem o nosso universo, 11 (28%) se especializaram na carreira como jornalistas e 28 (72%) são economistas profissionais que também se dedicam ao colunismo econômico.

Em suma, nosso universo é masculino, com indivíduos oriundos de instituições de ensino superior públicas e, em sua maioria, pós-graduados. Ademais, trata-se de um grupo marcado por algumas divisões interessantes, que podem nos ajudar a entender o conteúdo de suas colunas numa análise futura. Os colunistas se dividem entre economistas de carreira e jornalistas de carreira; entre indivíduos ativos e não ativos em think tanks; e indivíduos engajados e não engajados em atividades políticas. Os colunistas economistas são mais atuantes no mundo político — 38% deles participaram de atividades de governo em diferentes níveis, contra apenas 5% de jornalistas de carreira — e mais engajados na militância ideológica — 46% deles se vinculam a think tanks de vários tipos, como acadêmicos diversificados, empreendimentos de políticas públicas, de tipo advocacy [defesa, ou representação, de causa ou ideologia] ( Wellstead; Howlett, 2022WELLSTEAD, Adam; HOWLETT, Michael. (Re)Thinking Think Tanks in the Age of Policy Labs: The Rise of Knowledge-Based Policy Influence Organisations. Australian Journal of Public Administration, Hoboken, NJ, v. 81, n. 1, 2022, p. 224-232. DOI: 10.1111/1467-8500.12528.
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: 227), o que não ocorre com nenhum jornalista. Como essa divisão entre colunistas economistas e colunistas jornalistas é muito marcante, ela guiará, com a antinomia ortodoxia-não ortodoxia, a apresentação dos dados a seguir.

As instituições de formação e de carreira: universidades, think tanks e jornais

Como dissemos, este artigo se preocupa, como primeiro passo dessa pesquisa, em identificar as instituições de formação acadêmica e as que estruturam a trajetória profissional dos colunistas. Pensamos que elas são fundamentais para a formação e estruturação da visão econômica dos colunistas. Por essa razão, usamos dados prosopográficos numa ARS e, desse modo, identificamos a centralidade de certas instituições na formação e profissionalização dos membros do nosso universo. Comecemos pela formação acadêmica.

O Gráfico 1 apresenta os dados dessa rede, enquanto o Quadro 3 informa quais são as pessoas e as instituições com maior centralidade.

Gráfico 1 -
Sociograma da trajetória acadêmica dos colunistas

Tamanho dos nós e dos labels regulados pela métrica eigenvector. Cor vermelha para os economistas, azul para os jornalistas, verde para as instituições de ensino nacionais e amarela para as instituições de ensino internacionais.

Quadro 3 -
Lista dos 42 nós com maior centralidade de autovetor 7 7 Utilizamos como parâmetro básico para a inserção dos atores no quadro os primeiros quarenta nós com maior índice de centralidade de autovetor. Dois nós a mais foram incluídos por apresentarem o mesmo índice que os nós posicionados em 39º e 40º lugares.

Comecemos nossa análise pelo mais evidente: a Universidade de São Paulo (USP) é, de longe, o nó com maior centralidade em nossa rede. Há um número significativo de colunistas economistas (vermelho) e jornalistas (azul) diretamente ligados àquela universidade. Ela é uma instituição representativa do mainstream no que diz respeito à sua Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), tal como definido no início deste artigo, e, por isso, não pode ser vista nem como uma instituição ortodoxa nem como heterodoxa. 8 8 Para classificarmos as instituições de ensino, optamos por utilizar a metodologia presente em Portela (2023), que avalia características de seu corpo docente, como: 1) background [experiência] educacional, 2) vinculação associativa; 3) produção científica e revistas de publicação dos professores presentes em seu quadro funcional. Ver também Suprinyak e Fernández (2019), Codato e Cavalieri (2015) e Codato et al. (2016). No entanto, dos oito colunistas economistas vinculados diretamente à instituição, cinco são ortodoxos 9 9 Para a categorização dos colunistas como ortodoxos ou não ortodoxos, recorremos a uma leitura do conteúdo de suas colunas publicadas entre 2019 e 2021, através dos seguintes critérios: 1) posição em relação à reforma trabalhista, previdenciária e fiscal; 2) posição sobre inflação, teto de gastos e neutralidade da moeda; e 3) opiniões relativas ao papel do Estado na economia. Como continuação desta pesquisa, pretendemos realizar uma análise de conteúdo mais específica a posteriori, quando realizaremos um levantamento mais robusto de suas exposições a fim de gerar novos resultados empíricos quantitativos e qualitativos. Neste momento, seria impossível apresentar todos os dados das colunas por não ser o objetivo deste trabalho. Nossa classificação foi realizada por especialistas com base em axiomas das escolas macroeconômicas atuais. Ver Albuquerque (2022). (Celso Pastore, Samuel Pessoa, Zeina Latif, Alexandre Schwartsman, Naércio Menezes). Ao contrário, no que diz respeito aos colunistas jornalistas, dos seis diretamente conectados à USP, apenas um é ortodoxo (Celso Ming).

A segunda instituição mais central em nossa lista é a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição heterodoxa no campo da economia. A ela temos ligados apenas colunistas economistas, num total de oito. Desses, metade é formada por colunistas de orientação ortodoxa (Cecília Machado, Fabio Giambiagi, Nelson Teixeira e Mario Mesquita), revelando, ao menos para os nossos dados, um resultado mais heterogêneo do que o encontrado na USP.

As duas instituições nacionais seguintes com maior centralidade são a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade de Brasília (UnB). A primeira tem vinculada a si dois não ortodoxos (Luiz Carlos Mendonça de Barros e Luiz Gonzaga Belluzzo). A UnB tem um total de oito indivíduos diretamente conectados a ela, dos quais apenas dois são economistas de formação, um ortodoxo (Gustavo Loyola) e outro não (Pedro Nery). Os demais são todos jornalistas, na sua maioria ortodoxos (exceto por Adriana Fernandes, também vinculada à USP). Por fim, temos a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e a Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP). 10 10 As demais instituições nacionais — UFPR, Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) — não têm peso suficiente na rede para entrar na Quadro 3. A primeira tem vinculada a ela quatro colunistas economistas e a segunda, dois. Todos eles são ortodoxos.

Assim, a ARS de formação acadêmica revela três aspectos importantes de nossa comunidade de colunistas econômicos. Primeiro, uma divisão de trabalho entre as instituições na formação de colunistas jornalistas e colunistas economistas. UnB e USP concentram a formação de jornalistas, em que a primeira basicamente só tem colunistas formados em Jornalismo e a segunda nos dois campos disciplinares. As demais instituições nacionais que aparecem na tabela de centralidade — UFRJ, Unicamp, PUC-Rio e FGV-SP — concentram a formação de colunistas econômicos. Em segundo lugar, percebemos que não há sempre uma correspondência inequívoca entre ortodoxia econômica e formação acadêmica de origem. A USP, reconhecida como uma instituição que congrega tanto ortodoxos e heterodoxos, produziu, no nosso universo de colunistas econômicos, indivíduos orientados pela ortodoxia econômica (como definido por nós na “Introdução”). A UFRJ, amplamente reconhecida como instituição propagadora da heterodoxia econômica, produziu colunistas econômicos tanto heterodoxos como ortodoxos. Ao contrário, PUC-Rio e FGV-SP, instituições reconhecidamente ortodoxas, são muito mais homogêneas nesse quesito, com amplo predomínio dos ortodoxos. As demais instituições de formação são estrangeiras (Universidade Harvard e Universidade da Califórnia, Berkeley) de orientação ortodoxa, às quais estão vinculados colunistas também ortodoxos: Claudio Ferraz, Armando Castelar Pinheiro e Alexandre Schwartsman (vinculados à Berkeley) e Gustavo Franco, Rogério Werneck e Albert Fishlow (vinculados à Harvard). Essas informações são condizentes com a literatura especializada ( Dequech, 2007DEQUECH, David. Neoclassical, Mainstream, Orthodox, and Heterodox Economics. Journal of Post Keynesian Economics, London, v. 30, n. 2, p. 279-302, 2007. , 2018DEQUECH, David. Applying the Concept of Mainstream Economics outside the United States: General Remarks and the Case of Brazil as an Example of the Institutionalization of Pluralism. Journal of Economic Issues, London, v. 52, n. 4, p. 904-924, 2018.; Portela, 2023PORTELA, Paula de O. Pluralismo, heterodoxia e ortodoxia monetária: o caso das coalizões de defesa no Banco Central do Brasil. 2023. Dissertação (Mestrado em Ciência Política). Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2023.), que mostra que o espaço acadêmico no campo da formação em Economia é mais plural no Brasil do que nos Estados Unidos. Tal pluralidade se expressa também entre os nossos colunistas, já que a tabela de centralidade acima contém quarenta nós, divididos entre 22 ortodoxos e dezoito não ortodoxos. Mas a pluralidade, nesse caso, não significa ausência de padrão, pois, como vimos, há duas instituições ortodoxas que fornecem ao mundo do colunismo econômico indivíduos vinculados à ortodoxia.

Ademais, é preciso ficar claro que tais considerações sobre a formação acadêmica afetam sobretudo os formados em Economia, já que os colunistas jornalistas são formados em um curso que pouco ou nada ensina sobre teoria econômica. Além disso, os jornalistas têm pouca inserção, bem menos que os economistas, na pós-graduação na área de economia, o que sugere que os condicionantes da visão econômica dos jornalistas têm muito mais a ver com a sua trajetória profissional do que com sua formação acadêmica.

Dada a dificuldade de fazer uma conexão direta entre a formação acadêmica e ideologia econômica, ainda maior no caso dos formados em Jornalismo, resolvemos analisar, também pela ARS, a trajetória profissional integral desses indivíduos e sua atuação em entidades defensoras de visões específicas sobre a economia, como os think tanks. Diferentemente da formação acadêmica, situada num momento específico da vida do indivíduo, essa trajetória indica todas as instituições pelas quais passou ao longo de sua vida profissional ( Gráficos 2 e 3).

Há três pontos importantes no Gráfico 2. Em primeiro lugar, fica evidente que a centralidade das instituições educacionais muda de modo significativo. Enquanto no sociograma da formação ( Gráfico 1), a USP dominava, seguida de instituições com orientações distintas no que concerne às suas escolas de economia (UFRJ, Unicamp, FGV-SP e PUC-Rio), no sociograma sobre trajetória profissional ( Gráfico 2), o retrato é bem diferente. Nas primeiras colocações estão FGV-RJ, FGV-SP e PUC-Rio, indicando que tais instituições são mais importantes na vida profissional dos nossos colunistas do que na sua formação acadêmica inicial. Nesse sentido, é interessante observar que essas três escolas de economia não tiveram destaque nas medidas de centralidade referentes ao sociograma da formação acadêmica dos colunistas ( Gráfico 1). A posição central ocupada por elas na rede de trajetória profissional indicaria que os jornais fazem o recrutamento de seus colunistas de economia em grande parte dentro dessas instituições. De fato, muitos dos colunistas economistas ligados a essas instituições estão também vinculados a empresas de jornalismo na rede acima ( Gráfico 2 ). Há alguns nomes que ocupam posição de destaque nessa conexão entre as instituições de ensino ortodoxas e as empresas jornalísticas, que são exatamente aqueles que aparecem nas primeiras posições no Quadro 3: Luiz Carlos Mendonça de Barros (Folha de S.Paulo), Affonso Celso Pastore (Folha de S.Paulo e Gazeta Mercantil) Gustavo Franco (Época e Veja), Fabio Giambiagi (O Estado de S.Paulo). É possível sugerir que esses colunistas economistas, que atuam em importantes instituições de ensino ortodoxas e, ao mesmo tempo, em importantes veículos de comunicação, conectam os jornalistas (o cluster [grupo] azul à direita da rede) com a perspectiva ortodoxa sobre a economia. 11 11 Luiz Carlos Mendonça de Barros é uma exceção. Foi ministro das Comunicações entre abril e novembro de 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, tendo defendido posições privatistas em sua gestão. Entretanto, enquanto colunista, se mostrou crítico à ortodoxia econômica em diversas situações, especialmente no que se refere à restrição orçamentária imposta pela política de juros do Banco Central. Portanto, não pode ser considerado um colunista ortodoxo. Essa é uma função que os colunistas economistas vinculados a instituições heterodoxas (UFRJ, Unicamp, BNDES) não exercem, pois não é possível visualizar vínculos entre esses indivíduos com empresas de jornalismo antes de se tornarem colunistas. Não por outra razão, tanto essas instituições como esses indivíduos estão em posição bem menos relevante no Quadro 3 .

Gráfico 2 -
Sociograma da trajetória profissional dos colunistas

Cor vermelha para os economistas, azul para os jornalistas, amarela para as instituições nas quais a atividade profissional foi realizada. Os nós quadrados tratam de instituições públicas e nós triangulares de instituições jornalísticas (todos os outros são redondos). Tamanho dos nós e dos labels determinada pela centralidade de autovetor. Nós de grau 1 não tem seu label apresentado.

Quadro 4 -
Lista dos quarenta nós com maior centralidade de autovetor

Um segundo aspecto interessante revelado pela Gráfico 2 é que, diferentemente dos colunistas economistas, os colunistas jornalistas não cumprem essa função de intermediação entre instituições na sua trajetória profissional. Eles estão basicamente vinculados a empresas jornalísticas, com raras exceções, como é o caso de Cláudia Safatle, ligada ao Banco Central. Isso reforça o papel dos jornalistas economistas vinculados às instituições de ensino ortodoxas na circulação das ideias e, por conseguinte, dentro dessa comunidade epistêmica.

Por fim, é interessante a centralidade de certas instituições estatais na trajetória profissional de alguns dos nossos colunistas. As mais importantes entre elas são o Banco Central (oitavo maior eigenvector entre as instituições) e o Ministério da Fazenda (décimo maior eigenvector entre as instituições). Há ainda outras, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), instituições vinculadas a políticas de desenvolvimento e que têm conexão com importantes colunistas econômicos, a maioria deles de orientação ortodoxa (Elena Landau, com o BNDES; Afonso Celso Pastores, Gustava Franco, Fabio Giambiagi e Armando Castelar Pinheiro, com o IPEA), exceto pelo caso de Laura Carvalho e David Kupfer, ligados ao BNDES, e Bernard Appy, ao Ministério da Fazenda. Observe-se, no entanto, que só os ortodoxos são nós de conexão com as empresas jornalísticas. Isso sugere que sua presença nesses órgãos estatais os torna formadores de opinião ainda mais importantes, fontes privilegiadas de informação pela sua circulação dentro das instituições de governo.

Assim, diferentemente do sociograma sobre formação acadêmica, o sociograma sobre trajetória profissional nos revela uma realidade mais estruturada, na qual os colunistas economistas ocupam uma posição mais central e de conexão entre instituições de formação acadêmica ortodoxas, empresas jornalísticas e órgãos governamentais importantes. Se isso for correto, podemos dizer que eles são os mais importantes atores dentro da comunidade epistêmica dos colunistas econômicos.

No que diz respeito aos think tanks, nossa prosopografia revelou que os jornalistas, em sua integralidade, não participam dessas instituições. No caso dos economistas, a participação predomina entre aqueles do setor privado. No total, 46% (18) dos economistas de carreira se inseriram em algum think tank. A partir dos dados prosopográficos, elaboramos o Gráfico 3 .

Gráfico 3 -
Sociograma dos think tanks

Como já observamos, a ausência de nós azuis já indica que os colunistas econômicos de trajetória no jornalismo não estabelecem presença dentro dos think tanks. Além disso, é preciso destacar a valorização que a métrica de autovetor dá ao Instituto Millenium, de clara orientação ortodoxa. Isso se deve não apenas pelo instituto ter vários integrantes do nosso universo de estudo, mas também pelo fato de que dois desses integrantes (Alexandre Schwartsman e Zeina Latif) terem participado de outros think tanks. Ou seja, os dados sobre os think tanks reafirmam o que dissemos no parágrafo anterior: se a nossa comunidade de colunistas econômicos é dividida entre os de trajetória especializada no jornalismo e aqueles que atuam na vida profissional como economistas, são estes e, em especial, os colunistas econômicos de orientação ortodoxa que ocupam posição privilegiada na rede, funcionando como conectores de dois espaços sociais distintos importantes. No caso dos think tanks, instituições de formação de opinião por excelência, não só os economistas são os únicos que participam, mas, entre eles, são os ortodoxos que formam a ampla maioria e conferem a um think tank em particular, também ortodoxo, o lugar central na rede.

Conclusão

A economia é um espaço de luta de classes. Muito do que se diz e se pensa sobre o campo econômico tem como função ocultar esse fato incontornável por meio de argumentos técnicos supostamente universais e irrefutáveis. Qualquer um que tenha o poder de dizer o que a economia é tem, ao mesmo tempo, poder de formar consensos e vieses que beneficiam uns em detrimentos de outros; tem o poder de enquadrar certos problemas como legítimos e certas soluções como cientificamente autorizadas. Por essa razão, a literatura mostra que os colunistas de economia dos principais jornais brasileiros são peças importantes no tabuleiro das lutas políticas e simbólicas do país.

Inspirado por esse achado da literatura sobre o tema, este artigo teve como objetivo analisar os colunistas de economia dos principais jornais do Brasil como uma comunidade epistêmica. Dessa forma, duas contribuições do nosso artigo nos parecem importantes. A primeira delas diz respeito à diversidade do grupo. Usando os dados prosopográficos por meio da análise de redes sociais, mostramos que nossos colunistas compõem um universo diversificado. Eles são formados em diferentes instituições, dividem-se quanto à participação em cargos governamentais e em think tanks, quanto à sua carreira profissional (economistas e jornalistas) e quanto à sua orientação perante as teorias econômicas (ortodoxos e não ortodoxos). Trata-se, sem dúvida, de um universo plural, o que poderia refutar o uso do conceito de comunidade epistêmica para analisá-los. No entanto, e aqui apresentamos nossa segunda contribuição, esse pluralismo não é sinônimo de ausência de hierarquias. O uso da ARS para analisar a trajetória integral dos indivíduos do nosso universo permitiu perceber que aquelas diferenças internas ao grupo convivem com um padrão no qual apenas os colunistas economistas ortodoxos são conectores fundamentais entre distintos espaços sociais na rede, a saber: entre órgãos governamentais, instituições de formação acadêmica e empresas jornalísticas. Funcionariam, assim, como portadores de informações e, mais importante, de esquemas interpretativos a serem utilizados e divulgados pelos colunistas jornalistas. Desse modo, colunistas economistas e colunistas jornalistas formariam, sim, uma comunidade epistêmica que moldaria e disseminaria o consenso ortodoxo no país.

Para que essa última afirmação seja algo mais do que uma ilação plausível, tendo em vista os dados aqui apresentados, um importante passo futuro de nossa pesquisa será fazer uma análise detida do conteúdo das colunas produzidas por esses agentes, identificando as fontes intelectuais e crenças causais partilhadas. Se mostrarmos, de maneira sistemática, que as colunas de economia dos principais jornais do Brasil são orientadas por um ideário ortodoxo, daremos mais uma contribuição para a análise desse grupo de indivíduos que pertencem a uma comunidade epistêmica, cuja centralidade para a definição dos termos em que se dá a luta política e simbólica em torno da economia é inegável.

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    » https://doi.org/10.1080/14494035.2017.1416929

Notas

  • 1
    A proposição teórica, criada pelo economista político francês Jean-Baptiste Say, vincula a moeda diretamente ao valor de produção. Assim, não poderia haver emissão de moeda para além do valor produzido sem provocar graves distorções na economia.
  • 2
    Excluímos o periódico Super Notícia, que, apesar de ter a maior circulação impressa do país, tem cobertura apenas local, em Minas Gerais.
  • 3
    As universidades em questão foram: Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). A Universidade de São Paulo (USP) ficou de fora da lista porque sua orientação epistemológica não é tão vinculada à ortodoxia ou à heterodoxia econômica. Sobre esse ponto, ver Codato et al. (2016)CODATO, Adriano; CAVALIERI, Marco; PERISSINOTTO, Renato; DANTAS, Eric G. Economic Mainstream and Power: A Profile Analysis of Central Bank Directors During PSDB and PT Governments in Brazil. Nova Economia, Belo Horizonte, v. 26, n. 3, p. 687-720, 2016..
  • 4
    Na definição canônica de Lawrence Stone ( 2011, p. 115STONE, Lawrence. Prosopografia. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, v. 19, n. 39, p. 115-137, 2011. DOI: 10.1590/S0104-44782011000200009.
    https://doi.org/10.1590/S0104-4478201100...
    ), prosopografia “é a investigação das características comuns de um grupo de atores na história por meio de um estudo coletivo de suas vidas. O método empregado constitui-se em estabelecer um universo a ser estudado e então investigar um conjunto de questões uniformes — a respeito de nascimento e morte, casamento e família, origens sociais e posição econômica herdada, lugar de residência, educação, tamanho e origem da riqueza pessoal, ocupação, religião, experiência em cargos e assim por diante. Os vários tipos de informações sobre os indivíduos no universo são então justapostos, combinados e examinados em busca de variáveis significativas. Eles são testados com o objetivo de encontrar tanto correlações internas quanto correlações com outras formas de comportamento ou ação”.
  • 5
    A centralidade de autovetor é uma medida mais sofisticada que a simples somatória do número de conexões de um agente (também chamada de grau), e consiste na mensuração da importância de determinado nó proporcionalmente à importância dos nós adjacentes ( Faust, 1997FAUST, Katherine. Centrality in Affiliation Networks. Social Networks, Amsterdam, v. 19, n. 2, 1997.: 169). Mais do que estar conectado com vários agentes, para a elevação numérica nessa medida de centralidade, o nó precisa estar conectado com outros nós que também têm várias conexões. Cherven (2015)CHERVEN, Ken. Mastering Gephi Network Visualization: Produce Advanced Network Graphs in Gephi and Gain Valuable Insights into Your Network Datasets. Birmingham: Packt, 2015. coloca que essa medida é importante para discutir influência, e Faust (1997)FAUST, Katherine. Centrality in Affiliation Networks. Social Networks, Amsterdam, v. 19, n. 2, 1997. ressalta o uso frequente dessa medida para redes de afiliação (redes modo 2).
  • 6
    Think tanks [usina de ideias] são instituições que atuam no processo de consolidação de projetos e teorias específicas ( Barbosa, 2016BARBOSA, Jefferson Rodrigues. Protestos da direita no Brasil contemporâneo: think tank, grupos empresariais, intelectuais e aparelhos orgânicos da burguesia. Lutas Sociais, São Paulo, v. 20. n. 36. pp. 151-154. 2016.). Surgidos nos Estados Unidos e no Reino Unido ao longo das décadas de 1950 e 1960, eles tinham como foco apresentar soluções para as políticas públicas nacionais ( Rich, 2004RICH, Andrew. Think Tanks, Public Policy and the Politics of Expertise. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.; Teixeira, 2007TEIXEIRA, Tatiana. Os think tanks e sua influência na política externa dos EUA. Rio de Janeiro: Revan, 2007.). Ao longo dos anos, surgem diferentes tipos de think tanks, como os advocacy think tanks (dedicados a militar em prol de uma ideia) e think tank acadêmicos (voltados para a promoção de discussões acadêmicas e científicas) ( Rocha, 2017ROCHA, Camila. O papel dos think tanks pró-mercado na difusão do neoliberalismo no Brasil. Revista Digital de Ciencias Sociales, Mendoza, v. 4, n. 7, p. 95-120, 2017.).
  • 7
    Utilizamos como parâmetro básico para a inserção dos atores no quadro os primeiros quarenta nós com maior índice de centralidade de autovetor. Dois nós a mais foram incluídos por apresentarem o mesmo índice que os nós posicionados em 39º e 40º lugares.
  • 8
    Para classificarmos as instituições de ensino, optamos por utilizar a metodologia presente em Portela (2023)PORTELA, Paula de O. Pluralismo, heterodoxia e ortodoxia monetária: o caso das coalizões de defesa no Banco Central do Brasil. 2023. Dissertação (Mestrado em Ciência Política). Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2023., que avalia características de seu corpo docente, como: 1) background [experiência] educacional, 2) vinculação associativa; 3) produção científica e revistas de publicação dos professores presentes em seu quadro funcional. Ver também Suprinyak e Fernández (2019)SUPRINYAK, Carlos Eduardo; FERNÁNDEZ, Ramón García. The “Vanderbilt Boys” and the Modernization of Brazilian Economics. History of Political Economy, Durham, NC, v. 53, n. 5, p. 893-924, 2017. DOI: 10.1215/00182702-9395100.
    https://doi.org/10.1215/00182702-9395100...
    , Codato e Cavalieri (2015)CODATO, Adriano; CAVALIERI, Marco. Diretores do Banco Central do Brasil nos governos Cardoso, Lula e Dilma: uma radiografia dos seus backgrounds educacionais. Observatório de Elites Políticas e Sociais do Brasil (Newsletter), Curitiba, v. 2, n. 5, p. 1-17, 2015. e Codato et al. (2016)CODATO, Adriano; CAVALIERI, Marco; PERISSINOTTO, Renato; DANTAS, Eric G. Economic Mainstream and Power: A Profile Analysis of Central Bank Directors During PSDB and PT Governments in Brazil. Nova Economia, Belo Horizonte, v. 26, n. 3, p. 687-720, 2016..
  • 9
    Para a categorização dos colunistas como ortodoxos ou não ortodoxos, recorremos a uma leitura do conteúdo de suas colunas publicadas entre 2019 e 2021, através dos seguintes critérios: 1) posição em relação à reforma trabalhista, previdenciária e fiscal; 2) posição sobre inflação, teto de gastos e neutralidade da moeda; e 3) opiniões relativas ao papel do Estado na economia. Como continuação desta pesquisa, pretendemos realizar uma análise de conteúdo mais específica a posteriori, quando realizaremos um levantamento mais robusto de suas exposições a fim de gerar novos resultados empíricos quantitativos e qualitativos. Neste momento, seria impossível apresentar todos os dados das colunas por não ser o objetivo deste trabalho. Nossa classificação foi realizada por especialistas com base em axiomas das escolas macroeconômicas atuais. Ver Albuquerque (2022)ALBUQUERQUE, Mateus C. M. de; PERISSINOTTO, Renato; DIAS, Rodolfo Palazzo; PORTELA, Paula de O.; BEFF, Henrique C. A. Sociological Profile of Economic Columnists of the Main Brazilian Newspapers (2019-2021). Harvard Dataverse, Cambridge, MA, v. 1, 2022. DOI: 10.7910/DVN/XER7XJ.
    https://doi.org/10.7910/DVN/XER7XJ...
    .
  • 10
    As demais instituições nacionais — UFPR, Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) — não têm peso suficiente na rede para entrar na Quadro 3.
  • 11
    Luiz Carlos Mendonça de Barros é uma exceção. Foi ministro das Comunicações entre abril e novembro de 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, tendo defendido posições privatistas em sua gestão. Entretanto, enquanto colunista, se mostrou crítico à ortodoxia econômica em diversas situações, especialmente no que se refere à restrição orçamentária imposta pela política de juros do Banco Central. Portanto, não pode ser considerado um colunista ortodoxo.
  • Fonte de financiamento:

    Não há fonte de financiamento.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    18 Maio 2023
  • Aceito
    21 Nov 2023
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