Pneumopericárdio: um caso raro de parada cardiorrespiratória

Um lactente de 37 dias de vida, do sexo masculino, previamente hígido e sem intercorrências durante período perinatal, foi admitido em unidade de terapia intensiva pediátrica com insuficiência ventilatória aguda devido à bronquiolite viral pelo vírus sincicial respiratório. Foi submetido à intubação traqueal por deterioração clínica, sendo realizada sequência rápida de intubação com fentanil, cetamina e succinilcolina. Durante o procedimento, apresentou tosse, rigidez torácica, diminuição da ausculta pulmonar e má perfusão tecidual. Persistiu com piora clínica, culminando com parada cardiorrespiratória em assistolia, revertida com compressões torácicas e duas doses de epinefrina endovenosa. Posteriormente, apresentou nova parada cardiorrespiratória, agora com suspeita de pneumotórax hipertensivo. Foi realizada toracocentese de alívio com melhora importante da ausculta pulmonar e dos sinais de má perfusão periférico. Após drenagem torácica bilateral teve seus parâmetros ventilatórios diminuídos, porém persistia com má perfusão tecidual, moteamento de pele, pulsos finos, hipotensão e ausculta cardíaca com hipofonese de bulhas. O exame radiológico de tórax confirmou pneumopericárdio hipertensivo (Figura 1), resolvido com pericardiocentese e drenagem de 40mL de ar do espaço pericárdico (Figura 2). O paciente teve boa evolução clínica após procedimento, permanecendo em ventilação mecânica por 6 dias e recebendo alta hospitalar em 13 dias sem sequelas aparentes.

Figura 1
Pneumopericárdio

Figura 2
Pneumopericárdio drenado após pericardiocentese

O pneumopericárdio hipertensivo é uma condição rara, que poder ser relacionada à ventilação por pressão positiva, laringite obstrutiva, asma aguda grave ou trauma fechado de tórax.⁽¹⁾ As taxas de mortalidade podem chegar a 80% em neonatos.^(2,3) Apresenta quadro clínico de tamponamento cardíaco e tem como diagnóstico diferencial o pneumotórax.⁽³⁾ Pacientes prematuros e com doença da membrana hialina submetidos à ventilação mecânica estão mais sujeitos a esta condição, porém há relatos de pneumopericárdio espontâneo em lactentes saudáveis ou naqueles que desenvolveram bronquiolite por vírus sincicial respiratório.^(4,5) No presente caso, apesar da administração de epinefrina promover suporte circulatório temporário, o rápido diagnóstico e a resolução do tamponamento por meio da percardiocente contribuíram para a boa evolução do paciente.⁽⁶⁾

REFERENCES

• ¹
  el Gamel A, Barrett P, Kopff G. Pneumopericardium: a rare cause of cardiac tamponade in an infant on a positive pressure ventilation. Acta Paediatr. 1994;83(11):1220-1.
• ²
  Kyle A, Veldtman G, Stanton M, Weeden D, Baral V. Barotrauma-associated posterior tension pneumomediastinum, a rare cause of cardiac tamponade in a ventilated neonate: a case report and review of the literature. Acta Paediatr. 2012;101(3):e142-4.
• ³
  Neal MD, Hackam DJ. Tension pneumopericardium in an infant. Surgery. 2011;149(3):457-8.
• ⁴
  Suresh P, Tagare A, Kadam S, Vaidya U, Pandit A. Spontaneous pneumopericardium in a healthy full-term neonate. Indian J Pediatr. 2011;78(11):1410-1.
• ⁵
  Fantacci C, Ferrara P, Franceschi F, Chiaretti A. Pneumopericardium, pneumomediastinum, and pneumorrachis complicating acute respiratory syncytial virus bronchiolitis in children. Eur Rev Med Pharmacol Sci. 2017; 21(15):3465-8.
• ⁶
  Levin AI, Visser F, Mattheyse F, Coetzee A. Tension pneumopericardium during positive-pressure ventilation leading to cardiac arrest. J Cardiothorac Vasc Anesth. 2008;22(6):879-82.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  06 Maio 2019
• Data do Fascículo
  2019

Histórico

• Recebido
  30 Abr 2018
• Aceito
  6 Nov 2018