Acessibilidade / Reportar erro

O papel do médico frente à medicina de precisão

Todos os dias, médicos se deparam com diagnósticos e tratamentos idênticos, que geram desfechos diferentes. Ser capaz de individualizar os cuidados é um desejo antigo da medicina. Neste contexto, a medicina de precisão leva em consideração a variabilidade genética individual, os fatores ambientais e o estilo de vida, para encontrar as melhores abordagens terapêuticas e de prevenção para grupos específicos de indivíduos.(11. Sankar PL, Parker LS. The Precision Medicine Initiative’s All of Us Research Program: an agenda for research on its ethical, legal, and social issues. Genet Med. 2017;19(7):743-50. Review.) Há aproximadamente 15 anos, a discussão sobre medicina de precisão tomou um novo rumo com as novas tecnologias computacionais e os avanços em biologia molecular, que possibilitaram um crescimento exponencial na quantidade de dados.(22. Ginsburg GS, Philips KA. Precision medicine: from science to value. Health Aff (Millwood). 2018;37(5):694-701. Review.)

Classicamente, o indivíduo busca ajuda do médico quando ele sai de seu estado de saúde habitual. O médico recolhe as informações e, baseado nos achados clínicos e em seu conhecimento técnico e pessoal, toma as decisões quanto ao tratamento e às medidas de prevenção para o indivíduo. Em um cenário que inclua a medicina de precisão, as informações clínicas são coletadas no prontuário eletrônico desde o nascimento; suas redes sociais indicam hábitos e estilo de vida; seus dispositivos eletrônicos monitoram sinais vitais e deslocamentos a todo segundo; o genoma completo traz 2 milhões de variantes diferentes, além da possibilidade de ampliação dos omics, com transcriptoma, metaboloma e microbioma. Todas essas informações serão processadas em algoritmos matemáticos e usadas para estabelecer os padrões e determinar os tratamentos e medidas preventivas. Da mesma forma que o algoritmo reconhece cães e gatos em fotos, ele poderá identificar os grupos de recém-natos em risco para hipertensão, diabetes e autismo, por exemplo.(33. Eyal G, Sabatello M, Tabb K, Adams R, Jones M, Lichtenberg FR, et al. The physician-patient relationship in the age of precision medicine. Genet Med. 2018;21(4):813-5.)

Neste novo cenário clínico, o paciente procura o médico em seu estado de saúde habitual com informações processadas computacionalmente. Os centros médico-hospitalares passam a uma posição secundária como difusor de saúde e tratamento, enquanto empresas de tecnologia passam a ter a guarda dos dados e os modelos matemáticos de saúde. Estes baseiam-se em indivíduos e eventos passados, extremamente eficazes em indicar quais os desfechos esperados para a vida saudável daquele indivíduo, sem necessariamente dispor da explicação fisiopatológica.(44. Kricka LJ. History of disruptions in laboratory medicine: what have we learned from predictions? Clin Chem Lab Med. 2019;57(3):308-11.)

No contexto atual, a medicina de precisão está sendo aplicada com cautela, como forma de diminuir as incertezas do manejo clínico do paciente, principalmente em relação a tratamento de tumores e farmacogenômica. Os estudos clínicos para a comprovação de eficácia dos achados genômicos e modelos preditivos precisarão ser ajustados à nova realidade. Com o aumento dos dados disponíveis e a diminuição dos grupos de interesse, as estatísticas atuais e as formas de interpretação dos ensaios clínicos precisam passar por uma adaptação.(55. Kimmelman J, Tannock I. The paradox of precision medicine. Nat Rev Clin Oncol. 2018;15(6):341-2.)

O médico terá que definir a conduta não só para um tratamento de doença, mas também para a manutenção e a melhora da saúde, levando em consideração informações de modelos preditivos que podem ser caixas pretas e novos modelos de estudos clínicos.

References

  • 1
    Sankar PL, Parker LS. The Precision Medicine Initiative’s All of Us Research Program: an agenda for research on its ethical, legal, and social issues. Genet Med. 2017;19(7):743-50. Review.
  • 2
    Ginsburg GS, Philips KA. Precision medicine: from science to value. Health Aff (Millwood). 2018;37(5):694-701. Review.
  • 3
    Eyal G, Sabatello M, Tabb K, Adams R, Jones M, Lichtenberg FR, et al. The physician-patient relationship in the age of precision medicine. Genet Med. 2018;21(4):813-5.
  • 4
    Kricka LJ. History of disruptions in laboratory medicine: what have we learned from predictions? Clin Chem Lab Med. 2019;57(3):308-11.
  • 5
    Kimmelman J, Tannock I. The paradox of precision medicine. Nat Rev Clin Oncol. 2018;15(6):341-2.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jun 2019
  • Data do Fascículo
    2019
Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein Avenida Albert Einstein, 627/701 , 05651-901 São Paulo - SP, Tel.: (55 11) 2151 0904 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@einstein.br