Resumo
Notas sobre a fome (2019a), de Helena Silvestre, é uma coletânea de trinta e uma “notas” criativas (verbetes, cartas, poemas e um ensaio) inspiradas em sua experiência como ativista de movimentos por moradia em São Paulo. Silvestre, durante uma crise existencial, declara: “Eu precisava aprender a desejar”. A solução encontrada é continuar contando histórias; escutando as narrativas dos anciões, das crianças e das mulheres nas ocupações; e ouvindo e reinterpretando as teorias dos acadêmicos. Sua perspectiva de como viver em uma comunidade está enraizada em um desejo insaciável de novas estratégias para narrar e habitar a cidade. Em diálogo com a geografia lefebvriana, os estudos feministas e a crítica narrativa, argumentamos que as experiências de Silvestre com abordagens diferentes de contar histórias e de ocupar espaços frisam a importância da busca por novas formas de habitar e desejar comunitariamente em vez de reproduzir uma solução que mantenha o status quo. Consideramos, primeiro, as estratégias de Silvestre para narrar sua solidariedade, depois sua busca por soluções heterogêneas para narrar e ocupar, em seguida a importância das histórias para comunidades e, finalmente, as formas de narrar sobre corpos marginalizados como territórios simultaneamente de desigualdade estrutural e de devaneio.
Palavras-chave:
Helena Silvestre; desejo; moradia; ocupações; narrativa; autoficção