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CONSERVAÇÃO DOS OCEANOS E MUSEUS DE CIÊNCIA: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EXPERIÊNCIAS FAMILIARES DURANTE VISITA AO MUSEU DA VIDA

CONSERVACIÓN DEL OCÉANO Y MUSEOS DE CIENCIA: UN ESTUDIO DE CASO SOBRE EXPERIENCIAS FAMILIARES DURANTE UNA VISITA AL MUSEO DE LA VIDA

OCEAN CONSERVATION AND SCIENCE MUSEUMS: A CASE STUDY ON FAMILY EXPERIENCES DURING A VISIT TO THE MUSEUM OF LIFE

RESUMO:

Neste estudo, utilizamos registros audiovisuais para analisar as conversas de 10 grupos familiares durante visita à exposição temporária “Oceanos” (Museu da Vida, Rio de Janeiro, Brasil) para compreender como os visitantes se engajaram com temas da conservação da biodiversidade marinha. Os resultados trazem evidências de que a exposição despertou o interesse das famílias ao utilizar objetos de natureza diversa para retratar temas de interesse vinculados ao contexto familiar. As famílias conversaram entre si e interagiram com a exposição compartilhando informações sobre os oceanos e a biodiversidade marinha. Os adultos adotaram comportamentos facilitadores: fazer perguntas, ler painéis e fazer associações com experiências anteriores que engajaram as crianças. As crianças participaram ativamente compartilhando seu conhecimento e suas opiniões sobre os animais. A exposição sensibilizou os visitantes para a poluição dos ecossistemas marinhos oferecendo oportunidades para as conversas e reflexões sobre os comportamentos que impactam a biodiversidade marinha e os meios de protegê-la.

Palavras-chave:
Conversas; Educação não formal; Conservação da biodiversidade marinha

RESUMEN:

En este estudio, utilizamos grabaciones audiovisuales para analizar las conversaciones de 10 grupos familiares durante una visita a la exposición temporal “Océanos” (Museu da Vida, Río de Janeiro, Brasil) para comprender cómo los visitantes se involucraron con temas de conservación de la biodiversidad marina. Los resultados evidencian que la exposición despertó el interés de las familias al utilizar objetos de diferente naturaleza para retratar temas de interés vinculados al contexto familiar. Las familias hablaron entre sí e interactuaron con la exposición compartiendo información sobre los océanos y la biodiversidad marina. Los adultos adoptaron conductas facilitadoras: hacer preguntas, leer paneles y hacer asociaciones con experiencias previas que involucraron a los niños. Los niños participaron activamente compartiendo sus conocimientos y opiniones sobre los animales. La exposición sensibilizó a los visitantes sobre la contaminación de los ecosistemas marinos al ofrecer oportunidades para conversar y reflexionar sobre los comportamientos que impactan la biodiversidad marina y las formas de protegerla.

Palabras clave:
Educación no formal; Conservación de la biodiversidad marina

ABSTRACT:

In this study, we used audiovisual recordings to analyze the conversations of 10 family groups during a visit to the temporary exhibition “Oceanos” (Museu da Vida, Rio de Janeiro, Brazil) to understand how visitors engage with themes of marine biodiversity conservation. The results provide evidence that the exhibition aroused the interest of families by using objects of different nature to portray topics of interest linked to the family context. Families talked to each other and interacted with the exhibition by sharing information about the oceans and marine biodiversity. Adults adopted facilitating behaviors: asking questions, reading panels and making associations with previous experiences that engaged children. Children actively participated by sharing their knowledge and opinions about the animals. The exhibition sensitized visitors in respect to the pollution of marine ecosystems by offering opportunities for conversation and reflection on behaviors that impact marine biodiversity and ways to protect it.

Keywords:
Conversations; Informal education; Conservation of marine biodiversity

INTRODUÇÃO

Os oceanos ocupam aproximadamente 70% da superfície terrestre, abrigam uma biodiversidade estimada em 2,2 milhões de espécies, desempenham uma função essencial no ciclo hidrológico e contribuem na regulação do clima (Nações Unidas, 2021Nações Unidas. The sustainable development goals report. United Nations Publications. 2021.). Mas, apesar de sua importância, estão sendo severamente impactados por atividades antrópicas que acarretam no aquecimento, acidificação, poluição da água e na diminuição dos níveis de oxigênio ameaçando a biodiversidade marinha e a própria saúde humana (Talukder et al., 2022Talukder, B., Ganguli, N., Matthew, R., vanLoon, G.W., Hipel, K.W. & Orbinski, J. Climate change-accelerated ocean biodiversity loss & associated planetary health impacts. The Journal of Climated Change and Health, 6(1), 100114. 2022. https://doi.org/10.1016/j.joclim.2022.100114
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).

No que se refere à biodiversidade marinha, estima-se que seja em grande parte desconhecida e que pode estar sendo perdida em uma velocidade superior ao conhecimento produzido para a sua proteção e o aprimoramento da gestão dos ecossistemas marinhos, sendo, portanto, urgentes medidas de conservação e uso sustentável que engajem o poder público e a sociedade civil (Duarte et al., 2020Duarte, C. M., Agusti, S., Barbier, E., Britten, G. L., Castilla, J. C., Gattuso, J. -P., Fulweiler, R. W., Hughes, T. P., Knowlton, N., Lovelock, C. E., Lotze, H. K., Predragovic, M., Poloczanska, E. S., Roberts, C. & Worm, B. Rebuilding marine life. Nature, 580(7801), 39-51. 2020. https://doi.org/10.1038/s41586-020-2146-7
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; Kennedy et al., 2019Kennedy, B.R.C., Cantwell, K., Malik, M., Kelley, C. Potter, J., Elliot, K., Lobecker, E., Gray, L.M., Sowers, D., White, M.P., France, S.C., Auscavitch, S., Mah, C., Moriwake, V., Bingo, S.R.D, Putts, M. & Rotjan, R.D. The unknow and the unexplored: insights into pacific deep-sea following NOOAA CAPSTONE expeditions. Frontiers in Marine Science, 6(1), 1-21. 2019. https://doi.org/10.3389/fmars.2019.00480
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).

Nesse contexto, as Nações Unidas declararam a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021 a 2030) com objetivo de aproximar a sociedade do poder público e especialistas promovendo a construção de novos conhecimentos sobre os oceanos e, assim, favorecer a conexão e a motivação para a adoção de comportamentos ambientalmente responsáveis em relação aos oceanos. Dessa forma, espera-se também contribuir com a meta 14 (vida abaixo da água) que integra os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pelas Nações Unidas, e com a meta 11 de Aichi (proteção de áreas marinhas e costeiras), proposta pela Convenção da Diversidade Biológica (CDB) cujos países signatários deveriam alcançá-la até o ano de 2020 (Convenção da Diversidade Biológica, 2010Convenção da Diversidade Biológica. Biodiversidade Marinha ‐ Um oceano, muitos mundos de vida. 2012. Disponível em:<Disponível em:https://www.cdb.int/idb/doc/2012/booklet/idb-2012-booklet-pt.pdf >. Acesso em: 12 jan. 2023.
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; Nações Unidas, 2021Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. National decade committees operational guidelines. UNESCO. 2021.; Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2021Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. National decade committees operational guidelines. UNESCO. 2021.).

Engajar a sociedade a adotar comportamentos pró-ambiental é um processo desafiador e envolve fatores como o conhecimento, atitudes, valores, normas sociais e culturais (Ballantyne et al., 2018Ballantyne, R., Hughes, K., Lee, J., Packer, J., & Sneddon, J. Visitors’ values and environmental learning outcomes at wildlife attractions: Implications for interpretive practice. Tourism Management, 64(1), 190-201. 2018. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2017.07.015
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). A educação é um elemento transversal a todos esses fatores e envolve os sujeitos em um continuum de aprendizagem, que lhes permite desenvolver habilidades e lhes dá autonomia para assumir uma postura crítica sobre os problemas que os cercam, contribuindo para o desenvolvimento social e proteção ambiental (Oghenekohwo & Frank-Oputu, 2017Oghenekohwo, J. E. & Frank-Oputu, E. A. Literacy education and sustainable development in development societies. International Journal of Education & Literacy Studies, 5(2), 1-6. 2017. http://dx.doi.org/10.7575/aiac.ijels.v.5n.2p.126
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). Membros da Pew Oceans Commission (2003Pew Oceans Commission. America’s living oceans: Charting a course for sea change. A report to the nation. Arlington, VA: Pew Oceans Commission, 2003.), por exemplo, afirmam que aumentar a sensibilização do público e o conhecimento de questões altamente técnicas e complexas, como ecologia oceânica e costeira levará a um maior apoio público aos esforços necessários para restaurar o sistema biológico saúde dos oceanos.

Sobre o conhecimento, Steel et al. (2005Steel, B., Lovrich, N.; Lach, D. & Fomenko, V. Correlates and Consequences of Public Knowledge Concerning Ocean Fisheries Management, Coastal Management, v. 33, n.1, p.37-51, 2005.) reforçam a necessidade de pesquisas indicarem qual o nível de conhecimento do público, visto que o quanto e o que as pessoas sabem afetam o apoio aos esforços para melhorar a saúde dos oceanos. Se soubermos como o conhecimento das pessoas influencia suas opiniões sobre os oceanos, poderemos educá-las de maneira mais eficaz e fornecer informações de maneira direcionada para melhorar a situação. Nessa direção, um estudo realizado com 8.000 pessoas em sete países (Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, Portugal, Itália e Polônia) traz resultados sobre como este público percebe o ambiente marinho. Destacam-se nas respostas a percepção sobre a importância dos oceanos para regular o clima e os serviços ecossistêmicos, culturais e sociais prestados, ocupando as primeiras e segundas posições nas respostas. Apenas para o público português e espanhol o fornecimento de alimentos foi destacado como uma das percepções mais importantes do ambiente marinho. Outro dado interessante refere-se às preocupações ambientais do público, ocupando em primeiro lugar a poluição seguido de segurança e a disponibilidade dos alimentos. As prioridades de saúde dos oceanos ou as alterações climáticas foram menos citadas (Potts et al., 2016Potts, D.; Pita, C.; O’Higgins, T.; Mee, L. Who cares? European attitudes towards marine and coastal environments, Marine Policy, vol. 72, p.59-66, 2016.).

Em relação à sensibilização, estudos na área de educação ambiental vêm demonstrando que é o primeiro passo para alcançar o pensamento sistêmico e motivar o interesse dos participantes (González Gaudiano, 1985González Gaudiano, E. Lineamientos conceptuales y metodológicos de la educación ambiental no formal. México: Sedue, 1985. 24 p.; Sato, 1995Rowe, S., Massarani, L., Gonçalves, W. & Luz, R. Emotion in informal learning as mediated action: cultural, interpersonal and personal lenses. International Journal of Studies in Education and Science (IJSES), 4(1), 73-99. https://doi.org/10.46328/ijses.50Sato,M. Educação Ambiental. São Carlos:UFSCar/PPG-ERN,1995.
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). Ou seja, sensibilizar é o processo de alerta para que as pessoas possam compreender as interconexões entre os elementos do meio ambiente, as atividades humanas e as consequências de suas ações.

Cañal et al. (1981Cañal, P.; García, J. E.; Porlán, R. Ecología y escuela. Teoría y práctica de la educación ambiental. Barcelona: Laia, 1981. 241 p.), por exemplo, reforçam que a sensibilização é uma condição temporal que é fundamental para níveis mais profundos de comprometimento. Em suas palavras:

as formas de relação do homem com seu ambiente poderiam ser resumidas em três tipos essenciais: o tipo correspondente à esfera do emocional (sensações das mais diversas geradas pela natureza, impressões estáticas, atividades de lazer e lúdicas...), o tipo relacionado aos processos produtivos (a natureza vista como fonte de recursos) e o tipo associado a aspectos cognitivos (à tentativa de compreender e explicar) (Cañal et al., 1981Cañal, P.; García, J. E.; Porlán, R. Ecología y escuela. Teoría y práctica de la educación ambiental. Barcelona: Laia, 1981. 241 p., p.15).

Nesse sentido, os espaços sociais de aprendizagem como, por exemplo, os museus têm grande potencial para sensibilizar, envolver a sociedade nas discussões sobre a conservação e na tomada de decisão em situações que impactem a sua realidade (Kelly, Ocular & Austin, 2020Kelly, K. R., Ocular, G., & Austin, A. Adult‐child science language during informal science learning at an aquarium. The Social Science Journal, 57(4) 1-12. 2020. https://doi.org/10.1080/03623319.2020.1727226
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). Isso ocorre especialmente quando os curadores das exposições vinculam seus conteúdos à realidade dos visitantes e aproximam a ciência do seu cotidiano capazes de envolvê-los em experiências socialmente significativas (Falk & Dierking, 2014Falk, J. H., & Dierking, L. D. The museum experience revisited. Left Coast Press. 2014.; Falk & Storksdieck, 2005Falk, J. H., & Storksdieck, M.Learning science from museum. Revista História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 12(suplemento), 117-143. 2005. https://doi.org/10.1590/S0104-59702005000400007
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; Massarani et al., 2022Massarani, L., Aguiar, B.I., Araujo, J. M., Scalfi, G., Kauano, R. & Bizerra, A. Is there room for Science at aquariums? An analysis of Family conversations and interactions during visits to AquaRio, Rio de Janeiro, Brazil. Science Education, 106(6), 1605-1630. 2022. https://doi.org/10.1002/sce.21764
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).

Um público importante dos museus de ciência são as famílias, formadas por grupos multigeracionais que frequentam esses espaços com objetivos diversos: passar um tempo em família, lazer e aprender (SMG, 2018SMG. Science Museum Group. Annual reports and acconts 2017-2018. London: APS Group. 2018. Disponível em: <Disponível em: https://www.sciencemuseumgroup.org.uk/wp-content/uploads/2018/07/SMG-Annual-Report-Accounts-2017-2018.pdf >. Acesso em:14 ago. 2022.
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). Cada família chega ao museu motivada por seus interesses próprios trazendo em sua bagagem cultural o conhecimento sobre determinadas áreas da ciência que foi construído a partir de experiências pessoais que, por sua vez, direcionarão com o que e em que medida as famílias se envolverão com a exposição (Ellenbogen, 2002Ellenbogen, K. M. Museums in family life: An ethnographic case study. In: Learning Conversations in Museums, 81-101. 2002. Larwrence Erlbaum Associates.; Falk, 2021Falk, J. H. The value of museums: enhancing societal well-being. Rowman & Littlefield. 2021.).

Dessa forma, entende-se que a aprendizagem ocorre a partir do interesse e vontade dos sujeitos, colocando-os como protagonistas nesse processo denominado por Falk & Storksdieck (2005Falk, J. H., & Storksdieck, M.Learning science from museum. Revista História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 12(suplemento), 117-143. 2005. https://doi.org/10.1590/S0104-59702005000400007
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) como “aprendizagem por livre escolha”. Essa compreensão de aprendizagem considera que ela ocorre ao longo da vida e não está restrita ao momento da visitação, sendo, portanto, um processo dinâmico favorecido por exposições que motive os visitantes. Assim, dentro de uma perspectiva sociocultural, entende-se que as experiências de aprendizagem são construídas a partir de interações sociais mediadas por instrumentos e signos que atuam nos níveis individuais e coletivos (Ellenbogen, 2002Ellenbogen, K. M. Museums in family life: An ethnographic case study. In: Learning Conversations in Museums, 81-101. 2002. Larwrence Erlbaum Associates.).

Ao interagir entre si e com a exposição, as famílias conversam, compartilham seu conhecimento e experiências, fazem perguntas, dão respostas e explicam fenômenos. Portanto, as conversas representam uma fonte rica de dados que contribuem para a compreensão das experiências familiares de aprendizagem e como, a partir do trabalho conjunto, dão sentido à exposição (Zimmerman; Reeve & Bell, 2010Zimmerman, H. T., Reeve, S., & Bell, P. Family sense-making practices in science center conversations. Bioscience Education, 94(3), 478-505. 2010. https://doi.org/10.1002/sce.20374.
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). Callanan et al. (2017Callanan, M. A., Castañeda, C. L., Luce, M. R. & Martin, J. L. Family science talk in museums: Predicting children’s engagement from variations in talk and activity. Child Development, 88(5),1492-1504. 2017. https://doi.org/10.1111/cdev.12886
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, 2021Callanan, M. A., Castañeda, C. L., Solis, G., Luce, M. R., Diep, M., McHugh, S. R., Martin, J. L., Scotchmoor, J. & DeAngelis, S. “He fell in and that’s how he became fossil!”: engagement with storytelling exhibit predicts families’ explanatory science talk during a museum visit. Frontiers in Psychology, 12(1), 1-10. 2021. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2021.68964
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) argumentam que as conversas contribuem para a coconstrução de significado quando as famílias estão engajadas em conversas e reflexões sobre os conceitos científicos abordados pela exposição. Nesse processo, os autores destacam o papel dos adultos como facilitadores do engajamento das crianças ao fazer perguntas desafiadoras para que raciocinem antes de emitir a resposta, a conexão com as experiências anteriores também foram determinantes no envolvimento com a exposição.

Na mesma direção, Allen (2002Allen, S. Looking for learning in visitor talk: A methodological Exploration. In: Learning conversations in museums. 259-303. Rotledge. 2002.) e Massarani et al. (2022Massarani, L., Aguiar, B.I., Araujo, J. M., Scalfi, G., Kauano, R. & Bizerra, A. Is there room for Science at aquariums? An analysis of Family conversations and interactions during visits to AquaRio, Rio de Janeiro, Brazil. Science Education, 106(6), 1605-1630. 2022. https://doi.org/10.1002/sce.21764
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) relataram que as conversas familiares possibilitaram a compreensão de conceitos científicos, a identificação dos animais expostos e a compreensão do comportamento exibido no momento da contemplação. Além disso, os autores ressaltam que ao se envolverem cognitivamente com a exposição, as famílias manifestam respostas emocionais que contribuem com a aprendizagem (para detalhes sobre o papel das emoções na aprendizagem, ver Rowe et al., 2023Rowe, S., Massarani, L., Gonçalves, W. & Luz, R. Emotion in informal learning as mediated action: cultural, interpersonal and personal lenses. International Journal of Studies in Education and Science (IJSES), 4(1), 73-99. https://doi.org/10.46328/ijses.50Sato,M. Educação Ambiental. São Carlos:UFSCar/PPG-ERN,1995.
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). Massarani et al. (2022Massarani, L., Aguiar, B.I., Araujo, J. M., Scalfi, G., Kauano, R. & Bizerra, A. Is there room for Science at aquariums? An analysis of Family conversations and interactions during visits to AquaRio, Rio de Janeiro, Brazil. Science Education, 106(6), 1605-1630. 2022. https://doi.org/10.1002/sce.21764
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) pontuam, ainda, a importância dessas conversas para a sensibilização dos visitantes para a conservação dos oceanos e a adoção de comportamentos ambientalmente responsáveis. Baechler et al. (2021Baechler, B. R., Granek, E. F., Carlin-Morgan, K. A., Smith, T. E., & Nielsen-Pincus, M. Aquarium visitor engagement with an ocean plastic exhibition: effects on self-reported intended single-use plastic reductions and plastic-related environmental stewardship actions. Journal of Interpretation Research, 25(2), 88-117. 2021. https://doi.org/10.1177/10925872211021183
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) também mostraram que o envolvimento dos visitantes com a exposição favorecia conversas e aprendizagem, e sensibilizavam para a mudança de comportamento em relação aos oceanos. Massarani et al. (2022)Nações Unidas. The sustainable development goals report. United Nations Publications. 2021.relataram que as conversas familiares foram capazes de engajar as famílias com a exposição, evidenciando o protagonismo das crianças nas conversas e reflexões sobre a conservação, o que contribui com a sensibilização para adoção de comportamentos pró-ambientais.

Mediante o exposto, o objetivo deste estudo foi analisar as conversas de famílias durante a visita espontânea à exposição “Oceanos”, para compreender como os visitantes se engajam em aspectos relacionados à conservação da biodiversidade marinha. Para tanto, consideramos as seguintes questões: 1. Em que medida a exposição despertou conversas específicas sobre a conservação dos oceanos? 2. Quais as estratégias utilizadas pelas famílias para interagir entre si e com a exposição foram capazes de sensibilizá-las para a conservação dos oceanos? Dessa forma, espera-se contribuir para a compreensão das experiências familiares em espaços sociais de aprendizagem no contexto brasileiro e latino-americano cujos estudos ainda são escassos.

MÉTODO

Este estudo integra um amplo projeto de pesquisa que busca compreender a experiência museal dos visitantes em espaços sociais de aprendizagem voltados para a divulgação da ciência e os significados construídos por diferentes públicos no contexto latino-americano (Massarani et al., 2019aMassarani, L., Reznik, G., Norberto, J., Falla, S., Rowe, S., Martins, A. D., & Amorim, L.. A experiência de adolescentes ao visitar um museu de ciência: Um estudo no museu da vida. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências (Online), 21, e10524. (2019a) https://doi.org/10.1590/1983-21172019210115
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, 2019b, 2019c e 2022). O estudo enquadra-se numa abordagem quali-quantitativa e caracteriza-se como um estudo de caso, cuja investigação empírica ocorreu em um contexto real a partir de interações verbais e não-verbais entre as famílias e módulos expositivos, possibilitando uma visão ampla do objeto de estudo (Yin, 2005Yin, R K. Estudo de caso: Planejamento e métodos (3. ed.). Bookman. 2005.). A escolha da exposição “Oceanos” se justifica visto que seus módulos expositivos foram projetados para sensibilizar os visitantes para a importância da conservação da biodiversidade marinha e também causar desconforto na medida em que interagiam com objetos que ilustravam a poluição dos oceanos.

Este estudo dá continuidade ao estudo de Guimarães et al. (2019)Guimarães, V.F., Massarani, L., Velloso, R. & Amorim, D. Diálogos sobre a exposição “Oceanos”: um estudo com famílias no Museu da Vida. Interfaces Científicas, 7(3), 103-114. 2019. https://10.17564/2316-3801.2019v7n3p103-114
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, que analisaram a visita espontânea de famílias à exposição “Oceanos”, tendo como foco entender sua experiência museal, conversas que foram suscitadas de maneira geral pela exposição e suas interações com os módulos expositivos. Neste artigo, focamos em particular na questão da conservação dos oceanos, a saber, na análise das conversas específicas sobre a conservação dos oceanos e na identificação de quais estratégias utilizadas pelas famílias para interagir entre si e com a exposição foram capazes de sensibilizá-las para a conservação dos oceanos.

LOCAL DE ESTUDO

O estudo foi realizado no Museu da Vida, vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), importante instituição brasileira de pesquisa na área da saúde pública (Fiocruz, 2022aFundação Oswaldo Cruz. Museu da Vida - exposição itinerantes. 2022a. Disponível em: <Disponível em: https://www.museudavida.fiocruz.br/index.php/exposicoes-itinerantes >. Acesso em:jun. 2022.
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). O museu foi fundado em 1999 e é dedicado à preservação da história da Fiocruz, produção e divulgação da ciência e tecnologia com o objetivo de colaborar com o desenvolvimento científico, cultural e social do país (Fiocruz, 2022bFundação Oswaldo Cruz. História. 2022b. Disponível em:<Disponível em:https://portal.fiocruz.br/historia >. Acesso em: jul. 2022.
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).

O museu funciona com entrada gratuita e possui uma equipe de profissionais que planejam atividades multigeracionais que contribuem com a educação e informação da sociedade despertando o interesse sobre o desenvolvimento científico e a compreensão do impacto da ciência e da tecnologia no cotidiano da sociedade. Para isso, busca engajar o visitante por meio de exposições, atividades e peças teatrais interativas que também podem ser apreciadas fora do museu por meio de exposições itinerantes (Fiocruz, 2022bFundação Oswaldo Cruz. História. 2022b. Disponível em:<Disponível em:https://portal.fiocruz.br/historia >. Acesso em: jul. 2022.
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).

É importante ressaltar que o museu está inserido em um território que compreende três comunidades: Manguinhos, Maré e Jacarezinho, que juntas somam 212 mil habitantes em situação de vulnerabilidade social, cuja realidade é marcada por conflitos decorrentes da violência e dificuldade no acesso à educação, emprego, saúde e moradia. Nesse sentido, o museu vem desenvolvendo Ações Territorializadas em conjunto com agentes atuantes de regiões vulnerabilizadas, fomentando a participação dos moradores das comunidades e professores, integrando-os aos espaços do museu em atividades de coconstrução do conhecimento científico que acarretam em reflexões e debates sobre a participação da sociedade na ciência, impactos na saúde, educação, violência, etc (Batista et al., 2021Batista, A. M. F., Oliveira, A. D. de., Silva, P. A, & Oliveira, R. de. Quando o museu vai à favela e a favela vai ao museu: ações territorializadas do museu da vida. Fiocruz - COC. 2021.).

O museu possui uma sala de exposições temporárias, onde foi montada a exposição “Oceanos”, locus deste estudo, durante os meses de junho de 2017 a abril de 2018 (Fiocruz, 2018Fundação Oswaldo Cruz. Museu da Vida estreia exposição Oceanos. 2018. Disponível em: <Disponível em: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/museu-da-vida-estreia-exposicao-oceanos/ >. Acesso em:jul. 2022.
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). A exposição estudada foi coordenada por uma equipe de profissionais vinculados ao Museu da Vida, recebeu apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e ocupou uma área de 200 metros quadrados. A exposição foi composta por módulos expositivos, dispostos em uma lógica sequencial, permitindo que o visitante tivesse a sensação de estar explorando diferentes habitats marinhos progressivamente mais profundos. Para despertar essas sensações e contribuir com o conhecimento dos visitantes, foram construídos aquários cenográficos com iluminação, objetos expositivos e painéis interativos que traziam informações e imagens sobre os ambientes marinhos e a fauna que ocupa essas regiões, destacando alguns dos animais mais representativos: peixe bodião-brasileiro, baleias-bicudas-de-cuvier, linguado, pepino-do-mar, polvo-dumbo e o peixe-diabo, cujas informações abordavam o tamanho, ecologia, hábito alimentar, comportamento, características evolutivas que permitem viver em regiões abissais e pesquisas científicas lideradas por equipes nacionais e internacionais. Informações sobre organismos invasores como, por exemplo, o peixe-leão e seu impacto sobre a fauna nativa também estavam disponíveis (Fiocruz, 2018Fundação Oswaldo Cruz. Museu da Vida - exposição itinerantes. 2022a. Disponível em: <Disponível em: https://www.museudavida.fiocruz.br/index.php/exposicoes-itinerantes >. Acesso em:jun. 2022.
https://www.museudavida.fiocruz.br/index...
). Outro ponto abordado pela exposição foi a migração de animais, as correntes oceânicas, relevo, temperatura, salinidade e pressão. Por fim, a exposição também abordou a poluição nos oceanos por meio de um módulo em que os visitantes deveriam atravessá-lo desviando de plásticos, embalagens, redes e outros objetos para ilustrar o impacto que o lixo causa na fauna marinha (Massarani et al., 2019aMassarani, L., Reznik, G., Norberto, J., Falla, S., Rowe, S., Martins, A. D., & Amorim, L.. A experiência de adolescentes ao visitar um museu de ciência: Um estudo no museu da vida. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências (Online), 21, e10524. (2019a) https://doi.org/10.1590/1983-21172019210115
https://doi.org/10.1590/1983-21172019210...
).

Figura 1
Exposição Oceanos, Museu da Vida Fiocruz, 2017

PROCEDIMENTO DE COLETA

A coleta de dados ocorreu aos sábados entre os meses de novembro de 2017 a janeiro de 2018, dia em que há visita livre de famílias (durante a semana, grupos escolares agendados compõem a maior parte dos visitantes). Assim que se aproximavam da entrada da exposição, as famílias eram abordadas por dois pesquisadores que explicavam o objetivo do estudo e os procedimentos de coleta de dados e, em seguida, faziam o convite para as famílias. Nenhuma família convidada recusou o convite. Após o aceite, os responsáveis assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e forneceram algumas informações sociodemográficas necessárias para contextualizá-los. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz/RJ nº 10663419.0.0000.5241.

A coleta dos dados foi realizada seguindo o método point-of-view camera (Glãveanu & Lahlou, 2012Glãveanu, V. P., & Lahlou, S. Through the creator’s eyes: Using the subjective camera to study craft creativity. Creativity Research Journal, 24(2‐3) 152-162. 2012.) e para registrar a experiência a partir do seu próprio ponto de vista, um membro da família foi escolhido para usar a câmera do tipo GoPro® fixada em um suporte colocado sobre sua cabeça. Assim que a câmera foi ligada pelo pesquisador, a família iniciou a visita e suas interações verbais e não-verbais foram registradas (Massarani et al., 2019bMassarani, L., Fazio, M. E., Rocha, J. N., Dávila, A., Espinosa, S., & Bognanni, F. A. La interactividad en los museos de ciencias, pivote entre expectativas y hechos empíricos: El caso del Centro Interactivo de Ciencia y Tecnología Abremate (Argentina). Ciência & Educação(Bauru ), 25(2), 467-484. (2019b). https://doi.org/10.1590/1516-731320190020012
https://doi.org/10.1590/1516-73132019002...
, 2019cMassarani, L., Mucci Poenaru, L., Norberto Rocha, J., Rowe, S., & Falla, S. Adolescents learning with exhibits and explainers: The case of Maloka. International Journal of Science Education, Part B, 9(3), 253-267. (2019c). https://doi. org/10.1080/21548455.2019.1646439
https://doi.org/10.1080/21548455.2019.16...
; 2022Massarani, L., Aguiar, B.I., Araujo, J. M., Scalfi, G., Kauano, R. & Bizerra, A. Is there room for Science at aquariums? An analysis of Family conversations and interactions during visits to AquaRio, Rio de Janeiro, Brazil. Science Education, 106(6), 1605-1630. 2022. https://doi.org/10.1002/sce.21764
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).

FAMÍLIAS PARTICIPANTES

Neste estudo, consideramos famílias grupos formados por membros com algum grau de parentesco ou que fosse considerado como um integrante da família, havendo a necessidade de vínculos de criação da criança ou de responsabilidade por ela durante a visita (Briseño-Garzón & Anderson, 2012Briseño‐Garzón, A., & Anderson. D. A review of Latin American perspectives on museums and museum learning. Museum Management and Curatorship, 27(2), 161-177. 2012. https://doi.org/10.1080/09647775.2012.674321
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). Os dez grupos familiares (G1-G10) estudados foram compostos por 33 membros, sendo 17 adultos (13 do sexo feminino e 5 do sexo masculino) e 16 crianças (11 do sexo feminino e 5 do sexo masculino). Oito famílias residem na cidade do Rio de Janeiro e as demais, residem em Magé (G2) e Niterói (G10) (Tabela 1).

Tabela 1
Informações dos grupos familiares e o tempo de visitação

ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos registros audiovisuais foi realizada por meio do software Dedoose®, utilizando o protocolo desenvolvido pelo grupo de pesquisa que coordena o projeto ao qual este estudo integra e que foi adaptado de Allard & Boucher (1998Allard, M., & Boucher, S. Éduquer au musée: un modèle théorique de pédagogie muséale. Éditions Hurtubise HMH. 1998.), possibilitando a investigação da relação entre os três principais atores da experiência museal: a) os módulos expositivos; b) os mediadores (profissionais do museu) e c) os visitantes. As categorias de análise basearam-se no teor das conversas das famílias que, por sua vez, foram classificadas em: 1) Conversas sobre a conservação dos oceanos: quando abordavam o conhecimento científico relacionado aos oceanos, à biodiversidade marinha, aos impactos antrópicos e medidas para a adoção de comportamentos ambientalmente responsáveis. Nestas conversas, os visitantes podem manifestar emoções e sentimentos em relação aos animais e 2) Conversas em que se faz conexão com os oceanos: quando os visitantes associavam o conhecimento exposto à sua vivência, sugerindo conexão com os oceanos. O critério que determinou a classificação de uma conversa em uma determinada categoria foi o teor do diálogo da família. No entanto, as categorias não são excludentes entre si, podendo coocorrer em mais de uma categoria de análise.

Para preservar a identidade dos participantes do estudo, os membros das famílias foram numerados de 1 a 6 em cada grupo e classificados como “A” (adulto), “C” (criança).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O tempo total de visita das famílias à exposição foram registradas em 2h e 48min de filmagem e as seções referentes às categorias analisadas contabilizaram um total de 2208 códigos aplicados. O tempo de visita de cada família variou de 05 min (G2) a 25 min (G1 e G7), com tempo médio de 17 min. A Tabela 2 mostra em detalhes o número de ocorrências, sua respectiva duração e o tempo dessas ocorrências em relação ao tempo total da visita.

Tabela 2
Tempo e ocorrência total das conversas

As famílias apresentaram padrão de visitação diferenciados, pois em algumas delas as crianças permaneceram próximas aos adultos e em outras famílias, as crianças exploraram a exposição de forma mais autônoma, nestes casos, a família separava-se e depois se agrupava para compartilhar o que tinham observado. O protagonismo das crianças foi evidenciado nas observações, reflexões e conversas sobre os animais e o comportamento exibido por eles e também sobre a poluição dos oceanos e o impacto sobre a biodiversidade marinha.

AS FAMÍLIAS CONVERSARAM SOBRE A CONSERVAÇÃO DOS OCEANOS?

Para responder a pergunta de pesquisa 1, analisamos as conversas sobre a conservação dos oceanos (n = 73). Nesta categoria, verificamos que em 28,5% do tempo da visita destacou-se a preocupação com o impacto da poluição dos oceanos sobre a biodiversidade marinha.

Esse resultado é semelhante a pesquisa de público realizada por Potts et al. (2016Potts, D.; Pita, C.; O’Higgins, T.; Mee, L. Who cares? European attitudes towards marine and coastal environments, Marine Policy, vol. 72, p.59-66, 2016.) que mostra que dentro das preocupações do público sobre os oceanos está a poluição. Em nosso estudo, o que acentuou o resultado foi o módulo imersivo “Lixo” projetado impactar e causar desconforto nos visitantes e engajar as famílias em diálogos e reflexões a partir da interação com a exposição, o que explica a coocorrência com o código interação com a exposição (n = 57) que foi observado enquanto as famílias interagiam com as figuras, vídeos, sons, painéis explicativos, rótulos de identificação, entre outros. Os episódios que ilustram as conversas desta categoria são exemplificados a seguir (Quadro 1).

Quadro 1
Exemplos das Conversas sobre a conservação dos oceanos.

Quadro 1
Continuação

Os episódios mostram que a contemplação, a interação com os objetos expositivos e a associação com experiências anteriores (observação de resíduos descartados em locais inadequados) foram os elementos propulsores para as conversas sobre o impacto das ações antrópicas sobre o ecossistema marinho e a importância da conservação dos oceanos. Os episódios destacam, ainda, a importância da sensibilização. A experiência imersiva no módulo causou desconforto nos visitantes que, por sua vez, manifestaram sentimento de repulsa evidenciado pelo nojo devido à operação de retirada do conteúdo estomacal do animal (exemplo 2) e do lixo nos oceanos (exemplo 3). Além disso, os sentimentos de pena (exemplo 4) e de empatia (exemplo 1) devido à mortalidade da fauna como consequência da ingestão de resíduos também foram evidenciados. Gonzáles Gaudiano (1985González Gaudiano, E. Lineamientos conceptuales y metodológicos de la educación ambiental no formal. México: Sedue, 1985. 24 p.), por exemplo, afirma que a sensibilização relativa a uma questão ambiental tem potencial para promover reflexão acerca do impacto antrópico sobre os ecossistemas marinhos incentivando a adoção de uma postura de proteção.

Ao interagir com o módulo, as famílias se conectaram com os animais e os oceanos demonstrando interesse sobre as consequências da poluição dos ecossistemas marinhos, o que desencadeou em conversas que proporcionaram a compreensão do problema e emanaram emoções que levaram os visitantes a refletir sobre seu próprio comportamento e as ações que protegem ou ameaçam a biodiversidade marinha, embora as falas indiquem uma dimensão individual para a solução do problema, alinhadas com a visão da educação ambiental conservadora (Clayton et al., 2017Clayton, S., Prévot, A.C., Germain, L., & Saint-Jalme, M. Public support for biodiversity after a zoo visit: environmental concern, conservation and knowledge, and self-efficacy. Curator the Museum Journal, 60(1), 87-100. 2017. https://doi.org/10.1111/cura.12188
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; Massarani et al., 2022Massarani, L., Aguiar, B.I., Araujo, J. M., Scalfi, G., Kauano, R. & Bizerra, A. Is there room for Science at aquariums? An analysis of Family conversations and interactions during visits to AquaRio, Rio de Janeiro, Brazil. Science Education, 106(6), 1605-1630. 2022. https://doi.org/10.1002/sce.21764
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; Salgado & Marandino, 2014Salgado, M. M. de. & Marandino, M. O mar no museu: Um olhar sobre a educação nos aquários. História, Ciências, Saúde‐Maguinhos, 21(3), 867-882. 2014. https://doi.org/10.1590/S0104-59702014000300005
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). De fato, como afirmam Steel et al. (2005Steel, B., Lovrich, N.; Lach, D. & Fomenko, V. Correlates and Consequences of Public Knowledge Concerning Ocean Fisheries Management, Coastal Management, v. 33, n.1, p.37-51, 2005.), quanto mais as pessoas se envolvem criticamente, mais estão dispostas a apoiar políticas que se comprometem com a conservação dos oceanos. Nesse sentido, em uma visão ambiental crítica, o pensamento sistêmico, como proposto por Sato (1995), embute um nível mais profundo de conhecimento para que as pessoas compreendam as interconexões complexas entre a saúde dos oceanos, as atividades humanas e os sistemas globais. Essa abordagem vai além das ações individuais e busca entender como as políticas, economias e práticas sociais influenciam a saúde dos oceanos. Portanto, embora as conversas iniciais possam se concentrar nas ações pessoais, é fundamental que as iniciativas de educação ambiental também promovam uma compreensão mais ampla das questões sistêmicas e inspirem a participação ativa na promoção de políticas e práticas mais sustentáveis em nível coletivo e global. Isso, por sua vez, contribuirá de forma mais eficaz para a conservação e a restauração dos ecossistemas marinhos.

Vejamos o episódio 1 que retrata o impacto da família diante de uma ave que morreu em consequência do descarte de resíduos em local inapropriado. Nesse exemplo, a família a refletir sobre o impacto ambiental e também a validar a importância da exposição para a conservação A2 “Essa exposição é interessante porque tudo que você tem aqui é sobre o ecossistema, e você acaba discutindo essas questões: poluição, meio ambiente, …”. De acordo com Falk & Dierking (2014Falk, J. H., & Dierking, L. D. The museum experience revisited. Left Coast Press. 2014.), exposições que instigam a reflexão e emocionam ficam registradas na memória dos visitantes e são passíveis de ganhar novos significados e, no caso deste estudo, podem aumentar a preocupação dos visitantes sensibilizando-os para a adoção de comportamentos ambientalmente responsáveis.

De acordo com Clayton et al. (2009Clayton, S., Fraser, J., & Saunders, C. D. Zoo experiences: Conversations, connections, and concern for animals. Zoo Biology, 28(5), 377-397. 2009. https://doi.org/10.1002/zoo.20186
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), o envolvimento dos visitantes com aprendizagem sobre a biodiversidade e o engajamento com ações de conservação está associado a experiências prazerosas e sentimentos positivos que são capazes de conectá-los aos animais. Os autores apontam que ao interagir com os animais, os visitantes podem desenvolver um sentimento de empatia que se expande com a preocupação em conservar habitats e ecossistemas. Em nosso estudo, o exemplo 1, ilustra um resultado semelhante. Na mesma direção, Massarani et al. (2022Massarani, L., Aguiar, B.I., Araujo, J. M., Scalfi, G., Kauano, R. & Bizerra, A. Is there room for Science at aquariums? An analysis of Family conversations and interactions during visits to AquaRio, Rio de Janeiro, Brazil. Science Education, 106(6), 1605-1630. 2022. https://doi.org/10.1002/sce.21764
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) estudando famílias compostas por adultos e crianças durante visita ao AquaRio (Rio de Janeiro, Brasil) relataram que as conexões cognitivas e emocionais foram essenciais para que os visitantes construíssem significados sobre os animais, sobre os impactos antrópicos e a importância da conservação dos ecossistemas marinhos. Nesse processo, os autores destacaram o papel protagonista das crianças nas conversas e interações mediante o comportamento facilitador dos adultos ao contextualizar informações, fazer perguntas, explicar e ler painéis. De forma semelhante, os episódios 1, 2 e 4 trazem evidências do protagonismo das crianças e do comportamento facilitador dos adultos. Clayton et al. (2017Clayton, S., Prévot, A.C., Germain, L., & Saint-Jalme, M. Public support for biodiversity after a zoo visit: environmental concern, conservation and knowledge, and self-efficacy. Curator the Museum Journal, 60(1), 87-100. 2017. https://doi.org/10.1111/cura.12188
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) ao entrevistar adultos antes e após visita ao zoológico “The Menagerie” (Paris, França) também relataram que a visita ao espaço contribuiu para a preocupação ambiental e o conhecimento sobre a conservação, embora esses parâmetros não estivessem relacionados com a intenção comportamental (adoção de comportamentos ambientalmente responsáveis). Por outro lado, observaram que a auto-eficácia (percepção do visitante como sendo capaz de contribuir com a conservação) refletiu positivamente na intenção comportamental e ambos os parâmetros associaram-se às emoções negativas dos visitantes, sugerindo que eles já estejam engajados com a conservação. O episódio 6 retrata um resultado semelhante, evidenciado pelo sentimento de repulsa da criança, mas sugere que a família é engajada com a conservação, conforme explicitado por C1 “Quando a gente vê uma sujeira, a gente pega e joga no lixo”.

Os episódios 3 e 4 trazem evidências de que o conhecimento científico sobre a fauna não é uma premissa para que os visitantes compreendam as mensagens conservacionistas e os impactos negativos de ações antrópicas sobre os ecossistemas, conforme apontado por Dove & Bryne (2014Dove, T., & Byrne, J. Do zoo visitors need zoology knowledge to understand conservation messages? An exploration of the public understanding of animal biology and of the conservation of biodiversity in a zoo setting. International Journal of Science Education, 4(4), 323-342. 2014. https://doi.org/10.1080/21548455.2013.822120
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). Esses episódios mostram, ainda, que apesar da visita emocionar e contribuir com o conhecimento sobre a biodiversidade marinha e as consequências do impacto antrópico sobre os animais, as famílias não necessariamente adotarão comportamentos ambientalmente responsáveis mesmo conhecendo as ações que podem ser tomadas para protegê-la. Resultado semelhante foi relatado por Ballantyne, Packer & Sutherland (2011Ballantyne, R., Packer, J., & Sutherland, L. A. Visitors’ memories of wildlife tourism: Implications for the design of powerful interpretive experiences. Tourism Management, 32(4), 770-779. 2011. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2010.06.012
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) ao verificar que entre os visitantes estudados, apenas uma pequena parcela adotou comportamentos ambientalmente responsáveis, embora a totalidade deles tenha relatado ter se emocionado, se conectado aos animais e aprendido sobre a conservação dos ecossistemas marinhos. Hughes (2013Hughes, K. Measuring the impact of viewing wildlife: do positive intentions equate to long-term changes in conservation behaviour?Journal of Sustainable Tourism, 21(1), 42-59. 2013. https://doi.org/10.1080/09669582.2012.681788
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) também relatou que apenas uma pequena parcela de atitudes conservacionistas em relação aos oceanos foi adotada pelas famílias estudadas, embora todas elas tenham manifestado interesse em incorporar essas atitudes em seu cotidiano. Sobre isso, os exemplos 5 e 6 trazem evidências que as famílias aproveitaram a visita e o módulo em questão para trabalhar com as crianças valores e regras morais relacionadas à conservação ao reprovar o comportamento de descarte de lixo em locais inadequados. Esse momento favorece o processo de sensibilização das crianças, quando os responsáveis destacam a imagem de uma tartaruga presa e de um pássaro morto em decorrência da poluição e sobre como é viver em um ambiente poluído. As frases dos adultos são enfáticas em reprovarem atitudes de jogar lixo no ambiente. Conforme destacado por Sorrentino (2002Sorrentino, M. Desenvolvimento sustentável e participação: algumas reflexões em voz alta. In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; LAYRARGUES, Philippe Pomier; CASTRO, Ronaldo Souza (Orgs.). Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2002.), o sentimento de pertencimento a um lugar ou a um contexto é fundamental para a motivação das pessoas em cuidar desse ambiente. Quando alguém se sente conectado a um determinado local, seja sua comunidade, bairro ou até mesmo um ecossistema maior, é mais provável que se sinta responsável por ele. Esse senso de responsabilidade pode se traduzir em ações concretas de conservação, e adoção de práticas mais sustentáveis.

De acordo com Bardi & Schwartz (2003Bardi, A., & Schwartz, S. H. Values and behaviour: strength and structure of relations. Personality and Social Psychology Bulletin, 29(10), 1207e1220. 2003. https://doi.org/10.1177/0146167203254602
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), os valores orientam as atitudes e comportamentos e refletem nas escolhas guiadas por decisões conscientes (tomadas mediante profunda reflexão) e nos hábitos cotidianos (que não implicam em reflexão). Torres, Schwartz & Nascimento (2016Torres, C. V., Schwartz, S., & Nascimento, T. G.The refined theory of values: associations with behavior and evidences of discriminative and predictive validity. Psicologia USP, 27(2), 341-356. 2016. https://doi.org/10.1590/0103-656420150045
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) listaram e definiram dezenove valores básicos que motivam o comportamento humano independentemente da cultura, sendo o Universalismo (que compreende as facetas: Preocupação - compromisso com a igualdade, justiça e proteção para todas as pessoas; Natureza - conservação do habitat; Animal - empatia com todos os animais e Tolerância - aceitação daqueles que são diferentes de si) o valor que conecta o ser humano ao ambiente natural e o envolve na conservação. Dessa forma, percebemos que o Universalismo-Natureza e Universalismo-Animal norteiam o comportamento dessas famílias.

É relevante mencionar, que as pessoas atribuem prioridades diferentes para cada um dos dezenove valores básicos, principalmente quando valores opostos entram em conflito (Torres; Schwartz & Nascimento, 2016Torres, C. V., Schwartz, S., & Nascimento, T. G.The refined theory of values: associations with behavior and evidences of discriminative and predictive validity. Psicologia USP, 27(2), 341-356. 2016. https://doi.org/10.1590/0103-656420150045
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). Portanto, isso pode fazer com que os indivíduos tenham comportamentos variados mediante a questão ambiental, por exemplo, nos episódios 3 e 4 fica evidente que as famílias se sensibilizam com a poluição dos oceanos, mas não é possível observar nos diálogos que o valor Universalismo guie o comportamento dos sujeitos. Resultado semelhante foi discutido por Ballantyne et al. (2018Ballantyne, R., Hughes, K., Lee, J., Packer, J., & Sneddon, J. Visitors’ values and environmental learning outcomes at wildlife attractions: Implications for interpretive practice. Tourism Management, 64(1), 190-201. 2018. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2017.07.015
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) ao observarem que entre os visitantes de zoológicos e aquários, aqueles que possuem comportamento ambientalmente responsável tem seus valores guiados pelo Universalismo. Por outro lado, entre os visitantes que não se engajam com a conservação há o predomínio dos valores Poder e Realização que conflitam com o Universalismo. Os autores pontuaram, ainda que os visitantes com maior afinidade ao valor do Universalismo envolveram-se mais com a exposição e engajaram-se em reflexões sobre a conservação durante a visitação e como resultado manifestaram adoção de comportamentos sustentáveis após a visita. Já os visitantes com valores Poder e Realização engajaram-se menos nas atividades reflexivas e, como consequência, relataram não ter adotado comportamentos sustentáveis, sendo que esse resultado pode ser um reflexo do design dessas exposições que “fala” apenas com visitantes que já possuem valores alinhados à conservação e envolve pouco os indivíduos com prioridade de valores diferentes aos trabalhados por essas instituições.

Em nosso estudo, os episódios retratados evidenciam que a exposição despertou o interesse dos visitantes e os engajou em conversas específicas sobre oceanos. Pode-se atribuir esse engajamento ao design da exposição que foi composta por elementos interativos, painéis para leitura e contemplação e módulo imersivo. Além disso, as questões abordadas pela exposição foram retratadas de forma simples e livres de jargões científicos complexos, tornando as informações expostas tangíveis e interessantes aos visitantes, pois fazem parte do seu contexto e transmitem a sensação de que as atitudes cotidianas das famílias contribuem para a conservação dos oceanos. Baechler et al. (2021Baechler, B. R., Granek, E. F., Carlin-Morgan, K. A., Smith, T. E., & Nielsen-Pincus, M. Aquarium visitor engagement with an ocean plastic exhibition: effects on self-reported intended single-use plastic reductions and plastic-related environmental stewardship actions. Journal of Interpretation Research, 25(2), 88-117. 2021. https://doi.org/10.1177/10925872211021183
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) também observaram que a natureza diversificada dos objetos expositivos engajou adultos e crianças em conversas e reflexões sobre o impacto do plástico nos oceanos, evidenciando que a exposição possibilita que os visitantes vivenciem experiências socialmente significativas. Na mesma direção, Schuman et al. (2021Schuman, C., Stofer, K., Anthony, L., Neff, H., Soni, N., Darrow, A. & Chang, P. Inland adult and child interest in the ocean. International Journal of Science Education, Part B, 11(4), 344-361. 2021. https://doi.org/10.1080/21548455.2021.2000661
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) relataram que o envolvimento das pessoas com a proteção dos oceanos pode ser beneficiado por experiências multigeracionais interativas e sensoriais realizadas em espaços não formais desde que abordem questões de interesse e estejam vinculadas à realidade da população local. Dessa forma, atividades com mensagens objetivas sobre quais ações cotidianas auxiliam no enfrentamento às ameaças sofridas pelos oceanos podem engajar os participantes para a tomada de decisões orientadas e responsáveis no âmbito individual e coletivo.

AS FAMÍLIAS SE SENSIBILIZARAM COM A CONSERVAÇÃO DOS OCEANOS?

Respondendo a pergunta de pesquisa 2, observamos que a sensibilização das famílias para a conservação da biodiversidade marinha também foi identificada por meio do código conversas sobre a conservação dos oceanos (n = 73), principalmente enquanto as famílias interagiam com os monitores interativos que apresentavam informações e curiosidades sobre os oceanos e os animais, esse fato explica a coocorrência com o código atividade interativa (n = 31) e com o código interação contemplativa (n = 34), que foi observada enquanto as famílias contemplavam os módulos expositivos que, por sua vez, possibilitou que os visitantes manifestassem emoções e sentimentos em relação à fauna. Os episódios que ilustram essas conversas são mostrados nos exemplos 7 a 10 (Quadro 2).

Quadro 2
Exemplos de Conversas sobre a conservação dos oceanos.

Os exemplos apresentados trazem evidências de que a visita despertou o interesse das famílias que, por sua vez, se engajaram em conversações nas quais é possível perceber o envolvimento dos visitantes com os animais e as informações expostas. As respostas pessoais manifestadas por meio das expressões “Olha!”, “Oh, Caraca!”, “Cadê? Aqui?”, “Legal!” “Olha que lindo”, demonstram que o encantamento e a curiosidade dos visitantes têm potencial para impulsioná-los a observar, refletir e investigar, proporcionando a construção conjunta de significado sobre conceitos científicos complexos como, por exemplo, habitat (exemplo 7) e correntes oceânicas (exemplo 8). Além disso, os visitantes identificaram espécies (exemplos 7, 9 e 10), compararam seu tamanho (exemplos 7 e 9) e compreenderam o comportamento de defesa (exemplo 10).

Resultados semelhantes foram relatados por Willard et al. (2019Willard, A.K., Busch, J.T.A., Cullum, K.A., Letorneau, S.M., Sobel, D.M. & Callanan, M. Explain this, explore that: a study of parent-child interactions in a children’s museum. Child Development, 90(5), e598-e617. 2019. https://doi.org/10.1111/cdev.13232
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) ao estudar as conversas de famílias compostas por adultos e crianças de 4 a 6 anos durante visita ao Museu Infantil de Austin (Texas, Estados Unidos) enquanto manuseava um aparato formado por engrenagens. Os autores observaram que o comportamento incentivador dos adultos encorajava as crianças a testar hipóteses para descobrir como as engrenagens funcionam. Já as perguntas feitas pelos adultos, engajaram as crianças em conversas nas quais elas explicavam o movimento das engrenagens. Outro ponto destacado pelos autores é que a orientação prévia recebida pelos adultos influenciou seu comportamento e afetou de maneira positiva o envolvimento das crianças com a exposição. Sobre esse aspecto, em nosso estudo, os adultos não tiveram orientações prévias, porém eles se apoiaram na leitura de painéis para engajar as crianças nas conversações (exemplos 7, 8 e 10).

Na mesma direção, Carneiro et al. (2021Carneiro, J.B., Massrani, L., Rocha, J.N., Segui, F.S. & Cambre, M. Familias y museos de ciencia: un análisis de la visita a una exhibición para el público infantile de Espacio Ciencia, Uruguay. Actio, 6(3), 1-24.2021. https:// 10.3895/actio.v6n3.14013
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) ao estudar famílias compostas por adultos e crianças durante visita ao Espacio Ciencia (Montevideo, Uruguai) observou que a maioria das conversas envolveram a identificação de animais e habitats. Isso ocorreu por intermédio dos adultos que, ao observarem um animal, encorajavam as crianças a identificá-lo e nomeá-lo, assim como observamos nos exemplos 9 e 10. Por outro lado, os autores relataram que as conversas aprofundadas foram menos frequentes e estavam associadas ao direcionamento dos adultos às crianças para que observassem, comparassem e emitissem conclusões sobre as características morfológicas e ecológicas dos animais. Em nosso estudo observamos resultados semelhantes, com conversas pouco aprofundadas e associadas ao tamanho e comportamento dos animais, para isso, os adultos utilizaram analogias que facilitaram a compreensão por parte das crianças.

Há de se destacar o protagonismo das crianças, pois elas se envolveram com a exposição ao manipular aparatos, selecionar as telas e informações que lhes era de interesse, leram painéis e sustentaram conversações mantendo-se atentas, elaborando perguntas e emitindo respostas. De forma específica, nos episódios 8 e 9 as crianças conduziram os diálogos e houve pouca intervenção dos adultos o que mostra uma tendência inversa em relação à maioria dos estudos que analisam as conversas familiares, cujo direcionamento das conversas se dá justamente pelos adultos (Callanan et al., 2017Callanan, M. A., Castañeda, C. L., Luce, M. R. & Martin, J. L. Family science talk in museums: Predicting children’s engagement from variations in talk and activity. Child Development, 88(5),1492-1504. 2017. https://doi.org/10.1111/cdev.12886
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; Kelly; Ocular & Austin, 2020Kelly, K. R., Ocular, G., & Austin, A. Adult‐child science language during informal science learning at an aquarium. The Social Science Journal, 57(4) 1-12. 2020. https://doi.org/10.1080/03623319.2020.1727226
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; Scalfi et al., 2022Scalfi, G., Massarani, L., Bizerra, A. & Araujo, J.M. Analysing family conversations and interactions during visits to Parque das Aves (Foz do Iguaçu, Brazil) from children’s perspective. Leisure Studies, 41(5), 637-653. 2022. https://doi.org/10.1080/02614367.2022.2043418
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). Sobre esse aspecto, Dooley & Welch (2014)Dooley, C. M., & Welch, M. M. Nature of interactions among young children and adult caregivers in a children’s museum. Early Childhood Education Journal, 42(1), 125-132. 2013. https://doi.org/10.1007/s10643-013-0601-x
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pontuam que nas interações dialógicas a liderança das crianças se dá por meio de ações como mostrar (exemplo 8), compartilhar experiências (exemplo 10) e fazer perguntas (exemplo 7, 9).

Entre as estratégias utilizadas pelas crianças, destaca-se que a leitura espontânea e observação de imagens e gráficos nos painéis interativos foram os elementos propulsores para as conversas direcionando a atenção da família para os aspectos discutidos pelas crianças: habitat, correntes oceânicas, identificação e compreensão do comportamento dos animais que, por sua vez, contribui com o repertório científico da família. Ao apoiar-se na leitura, as crianças destacaram características morfológicas (exemplo 9) e comportamentais (exemplo 10) e emitiram explicações sobre os animais para a família. Resultados semelhantes foram observados por Scalfi et al. (2022Scalfi, G., Massarani, L., Bizerra, A. & Araujo, J.M. Analysing family conversations and interactions during visits to Parque das Aves (Foz do Iguaçu, Brazil) from children’s perspective. Leisure Studies, 41(5), 637-653. 2022. https://doi.org/10.1080/02614367.2022.2043418
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) ao estudarem as conversas familiares durante visita ao zoológico onde as crianças atuaram de forma protagonista ao escolher o percurso e os animais que dedicariam mais tempo à observação, conduziram conversas, debateram informações científicas e refletiram sobre a conservação de aves. Segundo os autores, o comportamento ativo das crianças foi crucial para a aprendizagem dialógica que envolveu toda a família.

Sobre esse aspecto, Sobel et al. (2020Sobel, D. M., Letorneau, S. M., Legare, C. H., & Callanan, M. Relations between parent-child interaction and children’s engagement and learning at a museum exhibit about electric circuits. Developmental Science, 24(3), e13057. 2020. https://doi.org/10.1111/desc.13057
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), que estudaram a interação entre adultos e crianças em uma exposição sobre circuitos elétricos, apontam que a instrução por meio de comandos para alcançar metas estabelecidas pelos adultos acarretavam em um menor envolvimento das crianças com a exposição quando elas eram solicitadas a desempenhar atividades sozinhas. Por outro lado, as crianças que estabeleciam as próprias metas e recebiam a colaboração dos adultos se envolveram mais com as atividades e vivenciaram situações de aprendizagem significativas, evidenciando que interações em que as crianças são protagonistas incentivaram a exploração, experimentação e reflexão sobre os circuitos elétricos. Na mesma direção, os episódios ilustrados em nosso estudo trazem evidências de que as interações sociais protagonizadas pelas crianças e facilitadas pela interatividade da exposição proporcionaram experiências de aprendizagem ativa e a construção conjunta de sentido sobre os oceanos (Jant et al., 2014Jant, E. A., Haden, C. A., Uttal, D. H., & Babcock, E.Conversation and object manipulation influence children’s learning in a museum. Child Development, 85(5), 2029-2045. 2014. https://doi.org/10.1111/cdev.12252
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, Zimmerman; Reeve & Bell, 2010Zimmerman, H. T., Reeve, S., & Bell, P. Family sense-making practices in science center conversations. Bioscience Education, 94(3), 478-505. 2010. https://doi.org/10.1002/sce.20374.
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).

Por fim, o código conversas em que se faz conexão com os oceanos (n = 244) ocorreu em 5,4 % do tempo da visita enquanto as famílias contemplavam os animais e módulos expositivos, possibilitando o desenvolvimento de conversas que possibilitaram a identificação dos animais e a compreensão do seu comportamento, o que explica a coocorrência com o código conversas sobre a conservação dos oceanos (n = 10). A seguir, três episódios (exemplos 11, 12 e 13) que ilustram essas conversas são detalhados (Quadro 3).

Quadro 3
Exemplos das Conversas em que se faz associação com os oceanos

A conversa ilustrada no episódio 11 evidencia que a família reconheceu e se encantou pelo submarino que, por sua vez, foi associado à uma canção apreciada pelo adulto (Yellow Submarine, The Beatles). Além disso, esse mesmo adulto faz a leitura do painel para compreender que em determinadas profundidades são alcançadas apenas com submarino e que parte da biodiversidade oceânica permanece desconhecida, justamente em decorrência da profundidade que habitam (Kennedy et al., 2019Kennedy, B.R.C., Cantwell, K., Malik, M., Kelley, C. Potter, J., Elliot, K., Lobecker, E., Gray, L.M., Sowers, D., White, M.P., France, S.C., Auscavitch, S., Mah, C., Moriwake, V., Bingo, S.R.D, Putts, M. & Rotjan, R.D. The unknow and the unexplored: insights into pacific deep-sea following NOOAA CAPSTONE expeditions. Frontiers in Marine Science, 6(1), 1-21. 2019. https://doi.org/10.3389/fmars.2019.00480
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). Da mesma forma, no episódio 12, a família busca identificar o animal contemplado por meio da leitura do painel que, por sua vez, favoreceu a compreensão sobre seu comportamento de predação do animal. Além disso, os adultos buscam associá-lo ao personagem do filme “Procurando Nemo”, apreciado pela família. No episódio 13, a família adotou os mesmos comportamentos, primeiramente buscou confirmar a identificação do animal por meio da leitura do painel e em seguida, a família associou outro animal ao personagem de um filme apreciado pela família “Procurando Dory”.

Os episódios evidenciam que as famílias utilizaram a estratégia de estabelecer associações e conexões pessoais com os animais para facilitar a compreensão do conhecimento científico exposto que, por sua vez, acarretou em conversas significativas. Allen (2002Allen, S. Looking for learning in visitor talk: A methodological Exploration. In: Learning conversations in museums. 259-303. Rotledge. 2002.) também observou que os visitantes desenvolveram conversações conectando as informações que liam ou objetos que manipulavam e contemplavam às experiências anteriores para criar experiências socialmente significativas. Callanan et al. (2017Callanan, M. A., Castañeda, C. L., Luce, M. R. & Martin, J. L. Family science talk in museums: Predicting children’s engagement from variations in talk and activity. Child Development, 88(5),1492-1504. 2017. https://doi.org/10.1111/cdev.12886
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) relataram que os adultos tendem a conectar as informações expostas às experiências anteriores vividas pela família, para isso fazem comparações e analogias para incentivar o engajamento das crianças com o conhecimento científico abordado pela exposição. Massarani et al. (2022Massarani, L., Aguiar, B.I., Araujo, J. M., Scalfi, G., Kauano, R. & Bizerra, A. Is there room for Science at aquariums? An analysis of Family conversations and interactions during visits to AquaRio, Rio de Janeiro, Brazil. Science Education, 106(6), 1605-1630. 2022. https://doi.org/10.1002/sce.21764
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) em um contexto de aquário, também relataram que os adultos associaram as informações expostas e animais contemplados às experiências anteriores das famílias com o intuito de facilitar a compreensão de conceitos científicos complexos e engajar as crianças que, por sua vez, participaram de forma ativa vivenciando experiências significativas.

De acordo com Jant et al. (2014Jant, E. A., Haden, C. A., Uttal, D. H., & Babcock, E.Conversation and object manipulation influence children’s learning in a museum. Child Development, 85(5), 2029-2045. 2014. https://doi.org/10.1111/cdev.12252
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), ao conectarem as informações expostas às experiências anteriores vivenciadas pela família, os adultos possibilitam que as crianças compreendam os conceitos científicos de modo que os temas abordados pela exposição fiquem registrados na memória da família suscitando em conversas futuras e a construção de novos significados, portanto, as crianças vivenciam positivas experiências de aprendizagem. Em nosso caso, almejamos que ocorra o mesmo processo e que a aprendizagem estimule o engajamento das famílias com a conservação dos oceanos.

É importante destacar que os problemas ambientais que ameaçam os oceanos requerem medidas de enfrentamento nos níveis globais, regionais e locais, somando esforços do poder público, especialistas e sociedade civil (Nações Unidas, 2021). No âmbito da sociedade civil, Hofman; Hughes & Walters (2020Hofman, K., Hughes, K. & Walters, G. Effective conservation behaviours for protecting marine environments: the views of the experts. Journal of Sustainable Tourism. 28(1), 1-19. 2020. https://doi.org/10.1080/09669582.2020.1741597
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) pontuam uma série de medidas eficientes para engajar a população com a conservação de ecossistemas marinhos, sendo as duas principais: ações políticas (preocupar-se com decisões políticas, assinar petições, entre outras) e educativas (educar-se a si e aos outros, conectar-se com a natureza e aprender sobre ela). Ao combinar ações políticas e educacionais, as pessoas podem se tornar defensoras mais eficazes dos oceanos e agentes de mudança na busca por um ambiente marinho mais saudável e sustentável. Portanto, estudos que aprofundem a compreensão pública sobre a importância dos oceanos é fundamental para entendermos como questões complexas estão sendo percebidas pelo público (Steel et al., 2005Steel, B., Lovrich, N.; Lach, D. & Fomenko, V. Correlates and Consequences of Public Knowledge Concerning Ocean Fisheries Management, Coastal Management, v. 33, n.1, p.37-51, 2005.).

Nossos resultados trazem evidências de que a exposição abordou questões relevantes e que foram trabalhadas para contribuir com o conhecimento das famílias, auxiliando nesse processo de educação conjunta. Assim, ao sensibilizar-se com os impactos antrópicos, se conectar aos oceanos, associar as informações às experiências anteriores e compreender as ações contribuem para a conservação, as famílias poderão construir novos significados para a visita, o que lhes possibilitará o posicionamento crítico frente às questões ambientais que impactam a comunidade onde vivem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo tivemos como objetivo analisar as conversas de famílias durante visita espontânea à exposição “Oceanos” para compreender como se envolveram com a exposição e quais estratégias conversacionais possibilitaram a criação conjunta de sentido sobre a conservação dos oceanos. Nossos resultados trazem evidências de que a exposição despertou o interesse das famílias, pois elas se engajaram em conversas, compartilharam informações e validaram seu conhecimento sobre os oceanos, sobre os animais e atitudes ambientalmente responsáveis.

Para responder as perguntas que nortearam o estudo, nós destacamos que a natureza diversa dos objetos que compuseram a exposição favoreceu o engajamento das famílias inserindo-as dentro da “história que está sendo contada”, assim como evidenciado pelo módulo lixo. Além disso, a exposição abordou temas relevantes e coerentes com o contexto das famílias, contribuindo com o conhecimento científico que, por sua vez, suscitou emoções e sensibilizou para os impactos antrópicos sobre os ecossistemas marinhos.

Embora a exposição tenha retratado os fenômenos físicos dos oceanos e a biodiversidade marinha livre de jargões científicos complexos, os adultos adotaram comportamentos facilitadores para a compreensão das crianças ao incentivar a leitura dos painéis e associar as informações às experiências anteriores vividas pela família. As crianças, por sua vez, mostraram papel protagonista ao compartilhar seu conhecimento e sustentar as conversas mantendo-se atentas, fazendo perguntas e emitindo respostas, possibilitando a identificação dos animais e a compreensão do comportamento exibido por eles. No que tange à conservação, observamos que o módulo lixo, projetado para causar desconforto nos visitantes, suscitou em conversas e reflexões que, apesar de pouco aprofundadas, emocionaram as famílias e acarretaram em diálogos sobre as ações antrópicas que impactam a fauna e sobre as ações cotidianas que contribuem com a conservação dos oceanos, evidenciando que essas conversas foram socialmente significativas e que podem ficar registrada na memória tornando-se passíveis de adquirir novos significados.

Por fim, consideramos que o envolvimento emocional das famílias aliado às experiências em que se faz conexão com os oceanos acarretaram em experiências significativas que contribuíram com o conhecimento dos visitantes e inspiraram sentimentos pró-ambientais que podem estimular a adoção de comportamentos ambientalmente responsáveis. Desse modo, espera-se que as experiências vivenciadas durante a visita fomentem o interesse das famílias sobre os oceanos e as engajem com a conservação desses ecossistemas ameaçados, possibilitando-lhes o posicionamento crítico frente aos problemas ambientais que impactam a biodiversidade marinha.

AGRADECIMENTOS

Este estudo foi realizado no escopo do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia, com apoio financeiro das agências de fomento Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, 465658/2014-8) e Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ, E-26/200.89972018) . O estudo também se insere no projeto apoiado pelo Edital Universal 2018 do CNPq (405249/2018-7), liderado por Luisa Massarani. A autora Luisa Massarani agradece a Bolsa de Produtividade 1B do CNPq e a Faperj pela bolsa Cientista do Nosso Estado. Graziele Scalfi agradece ao CNPq pela bolsa pela bolsa DTI. Os autores agradecem também ao Museu da Vida e aos visitantes que gentilmente aceitaram participar desta pesquisa.

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O conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo não está disponível publicamente

  • O CECIMIG agradece ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico) e à FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) pela verba para a editoração deste artigo.

Editado por

Editor responsável: Alessandra Bizerra

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    06 Fev 2023
  • Aceito
    19 Fev 2024
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