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Nas tentativas de traçar o que se convencionou denominar de "cartografia" da produção científica, uma constante tem sido a sua concentração em poucas nações. Mais do que geográfica, contudo, tal centralização do conhecimento guarda estreita correspondência com o grau de desenvolvimento econômico das nações. Os sete países que apresentavam melhores indicadores de produção no campo científico (EUA, Inglaterra, União Soviética, Alemanha, França, Japão e Canadá) no ano de 1989 detinham 71% da produção científica mundial.

Contra uma participação dos Estados Unidos na ordem de 35%, o Brasil apresentava um índice de 0,47%.

Todavia, não é apenas o aspecto quantitativo da distribuição mundial do conhecimento que revela a iniqüidade: W. W. Gibbs, em um artigo publicado em 1995 na revista Scientific American, relata as barreiras que se colocam para a divulgação do conhecimento produzido fora do bloco das nações mais industrializadas. V. Cano, referida nesse mesmo trabalho, apresenta um dado impressionante, como retrato desse quadro: aproximadamente 70% dos periódicos latino-americanos não estão incluídos em nenhuma base de dados internacional, restringindo de maneira dramática a visibilidade desse conhecimento.

A situação da editoração científica no campo da Psicologia no Brasil é um testemunho do quadro delineado acima: recentemente, a Associação de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP) e a Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES) iniciaram uma colaboração para estabelecer parâmetros e avaliar os periódicos brasileiros do campo.

Embora a editoração científica seja uma atividade com uma tradição já firmemente estabelecida, articulada no Brasil pela Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC), a realidade é que, na Psicologia, o trabalho ainda é bastante incipiente. A heterogeneidade dos padrões de editoração certamente se vincula às condições nas quais são produzidos os periódicos: dificuldades de financiamento, ausência de esquemas de distribuição, equipes pouco qualificadas e insuficientes para imprimir um padrão profissional são, dentre muitos outros, alguns dos problemas que enfrentamos. Do contato com os editores, fica patente que o alto padrão de algumas poucas revistas brasileiras é fruto muito mais de esforços individuais do que da existência de uma estrutura editorial compatível.

A avaliação das publicações, o estabelecimento de um patamar de qualidade é uma tarefa urgente e inescapável. Contudo, ao lado disso, é imprescindível que tal atividade seja apoiada de maneira mais substantiva por parte do Estado – seja através das agências de fomento, seja através das próprias instituições de ensino e pesquisa que editam as revistas.

O quadro apresentado por Cano dificilmente se alterará se as iniciativas forem apenas individuais: ou bem reconhece-se a importância da atividade de editoração enquanto parte das definições da política científica (e mesmo assim, os obstáculos apontados por Gibbs estarão longe de ser removidos...) – e aí cabe um papel decisivo para as associações científicas e de pós-graduação – ou estaremos fadados a reiteradamente apresentar a situação da editoração enquanto simples denúncia, sem eco.

Estamos iniciando, com esta edição, o quarto ano de existência de Estudos de Psicologia. Contando com financiamento institucional, mas sem qualquer estrutura de apoio no trabalho de editoração, temos conseguido manter a periodicidade e aprimorar o padrão de qualidade editorial e científica. O resultado tem sido o reconhecimento da comunidade acadêmica, expressa na colaboração de pesquisadores de diversas partes do país e do exterior.

Certamente, isso é resultado do nosso empenho em estabelecer tal padrão de qualidade, mas sobretudo da confiança dos colegas pela preferência pela nossa revista no momento da publicação.

Do conjunto de itens geralmente considerados quando se trata de avaliação dos periódicos (e o seu calcanhar de Aquiles, segundo os dados apresentados por Cano), a maior barreira enfrentada pelas novas revistas é a indexação em serviços reconhecidos. Nesse terreno, temos uma excelente notícia para os nossos leitores e colaboradores: recebemos, recentemente, a notícia de que estamos indexados na LILACS, do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde e cadastrados no INDEXPSI, empreendimento conjunto do Conselho Federal de Psicologia e a Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Estamos em processo de avaliação nos sistemas PsycInfo/Psychlit (da American Psychological Association) e SciELO-Scientific Eletronic Library Online (da FAPESP/BIREME).

Esta notícia é não somente alvissareira pelas dificuldades em atingir tal patamar, mas também porque representa um reconhecimento, por parte dessas bases de dados, do padrão de qualidade que atingimos. Dados esses primeiros passos, esperamos poder, em breve, oferecer aos leitores e aos colaboradores uma revista com visibilidade nacional e internacional ainda maior.

Nesta edição, contamos com duas colaborações internacionais (do México e do Chile) e três de colegas de IES de outras unidades da federação (Ceará, Rio Grande do Sul e Paraíba). Abordando uma temática bastante atual, Victor Corral Verdugo e José Pinheiro propõem uma revisão dos estudos no campo do comportamento pró-ambiental; Virgínia Moreira apresenta um trabalho realizado na Universidade do Chile com mulheres vítimas de violência na família; Martha Traverso propõe a linguagem como aproximação para o estudo da Psicologia Social, resgatando os contributos de Vygotsky, Voloshinov, Bakhtin e George H. Mead; Wagner Andriola e Luanna Cavalcante relatam um estudo sobre o raciocínio abstrato em estudantes do ensino médio. Sexualidade e gravidez na adolescência é o tema do artigo de Ana C. Dias e William Gomes; a validação de um instrumento para o estudo dos atributos valorativos e descritivos do trabalho é a questão abordada por Livia Borges e as crenças relacionadas à prática do auto-exame de mama em mulheres de baixa renda na Paraíba o estudo de Suy-Mey Gonçalves e Mardonio Dias.

O entrevistado desta edição é José Luiz Álvaro, pesquisador e professor da Universidade Complutense de Madri, que discorre acerca das tendências e perspectivas no estudo da Psicologia Social.

Esperamos que esta edição continue correspondendo às expectativas da comunidade acadêmica e contribua para estimular o debate acerca da Psicologia atual.

O Editor.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Maio 2001
  • Data do Fascículo
    Jun 1999
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