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Agostinho Minicucci

Agostinho Minicucci

Agostinho Minicucci é um nome associado ao desenvolvimento da Psicologia no Brasil. Licenciado em Letras Neolatinas e em Pedagogia, é doutor em Educação e Livre-docente em Psicologia. Dedicado à docência desde o período em que desenvolveu um trabalho pioneiro na Escola Normal de Botucatu, lecionou e ocupou cargos administrativos em dezenas de instituições de ensino superior no Estado de São Paulo, além dos trabalhos de consultoria e supervisão aos profissionais nas suas atividades no campo da Psicologia do Trabalho e Clínica. Na sua vasta obra - que ultrapassa, entre livros e testes, a casa das cinco dezenas -, destacam-se alguns títulos que são obrigatórios nos cursos de Psicologia do Brasil, como são os casos de "Dinâmica de Grupo - Teorias e Sistemas" e "Técnicas de Trabalho em Grupo", ambas da Editora Atlas. Agostinho Minicucci foi entrevistado por Oswaldo H. Yamamoto em São Paulo, durante o mês de abril de 1998.

(Estudos de Psicologia): No capítulo sobre a Psicologia do livro "História das Ciências no Brasil"1 Nota , há uma referência acerca do seu trabalho pioneiro na Escola Normal de Botucatu, no interior de São Paulo. Nós gostaríamos de saber, inicialmente, o que fez com que o senhor se interessasse pelo estudo da Psicologia naqueles anos e um pouco daquele trabalho.

(Agostinho Minicucci): Minha primeira formação escolar de 2o grau se deu em Botucatu, uma cidade do Estado de São Paulo. Formei-me professor primário numa das tradicionais escolas normais do Estado. Remontemos: cursava a 5a série ginasial e tinha apenas 16 anos. Lia muitos livros não escolares, como Mitologia Grega, romances, biografias e revistas técnicas. Correspondia-me com escritores, cientistas, professores brasileiros e estrangeiros. Alguns respondiam às minhas cartas, o que me punha muito alegre. À exceção do futebol de rua, não era muito feliz no esporte. Meus colegas "brilhavam" com as meninas, pois eram esportistas, extrovertidos e conversadores. Sempre fui um introvertido convicto e "respeitado apenas", por não querer prosa. Procurava alguma coisa que me fizesse notado e chamasse a atenção de minhas colegas. Estando em São Paulo, pus-me a bisbilhotar um "sebo" e acabou chamando a minha atenção um pequeno livro, escrito em francês. Descrevia ele as mãos e fazia profecias. Não gritei "eureca" para não despertar os outros defarrabistas no trato e na idade. Estava ali a minha oportunidade de tornar-me um chiromant, ledor de linhas das mãos. Era um livro de uma editora de Psychologie. A editora chamou a minha curiosidade. Citava outros títulos estranhos. Comprei-o e passei a traduzi-lo, valendo-me das aulas de Francês que tive desde a 1o ano ginasial. E vinha-me a cabeça: "Je sui un chiromant". Ia com o livro à escola, mostrava aos colegas. Alguns se interessavam, outros me chamavam de "bruxo". Um dia, finalmente, chegou uma menina me estendeu a mão, com um desafio: " - Leia, vou me casar? Vou ter muitos filhos?". O certo é que conquistei as meninas e os rapazes me olhavam com desprezo. Um professor, decano da escola, ciente das minhas quiromancezes chamou-me, pediu-me o livro, olhou-o e disse com desprezo: " - Isso é livro de Psicologia. Onde você encontrou isso? Seu pai já sabe?". A verdade é que meu pai ficou sabendo. Como ele era membro da Maçonaria e da Sociedade de Ciências Ocultas, chamou-me e disse: "- Filho, isso é Psicologia, uma ciência oculta. Tenha muito cuidado em entrar nessa ciência. Não se entusiasme muito. Procure estudar mais Matemática, Português, Francês, História e outras matérias". A "dona Psicologia" entrou assim, na minha vida, pela porta dos fundos, como uma ciência oculta, reservada a poucos privilegiados. A maior glória da Psicologia ocorreu, quando o professor que a combateu trouxe-nos o filho para uma análise do seu estranho comportamento... Outros contatos foram estabelecidos com dona Psicologia, agora no curso normal, onde ela aparecia como uma Psicologia da Educação, com um professor que realmente sabia motivar seus alunos, Guaraciaba Trench. E passamos a trabalhar com os alunos e aprendemos como a didática do aprender pode atuar no entretenimento da criança. Era uma psicologia mais técnica, mais científica, mais respeitada.

(EP): Não havendo ainda cursos de Psicologia, qual foi o caminho escolhido para prosseguir seus estudos?

(AM): Meu segundo passo na vida escolar foi o curso de letras. Pude pesquisar de onde vieram as palavras, qual a sua origem, o seu currículo e o que realmente significam. As letras trouxeram pela lingüística o melhor conhecimento das palavras. Mais tarde, pude escrever um livro em que abordei o significado de muitas palavras da amiga Psicologia. Cheguei à conclusão de que ao estudante ou estudioso da Psicologia é necessário saber de onde vieram as palavras, o que realmente elas significam. Posso saber melhor o que é introvertido, extrovertido ou ambivertido pelo prefixo dessas palavras. Acabei sabendo se eles são nobres ou plebéias, se vem do latim ou do grego, do germânico ou do inglês. As letras me trouxeram a compreensão da redação e ambas me levaram, ao texto livre de Freinet, na sua originalidade e semelhança. Trabalhando com uma classe de curso ginasial pude escrever Redação Vivenciada, uma espécie de manual de redação, fundamentada na teoria do texto livre de Freinet.

(EP): Esses seus estudos eram orientados por alguém? Com quem o senhor trocava idéias?

(AM): Lourenço Filho, com quem me comunicava por correspondência, sugeriu-me aproveitar as redações pelo estudo da grafologia. "- É um excelente material de estudo, disse-me, para professores". Mandou-me alguns dados sobre essa fascinante teoria e citou-me alguns livros. Pus-me a estudar as redações sob três aspectos, o lingüístico, o didático e o psicológico. Do estudo literário do texto parti para a análise grafológica. De início do estudo, por Lourenço Filho, anos mais tarde surgiram dois livros meus sobre grafologia, o que passei a chamar de Grafoanálise, ou melhor Análise da Grafia, e 21 cadernos de Grafoánalise, editados pela Vetor Editora. Do estudo da estrutura do texto de redação e, valendo-me de um trabalho de Piéron, estudei o texto como uma expressão do pensamento operatório, numa antecipação de Piaget, na época um ilustre desconhecido nas lidas pedagógicas. Mais tarde, esse estudo encontrou-me com uma pesquisa da Universidade de Harvard nos Estados Unidos sobre o perfil do estilo de aprendizagem, do qual resultou um teste para avaliação do processo de aprender de diferentes profissões e utilizado hoje, nas empresas. Como aprende o engenheiro, o advogado, o professor, o médico e outros profissionais e como utilizam esse conhecimento.

(EP): Esse trabalho foi feito ainda em seu tempo de estudante universitário?

(AM):Sim. Na Escola Normal, na qual agora eu era professor de Português (1940), compus um grupo de professoras primárias de alfabetização, com objetivo de utilizar a prova teste ABC, do mestre Lourenço Filho. Lourenço Filho havia criado um teste de grande simplicidade e validade para avaliar o grau de maturidade e prontidão para leitura, escrita e cálculo. Treinamos as professoras na seleção dos alunos. Dividimos a classe em grupos de maturidade e criamos a terapia da aprendizagem, a fim de desenvolver as habilidades de alunos com dificuldades em alfabetização. Enviamos os resultados ao prof. Lourenço Filho. Tive assim a oportunidade de corresponder-me com o mestre Lourenço Filho, do que resultou um contato que muito me enriqueceu.

(EP): O senhor poderia nos falar mais de suas relações com Lourenço Filho?

(AM): Entre outras idéias, ele me sugeriu que, como professor de Português estudasse a escrita dos estudantes e o conteúdo da redação. Tomei conhecimento da grafologia, da qual Lourenço Filho era grande conhecedor. Enviou-me uma apostila e pediu que comprasse o livro ABC da grafologia, de Crépieux Jamin. Por outro lado, sugeriu-me que escrevesse sobre relações humanas entre os alunos. Não havia nada a respeito, segundo sua opinião. Era preciso relatar a vida dos adolescentes na escola e o seu relacionamento com professores. Entusiasmou-me a idéia da grafologia, de conhecer os alunos pela escrita. Houve muita dificuldade em conseguir o livro e a bibliografia era inexistente ou pobre. Pus-me a coletar diálogos e fatos pitorescos entre alunos e professores. O entusiasmo, no entanto, me dominou pela possibilidade de escrever um livro de relações humanas na escola. Terminado o roteiro, enviei-o ao prof. Lourenço. Ele se ofereceu para prefaciar o livro e estimulou-me a continuar a escrever. Em breve, por interferência de Francisco Marins, coordenador de obras da Editora Melhoramentos, saiu meu primeiro livro Relações humanas na escola. A ele, seguiram-se Relações humanas na família e Dinâmica de grupo na escola, ambos prefaciados por Lourenço Filho e editados pela Melhoramentos.

(EP): A grafologia é um tema bastante polêmico ainda hoje, na Psicologia. Como o senhor trata a questão da cientificidade da grafologia?

(AM): Sim. Continuei a pesquisar grafologia, a qual rebatizei com o nome de Grafoanálise. E da idéia inicial surgiram dois livros sobre o assunto e 21 cadernos de temas variados sobre a nova disciplina. Havia entrado no campo da grafoanálise, tirando-a do empirismo da tradicional grafologia. Antes as pessoas me procuravam para ler a mão, agora me cercavam para ler a escrita... Mantive correspondência com Lourenço Filho por muitos anos, aproveitando os seus ensinamentos, pela via epistolar. Os resultados do teste ABC e da incipiente terapia da aprendizagem fizeram sucesso na cidade de Botucatu e entusiasmaram pais, professores e alunos pela "milagrosa psicologia". "- Meu filho não aprendia a ler, nem a escrever. Agora, com a psicologia do prof. Agostinho já está lendo e escrevendo e só tira notas altas na escola. É...essa psicologia salvou meu filho".

(EP): Esse trabalho era desenvolvido na escola?

(AM): Lourenço Filho propôs a criação de cargos de Orientadores Educacionais nas Escolas Normais Oficiais do Estado, seguindo uma orientação do guidance, escola norte americana. Botucatu foi contemplada como uma das escolas oficiais do Estado. Dado o meu relacionamento fácil com adolescentes e professores, fui designado para exercer o cargo. Pois bem... fazer o quê? Não havia experiência anterior no Brasil. Adquiri alguns livros de guidance. Criei conselho de classes, propus aulas de repetição a alunos com dificuldade. As aulas eram ministradas pelos melhores alunos.

(EP): Como era o trabalho de orientação propriamente dito?

(AM): Vali-me do livro Orientación Profesional do prof. Mira Y López. Resolvi escrever-lhe. Sugeriu-me que assinasse a revista Arquivos Brasileiros de Psicotécnica e se possível, visitasse o ISOP (Instituto de Seleção e Orientação Profissional). Li diversos livros didáticos, à busca de subsídios pedagógicos.

(EP): O senhor teve uma orientação direta de Mira y López no período em que ele esteve no Brasil?

(AM): Sim. Mira me propôs que usasse os testes citados no seu livro e fizesse um teste seu, chamado PMK e lhe mandasse os resultados, as dúvidas, que ele me daria toda a orientação. Cataloguei profissões, levantei interesses profissionais, fizemos seminários com médicos, advogados, engenheiros, professores, dentistas, farmacêuticos, coletando interesses. Pus-me a estudar o teste PMK e, com freqüência, consultava o prof. Mira, na época dirigindo o ISOP. Sugeriu-me que fizesse experiência com adolescentes e levantasse o perfil do jovem botucatuense, através do teste. Pus-me a ler as obras do prof. Mira e a admirar o seu talento e a sua versatilidade. Estando em São Paulo adquiri uma obra do Corônel sobre o PMK e um manual francês sobre o assunto. Ambos foram valiosos e a correspondência com o prof. Mira aumentou em função de minhas dúvidas. Publiquei alguns artigos em revistas especializadas sobre o problema da orientação educacional que aproximou mais os pais de seus filhos, mas os professores sentiram-se invadidos na sua cidadela. Por sugestão do prof. Mira, adaptei a sua bateria de teste de inteligência (espacial, verbal e abstrata) aos nossos alunos. Foi possível, assim, diagnosticar melhor as aptidões, em função do tipo de inteligência e moldá-las às exigências da orientação vocacional. Mira foi para mim um exemplo e um modelo de profissional. Seus livros me acompanhavam.

(EP): Quais foram suas outras influências teóricas na época, além de Lourenço Filho e Mira y López?

(AM): Numa feira de livros em São Paulo, vieram-me as mãos os livros de Holland sobre orientação vocacional e um estudo de testes sobre o assunto. Esses livros me deram o ensejo de preparar um teste denominado TEV (Teste de Estruturas Vocacionais), editado pela Editora Vetor, de São Paulo. No relacionamento com estudantes, no diálogo do dia a dia, nos "programas estudantinos", nas tertúlias jovens, nas confissões, na observação do relacionamento, foi-me possível aprofundar o estudo das relações humanas na escola. A orientação vocacional me levou ao estudo dos testes. Vali-me do auxílio de um professor de matemática especialista em estatística que me aprofundou nas questões de técnicas de pesquisa e elaboração de provas padronizadas.

(EP): O senhor fez referência a um trabalho fundamentado na obra de Celestin Freinet. Como o senhor teve contato com essa obra?

(AM): Freinet apareceu nos meus estudos através de Michel Launay, discípulo do pedagogo francês. Veio Launay a São Paulo, para ministrar na USP um curso de Francês Instrumental. Através de uma palestra sua, pude entender a obra de Freinet e apaixonar-me por ela. Tínhamos muito em comum. Li os livros de Freinet, alguns em português, outros em francês. Resolvi tentar algumas experiências no meio escolar e social brasileiro. Supervisor de uma escola em São Paulo, o Instituto Luzweel , introduzi os princípios do pedagogo nessa escola. Luzweel era uma instituição de classe alta e média alta. Paralelamente combinei com uma professora de escola de periferia que realizasse a mesma experiência, para confronto de resultados, numa escola pobre, a verdadeira escola Freinet, e uma escola rica. No confronto, a escola de periferia realizou comparativamente melhores resultados e numa maratona esportiva, intelectual, os meninos favelados levaram a melhor. Trabalhando numa empresa de construção civil idealizamos a aplicação de método Freinet no contato com os peões das obras, em geral semialfabetizados. Levantamos uma revista, uma espécie de texto livre e estabelecemos correspondência com peões, estudando o seu ambiente de trabalho. Os resultados foram satisfatórios e da experiência resultou uma obra não publicada sobre O método Freinet numa empresa de construção civil.

(EP): Existiram outras experiências com a metodologia Freinet?

(AM): Numa classe de faculdade (3o ano de Psicologia), na cadeira de Dinâmica de Grupo, ensaiamos a elaboração pelas turmas do chamado Livro de Vida que, ao final, resultou numa obra também não publicada. Com uma nossa ex-aluna, de Psicologia da Criança, instituímos a chamada Freineterapia, em que o trabalho terapêutico era executado com desenhos das crianças e o texto livro livre (Redação Vivenciada), orientando o trabalho do texto livre. Foi publicado em edição do autor. Finalmente escrevemos Didática fundamentada no texto livre de Freinet, do qual resultou um livro também publicado em edição do autor.

(EP): O senhor é autor de algumas das obras bastante utilizadas nos cursos de Psicologia sobre os trabalhos em grupo. Fale-nos um pouco sobre esses seus estudos.

(AM): Dos cursos de um dos mais profundos conhecedores de Piaget e Dinâmica de Grupo, Lauro de Oliveira Lima, consegui assimilar a influência do mestre genebrino no trabalho de grupo. A bibliografia em língua portuguesa era muito escassa e poucas livrarias ofereciam livros sobre o assunto. Consegui algumas obras em inglês, principalmente os trabalhos pioneiros de Kurt Lewin e seus discípulos. Pus-me a pesquisar e aplicar os conhecimentos em aulas e trabalhos de orientação educacional. Os adolescentes se sentiam bem diante daquelas estratégias que iam bem ao encontro de suas necessidades de grupo. Já os professores não viam com bons olhos aquelas atividades que os tiravam do estrado da cátedra para trabalhar com "grupos indisciplinados" de alunos. Foi necessário, no âmbito escolar, rever toda a Didática e contar com professores não preparados para as novas estratégias. Uma escola de freiras que solicitou o nosso apoio ficou atemorizada com a minha intimidade com as meninas. Os professores de ciências exatas, como matemática, tiveram mais facilidade em aceitar o processo e o nome Piaget foi uma bandeira na implantação da Dinâmica de Grupo. Após muito trabalho, consegui publicar Relações humanas na escola, Dinâmica de grupo na escola, Teorias e sistemas em dinâmica de grupo e Técnicas de trabalho de grupo, além de outras edições do autor, não publicadas. Tivemos maior sucesso em alguns trabalhos junto a empresas, nas quais a aceitação do trabalho grupal foi mais facilitada.

(EP): O senhor participou da introdução de uma controvertida abordagem terapêutica, a Análise Transacional. Como se deu esse processo e qual a avaliação que o senhor faz hoje dessa abordagem?

(AM): Alguns psicólogos argentinos introduziram no Brasil a psicologia da Análise Transacional. Alguns transacionalistas americanos estiveram em São Paulo, ministrando cursos sobre a nova abordagem da Psicanálise e Gestalt. Participamos de todas as reuniões e, apesar de todas as implicações das novidades americanas, alguma coisa pôde-se aproveitar da chamada Análise Transacional de Eric Berne, que nada mais é, que uma simplificação da Psicanálise. Depois de estudos, publicamos um livro pela Editora Moraes, Análise Transacional pela Imagem. O estudo ainda é polêmico dada a vulgarização do assunto por pessoas não habilitadas ou credenciadas para essa nova abordagem psicológica, hoje combatida e esquecida.

(EP): Tendo uma tal diversidade de interesses e áreas de estudo, qual a sua avaliação acerca das convergências entre eles? Qual o balanço que o senhor faz?

(AM): Numa síntese integrativa dos momentos que constituíram o processo de desenvolvimento de um psicólogo, num ambiente onde mal se conhecia a Dona Psicologia e a Medicina era soberana, é bom que se faça uma retrospectiva de como se pode trabalhar num ambiente modesto, sem os benesses do apoio universitário, com seus professores, a sua biblioteca, a facilidade de consulta e todo um ambiente propício. Refiro-me à divulgação, à discussão, à reformulação de princípios, à troca de informações, ao apoio à pesquisa e ao congraçamento de reuniões, seminários, congressos, painéis e outros. Só um autodidatismo tenaz, persistente e até teimoso à busca de conhecimento, de contatos enriquecedores, de divulgação de descobertas e pesquisas poderão incentivar o pesquisador solitário, que deve buscar as próprias ferramentas, preparar o solo, adubá-lo, para colher os frutos. Deve contar também com a indiferença, as vozes contrárias, o sentimento de inveja e de invasão de campos tradicionalmente "senhores" e "proprietários" do conhecimento, por direito e herança. Todas essas lutas deverá enfrentar o autodidata, o pesquisador solitário, o homem no deserto de idéias, o calor da indiferença, a secura do ambiente e a indiferença dos "senhores" do saber. Essa luta enfrentamos e tivemos a coragem de vencer os percalços e contribuir modestamente com pesquisas, quando ainda a metodologia científica engatinhava. Que sirva de modelo e orientação àqueles que na exuberância dos frutos da universidade se acomodam ao saber feito, mal reproduzido e memorizado, sem análise e, muito menos, sem síntese. Num recantar da mesma melodia que se repete em bis sonoro, mas improdutivo. É preciso determinação, coragem, dinamismo, criatividade, espírito inovador, gosto da pesquisa e, acima de tudo, vontade de vencer contra tudo e contra todos.

1 Ferri, M. G. & Motoyama, S. (Eds.) (1979). História das Ciências no Brasil (3 vol.). São Paulo: EPU/EDUSP. (N. do E.)

  • Nota
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Maio 2001
    • Data do Fascículo
      Jun 1998
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