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Criança, infância e educação infantil: pressupostos das pesquisas

RESUMO

O artigo apresenta uma memória bibliográfica das pesquisas para, com e sobre criança, infância e educação infantil, apontando autores e textos assumidos como pressupostos epistemológicos desse emergente campo de investigação. Sem a pretensão de fazer análise exaustiva, o texto expõe as referências predominantes entre os pesquisadores por meio de uma pesquisa teórica e bibliográfica construída com base em todas as referências utilizadas entre os anos de 2006 e 2016. A partir dos termos “criança”, “infância” e “educação infantil” foram catalogadas em bancos de dados todas as fontes bibliográficas citadas em dissertações, teses, artigos de revistas e trabalhos completos apresentados nas reuniões anuais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) disponíveis on-line. Após o exame de todo o material, foram identificados autores e textos mais citados pelos pesquisadores. Como resultado, fica evidenciada uma diversidade de aportes teóricos e metodológicos como base epistêmica da memória bibliográfica desse campo de pesquisa.

Palavras-chave:
Memória bibliográfica; Pressupostos; Criança; Infância e Educação Infantil

ABSTRACT

The article presents a bibliographic memory of research for, with and about child, childhood and early childhood education, indicating authors and articles considered epistemological assumptions of this emerging research field. Without claiming to be an exhaustive analysis, the text exposes the prevailing references among researchers through a theoretical-bibliographic survey based on all references used between 2006 and 2016. From the search words “children,” “childhood” and “early childhood education” we catalogued in the database all bibliographic sources cited in theses, dissertations, journal articles, and full studies presented at the annual meetings of the Brazilian Association of Graduate Studies and Research in Education (ANPEd) available online. A thorough examination of all the material revealed the authors and texts most often cited by researchers. As a result, a diversity of theoretical and methodological contributions is evidenced as the epistemic base of the bibliographic memory of this research field.

Keywords:
Bibliographic memory; Research assumptions; Child; Childhood and Early Childhood Education

Introdução

As pesquisas sobre pesquisas, também nomeadas pela literatura acadêmica de estado da arte, estado do conhecimento, estudos de revisão, meta-análise, metapesquisa, revisão sistemática ou metassíntese, campo no qual este trabalho se situa, visam lançar um olhar panorâmico sobre a produção científica relacionada a uma área e/ou um tema específico. Um dos objetivos desse tipo de investigação é contribuir para o aperfeiçoamento das propostas de pesquisas e melhorar, de alguma forma, a formação dos pesquisadores, conforme apontam Ferreira (2002)FERREIRA, Norma S. A. As pesquisas denominadas “estado da arte”. Educação e Sociedade, Campinas, v. 23, n. 79, p. 257-272, ago. 2002. Disponível em: https://bit.ly/1NlhRNC. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Romanowski; Ens (2006)ROMANOWSKI, Joana P.; ENS, Romilda T. As pesquisas denominadas do tipo “estado da arte” em educação. Diálogo Educacional, Curitiba, v. 6, n. 19, p. 37-50, set./dez. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2JuHfn2. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Charlot (2006)CHARLOT, Bernard. A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e desafios de uma área de saber. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 11, n. 31, p. 7-18, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2sGrWNA. Acesso em: 4 jun. 2018.
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e Mainardes (2018)MAINARDES, Jefferson. Metapesquisa no campo da política educacional: elementos conceituais e metodológicos. Educ. rev. 2018, vol. 34, n. 72, p. 303-319. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602018000600303&lng=en&nrm=iso. ISSN 0104-4060. http://dx.doi.org/10.1590/0104-4060.59762. Acesso em: 20 jan. 2018.
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, dentre outros. Para isso, é necessária uma permanente vigilância epistemológica que esteja em constante diálogo com a memória bibliográfica de cada campo/tema/objeto investigado (CHARLOT, 2006CHARLOT, Bernard. A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e desafios de uma área de saber. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 11, n. 31, p. 7-18, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2sGrWNA. Acesso em: 4 jun. 2018.
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).

As pesquisas sobre temas relacionados a criança, infância e educação infantil foram tomadas como foco do presente estudo que buscou revelar referências fundamentais para quem pretende começar, recomeçar e/ou continuar suas jornadas acadêmicas na educação infantil, que não pode prescindir de um banco de dados que contenha uma memória bibliográfica coletiva. A partir de uma interlocução com Bernard Charlot (2006)CHARLOT, Bernard. A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e desafios de uma área de saber. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 11, n. 31, p. 7-18, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2sGrWNA. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, o texto discute o envolvimento e a responsabilização de pesquisadores e de professores do campo educacional com a problemática do ponto de partida e da memória. Isso porque enquanto as “ciências duras” avançam a partir de seus pontos de chegada, as ciências da educação avançam a partir de seus pontos de partida. Assim, só seria possível avançar nas ciências humanas quando elas propõem novas formas de começar, pois o ponto de apoio para novas indagações é a memória construída e consolidada no campo de pesquisa (CHARLOT, 2006CHARLOT, Bernard. A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e desafios de uma área de saber. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 11, n. 31, p. 7-18, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2sGrWNA. Acesso em: 4 jun. 2018.
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).

Conhecer e questionar como nos relacionamos com aquilo que já sabemos é fundamental. Antes, durante e depois de nossas pesquisas é imprescindível dialogar com as conquistas do passado e as perspectivas do futuro. Para não repetir o que já foi feito e pesquisado, um caminho profícuo seria não nos esquecer dos passos já trilhados por outros pesquisadores, aprendendo a dialogar com a memória científica do campo. De acordo com Bernard Charlot (2006)CHARLOT, Bernard. A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e desafios de uma área de saber. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 11, n. 31, p. 7-18, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2sGrWNA. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, a recuperação da memória coletiva dos pesquisadores pode contribuir para o amadurecimento qualificado de nossas pesquisas educacionais.

A pesquisa aqui apresentada pretendeu inventariar parte da memória bibliográfica daqueles que desenvolvem pesquisas para, com e sobre criança, infância e educação infantil, contribuindo de alguma forma com pesquisadores ainda iniciantes e mais experientes. Sabemos que a pesquisa bibliográfica supõe um movimento incansável de releitura dos objetivos, de identificação das fontes, de observância das etapas, de interlocução crítica com o material coletado e de vigilância epistemológica (LIMA; MIOTO, 2007LIMA, Telma C. S.; MIOTO, Regina Célia. T. Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Katálysis, Florianópolis, v. 10, p. 37-45, 2007. Edição especial. Disponível em: https://bit.ly/1uXTtbl. Acesso em: 4 jun. 2018.
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). Para isso, a partir das palavras-chave “criança”, “infância” e “educação infantil”, selecionamos e listamos todas as referências bibliográficas entre os anos1 1 O ano de 2006 foi o marco inicial dessa investigação. Para isso, os trabalhos de Eloisa Rocha (1999 e 2010), que inventariou pesquisas sobre educação infantil até o ano de 2006, foram tomados como referência. de 2006 e 2016 em dissertações e teses disponíveis on-line na base de dados da Capes; em trabalhos de todos os Grupos de Trabalho (não apenas do GT 07 que estuda a criança de zero a seis anos) apresentados nas reuniões anuais da Anped acessíveis on-line; e em artigos de doze revistas2 2 As revistas utilizadas foram: Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), Educação em Revista (UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais), Educação e Pesquisa (USP – Universidade de São Paulo), Educação e Realidade (UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Educação & Sociedade (Unicamp – Universidade de Campinas), Educar em Revista (UFPR – Universidade Federal do Paraná), Revista Ensaio (Fundação Cesgranrio), Paideia (USP), Pró-posições (Unicamp), Psicologia: Reflexão e Crítica (UFRGS), Revista Brasileira de Educação (ANPEd – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação) e Revista Lusófona de Educação. acadêmicas da área da educação, classificadas como Qualis A1, que divulgam pesquisas, reflexões e discussões da área.

Partimos de baixo para cima, ou seja, não nos interessaram temas, conteúdos e abordagens presentes em cada trabalho. Buscamos as fontes utilizadas. Localizamos todas as teses e dissertações, todos os artigos e os trabalhos de todos os Grupos de Trabalho - GT’s - da Anped entre os anos de 2006 e 2016; selecionamos, organizamos e analisamos as referências e apontamos pistas dos pressupostos epistemológicos do campo, confrontando as fontes teóricas que orientam os pesquisadores. Após identificar e salvar todas as dissertações e teses, todos os trabalhos da ANPEd e artigos, adotamos o mesmo procedimento metodológico para o levantamento de dados bibliográficos, selecionando, listando, agrupando, contando, organizando e analisando autores e textos mais citados e mais lidos com vistas a identificar pressupostos epistemológicos das pesquisas. Após um trabalho exaustivo com uma imensidão de dados bibliográficos, apresentamos aqui a consolidação da pesquisa. Estamos cientes que o banco de dados organizado, a partir desse primeiro esforço, pode ser fonte para novas pesquisas, novos textos e novas análises. As fontes podem falar de várias formas. Cabe a quem pesquisa fazê-las falar, conforme apontam conforme apontam autores que fazem pesquisas sobre pesquisas, tais como Charlot (2006)CHARLOT, Bernard. A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e desafios de uma área de saber. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 11, n. 31, p. 7-18, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2sGrWNA. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Rocha (1999ROCHA, Eloisa A. C. A pesquisa em educação infantil no Brasil: trajetória recente e perspectiva de consolidação de uma pedagogia. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999.; 2010)ROCHA, Eloisa A. C. 30 anos da educação infantil na ANPEd. In: SOUZA, Gizele de. (Org.). Educar na infância: perspectivas histórico-sociais. São Paulo: Contexto, 2010. p. 157-170., Veiga Júnior (2012)VEIGA JÚNIOR, Álvaro. Produção teórica e teorização em educação a partir da ANPEd. 2012. 115 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2012., Lima e Mioto (2007)LIMA, Telma C. S.; MIOTO, Regina Célia. T. Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Katálysis, Florianópolis, v. 10, p. 37-45, 2007. Edição especial. Disponível em: https://bit.ly/1uXTtbl. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Romanowski; Ens (2006)ROMANOWSKI, Joana P.; ENS, Romilda T. As pesquisas denominadas do tipo “estado da arte” em educação. Diálogo Educacional, Curitiba, v. 6, n. 19, p. 37-50, set./dez. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2JuHfn2. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Mainardes (2018)MAINARDES, Jefferson. Metapesquisa no campo da política educacional: elementos conceituais e metodológicos. Educ. rev. 2018, vol. 34, n. 72, p. 303-319. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602018000600303&lng=en&nrm=iso. ISSN 0104-4060. http://dx.doi.org/10.1590/0104-4060.59762. Acesso em: 20 jan. 2018.
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, Ferreira (2002)FERREIRA, Norma S. A. As pesquisas denominadas “estado da arte”. Educação e Sociedade, Campinas, v. 23, n. 79, p. 257-272, ago. 2002. Disponível em: https://bit.ly/1NlhRNC. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, dentre outros.

Todas as referências bibliográficas citadas pelos pesquisadores em dissertações, teses, artigos científicos e trabalhos de todos os GT’s da ANPEd entre 2006 e 2016 formaram um banco de dados3 3 O período entre 2006 e 2016 foi escolhido pelo fato de o ano de 2006 ter sido o ano de aprovação Emenda Constitucional nº 53 que criou o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica – o Fundeb – marco decisivo para o amplo financiamento da educação básica brasileira; e o ano de 2016 ter sido o ano do impedimento/golpe contra a presidenta Dilma – marco decisivo da nova era que se iniciou na política brasileira. que se constituiu naquilo que foi definido como uma memória bibliográfica desse campo de pesquisa. A tabela 01 apresenta informações quantitativas acerca da composição desse banco de dados. Um total de 1.697 (um mil, seiscentos e noventa e sete) trabalhos foram selecionados e arquivados, gerando um total de 48.108 (quarenta e oito mil, cento e oito) referências citadas.

TABELA 01
SÍNTESE QUANTITATIVA DO BANCO DE DADOS DA PESQUISA SOBRE CRIANÇA, INFÂNCIA E EDUCAÇÃO INFANTIL ENTRE 2006 E 2016

A base epistêmica das dissertações pesquisadas entre 2006 e 2016

Entender a base epistêmica que orienta as dissertações que produzimos é entender por onde começamos a nossa caminhada de investigação. O resultado das pesquisas acadêmicas de base aparece inicialmente em dissertações de mestrado e depois em teses de doutorado defendidas e divulgadas. Nas referências bibliográficas das dissertações disponíveis na base de dados da Capes, no período de 2006 a 2016, identificamos o time de onze autores e onze textos titulares e reservas4 4 A escolha de número onze foi aleatória a partir apenas das expressões “onze titulares” e “onze reservas” fazendo uma analogia com um time de futebol, esporte mais popular no Brasil. mais citados e mais utilizados. Apresentaremos abaixo apenas o time dos titulares. A tabela 02 abaixo mostra os autores5 5 Os autores em dissertações, teses, artigos e trabalhos da ANPEd são apresentados em ordem alfabética e não pela quantidade de vezes em que são citados. e seus respectivos textos6 6 Dentre os textos de cada autor citados em dissertações, teses, artigos e trabalhos da ANPEd, foi incluído na tabela apenas o texto mais citado pelos pesquisadores. mais citados nas dissertações analisadas. São eles:

TABELA 02
AUTORES E TEXTOS MAIS CITADOS NAS DISSERTAÇÕES ENTRE 2006 E 2016

Do campo específico das pesquisas em educação infantil, as autoras mais citadas são Campos; Rosemberg; Ferreira (1995)CAMPOS, Maria M.; ROSEMBERG, Fúlvia; FERREIRA, Isabel M. Creches e pré-escolas no Brasil. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995., Cerizara (1999)CERIZARA, Ana Beatriz. Educar e cuidar: por onde anda a educação infantil? Perspectiva, Florianópolis, v. 17, n. 1, p. 11-21, jul./dez. 1999. Edição especial. Disponível em: https://bit.ly/2LZ2uM7. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Kishimoto (1999)KISHIMOTO, Tizuko M. Política de formação profissional para a educação infantil: pedagogia e normal superior. Educação e Sociedade, Campinas, v. 20, n. 68, p. 61-79, dez. 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a04v2068.pdf. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Kramer (1995)KRAMER, Sonia. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995., Rocha (2002), Rosemberg (2002)ROSEMBERG, Fúlvia. Organizações multilaterais, estado e políticas de educação infantil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 115, p. 25-63, mar. 2002. Disponível em: https://bit.ly/2kLRyVZ. Acesso em: 4 jun. 2018.
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e Kuhlmann Júnior (2007)KUHLMANN JR., Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2007.. Nos textos publicados por esses autores e mais citados nas dissertações analisadas são discutidos temas como história, educação infantil, creche, pré-escola, educação, cuidado, formação, pesquisa, políticas públicas, papel do Estado e de organizações multilaterais.

Além dos (as) autores (as) que estudam especificamente a educação infantil, temos dentre as fontes bibliográficas mais citadas autores como Freire (2002)FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002., com a sua pedagogia da autonomia, e Ariès (2006)ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006. e Saviani (1997)SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. Campinas: Autores Associados, 1997., do campo da história da educação, que nos mostram em seus textos aspectos relevantes da história da criança, da infância, da família e da legislação educacional. Do campo da sociologia da infância temos Sarmento (2004)SARMENTO, Manuel J. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. In: CERISARA, Ana Beatriz; SARMENTO, Manuel J. Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância. Porto: Asa, 2004. p. 9-31., que nos mostra em seu texto mais citado as culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade.

Através das referências bibliográficas de todas as dissertações entre 2006 e 2016 chegamos a estes autores e a estes textos mais lidos e mais citados pela comunidade de pesquisadores que se dedicam aos estudos sobre criança, infância e educação infantil. Acompanhando as fontes mais utilizadas em dissertações de mestrado, temos um bom roteiro de estudos para aqueles que pretendem ingressar nas pesquisas nesse campo de investigação.

O entendimento da base epistêmica que orienta as dissertações já produzidas sobre criança, infância e educação infantil é fundamental para todos aqueles que pretendem realizar estudos nesse campo. Os autores mais lidos e mais citados nas dissertações compõem os pressupostos das pesquisas da área e indicam que para entender a criança e a infância é importante ler e problematizar, por exemplo, os trabalhos de Ariès (2006)ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006. e os estudos de Sarmento (2004)SARMENTO, Manuel J. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. In: CERISARA, Ana Beatriz; SARMENTO, Manuel J. Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância. Porto: Asa, 2004. p. 9-31.; para analisar o campo da educação, da pedagogia, da legislação e das políticas educacionais o estudo Freire (2002)FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. e Saviani (1997)SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. Campinas: Autores Associados, 1997. pode contribuir. Além disso, para compreender a história e as políticas para creche, pré-escola e educação infantil no Brasil pode contribuir o estudo dos trabalhos de Campos; Rosemberg; Ferreira (1995)CAMPOS, Maria M.; ROSEMBERG, Fúlvia; FERREIRA, Isabel M. Creches e pré-escolas no Brasil. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995., Cerizara (1999)CERIZARA, Ana Beatriz. Educar e cuidar: por onde anda a educação infantil? Perspectiva, Florianópolis, v. 17, n. 1, p. 11-21, jul./dez. 1999. Edição especial. Disponível em: https://bit.ly/2LZ2uM7. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Kishimoto (1999)KISHIMOTO, Tizuko M. Política de formação profissional para a educação infantil: pedagogia e normal superior. Educação e Sociedade, Campinas, v. 20, n. 68, p. 61-79, dez. 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a04v2068.pdf. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Kuhlmann Jr. (2007)KUHLMANN JR., Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2007., Rocha (1999)ROCHA, Eloisa A. C. A pesquisa em educação infantil no Brasil: trajetória recente e perspectiva de consolidação de uma pedagogia. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999. e Rosemberg (2002)ROSEMBERG, Fúlvia. Organizações multilaterais, estado e políticas de educação infantil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 115, p. 25-63, mar. 2002. Disponível em: https://bit.ly/2kLRyVZ. Acesso em: 4 jun. 2018.
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. São autores e textos constitutivos da base teórica e da história desse campo de pesquisas. O conhecimento desses autores hegemônicos não impede, obviamente, que outras referências sejam identificadas e consideradas.

A base epistêmica das teses pesquisadas entre 2006 e 2016

Entender a base epistêmica que orienta as teses de doutorado que produzimos é entender os passos daqueles que já sustentam posicionamentos próprios, como a pesquisa em nível de doutorado supõe. Os resultados das pesquisas acadêmicas que aparecem em teses de doutorado defendidas e divulgadas podem ser considerados frutos mais amadurecidos na caminhada de investigação. Se a dissertação pode ser nomeada como a porta de entrada para a formação do pesquisador, a tese pode ser considerada a porta de saída, ou seja, com a conclusão do doutorado fecha-se um ciclo formativo iniciado no curso de graduação. Nas referências bibliográficas das teses disponíveis na base de dados da Capes no período de 2006 a 2016, identificamos o time de onze autores e onze textos titulares e reservas. Apresentaremos abaixo apenas o time dos titulares. A tabela 03 mostra os autores e seus textos mais citados nas teses analisadas. São eles:

TABELA 03
AUTORES E TEXTOS MAIS CITADOS NAS TESES ENTRE 2006 E 2016

Do campo de pesquisas específico da educação infantil, Campos, Kishimoto, Kramer e Rosemberg são as autoras que compõem o time dos mais citados e mais lidos nas teses de doutorado. Campos, Füllgraf e Wiggers (2006)CAMPOS, Maria M.; FÜLLGRAF, Jodete; WIGGERS, Verena. A qualidade da educação infantil brasileira: alguns resultados de pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 127, p. 87-128, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2LlyQ2I. Acesso em: 4 jun. 2018.
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estudam em seu texto a qualidade da educação infantil no Brasil; Kishimoto (1999)KISHIMOTO, Tizuko M. Política de formação profissional para a educação infantil: pedagogia e normal superior. Educação e Sociedade, Campinas, v. 20, n. 68, p. 61-79, dez. 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a04v2068.pdf. Acesso em: 4 jun. 2018.
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discute a política de formação dos profissionais da educação infantil; Kramer (1995)KRAMER, Sonia. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995. analisa a arte do disfarce das políticas do pré-escolar no Brasil; Kuhlmann Jr. (2007)KUHLMANN JR., Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2007. apresenta a sua pesquisa histórica sobre a infância e a educação infantil no Brasil; e Rosemberg (2002)ROSEMBERG, Fúlvia. Organizações multilaterais, estado e políticas de educação infantil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 115, p. 25-63, mar. 2002. Disponível em: https://bit.ly/2kLRyVZ. Acesso em: 4 jun. 2018.
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problematiza a relação entre organizações multilaterais e o Estado brasileiro no desenvolvimento de políticas públicas para a educação infantil.

Entre as referências bibliográficas mais citadas nas teses, aparecem ainda autores da psicanálise e da psicologia. São eles: Piaget (1972)PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1972., Vygotsky (1991)VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicologicos superiores. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. e Freud (1980)FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: SALOMÃO, Jaime (dir). Um Caso de Histeria, Três Ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Rio de Janeiro: Imago, 1980. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.v. 7, p. 129-256., mostrando que os estudos de psicologia e as teorias da sexualidade em uma perspectiva social compõem as fontes teóricas principais das pesquisas em nível de doutorado. Há também autores clássicos da filosofia: Benjamim (2002), com seu texto sobre a criança, o brinquedo e a educação; e Foucault (2007)FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2007., com seu texto sobre as estratégias de “vigiar e punir” presentes em diferentes instituições sociais. Por um lado, a criança viva e brincante. Por outro, a criança vigiada e punida. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade são apresentadas e discutidas por Sarmento (2004)SARMENTO, Manuel J. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. In: CERISARA, Ana Beatriz; SARMENTO, Manuel J. Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância. Porto: Asa, 2004. p. 9-31., autor da sociologia da infância mais citado nas pesquisas sobre educação infantil.

Aqueles que fazem pesquisas no campo têm, através das referências utilizadas nas teses da área, que considerar a produção bibliográfica de Campos, Kishimoto, Kramer, Rosemberg e Kuhlmann Jr. Além delas(es), os pesquisadores citam amplamente, do campo da filosofia, Walter Benjamin e Michel Foucault; da sociologia da infância, Manuel Sarmento; e da psicologia/psicanálise, Sigmund Freud, Jean Piaget e Lev Vygotsky. Como não poderia ser diferente, nas teses de doutorado há um aprofundamento das abordagens teórico-metodológicas, e isso se reflete entre os autores apontados como pressupostos das pesquisas para, com e sobre criança, infância e educação infantil.

O entendimento da base epistêmica que orienta as teses já produzidas sobre criança, infância e educação infantil é fundamental para todos aqueles que pretendem realizar estudos nesse campo. Os autores aqui identificados compõem os pressupostos das pesquisas da área e indicam que para entender a criança e a infância pode contribuir o conhecimento dos trabalhos de Benjamin (2002)BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2002., Foucault (2007)FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2007., Freud (1980)FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: SALOMÃO, Jaime (dir). Um Caso de Histeria, Três Ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Rio de Janeiro: Imago, 1980. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.v. 7, p. 129-256., Piaget (1972)PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1972., Sarmento (2004)SARMENTO, Manuel J. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. In: CERISARA, Ana Beatriz; SARMENTO, Manuel J. Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância. Porto: Asa, 2004. p. 9-31. e Vygotsky (1991)VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicologicos superiores. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.. Além disso, para compreender a história e as políticas para a pré-escola e a educação infantil no Brasil pode contribuir o acompanhamento das pesquisas de Campos; Rosemberg; Ferreira (2006)CAMPOS, Maria M.; FÜLLGRAF, Jodete; WIGGERS, Verena. A qualidade da educação infantil brasileira: alguns resultados de pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 127, p. 87-128, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2LlyQ2I. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Kishimoto (1999)KISHIMOTO, Tizuko M. Política de formação profissional para a educação infantil: pedagogia e normal superior. Educação e Sociedade, Campinas, v. 20, n. 68, p. 61-79, dez. 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a04v2068.pdf. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Kuhlmann Jr. (2007)KUHLMANN JR., Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2007. e Rosemberg (2002)ROSEMBERG, Fúlvia. Organizações multilaterais, estado e políticas de educação infantil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 115, p. 25-63, mar. 2002. Disponível em: https://bit.ly/2kLRyVZ. Acesso em: 4 jun. 2018.
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. São autores e textos constitutivos da base teórica e da história desse campo de pesquisas. O conhecimento do referencial predominante não exclui, conforme já afirmamos, a análise de estudos emergentes.

Base epistêmica dos trabalhos apresentados na ANPEd entre 2006 e 2016

Entender a base epistêmica que orienta os trabalhos apresentados nas reuniões da ANPEd é entender a movimentação dos pesquisadores em direção ao julgamento crítico de suas produções pela comunidade científica. Este evento é um dos primeiros canais de divulgação da produção acadêmica, materializada em teses e em dissertações. Esta associação congrega pesquisadores iniciantes e veteranos que atuam na pesquisa educacional. Ao submeter um texto a um dos grupos de trabalho da Associação estamos nos submetendo ao crivo analítico de nossos pares já mais experimentados. Nas referências bibliográficas dos textos apresentados em todos os grupos de trabalho da ANPEd no período de 2006 a 2016, identificamos o time de onze autores e onze textos titulares e reservas. Apresentaremos abaixo apenas o time dos titulares. A tabela 04 mostra os autores e seus textos mais citados nos trabalhos analisados. São eles:

TABELA 04
AUTORES E TEXTOS MAIS CITADOS EM TRABALHOS DA ANPEd ENTRE 2006 E 2016

Dentre as autoras mais citadas do campo da educação infantil nos trabalhos completos da ANPEd temos Campos, Füllgraf e Wiggers (2006)CAMPOS, Maria M.; FÜLLGRAF, Jodete; WIGGERS, Verena. A qualidade da educação infantil brasileira: alguns resultados de pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 127, p. 87-128, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2LlyQ2I. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Kramer (2002)KRAMER, Sonia. Autoria e autorização: questões éticas das pesquisas com crianças. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 116, p. 41-59, jul. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/cp/n116/14398.pdf. Acesso em: 4 jun. 2018.
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e Rosemberg (2002)ROSEMBERG, Fúlvia. Organizações multilaterais, estado e políticas de educação infantil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 115, p. 25-63, mar. 2002. Disponível em: https://bit.ly/2kLRyVZ. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, incluindo um novo texto de Kramer (2002)KRAMER, Sonia. Autoria e autorização: questões éticas das pesquisas com crianças. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 116, p. 41-59, jul. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/cp/n116/14398.pdf. Acesso em: 4 jun. 2018.
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envolvendo questões éticas de autoria e autorização nas pesquisas com crianças. Bakhtin (2003)BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo. Martins Fontes, 2003., com Estética da criação verbal; Corsaro (2011)CORSARO, William A. Sociologia da infância. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2011. com Sociologia da infância; e Deleuze; Guattari (1997)DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. São Paulo: Editora 34, 1997. v. 5., com Mil platôs, são autores e textos que aparecem pela primeira vez como referências principais.

Benjamin (2002)BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2002., Foucault (2007)FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2007., Freire (2002)FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. e Sarmento (2005)SARMENTO, Manuel J. Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância. Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 361-378, maio/ago. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v26n91/a03v2691.pdf. Acesso em: 4 jun 2018.
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já tinham sido citados em dissertações e teses. No entanto, o texto “Gerações e alteridade”, de Manuel Sarmento (2005), apareceu pela primeira vez como fonte mais citada nos trabalhos da ANPEd entre 2006 e 2016.

Eloisa Rocha (2010)ROCHA, Eloisa A. C. 30 anos da educação infantil na ANPEd. In: SOUZA, Gizele de. (Org.). Educar na infância: perspectivas histórico-sociais. São Paulo: Contexto, 2010. p. 157-170. analisou o percurso das pesquisas sobre educação infantil no grupo de trabalho da ANPEd que estuda essa temática por um período de trinta anos, revelando abordagens teóricas, metodologias privilegiadas, áreas científicas e cruzamentos disciplinares. O crescimento da demanda por educação infantil e a análise dos movimentos sociais e políticos em torno dessa demanda estiveram, conforme a pesquisa, presentes nos trabalhos analisados. Rocha (2010)ROCHA, Eloisa A. C. 30 anos da educação infantil na ANPEd. In: SOUZA, Gizele de. (Org.). Educar na infância: perspectivas histórico-sociais. São Paulo: Contexto, 2010. p. 157-170. mostra que a “maturidade” das pesquisas foi sendo construída gradativamente, possibilitando o fortalecimento e a consolidação da área. A diversidade de origens epistêmicas e de aportes teóricos é um desafio para a produção do conhecimento no campo e para as pesquisas desenvolvidas na área. Para enfrentar esse e outros desafios, os trabalhos indicam a necessidade de um maior diálogo entre as práticas e as pesquisas em educação infantil.

O entendimento da base epistêmica que orienta os trabalhos da ANPEd já produzidas sobre criança, infância e educação infantil é fundamental para todos aqueles que pretendem realizar estudos nesse campo. Os autores aqui identificados compõem os pressupostos das pesquisas da área que indicam que para entender a criança e a infância pode contribuir o estudo dos trabalhos de Bakhtin (2003)BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo. Martins Fontes, 2003., Benjamin (2002)BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2002., Corsaro (2011)CORSARO, William A. Sociologia da infância. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2011., Deleuze; Guattari (1997)DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. São Paulo: Editora 34, 1997. v. 5., Foucault (2007)FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2007., Sarmento (2005)SARMENTO, Manuel J. Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância. Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 361-378, maio/ago. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v26n91/a03v2691.pdf. Acesso em: 4 jun 2018.
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e Vygotsky (1991)VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicologicos superiores. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.. Além disso, para compreender a educação, a pedagogia e as políticas para a educação infantil no Brasil os estudos de Campos; Füllgraf; Wiggers (2006)CAMPOS, Maria M.; FÜLLGRAF, Jodete; WIGGERS, Verena. A qualidade da educação infantil brasileira: alguns resultados de pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 127, p. 87-128, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2LlyQ2I. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Freire (2002)FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002., Kramer (2002)KRAMER, Sonia. Autoria e autorização: questões éticas das pesquisas com crianças. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 116, p. 41-59, jul. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/cp/n116/14398.pdf. Acesso em: 4 jun. 2018.
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e Rosemberg (2002)ROSEMBERG, Fúlvia. Organizações multilaterais, estado e políticas de educação infantil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 115, p. 25-63, mar. 2002. Disponível em: https://bit.ly/2kLRyVZ. Acesso em: 4 jun. 2018.
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são indicados como referências da área e que devem ser considerados nas novas pesquisas a serem desenvolvidas.

Base epistêmica dos artigos científicos analisados entre 2006 e 2016

Entender a base epistêmica que orienta os artigos publicados em revistas científicas do campo da educação é entender a movimentação dos pesquisadores já experientes para veicular os resultados de suas pesquisas e estabelecer diálogo crítico com a comunidade científica. A publicação de artigos em revistas qualificadas já é um passo mais ousado na carreira acadêmica dos pesquisadores. Nas referências bibliográficas dos artigos publicados em revistas Qualis A da área da educação entre 2006 e 2016, identificamos o time de onze autores e onze textos titulares e reservas. Apresentaremos abaixo apenas o time dos titulares. A tabela 05 mostra os autores e seus textos mais citados nos artigos analisados. São eles:

TABELA 05
AUTORES E TEXTOS MAIS CITADOS EM ARTIGOS CIENTÍFICOS ENTRE 2006 E 2016

Do campo da educação infantil temos duas novidades na lista dos mais citados: a autora Oliveira (2002)OLIVEIRA, Zilma M. R. Educação infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002., com seu livro sobre fundamentos e métodos da educação infantil, e Rossetti-Ferreira et al. (2004)ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde; AMORIM, Katia de S.; Silva, Ana Paula S. da; CARVALHO, Ana Maria A. Rede de significações e o estudo do desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2004., com o estudo sobre redes de significações. Além disso, são novidades ainda nesta lista o texto sobre o debate das pesquisas acadêmicas na área da educação infantil, de Campos (1997)CAMPOS, Maria M. Educação infantil: o debate e a pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 101, p. 113-127, jul. 1997. Disponível em: https://bit.ly/2sxdB6Y. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, e o texto que analisa a relação entre o movimento de mulheres e a abertura política no Brasil, de Rosemberg (1984)ROSEMBERG, Fúlvia. O movimento de mulheres e a abertura política no Brasil: o caso da creche. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 51, p. 73-79, nov. 1984. Disponível em: https://bit.ly/2J93I9X. Acesso em: 4 jun. 2018.
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.

A surpresa na lista dos autores mais citados nas referências bibliográficas dos artigos publicados em revistas foi sem dúvida o modernista brasileiro Mário de Andrade (1976)ANDRADE, Mário de. Da criança prodígio I e II. In: ANCONA LOPEZ Telê. Táxi e crônicas no Diário Nacional. São Paulo: Duas Cidades, 1976. p. 129-134. e seu texto sobre a criança prodígio. Além disso, o texto “história social da criança e da família”, de Ariès (2006)ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006., presente nas dissertações e ausente da lista principal das teses e dos trabalhos da ANPEd, volta a figurar como fonte principal dos artigos da área.

Os mesmos textos de Benjamin (2002)BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2002. e de Foucault (2007)FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2007., já citados anteriormente, aparecem novamente como os mais citados nas referências bibliográficas dos artigos analisados. Também Corsaro (2011)CORSARO, William A. Sociologia da infância. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2011., ausente como fonte principal em dissertações e teses, volta a aparecer com o mesmo texto sobre sociologia da infância, já citado amplamente nos trabalhos da ANPEd.

O entendimento da base epistêmica que orienta os artigos científicos já produzidos e publicados sobre criança, infância e educação infantil é fundamental para todos aqueles que pretendem realizar estudos nesse campo. Os autores mais lidos e mais citados nos artigos científicos publicados em revistas acadêmicas compõem os pressupostos das pesquisas da área e indicam que para entender a criança e a infância uma possibilidade é a leitura e o estudo dos trabalhos de Andrade (1976)ANDRADE, Mário de. Da criança prodígio I e II. In: ANCONA LOPEZ Telê. Táxi e crônicas no Diário Nacional. São Paulo: Duas Cidades, 1976. p. 129-134., Ariès (2006)ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006., Benjamin (2002)BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2002., Corsaro (2011)CORSARO, William A. Sociologia da infância. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2011., Foucault (2007)FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2007. e Sarmento (2004)SARMENTO, Manuel J. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. In: CERISARA, Ana Beatriz; SARMENTO, Manuel J. Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância. Porto: Asa, 2004. p. 9-31.. Além disso, para compreender a educação infantil e as políticas para a área no Brasil os estudos de Campos (1997)CAMPOS, Maria M. Educação infantil: o debate e a pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 101, p. 113-127, jul. 1997. Disponível em: https://bit.ly/2sxdB6Y. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Kramer (2002)KRAMER, Sonia. Autoria e autorização: questões éticas das pesquisas com crianças. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 116, p. 41-59, jul. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/cp/n116/14398.pdf. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Oliveira (2002)OLIVEIRA, Zilma M. R. Educação infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002., Rosemberg (2002)ROSEMBERG, Fúlvia. Organizações multilaterais, estado e políticas de educação infantil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 115, p. 25-63, mar. 2002. Disponível em: https://bit.ly/2kLRyVZ. Acesso em: 4 jun. 2018.
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e Rossetti-Ferreira et al (2004)ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde; AMORIM, Katia de S.; Silva, Ana Paula S. da; CARVALHO, Ana Maria A. Rede de significações e o estudo do desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2004. são significativas fontes. São autores e textos constitutivos da base teórica desse campo de pesquisas que não exclui, ao contrário exige, o conhecimento das pesquisas emergentes.

Autores e textos mais citados: um roteiro para novas pesquisas

Através dos autores citados em todas as bases de dados pesquisadas é possível ter uma visão geral do que predomina como fonte epistemológica das pesquisas para, com e sobre criança, infância e educação infantil entre os anos de 2006 a 2016. O pesquisador iniciante tem aqui uma bússola que guiará sua caminhada nas pesquisas do campo. O pesquisador experiente tem aqui uma ferramenta bibliográfica para a revisão do percurso já trilhado e para a proposição de novas estratégias de pesquisa. Não temos que saber tudo, mas urge conhecer o que é pressuposto, que é a base que fundamenta o campo de investigação onde investimos o nosso interesse e as nossas energias. Inicialmente temos os autores que aparecem como os mais citados nas quatro bases de dados pesquisadas: as dissertações, as teses, os trabalhos da ANPEd e os artigos. São eles: Maria Malta Campos, Sonia Kramer, Fúlvia Rosemberg e Manuel Sarmento.

De Maria Malta Campos (1997)CAMPOS, Maria M. Educação infantil: o debate e a pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 101, p. 113-127, jul. 1997. Disponível em: https://bit.ly/2sxdB6Y. Acesso em: 4 jun. 2018.
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temos “Educação infantil: o debate e a pesquisa”. Além desse texto, temos textos da autora publicados em parceria com outras pesquisadoras: Creches e pré-escolas no Brasil e “A qualidade da educação infantil brasileira” (CAMPOS; ROSEMBERG; FERREIRA, 1995CAMPOS, Maria M.; ROSEMBERG, Fúlvia; FERREIRA, Isabel M. Creches e pré-escolas no Brasil. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995.; CAMPOS; FÜLLGRAF; WIGGERS, 2006CAMPOS, Maria M.; FÜLLGRAF, Jodete; WIGGERS, Verena. A qualidade da educação infantil brasileira: alguns resultados de pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 127, p. 87-128, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2LlyQ2I. Acesso em: 4 jun. 2018.
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). Os dois textos da década de 1990 são textos básicos sobre as pesquisas no campo da educação infantil e sobre o atendimento em creches e pré-escola. Já o texto de 2006 traz o resultado da pesquisa sobre a qualidade na educação infantil em todo o país.

De Sonia Kramer (1995KRAMER, Sonia. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995., 2002)KRAMER, Sonia. Autoria e autorização: questões éticas das pesquisas com crianças. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 116, p. 41-59, jul. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/cp/n116/14398.pdf. Acesso em: 4 jun. 2018.
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temos dois textos citados amplamente pelos pesquisadores: A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce e “Autoria e autorização: questões éticas da pesquisa com crianças”. O texto da década de 1990 é um texto básico da autora que discute as políticas para a pré-escola no Brasil, e o texto de 2002 apresenta tema atual e relevante: as questões éticas envolvidas nas pesquisas com crianças.

De Fúlvia Rosemberg (1984ROSEMBERG, Fúlvia. O movimento de mulheres e a abertura política no Brasil: o caso da creche. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 51, p. 73-79, nov. 1984. Disponível em: https://bit.ly/2J93I9X. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, 2002)ROSEMBERG, Fúlvia. Organizações multilaterais, estado e políticas de educação infantil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 115, p. 25-63, mar. 2002. Disponível em: https://bit.ly/2kLRyVZ. Acesso em: 4 jun. 2018.
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temos dois textos que compõem as referências principais dos pesquisadores da educação infantil: “O movimento das mulheres e a abertura política no Brasil” e “Organizações multilaterais, Estado e políticas públicas de educação infantil”. O artigo da década de 1980 é um texto básico, que discute a relação entre o movimento das mulheres e o processo de abertura política no Brasil. Já o texto de 2002 analisa a relação entre as políticas de educação infantil com o Estado e as organizações multilaterais.

De Manuel Sarmento (2004SARMENTO, Manuel J. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. In: CERISARA, Ana Beatriz; SARMENTO, Manuel J. Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância. Porto: Asa, 2004. p. 9-31., 2005)SARMENTO, Manuel J. Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância. Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 361-378, maio/ago. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v26n91/a03v2691.pdf. Acesso em: 4 jun 2018.
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temos dois textos entre os mais citados e amplamente utilizados pelos pesquisadores: “As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade” e “Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância”. O texto sobre as culturas da infância na segunda modernidade é um capítulo do livro organizado por Sarmento e Cerizara (2004)SARMENTO, Manuel J. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. In: CERISARA, Ana Beatriz; SARMENTO, Manuel J. Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância. Porto: Asa, 2004. p. 9-31., Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância e educação. Já o texto com interrogações dirigidas à sociologia da infância a partir da definição da infância como categoria geracional, em que o autor retoma e recontextualiza o conceito de geração, foi publicado no dossiê temático sobre sociologia da infância organizado por Delgado e Müller (2005)DELGADO, Ana Cristina C.; MÜLLER, Fernanda. Sociologia da infância: pesquisa com crianças. Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 351-360, maio/ago. 2005. Disponível em: https://bit.ly/2xIKOS4. Acesso em: 4 jun. 2018.
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e publicado pelo Caderno Cedes da Universidade de Campinas.

Os autores que compõem o time de onze nas referências de dissertações, teses, trabalhos da ANPEd e artigos são os mais citados entre todos os utilizados como fontes bibliográficas. No entanto, há autoras que aparecem em apenas uma das bases de dados pesquisadas. São eles: do campo da educação infantil, Cerizara (1999)CERIZARA, Ana Beatriz. Educar e cuidar: por onde anda a educação infantil? Perspectiva, Florianópolis, v. 17, n. 1, p. 11-21, jul./dez. 1999. Edição especial. Disponível em: https://bit.ly/2LZ2uM7. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, com seu texto sobre educar e cuidar na educação infantil; Oliveira (2002)OLIVEIRA, Zilma M. R. Educação infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002., com seu estudo sobre os fundamentos e métodos da educação infantil; Rocha (1999)ROCHA, Eloisa A. C. A pesquisa em educação infantil no Brasil: trajetória recente e perspectiva de consolidação de uma pedagogia. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999., com seu texto sobre as pesquisas em educação infantil no Brasil; e Rossetti-Ferreira et al. (2004)ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde; AMORIM, Katia de S.; Silva, Ana Paula S. da; CARVALHO, Ana Maria A. Rede de significações e o estudo do desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2004., com o trabalho sobre as redes de significações.

Além dessas autoras, dois autores brasileiros, Andrade (1976)ANDRADE, Mário de. Da criança prodígio I e II. In: ANCONA LOPEZ Telê. Táxi e crônicas no Diário Nacional. São Paulo: Duas Cidades, 1976. p. 129-134. e Saviani (1997)SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. Campinas: Autores Associados, 1997. e quatro estrangeiros, Bakhtin (2003)BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo. Martins Fontes, 2003., Deleuze-Guattari (1997)DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. São Paulo: Editora 34, 1997. v. 5., Freud (1980)FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: SALOMÃO, Jaime (dir). Um Caso de Histeria, Três Ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Rio de Janeiro: Imago, 1980. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.v. 7, p. 129-256. e Piaget (1972)PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1972. aparecem como fontes principais em apenas uma das bases do banco de dados. Andrade (1976)ANDRADE, Mário de. Da criança prodígio I e II. In: ANCONA LOPEZ Telê. Táxi e crônicas no Diário Nacional. São Paulo: Duas Cidades, 1976. p. 129-134. com o texto sobre a criança prodígio; e Saviani (1997)SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. Campinas: Autores Associados, 1997. com o livro discutindo trajetória, limites e perspectivas da nova LDB no Brasil de 1996. Bakhtin (2003)BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo. Martins Fontes, 2003. com o texto sobre a estética da criança verbal; Deleuze-Guattari (1997)DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. São Paulo: Editora 34, 1997. v. 5. com Mil platôs; Freud (1980)FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: SALOMÃO, Jaime (dir). Um Caso de Histeria, Três Ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Rio de Janeiro: Imago, 1980. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.v. 7, p. 129-256. com seus três ensaios sobre a teoria da sexualidade; Piaget (1972)PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1972. com os seis estudos sobre psicologia.

Os livros Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação, de Walter Benjamin (2002)BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2002., e Vigiar e punir: o nascimento da prisão, de Michel Foucault (2007)FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2007., aparecem como fontes principais em teses, em trabalhos da ANPEd e em artigos científicos da área. Os dois autores só não são as referências principais no time dos onze autores mais citados das dissertações. A obra de Benjamin marca todo o pensamento teórico do século XX, com a busca incondicional da chamada “vida autêntica”, que se recusa a “vender a alma à burguesia”. Como pequeno caçador das primeiras letras, Benjamin mostra a alegria de estar em companhia de brinquedos, de livros infantis e do “teatro infantil proletário”. Já o livro Vigiar e punir, em que Foucault mostra a evolução das estratégias de vigilância e de punição com vistas à formação de corpos obedientes e dóceis, nos alerta sobre os riscos do processo de institucionalização e escolarização precoce das crianças, fundado nos sentimentos de paparicação, de moralização e de proteção da infância.

Philippe Ariès (2006)ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006., com seu livro História social da criança e da família, é fonte principal nas dissertações e em artigos científicos. William Corsaro (2011)CORSARO, William A. Sociologia da infância. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2011., com seu livro Sociologia da infância, é fonte importante em trabalhos da ANPEd e em artigos científicos. Tizuko Kishimoto (1999)KISHIMOTO, Tizuko M. Política de formação profissional para a educação infantil: pedagogia e normal superior. Educação e Sociedade, Campinas, v. 20, n. 68, p. 61-79, dez. 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a04v2068.pdf. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, com seu texto sobre as políticas de formação dos profissionais da educação infantil, aparece como fonte principal em teses e dissertações. Paulo Freire (2002)FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002., com seu livro Pedagogia da autonomia, é fonte principal em dissertações e em trabalhos da ANPEd. Moysés Kuhlmann Júnior (2007)KUHLMANN JR., Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2007., com seu livro Infância e educação infantil: uma abordagem histórica, é fonte principal em teses e dissertações. Lev Vygotsky (1991)VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicologicos superiores. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991., com seu livro A formação social da mente, é fonte principal em teses e nos trabalhos da ANPEd. São três autores brasileiros: Kishimoto, Freire e Kuhlmann Jr; e três autores estrangeiros: Ariès, Corsaro e Vygotsky.

Essa ampla e fundamental lista de autores e textos, que compõe base teórica e a memória bibliográfica identificada em nossa pesquisa sobre pesquisas, pode ser agrupada de várias formas. Indicamos aqui apenas alguns agrupamentos possíveis, sempre incompletos e provisórios: I) agrupamento de textos que traçam um quadro geral da educação infantil no Brasil, com Campos, Rosemberg e Ferreira (1995)CAMPOS, Maria M.; ROSEMBERG, Fúlvia; FERREIRA, Isabel M. Creches e pré-escolas no Brasil. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995., Rosemberg (1984)ROSEMBERG, Fúlvia. O movimento de mulheres e a abertura política no Brasil: o caso da creche. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 51, p. 73-79, nov. 1984. Disponível em: https://bit.ly/2J93I9X. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Kramer (1995)KRAMER, Sonia. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995., Kuhlmann Jr. (2007)KUHLMANN JR., Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2007. e Oliveira (2002)OLIVEIRA, Zilma M. R. Educação infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.; II) agrupamento de textos contendo reflexões sobre as pesquisas desenvolvidas no campo, com Rocha (1999)ROCHA, Eloisa A. C. A pesquisa em educação infantil no Brasil: trajetória recente e perspectiva de consolidação de uma pedagogia. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999., Campos (1997)CAMPOS, Maria M. Educação infantil: o debate e a pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 101, p. 113-127, jul. 1997. Disponível em: https://bit.ly/2sxdB6Y. Acesso em: 4 jun. 2018.
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e Kramer (2002)KRAMER, Sonia. Autoria e autorização: questões éticas das pesquisas com crianças. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 116, p. 41-59, jul. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/cp/n116/14398.pdf. Acesso em: 4 jun. 2018.
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; III) agrupamento de textos que abordam as políticas para oferta e garantia do direito das crianças à educação, com Cerizara (1999)CERIZARA, Ana Beatriz. Educar e cuidar: por onde anda a educação infantil? Perspectiva, Florianópolis, v. 17, n. 1, p. 11-21, jul./dez. 1999. Edição especial. Disponível em: https://bit.ly/2LZ2uM7. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Kishimoto (1999)KISHIMOTO, Tizuko M. Política de formação profissional para a educação infantil: pedagogia e normal superior. Educação e Sociedade, Campinas, v. 20, n. 68, p. 61-79, dez. 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a04v2068.pdf. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Rosemberg (2002)ROSEMBERG, Fúlvia. Organizações multilaterais, estado e políticas de educação infantil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 115, p. 25-63, mar. 2002. Disponível em: https://bit.ly/2kLRyVZ. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, Oliveira (2002)OLIVEIRA, Zilma M. R. Educação infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. e Campos, Füllgraf e Wiggers (2006)CAMPOS, Maria M.; FÜLLGRAF, Jodete; WIGGERS, Verena. A qualidade da educação infantil brasileira: alguns resultados de pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 127, p. 87-128, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2LlyQ2I. Acesso em: 4 jun. 2018.
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; IV) agrupamento de textos contendo reflexões e aportes teóricos e conceituais dos campos da história, com Ariès (2006)ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006. e Kuhlmann Júnior (2007)KUHLMANN JR., Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2007.; da sociologia da infância, com Sarmento (2004SARMENTO, Manuel J. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. In: CERISARA, Ana Beatriz; SARMENTO, Manuel J. Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância. Porto: Asa, 2004. p. 9-31., 2005)SARMENTO, Manuel J. Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância. Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 361-378, maio/ago. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v26n91/a03v2691.pdf. Acesso em: 4 jun 2018.
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e Corsaro (2011)CORSARO, William A. Sociologia da infância. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2011.; da filosofia, com Benjamin (2002)BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2002., Deleuze e Guattari (1997)DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. São Paulo: Editora 34, 1997. v. 5. e Foucault (2007)FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.; da psicologia, com Piaget (1972)PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1972. e Vygotsky (1991)VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicologicos superiores. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.; e da psicanálise, com Freud (1980)FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: SALOMÃO, Jaime (dir). Um Caso de Histeria, Três Ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Rio de Janeiro: Imago, 1980. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.v. 7, p. 129-256.; V) agrupamento de textos com outros aportes relevantes para as pesquisas no campo educacional, tais como Paulo Freire (2002)FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002., Mikhail Bakhtin (2003)BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo. Martins Fontes, 2003., Mário de Andrade (1976)ANDRADE, Mário de. Da criança prodígio I e II. In: ANCONA LOPEZ Telê. Táxi e crônicas no Diário Nacional. São Paulo: Duas Cidades, 1976. p. 129-134. e Dermeval Saviani (1997)SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. Campinas: Autores Associados, 1997..

Com esta investigação foi possível constatar que a educação infantil é um campo permeado por vários saberes, por um rico arsenal de conhecimentos que engloba várias campos das ciências humanas tais como história, psicologia, sociologia, filosofia, pedagogia etc. Acreditamos que é possível aventar como hipótese para a continuidade dos estudos que a memória bibliográfica da área indica que as diversas áreas do conhecimento que estudam a criança, a infância e a educação infantil convergem para uma centralidade: conceber a criança como sujeito de direito no âmbito da educação.

Pinto e Sarmento (1997)PINTO, Manuel; SARMENTO, Manuel J. (Orgs.). As crianças: contextos e identidades. Braga: Centro de Estudos da Criança da Universidade do Minho, 1997. já mostraram que para reconhecer a criança como sujeito de direitos, superando uma visão linear e teleológica do desenvolvimento da criança e assumir uma nova reflexividade em que a criança surge como ser biopsicossocial, ator social competente, pleno de direitos e produtor de cultura. A compreensão dessa criança, assim concebida, que tem muito a nos dizer sobre seu mundo e sua vida, requer uma literatura científica multidisciplinar que vai das ciências da educação à sociologia da infância, às ciências da comunicação, à psicologia, às ciências do esporte etc. A análise dos contextos de vida das crianças, sinalizadores de suas identidades, requer abordagens pluriteóricas e plurimetodológicas (PINTO; SARMENTO, 1997PINTO, Manuel; SARMENTO, Manuel J. (Orgs.). As crianças: contextos e identidades. Braga: Centro de Estudos da Criança da Universidade do Minho, 1997.).

Conclusões finais, mas provisórias

Abramowicz (2015)ABRAMOWICZ, Anete. (Org.). Estudos da infância no Brasil: encontros e memórias. São Carlos: EdUFSCar, 2015., ao estudar e discutir a emergência da sociologia da infância no Brasil, entrevistou autoras primordiais da área da educação infantil e nos mostrou o quanto é imenso, exuberante, denso e complexo o campo dos estudos da infância no Brasil. Nossa pesquisa confirma essa conclusão da autora. Após a identificação dos autores mais citados em dissertações, teses, trabalhos da ANPEd e artigos entre 2006 e 2016, realizamos o mapeamento daqueles autores cujas ideias podem ser consideradas pressupostos das pesquisas para, com e sobre criança, infância e educação infantil, consolidando uma memória bibliográfica dessa área de investigação.

Quatro autores aparecem como os mais lidos e mais citados em todas as bases de dados das pesquisas sobre criança, infância e educação infantil: Maria Malta Machado Campos, Sonia Kramer, Fúlvia Rosemberg e Manuel Sarmento. Dois autores aparecem como fontes bibliográficas principais em três das quatro bases do banco de dados (dissertações, teses, ANPEd e artigos): Walter Benjamin e Michel Foucault. Seis autores aparecem como mais lidos e mais citados em duas das quatro bases do banco de dados da pesquisa: Philippe Ariès, William Corsaro, Paulo Freire, Tizuko Kishimoto, Moysés Kuhlmann Júnior e Lev Vygostsky. Os autores que aparecem em apenas uma base de dados são: Mário de Andrade, Mikhail Bakhtin, Ana Beatriz Cerizara, Gilles Deleuze e Félix Guattari, Sigmund Freud, Zilma Oliveira, Jean Piaget, Eloisa Rocha, Maria Clotilde Rossetti-Ferreira e Dermeval Saviani.

Em síntese, no conjunto de 22 autores e de seus textos mais citados pelos pesquisadores que estudam criança, infância e educação infantil, os pressupostos epistemológicos da produção de conhecimento da área ancoram-se em diferentes campos teóricos relacionados às ciências humanas: pedagogia, educação, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, psicologia, história e linguística. Todos os autores que são as referências na área dialogam de uma forma ou de outra com pelo menos dois desses campos de estudo, revelando que a compreensão da criança, da infância e de sua educação depende de pressupostos teóricos e metodológicos que são híbridos.

As pesquisas para criança, infância e educação infantil se beneficiam principalmente dos aportes teóricos dos campos da pedagogia, educação, direito e política. As pesquisas com criança, infância e educação infantil se beneficiam principalmente dos aportes teóricos dos campos da sociologia, antropologia e psicologia. As pesquisas sobre criança, infância e educação infantil se beneficiam principalmente dos aportes teóricos dos campos da filosofia, história e linguística. Como entender e analisar o perfil dos autores e dos respectivos textos hegemônicos em cada campo das pesquisas em exame? Como considerar autores que predominam nas fontes, promovendo e reconhecendo a necessidade de assegurar uma justiça epistêmica em relação a todos que atuam no campo?

O empenho dos pesquisadores dessa área de estudos é constante no sentido de fortalecer diálogos interdisciplinares para a construção de pesquisas e de práticas educativas a partir da memória bibliográfica, aqui esboçada. Para conhecer a escola, a criança, a infância e a educação infantil, temos que sair de casa e também voltar para casa, ou seja, temos que abrir diálogos com outros pressupostos (significa sair de casa) para reconhecer, afirmar e reafirmar a base epistêmica que funda o nosso pensamento e a nossa ação no campo (significa voltar para casa). E como afirma Charlot (2006)CHARLOT, Bernard. A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e desafios de uma área de saber. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 11, n. 31, p. 7-18, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2sGrWNA. Acesso em: 4 jun. 2018.
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, no processo de pesquisa é fundamental assumir que o nosso ponto de partida é a memória dos saberes já produzidos. O conhecimento dessa memória bibliográfica mostra ainda que fica a certeza, conforme nos diz Cátia de França (cantora popular brasileira), ao falar da música que produz: “não estamos andando num terreno movediço, pois sabemos bem do que se trata” (FRANÇA, 2017FRANÇA, Cátia. “Eu faço música para não enlouquecer”. 3’47”. Trip TV. YouTube. 2017. Disponível em: https://bit.ly/2tb5jEe. Acesso em: 4 jun. 2018.
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).

  • 1
    O ano de 2006 foi o marco inicial dessa investigação. Para isso, os trabalhos de Eloisa Rocha (1999ROCHA, Eloisa A. C. A pesquisa em educação infantil no Brasil: trajetória recente e perspectiva de consolidação de uma pedagogia. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999. e 2010)ROCHA, Eloisa A. C. 30 anos da educação infantil na ANPEd. In: SOUZA, Gizele de. (Org.). Educar na infância: perspectivas histórico-sociais. São Paulo: Contexto, 2010. p. 157-170., que inventariou pesquisas sobre educação infantil até o ano de 2006, foram tomados como referência.
  • 2
    As revistas utilizadas foram: Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), Educação em Revista (UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais), Educação e Pesquisa (USP – Universidade de São Paulo), Educação e Realidade (UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Educação & Sociedade (Unicamp – Universidade de Campinas), Educar em Revista (UFPR – Universidade Federal do Paraná), Revista Ensaio (Fundação Cesgranrio), Paideia (USP), Pró-posições (Unicamp), Psicologia: Reflexão e Crítica (UFRGS), Revista Brasileira de Educação (ANPEd – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação) e Revista Lusófona de Educação.
  • 3
    O período entre 2006 e 2016 foi escolhido pelo fato de o ano de 2006 ter sido o ano de aprovação Emenda Constitucional nº 53 que criou o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica – o Fundeb – marco decisivo para o amplo financiamento da educação básica brasileira; e o ano de 2016 ter sido o ano do impedimento/golpe contra a presidenta Dilma – marco decisivo da nova era que se iniciou na política brasileira.
  • 4
    A escolha de número onze foi aleatória a partir apenas das expressões “onze titulares” e “onze reservas” fazendo uma analogia com um time de futebol, esporte mais popular no Brasil.
  • 5
    Os autores em dissertações, teses, artigos e trabalhos da ANPEd são apresentados em ordem alfabética e não pela quantidade de vezes em que são citados.
  • 6
    Dentre os textos de cada autor citados em dissertações, teses, artigos e trabalhos da ANPEd, foi incluído na tabela apenas o texto mais citado pelos pesquisadores.

REFERÊNCIAS

  • ABRAMOWICZ, Anete. (Org.). Estudos da infância no Brasil: encontros e memórias. São Carlos: EdUFSCar, 2015.
  • ANDRADE, Mário de. Da criança prodígio I e II. In: ANCONA LOPEZ Telê. Táxi e crônicas no Diário Nacional São Paulo: Duas Cidades, 1976. p. 129-134.
  • ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
  • BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal 4. ed. São Paulo. Martins Fontes, 2003.
  • BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2002.
  • CAMPOS, Maria M. Educação infantil: o debate e a pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 101, p. 113-127, jul. 1997. Disponível em: https://bit.ly/2sxdB6Y Acesso em: 4 jun. 2018.
    » https://bit.ly/2sxdB6Y
  • CAMPOS, Maria M.; FÜLLGRAF, Jodete; WIGGERS, Verena. A qualidade da educação infantil brasileira: alguns resultados de pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 127, p. 87-128, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2LlyQ2I Acesso em: 4 jun. 2018.
    » https://bit.ly/2LlyQ2I
  • CAMPOS, Maria M.; ROSEMBERG, Fúlvia; FERREIRA, Isabel M. Creches e pré-escolas no Brasil 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995.
  • CERIZARA, Ana Beatriz. Educar e cuidar: por onde anda a educação infantil? Perspectiva, Florianópolis, v. 17, n. 1, p. 11-21, jul./dez. 1999. Edição especial. Disponível em: https://bit.ly/2LZ2uM7 Acesso em: 4 jun. 2018.
    » https://bit.ly/2LZ2uM7
  • CHARLOT, Bernard. A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e desafios de uma área de saber. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 11, n. 31, p. 7-18, jan./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/2sGrWNA Acesso em: 4 jun. 2018.
    » https://bit.ly/2sGrWNA
  • CORSARO, William A. Sociologia da infância 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2011.
  • DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs São Paulo: Editora 34, 1997. v. 5.
  • DELGADO, Ana Cristina C.; MÜLLER, Fernanda. Sociologia da infância: pesquisa com crianças. Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 351-360, maio/ago. 2005. Disponível em: https://bit.ly/2xIKOS4 Acesso em: 4 jun. 2018.
    » https://bit.ly/2xIKOS4
  • FERREIRA, Norma S. A. As pesquisas denominadas “estado da arte”. Educação e Sociedade, Campinas, v. 23, n. 79, p. 257-272, ago. 2002. Disponível em: https://bit.ly/1NlhRNC Acesso em: 4 jun. 2018.
    » https://bit.ly/1NlhRNC
  • FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
  • FRANÇA, Cátia. “Eu faço música para não enlouquecer”. 3’47”. Trip TV. YouTube 2017. Disponível em: https://bit.ly/2tb5jEe Acesso em: 4 jun. 2018.
    » https://bit.ly/2tb5jEe
  • FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
  • FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: SALOMÃO, Jaime (dir). Um Caso de Histeria, Três Ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos (1901-1905) Rio de Janeiro: Imago, 1980. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.v. 7, p. 129-256.
  • KISHIMOTO, Tizuko M. Política de formação profissional para a educação infantil: pedagogia e normal superior. Educação e Sociedade, Campinas, v. 20, n. 68, p. 61-79, dez. 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a04v2068.pdf Acesso em: 4 jun. 2018.
    » https://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a04v2068.pdf
  • KRAMER, Sonia. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995.
  • KRAMER, Sonia. Autoria e autorização: questões éticas das pesquisas com crianças. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 116, p. 41-59, jul. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/cp/n116/14398.pdf Acesso em: 4 jun. 2018.
    » https://www.scielo.br/pdf/cp/n116/14398.pdf
  • KUHLMANN JR., Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2007.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Maio 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    07 Fev 2019
  • Aceito
    10 Dez 2019
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