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Psicologia e Avaliação

RESENHA

Psicologia e AvaliaçãoI; Geraldina Porto WitterII

ISisto, F.F.; Bardelini, E.F.B. & Primi,R.(orgs.) 2001.Contexto se questões da avaliação psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 235 p.

IIUMC/ PUC-Campinas

Enfocada como profissão ou considerada enquanto ciência, a Psicologia está inerentemente associada às questões de avaliação, muitas das quais são discutidas no livro organizado por Sisto, Sbardelinie Primi, obra aqui resenhada. O livro traz contribuição substantiva, não apenas para psicólogos diretamente envolvidos com as áreas de avaliação, mas também para os centrados em outras especialidades que precisam de subsídios para efetivar sua prática. A obra é composta por 14 capítulos, os quais, por sua natureza, podem ser lidos isoladamente, o que dá grande flexibilidade de uso didático ao material.

Romano assina o primeiro capítulo, no qual trata do diagnóstico em Psicoterapia Breve, dentro do enfoque dinâmico, portanto, decorrente da concepção freudiana. Retoma a Escala Diagnóstica Operacionalizada (EDAO), que possibilita avaliação de aspectos psicodinâmicos no contexto sócio-político.

Em seguida, Urquijo reconsidera o problema da avaliação nos modelos que se centram ou se integram em tomo de aspectos comuns e que o autor denomina de modelos circumplexos da personalidade. Começa pela definição do vocábulo "personalidade" em sua ampla extensão, o que faz de forma consistente e abrangente. Lembra que avaliar personalidade é mais do que medir formas características de pensar e de atuar, e não se limita a tipos, traços, temperamento. Inclui interesses, atitudes, estilos perceptuais, processos dinâmicos, condutas, entre outros aspectos. Vale lembrar que o autor não esgota as possibilidades. Passa à análise de problemas específicos, tendo por base a classificação médica.

O mesmo tema tem continuidade no trabalho de Loureiro (Capítulo 3), sobre avaliação psicodiagnóstica dos transtornos de personalidade, que parte dos conceitos de saúde e de saúde mental para discutir as proposições dos manuais usuais de classificação, de acordo com o modelo médico. Todavia, a discussão feita pelo autor carece de melhor sustentação em dados de pesquisa e de uma revisão de como o tema tem sido tratado na literatura estrangeira e nacional. Espera-se que, em uma próxima publicação, esta discussão seja aprofundada.

No Capítulo 4, Capitão enfoca a violência sexual (vingança de Édipo) e o problema de sua avaliação, tendo por referencial teórico a Psicanálise. Aqui também aparece carência de uma assimilação da literatura psicanalítica, teórica e de pesquisas publicadas no exterior e mesmo no Brasil, especialmente nos periódicos de grande projeção internacional, pelas suas qualidades.

As técnicas projetivas são revistas por Güntert no Capítulo 5. Começando por indicara necessidade dessas técnicas, o autor passa a discutir a questão do tipo de observação rapidamente para indicar as técnicas mais conhecidas (Rorscharch, TAT, CAT, Zulliger etc.) e como têm estado presentes em alguns congressos, em uma análise de produção superficial mas informativo-descritiva que permite verificar a distribuição da atenção dos estudiosos da área com os vários instrumentos.

O Capítulo 6 é assinado por Sbardelini, que trata da avaliação psicológica vinculada à orientação profissional, com breve apresentação do ontem e do hoje. Apresenta o Teste de Fotos de Profissões como instrumento a serviço do processo de escolha. Em uma próxima edição seria interessante apresentar dados de pesquisas sobre as características do instrumento e seus usos.

Joly enfoca a avaliação no contexto educacional, com destaque para a leitura e a aquisição de habilidades criativas. Começa este sétimo capítulo tecendo considerações gerais sobre os múltiplos aspectos da leitura. Descreve a técnica denominada Caça-palavras, muito utilizada e pesquisada e faz algumas considerações finais. É um capítulo baseado em literatura específica, rica e atual.

As mudanças nos paradigmas de avaliação, enfocando o rendimento acadêmico e os processos cognitivos, são trabalhadas por Sisto no Capítulo 8. O tema é bastante complexo, face às discussões envolvendo os limites entre inteligência, cognição, solução de problemas, ensino-aprendizagem. Rapidamente, aponta algumas questões na avaliação do aprendido e da aprendizagem. Salienta a necessidade de pesquisas, para avaliar com destaque os processos cognitivos subjacentes, as estratégias e métodos de aquisição, a metacognição e a transferência da aprendizagem. É bastante sugestivo quanto à necessidade de investigação.

A inteligência emocional é o tema do capítulo seguinte, escrito por Bueno e Primo, que retomam brevemente o papel da inteligência como base da psicometria em sua origem histórico-conceitual, até chegar aos modelos mais recentes, com ênfase na Inteligência Múltipla (Gardner) e Emocional. Apresentam o rápido evoluir da inteligência emocional, a partir dos trabalhos de Salory e Mayer, para alcançar a polêmica causada pelo livro de Goleman sobre o tema, quando apresentou como habilidades básicas interdependentes: autoconsciência, automotivação, empatia e sociabilidade. Referem-se a alguns instrumentos desenvolvidos para avaliar a inteligência emocional. Vale lembrar que mesmo os já comercializados carecem de validação e de outros cuidados para serem usados no Brasil, pois mesmo em seus países de origem, ainda não dispõem de uma base teórica e empírica sólidas. É área em que a necessidade de pesquisa é muito grande.

Cerqueira e Santos, no capítulo 10, tratam da avaliação dos estilos de aprendizagem em universitários, partindo da contribuição da teoria do processamento de informação. Em consonância com outros autores, destacam as possibilidades de uso educacional de se medir e conhecer os estilos de pensar e de aprender. Retomam os estilos de aprendizagem propostos por Schmeck e complementado por seus colaboradores e seguidores: processamento profundo, processamento elaborativo, retenção da informação e estudo metodológico. Também apresentam o modelo de estilos de aprendizagem de Grasha-Reichmann: evasivo, participativo, competitivo, cooperativo, dependente e independente. Apresentam a avaliação de estilos elaborada por Kolb e as pesquisas sobre a matéria. Lembram que pairam no ar muitas questões sem respostas.

O 11º capítulo é da lavra de Bariani, Sisto e Santos, que discutem a construção de um instrumento para a área educacional. Destaca-se o cuidado com os conceitos básicos, com o delineamento da pesquisa, com o controle e outros aspectos metodológicos. Fornecem pistas úteis, especialmente para os jovens pesquisadores. O referencial teórico merece ampliação e melhor detalhamento em uma próxima edição. Apresentam uma pesquisa que ilustra a problemática da pesquisa instrumental.

O capítulo seguinte foi escrito por um grupo de pesquisadores envolvidos na construção de uma Escala de Satisfação Escolar (ASE), que pode ser de grande utilidade para quantos trabalham em ambientes educacionais, nos quais é comum a insatisfação, quer de docentes, quer de alunos e de seus familiares. Realizaram um estudo-piloto, que permitiu apurar o instrumento mediante a seleção de itens os quais foram apurados, via saturação dos fatores rotados, em um segundo estudo. Tecem algumas considerações finais, mostrando que o tema não é novo, mas que ainda não há instrumentos para suprir as necessidades dos profissionais e dos pesquisadores.

No Capítulo 13, Santarém enfoca a avaliação funcional do comportamento, que é útil em qualquer área de atuação do psicólogo e que se distingue da avaliação tradicional pelo objeto da avaliação. "Na avaliação tradicional o foco é a estrutura mental, cognitiva ou da personalidade subjacente ao comportamento. Na avaliação funcional, o foco é o comportamento em si (privado ou público)" (p. 203). Sua base é a análise funcional do comportamento, sustentada pelo behaviorismo radical de Skinner, distinto do behaviorismo metodológico de Watson, com o qual a autora o contrasta. Descreve muito sucintamente a avaliação funcional e aponta sua utilidade. O capítulo poderia ser enriquecido com alguns exemplos.

O capítulo final é da lavra de Tonelotto. Nele é enfocado um problema crucial para psicólogos escolares e os que atuam na área de treinamento. Trata-se de problemas diversos envolvendo atenção, mais especificamente as dificuldades que muitos apresentam. O assunto é fundamental para a compreensão do homem, mas ainda é insuficientemente conceituado, trabalhado e pesquisado. A atenção é comportamento precedente e imprescindível a todos os comportamentos complexos. A falta de atenção acarreta sérios problemas para o ser humano e vem recebendo os cuidados de muitos pesquisadores, de várias ciências, mas ainda apresenta muitos problemas para seu diagnóstico. Muitas questões permanecem em aberto, requerendo pesquisas e cautela no uso das avaliações diagnósticas, como bem alerta o autor do texto.

Pelo exposto, é evidente a utilidade da obra como parte integrante do programa de várias disciplinas, ensejando oportunidades para repensar a avaliação psicológica e seu uso acadêmico, profissional e no âmbito da pesquisa instrumental e geral. Vale lembrar que uma das formas de classificação e denominação comumente usada em Ciências é considerar como instrumental as pesquisas que geram instrumentos de medida ou avaliação. É o tipo de trabalho que o livro aqui considerado privilegia em seus diversos capítulos. Entretanto, este conhecimento tem impacto no outro termo desta classificação, ou seja, nas pesquisas em geral que recorrem aos instrumentos de avaliação gerados pelas primeiras. Pode-se concluir, portanto, que se trata de um livro de indiscutível aplicabilidade na área da psicologia.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2014
  • Data do Fascículo
    Dez 2001
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