Editorial
Eu sustento que a única finalidade da ciência
está em aliviar a canseira da existência humana.
Com o tempo, é possível que vocês descubram tudo o que
haja por descobrir, e ainda assim o seu avanço há de ser
apenas um avanço para longe da humanidade.
Berthold Brecht
A finalidade precípua da ciência é o bem-estar do ser humano. No campo das ciências da saúde esta afirmação pode até ser redundante, mas, sem dúvida, consensual. Ruben Alves nos diz que educadores não podem ser produzidos, educadores nascem, e o que se pode fazer é ajudá-los a nascer. Tomo a liberdade de parafraseá-lo dizendo o mesmo dos pesquisadores e defendendo o que considero papel de um periódico: ajudar a gestar pesquisadores. Esta atitude significa um compromisso com trabalhadores da saúde que estão na outra ponta da produção veiculada e se utilizam de um periódico para orientar suas ações. Muitos destes, mesmo que jamais publiquem um artigo, estarão consumindo ciência e evidências para promover ou reabilitar a saúde. Há aí outro tipo de impacto diferente daquele tão conhecido fator. Exercendo a premissa acima, presto alguns esclarecimentos. Temos muitos indicadores de acompanhamento do sucesso dos periódicos, sendo o mais conhecido o fator de impacto, cujo calculo é feito dividindo-se o número total de citações dos artigos publicados por uma revista nos dois anos anteriores pelo número dos artigos presentes na revista no mesmo período. Infere-se daí que maior número de citações implica maior disseminação e, portanto, maior contribuição do artigo para a ciência e para o bem-estar daqueles a quem ela serve. O último encontro da Associação Brasileira de Editores Científicos, porém, já levantou a preocupação com a confiabilidade desse indicador, haja vista o grande número de autocitações em alguns periódicos com grande fator de impacto no Brasil. A palavra 'impacto' no contexto da maior parte das revistas brasileiras é bem apropriada para este indicador. Segundo o dicionário Michaelis (2009), impacto quer dizer: empurrado, impelido contra, metido à força, ação ou efeito de impactar. Ou ainda, segundo o Aurélio (2009), choque, impacto emocional. Mas de que impacto estamos falando então? Até que ponto o fator de impacto atende ao tão disseminado conceito de uma ciência humanizada que se traduz em relevância social. E que impacto pretendemos ter? Nós da Fisioterapia em Movimento, impactados positivamente com nossas recentes conquistas, aceleramos o nosso movimento em direção à elevação da nossa qualidade editorial, buscando a adequação aos padrões de qualidade vigentes, sem, porém, perder de vista nosso compromisso com a saúde das pessoas. Nesta contínua tentativa trazemos temas como a abordagem da fadiga em indivíduos distróficos, a estabilometria nos transtornos visuais e ainda o diagnóstico postural em deficientes auditivos. A qualidade de vida, reconhecido atributo da saúde e tão dificilmente quantificada, é valorizada nos artigos sobre mães de crianças com paralisia cerebral, insuficiência renal crônica, autonomia funcional de idosos e repercussões do relaxamento aquático nestes parâmetros. A tecnologia em saúde é valorizada nas pesquisas com TENS acupuntural e hipotermia e também na ação do laser arseneto de gálio em feridas cutâneas. A área pneumofuncional traz o treino de força na capacidade funcional, efeitos do incentivador respiratório em uso ambulatorial e uma revisão sobre o uso clínico do pico de fluxo da tosse. A consagrada área musculoesquelética traz a dor lombar e equilíbrio biomecânico em dois artigos com população jovem, além de um estudo epidemiológico que busca subsidiar práticas de saúde a partir do conhecimento do perfil de usuários das práticas de fisioterapia voltada à LER/DORT. Sonhamos, como Brecht, com o dia em que teremos um indicador que reflita a real contribuição de uma revista para a saúde e qualidade vida das pessoas, aliviando assim a canseira da existência humana.
Profa. Dra. Auristela Duarte Lima Moser
Editora-chefe
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
15 Set 2010 -
Data do Fascículo
Set 2010
