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Editorial v.28, n.2 (2016)

Escrevemos tal editorial como forma de luta, como maneira de apontar para as resistências que habitam nosso campo de produção. Temos que comemorar a existência deste espaço tão potente, pois, em meio ao desmonte das Universidades, da redução de verbas públicas para um ensino público, laico e de qualidade, ainda encontramos lugar para divulgar nossas produções. Espaço marcado pelas nossas lutas e pela possibilidade de fazer existir novas possibilidades de construção de subjetividades marcadas pela singularidade de suas existências. Acreditamos que, em meio a tantas violências, há que se buscar alianças, gerar composições que possam apontar para uma produção científica potente, repleta de força geradora de mudança. Que muitas vozes possam ser ouvidas, que o conhecimento gere deslocamentos e desacomodações, que se multipliquem as conexões e articulações. A escrita deste editorial convida a todos que se sintam, de alguma maneira, convocados a agir em seus campos de trabalho para produzir um mundo mais plural.

Neste sentido, temos orgulho de apresentar, neste volume, o Dossiê Territórios e Paisagens de subjetivação, que conta com artigos nacionais e internacionais que discorrem sobre as relações entre subjetividade e a cidade compreendida como espaços de habitar, resistir e também, de certa maneira, ocupar. Temas pertinentes em meio a esta forma tão potente de habitar nosso território: resistindo e ocupando. Não há obviedade nisso, ao contrário, há muita potência em desnaturalizar a maneira como nos relacionamos com os lugares que habitamos cotidianamente. No texto Nuevas formas de habitar la ciudad: hacia una conceptualización de la ciudadanía biovigilante, podemos vislumbrar como o conceito de cidadania não cabe mais num mundo em que os instrumentos (paraskeue, nos trabalhos de Michel Foucault) e a biovigilância regem nossas relações. Em “Fazer falar o silêncio da história”: a virada narrativa dos museus encontramos a proposta de repensar este lugar como um ajuntamento de diferentes historicidades e de priorizar as narrativas que comumente são excluídas deste espaço. Serão abordados: a mostra RISARCIMENTI [Storie di vita e di attesa], 2011, o Museu Etnomuseo Monti Lepini, o Museu do Brigantaggio di Itri e o Museu do Brigantaggio di Cellere para falar desta perspectiva.

Ainda pensando nas formas de resistir ao convite da domesticação encontramos o artigo Cidades, corpos medicalizados e o biocapital: o mercado da saúde que nos propõe criticar a maneira como corpos e cidades são vistos como biocapitais. No texto Lixo: outras memórias da/na cidade nos é apresentada uma proposta de pensar o descarte sob duas perspectivas: daqueles que são educados para o descarte e daqueles que constroem outras histórias a partir de sua relação com o que é descartado. Em Cidades Socioeducativas: Nietzsche e a questão da responsabilidade o autor nos convida a pensar a produção do conceito de responsabilidade em Nietzsche e sua relação com a atuação de medidas sócio-educativas. No artigo Tecnogeografias: modulações nas ecologias e políticas cognitivas a proposta é pensar a articulação entre o jogo e o espaço público como um espaço tecnicogeográfico no qual a inserção e participação dos sujeitos modulam políticas e ecologias cognitivas. Em Tuta e a cidade: arquivos domésticos das infâmias urbanas busca-se acontecimentalizar nossa cidade com fragmentos infames em uma heterotopia doméstica que acontecimentalize os arranjos de subjetivação existentes em nossas cidades desde seu surgimento até a atualidade.

Como dissemos, neste Dossiê encontramos formas potentes de resistência, o que vemos no artigo Cidades-experimentações: para inscrição numa (est)ética da aprendizagem enquanto acontecimento que apresenta a tessitura de composições narrativas que possibilitam um efeito-labirinto de nós em rede-de-nós, que não para de se bifurcar e, paradoxalmente, também não para de, em nós, se condensar como um efeito-cidade-em-nós. Seguindo neste trabalho, temos o artigo A subjetividade, o Fora e a cidade: repensando o sujeito, o espaço e a materialidade no qual o autor, partindo da ideia do Fora em Deleuze e Foucault, e das teorias da “cognição estendida”, explora uma “subjetividade distribuída”, na qual o sujeito não é composto apenas por seu corpo ou interioridade, mas também pela materialidade, espaço e não-humanos. Em seguida, no texto Cidades (in)habituais: considerações sobre neoliberalismo e resistência, encontramos a proposta de discutir os efeitos do neoliberalismo nos modos de vida urbanos, traçando elementos que permitam experimentar e estranhar a cidade para, assim, resistir à lógica econômica e aos arranjos subjetivos arrimados nos fios do Capitalismo Mundial Integrado. Em Infância e Cidade: inventar espaços e modos de viver as autoras, com pesquisa no âmbito do Estatuto da Criança e do Adolescente, evidenciam práticas institucionais que relacionam o movimento da criança na cidade com práticas de recolher e abrigar em determinados estabelecimentos. Por fim, em Cidades e políticas públicas, é apresentado o tema da cidade no contemporâneo, discutindo e analisando a importância da produção de políticas públicas e, portanto, implicadas com a participação social na elaboração, execução e monitoramento dos espaços urbanos.

Ainda em nosso número, encontramos artigos não relacionados ao Dossiê, com temáticas diversas. Temos o artigo Subjetivação na formação em Psicanálise: uma análise institucional de discurso que problematiza os efeitos subjetivos experienciados pelo psicanalista no processo de formação em psicanálise; visando, portanto, a investigar possíveis modos de subjetivação nos discursos sobre este processo. Temos ainda, o texto Andarilhos de estrada e acesso institucional: reflexões sobre estratégias de controle que se propõe a apresentar as condições de acesso dos andarilhos a essas instituições e discutir sobre as estratégias de controle utilizadas por elas sob o fluxo da errância no contemporâneo.

Desejamos boa leitura a todos!

Ana Claudia Lima Monteiro
Editor de Fractal: Revista de Psicologia

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2016
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