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Editorial

Editorial

É com grande satisfação que publicamos o volume 21.1 de Fractal: Revista de Psicologia, em contexto de maior dinamismo do processo avaliativo de artigos científicos. Procuramos aliar o dinamismo e a agilidade do processo avaliativo à permanente valorização do rigor e dos diálogos criativos nos estudos sobre a subjetividade. Tal procura se expressa como um esforço contínuo de manter a marca significativa do trabalho editorial em curso na Revista há bastante tempo. Como expressão do trabalho empreendido para a continuidade da publicação, gostaríamos de frisar que a partir do presente número, a Revista terá periodicidade quadrimestral.

No presente volume, temos o artigo de Bruno Sena Martins intitulado O corpo-sujeito nas representações culturais da cegueira, em que se pretende apresentar o conceito de subjetividade corpórea, sustentando-se em trabalho etnográfico realizado em Portugal e em estudos da filosofia de Merleau-Ponty. Logo após, o trabalho A psicologia em História da Loucura de Michel Foucault, de Fernando de Almeida Silveira, em que o autor realiza uma investigação sobre a história dos discursos em Psicologia, apoiando-se em estudos sobre momentos específicos da obra de Michel Foucault e o artigo Amizade para Foucault: resistências criativas face ao biopoder de autoria de Helio Rebello Cardoso Jr. e de Thiago Canonenco Naldinho, em que se realiza uma investigação da amizade como modo de resistência ao que é considerado na obra do pensador francês como biopoder.

Após a discussão empreendida sobre importantes momentos e aspectos da obra de Michel Foucault, apresentamos o artigo Subjetividade e Samba: na roda com Paulinho da Viola, envolvido com o problema do tempo em uma sociedade marcada pelos limites entre um passado saudoso e um presente cínico e congelado. Neste artigo, a pesquisadora Tânia Barcelos realiza uma investigação sobre a cronopolítica instituída em sociedades contemporâneas, contrastando-a à abertura de outras temporalidades, inspirando-se nas intuições e nas letras de Paulinho da Viola. Ainda no que concerne a estudos diversificados sobre a subjetividade, o artigo Subjetividade e Materialidade: Cidade, Espaço e Trabalho de Maria Luísa Magalhães Nogueira, busca uma investigação transdisciplinar da relação entre o espaço compreendido sócio-historicamente e a dimensão subjetiva dos atores sociais que dele se apropriam, garantindo uma posição privilegiada ao tema da cidade.

O artigo O sentido como máquina de guerra contra a naturalização do psíquico de Rosane Zétola Lustoza se sustenta nos estudos da autora sobre a utilização por Jacques Lacan, em parte da sua obra, do conceito de sentido contra a tendência à naturalização da noção de sujeito. Já no artigo Por máquinas de guerra em tempos de militarização high-tech, as autoras Tânia Mara Galli Fonseca e Fernanda Spanier Amador estão comprometidas em elucidar a aproximação de estudos sobre Novas Tecnologias de comunicação aos personagens conceituais forjados por Félix Guattari e Gilles Deleuze em sua tentativa de indicar - e defender - heterogeneidades expressivas, que não sucumbam ao já dado e naturalizado. Os dois artigos são elaborados a partir de perspectivas teóricas distintas mas, sem dúvida, ampliam o alcance do campo investigativo sobre a subjetividade.

Os próximos artigos do presente volume estão alocados em campo atravessado pelos diálogos e pelas tensões entre a psicologia e os contextos de práticas jurídicas. O artigo A mulher junto às criminologias: de degenerada à vítima, sempre sob controle sóciopenal de Simone Martins é expressão de estudos sobre as imagens da mulher forjadas em distintas criminologias e em suas repercussões no código penal brasileiro. O artigo O Abrigamento e as redes de proteção para a infância e a juventude de Lygia Ayres, Lívia Cretton Pereira e Ana Paula Cardoso se nutre de uma investigação metodologicamente subsidiada na Análise do Discurso a fim de compreender a natureza de projetos voltados ao abrigamento de crianças e adolescentes no Brasil, no período entre os anos de 2000 e 2008; tais projetos foram vislumbrados a partir de livros, dissertações de mestrado e teses de doutorado.

Dando continuidade ao tratamento conceitual e empírico da problemática citada anteriormente, há o artigo de Flávia Cristina Silveira Lemos intitulado O Estatuto da Criança e do Adolescente em discursos autoritários, em que a autora busca interrogar a apropriação do Estatuto da Criança e do Adolescente a partir da elaboração do chamado Ministério da Criança, em contexto específico da história recente do Brasil, apoiando-se em metodologia histórico-genealógica. Além dos trabalhos citados, há o artigo A menina que se constituiu no tráfico: o estudo psicossocial forense e o resgate da função paterna de Liana Fortunato Costa, Viviane Neves Legnani e Cristiane Barbosa Di Bernardo Zuim, em que as autoras discutem o que chamam de complementaridade entre Psicologia e Direito, apoiando-se em estudo de um pedido de guarda de um pai sobre sua filha, estabelecendo uma reflexão sobre a "função paterna".

Fechando o espaço dedicado à publicação de artigos científicos e problematizando um tema distinto do anterior, o trabalho de Mariana Tavares Cavalcanti Liberato e Magda Dimenstein, intitulado Experimentações entre dança e saúde mental, discute a utilização da dança no contexto da Reforma Psiquiátrica, analisando um grupo de "expressão corporal" em um Centro de Atenção Psicossocial, valorizando a problematização de formas instituídas de cuidado no campo da Saúde Mental.

No espaço reservado aos demais tipos de contribuições, publicamos o Relato de Experiência Profissional intitulado O que percebemos quando não vemos? e a Entrevista com o autor do primeiro artigo do volume atual, Bruno Sena Martins, realizada pela professora Márcia Moraes. O Relato e a Entrevista ampliam o escopo de problematizações iniciadas com o artigo de Bruno Martins. Encerram este volume o Resumo de Trabalho Acadêmico Variáveis culturais e psicossociais associadas à vulnerabilidade étnica ao HIV/AIDS: estudo comparativo entre Brasil e França e os resumos de apresentação de trabalhos acadêmicos em eventos: Patrón de respuesta aberrante: evidencias em la precisión psicométrica e Cidade acessível: igualdade e singularidade da deficiência visual.

Através dos presentes trabalhos, a Revista disponibiliza exercícios intelectuais fecundos e reafirma sua preocupação em valorizar abordagens amplas e pertinentes sobre temas emergentes nos estudos sobre a subjetividade.

Marcelo Santana Ferreira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Jul 2009
  • Data do Fascículo
    Abr 2009
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