RESUMO
Este artigo tem em conta a particularidade da “geografia também [como protagonizadora da] construção romanesca” no romance Margens e travessias de Boaventura Cardoso, pretendendo analisar o seu olhar eco-crítico. Sublinha-se o “crítico” da palavra que se estabeleceu como enunciadora de um conjunto de teorias sobre a relação da literatura com a natureza, para enfatizar a agudeza e acutilância do olhar narrativo num livro em que pouco ou nada escapa no percurso pela História de Angola em que o leitor se vê imerso. Através do percurso dos rios e das descrições da natureza, ligados a um mundo anterior ao colonial e, consequentemente, à exploração capitalista, o verdadeiro intento do livro é o da re-escrita da História e melhor entendimento sobre o passado, convidando o leitor a ter em atenção o diálogo mútuo entre homem e natureza, dominador e dominado, e opressor e vítima, em vista de uma possível política de conciliação no futuro de Angola.
Palavras-chave:
Ecocrítica; História; Memória; Boaventura Cardoso