Este artigo procura esclarecer uma tendência histórica importante concernente, antes de tudo e com algumas notáveis exceções, aos países industrializados mais antigos: o retorno da sacralização da natureza. Trata esse tema sob o ângulo parcial da indiferenciação animal-humano apoiada na argumentação científica ou seja, a dos movimentos pela defesa dos animais. Esses movimentos não são simples resultado do sentimentalismo individual burguês que valoriza a esfera do privado. Cientistas dos campos da etologia, antropo-paleontologia, ecologia e biologia reforçaram os pressupostos que surgiram em plena época colonial e de expansão do evolucionismo. Essa pressão exercida pelas "ciências da natureza e da vida" sobre as ciências do homem conduz à mesma negação da fronteira animal/humano que aquela produzida pelos círculos de proteção dos animais e a reforça ao lhe atribuir uma legitimidade científica. Além da briga entre aqueles que consideram o animal como inferior e aqueles que pretendem colocá-lo no mesmo plano do humano, existem - no seio dos dois movimentos adversários - relações simbólicas fortes, produzindo todo tipo de amálgamas. Ilustraremos esse processo a partir do caso, sem dúvida, o mais sensível da corrida de touros.
corrida; cultura; ecologistas; história da ciência; natureza