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Tuberculosos e seus itinerários

Tuberculosis patients and their itineraries

DEPOIMENTO

Tuberculosos e seus itinerários

Tuberculosis patients and their itineraries

Ângela Pôrto; Dilene R. do Nascimento

Pesquisadoras da Casa de Oswaldo Cruz

Os depoimentos que se seguem têm como tema a tuberculose. Mas isso que a literatura médica costuma tratar como fenômeno patológico, identificável por um conjunto de sintomas, preferimos perceber como algo que se constrói em diversos níveis. Assim, a tuberculose mostra-se através desses documentos como coisa viva, na medida em que contemplamos sua construção, explicitada no próprio material apresentado: cartas pessoais, poemas, entrevistas com tisiólogos, testemunhos de doentes.

A idéia que norteia essa reunião é oferecer subsídios para a elaboração de uma imagem matizada da doença a partir da experiência de doentes e de médicos que, para além do trato profissional, tiveram com seus pacientes uma relação baseada numa vontade comum de luta pela vida (até mesmo porque alguns dos médicos entrevistados eram também tuberculosos). Cartas e depoimentos sinalizam, portanto, a presença de vozes diferentes num discurso polifônico, uma tentativa de construir a tuberculose em suas múltiplas facetas, expressões e vivências.

Nos testemunhos dos doentes privilegiou-se o aspecto mais confessional do discurso daqueles que tiveram de passar pelo processo intransferível de aceitação de si como doentes, antes mesmo de jogar suas chances numa luta desigual, e, de resto, imprevisível, pelo bem da sobrevida.

Duas peças idessa coleção, o artigo de Aloysio de Paula em homenagem a Manuel Bandeira e os escritos de um doente anônimo, que se assina "Bugrinho", exemplificam modos radicalmente subjetivos de tratamento do tema. Ambas parodiam o gênero propriamente ensaístico, com vistas a transmitir uma visão da experiência de se estar doente numa perspectiva quer apologética (Aloysio de Paula), quer satírica ("Bugrinho"). O que torna particularmente originais estes dois documentos é o fato de ambos representarem estratégias discursivas que tanto aniquilam de vez com o rigorismo do discurso médico no tratamento da doença, quanto a recolocam no centro das preocupações humanas, tornando-a por isto mesmo objeto de um estranho exercício — o da liberdade daqueles que um dia viveram a experiência de nada mais ter a perder, podendo por isso se dar ao luxo do riso e da transfiguração.

Como (não) era vista a tuberculose (décadas de 1920 a 1950)

Manuel Bandeira a Ribeiro Couto:

'Mas então não farei mais nada porque em mim o poeta é a

tuberculose, Eu sou Manuel Bandeira, o Poeta Tísico."

Sem data (provavelmente década de 20)

"Ser tuberculoso era uma pecha. Quando aparecia um caso de tuberculose na família, era escondido, então, 'Fulano tem uma mancha no pulmão', uma coisa qualquer. ... Ninguém falava em tuberculose, não se mencionava. Quando um indivíduo era noivo e descobria que a noiva ficara tuberculosa, ele desmanchava o casamento.'"

José Rosemberg

(Depoimento)

"De modo que o medo de ficar tísico — que era como se chamava o indivíduo magro, tossidor e que morria — porque a própria doença... fazia com que houvesse um pavor. Uma família que tinha um doente tuberculoso estava sempre disfarçando, ele não aparecia. Havia medo. Na minha família havia verdadeiro pavor de tuberculose, a tal ponto que quando eu adoeci, eu tive que esconder da minha família que eu estava doente. Eu fui tratado, naquela ocasião, de stress, chamava-se surmenage, e eu me tratei de uma surmenage por muito tempo, muitos meses, e tudo por essa razão de medo. E realmente nós ignorávamos, minha família ignorava completamente o que se passava comigo. Quem sabia alguma coisa, e me dava apoio muito grande na família, inclusive escondendo da família, era meu irmão, meu irmão mais velho que me ajudava muito. E mantinha um certo silêncio sobre isto. Não se discutia esse problema."

Raphael de Paula Souza

(Depoimento)

"Olha, a tuberculose era assim como um tabu. Nenhuma família admitia ter um caso de tuberculose. Embora todas tivessem, quase todas, ricos e pobres, com ou sem fome. Era um problema social. Mas, sem dúvida nenhuma, era um problema social enorme, que precisava ser estudado, como fosse possível naquele tempo, alguma coisa com o nome de epidemiologia social: como você vivia, os ricos, os menos ricos, os pobres, os menos pobres... Mas todo mundo pagava sua cota, a família pagava a sua cota, a família rica escondia, transferia e mandava para aqui."

Aldo Villas Boas

(Depoimento)

"No interior não existia, ninguém tinha noção, nunca se ouvia falar em tuberculose, não era uma doença conhecida. Mas na cidade, não, era uma forma de doença extremamente comum. Ainda era época em que dali saía muita gente para se tratar em Belo Horizonte, Campos do Jordão... Isso aí no começo da década de 50."

Germano Gerhardt

(Depoimento)

Manuel Bandeira a Ribeiro Couto:

"Esforço desesperado para sentir diferente, para esquecer

a velha maneira de sofrer, isso sim pode ser.

Um pudor que eu não tinha da minha tuberculose,

da minha necessidade incrível de carinho feminino,

de pureza absoluta e fidelidade absoluta

que reconheço impossível das Jacquelines. "

26 de setembro de 1930

"Eu tinha três anos quando minha mãe morreu, de tuberculose; e quando tinha nove, meu pai também morreu, da mesma doença. Fui, então, entregue aos cuidados de parentes, que me educaram com absoluta falta de tato a este respeito. Era só eu ter qualquer doença, qualquer dorzinha, e logo me diziam: — 'É preciso ter cuidado com este menino! Os pais dele morreram tuberculosos...' Se eu não queria fazer uma refeição, era a mesma coisa. Advertiam-me: — 'Você precisa comer, menino! Lembre-se de que seus pais morreram tuberculosos!' Assim, fui crescendo com pavor da doença e com um tremendo complexo de inferioridade. Pouco a pouco, fui ficando com a convicção de que, mais cedo ou mais tarde, fatalmente, teria de ficar tuberculoso. O mais interessante é que sempre tive a impressão de que ficaria doente do pulmão esquerdo. Não podia deitar-me sobre o lado esquerdo, pois sentia umas sensações esquisitas... Evitava consultar médicos, porque tinha horror em ouvir perguntas sobre a causa mortis de meus pais. Não tinha coragem para confessar a verdade: mentia, sempre que possível, a este respeito. Sendo já homem feito, casado e com dois filhos, certa ocasião, em São Paulo, comecei a me sentir esgotado, com dores no fígado, e o peito cansado. Pensava em procurar um médico, mas receava as clássicas perguntas sobre a morte de meus pais. Um dia, porém, ganhei algum dinheiro no jogo e, passando por certa rua, vi a placa de um conhecido especialista em moléstia dos pulmões. Criei coragem, entrei, e adquiri um cartão. Lá dentro, senti-me esfriar novamente. Pensei em pedir à enfermeira que me devolvesse o dinheiro, e ir-me embora. Cheguei a falar-lhe, e ela me respondeu que logo seria a minha vez. Então, resolvi ficar. Logo que entrei, o médico percebeu meu nervosismo, e procurou ganhar minha confiança, conversando e soltando piadas. Eu era casado e tinha dois filhos. Menti-lhe que era só no mundo e morava numa pensão e que não adiantava ele iludir-me, pois não havia outra pessoa a quem pudesse dizer a verdade. Eu tinha receio de que ele verificasse que eu estava doente, me enganasse e, depois, avisasse a minha família. Mas ele me examinou cuidadosamente e disse que eu não tinha nada, que apenas estava nervoso; e me receitou umas injeções para os nervos. Fiquei mais calmo, por algum tempo; porém, mais tarde, a cisma voltou de novo. Fiz, então, novo exame, e constatei que estava doente, e era justamente do pulmão esquerdo. Vim, então, imediatamente para Campos do Jordão, e internei-me num sanatório. Devo dizer que, quando o médico declarou que eu estava doente, senti-me calmo, à vontade, pois senti que meu destino estava sendo cumprido. Por outro lado, o quadro que eu imaginava, de um sanatório e de uma estação de cura, era terrível. O que eu vi, e o que tenho visto, está muito aquém do que eu imaginara. Tudo isso concorreu para que eu perdesse aquele complexo de inferioridade."

Relato de um doente em Campos de Jordão

Em Nogueira, O., 1949

Os tratamentos

Manuel Bandeira:

"Costumo dizer que a tuberculose (pelo menos era assim

antigamente, quando não havia estreptomicina nem

pneumotórax nem toracoplastia) exige humildade para a cura.

Doente metido a ter personalidade ('Ah, não tomar o meu banho

frio de chuveiro todas as manhãs, isso não! Prefiro morrer'),

morria mesmo. Pois Ribeiro Couto curou-se (é verdade que com

pneumotórax) passando noites em claro a jogar pôquer com uns

turcos horríveis em Abernésia, ou de revólver em punho,

enfrentando, como delegado de polícia, os inimigos da ordem de

São Bento de Sapucaí. "

Itinerário de Pasárgada

"Justamente, porque a tuberculose não é uma doença aguda, bastava o repouso e a boa alimentação para combater a doença, e o indivíduo curava. Qual foi o espírito do pneumotórax? Foi de dar um repouso maior ainda para o pulmão, porque se você respira, o pulmão está em movimento constante; e você não pode parar de respirar. Se você quebra um braço, engessa e pode até jogar futebol que ele consolida. O pulmão não, está permanentemente em movimento, então aquela lesão não tinha condição de curar. E o pulmão ocupa na caixa toráxica um volume maior do que ele tem, então se você enfia uma agulha entre as costelas de uma pessoa ou de um cadáver mesmo, se não tiver aderência da pleura, você houve até o sopro, 'chuuuu', é ar que entra e o pulmão foge, ficando no lugar do tamanho dele, cria-se um grande espaço que é o espaço pleural. Então a idéia do pneumotórax, do Forlanini, foi justamente introduzir ar. Porque ele verificou que quem tinha pleuris (água no pulmão), o pulmão melhorava da lesão tuberculosa, porque ele era empurrado; então, ele substituiu pleuris por ar. Ele começou a enfiar ar, no começo nitrogênio puro, depois ar. ... Então, o pulmão ficava na sua posição, e com isso não traumatizava a lesão. Porque obrigar uma lesão a se distender acima da capacidade de distensão do órgão criava um traumatismo; então isso propiciava o repouso do pulmão. Por isso que o pneumotórax foi o tratamento durante mais de meio século. E o problema era esse, o problema era o sujeito ter a sorte de poder fazer o pneumotórax, porque se a lesão já era dura — o diagnóstico da tuberculose era coisa demorada — não faziam, o pneumotórax já não tinha efeito. ...

Então, o tal do pneumotórax é que era a salvação. O doente que não podia fazer pneumotórax estava perdido, porque aí ou ia para a toracoplastia ou não fazia nada, era o tratamento heróico. ... Tirava cinco ou seis, sete ou oito costelas, desossava o indivíduo, era uma porcaria. Bom, eu vou te contar, eu tenho um estudo mostrando indivíduos que fizeram toracoplastia há 25 anos, trinta anos antes, morreram de outra coisa em hospital, morreram de qualquer outra coisa, tirado o pulmão. Eu tenho vários casos que eu estudei, nas lesões cicatrizadas tinham bacilo vivo, quer dizer, não curava o indivíduo, mas estabilizava a doença. ...

É, houve uma reviravolta mundial na tuberculose com a quimioterapia, coisa que o BCG nunca fez, nem pode fazer, porque descobrir drogas que fazem um tuberculoso se tornar negativo em 30 dias ou em 60 dias é uma verdadeira profilaxia, não é só terapêutica. Você corta o elo da transmissão do micróbio da tuberculose."

José Rosemberg

(Depoimento)

"Naquela época, eu tomei todos os medicamentos pra tuberculose que existiam, uma sucessão de drogas. Comecei tomando hidrazida, estreptomicina e PAS. Depois, ainda no curso do primeiro tratamento, surgiu uma droga chamada ciclocerina, também passei a usar ciclocerina acrescida. Esse primeiro tratamento foi com essas drogas; tomei isso mais ou menos seis meses. Com a estreptomicina, o ouvido, na época, inclusive, acusou um pouco isso, a audição dos sons agudos ficou prejudicada até hoje, quer dizer, a faixa elevada de som agudo, ela está sempre muito prejudicada, mais num ouvido do que no outro. ...

Quanto à medicação, eu já tinha uma noção clara que ela tinha que ter regras bastante rígidas para poder ser eficiente. Quem não acreditasse nos limites da droga, ela era um fracasso; era uma idéia bem clara. ... Eu nem sei, tinha dia que passava o dia todo absolutamente enjoado, tonto, com um gosto amargo, com uma insônia desgraçada, porque eu cheguei a tomar doses incríveis. Por exemplo, a ciclocerina é uma droga que, depois como médico, eu vi que era uma causadora de suicídio, nas doses que eu usava. Eram, certamente, doses muito deletérias. ... Aqui no Santa Maria, a gente começou a ver doente pular do terceiro andar, quarto andar, sem nenhuma razão e depois a literatura foi registrando. Aí nós começamos a ver que ela era uma droga extremamente psicotrópica, dava uma alteração quase que esquizofrênica. ... É uma ótima droga para dar tonteiras. Tonteiras eu tenho até hoje, uma vez por outra eu tenho uma crise de vestibular e um senhor gosto de enxofre. Somando isso dava mais ou menos uns 40 comprimidos por dia, que eu nunca deixei de tomar ... Nenhuma droga me fez mal, mal assim a ponto de impedir a tomada por efeito colateral, tomei sempre tudo que me foi recomendado a usar, sempre com bastante ênfase. ... Era necessidade... Eu tinha uma decisão de suportar mesmo o que viesse. Sentia enjôo, achava que o remédio estava fazendo mais mal do que bem. A primeira idéia sua é não continuar com aquilo, há aquela resistência, mas na verdade, eu perseverei o suficiente. ... O tempo total de tratamento foi de, mais ou menos, cinco anos e meio, incluindo a cirurgia. Depois da cirurgia eu ainda tomei mais dois meses de remédio e parei.

A cirurgia foi feita em 63. Na verdade, durante algum tempo eu nem acreditava que ia ficar bom, ia ficar assim mesmo: uma hora melhor, outra hora pior, às vezes até com sensação de frustração, de cansaço. Sentia-me muito prejudicado, porque essa doença me impedia de fazer quase tudo, isso nos anos de juventude. Então foi um período de grandes restrições, toda atividade esportiva, toda a vida normal de um jovem não pôde ser realizada, porque a doença não permitiu em momento algum. ...

A cirurgia foi um momento muito difícil, na verdade, foram momentos assim de uma expectativa angustiante. Antes de entrar na sala, eu me lembro do local onde a gente estava. A gente descia por um túnel, um túnel escuro que era interminável, para quem estava indo para a sala de cirurgia, a sensação é que não estava bem indo para uma sala de cirurgia. Só quando acordei, acreditei. A dor mostrava que eu tinha passado por aquilo, a dor era marcada."

Germano Gerhardt

(Depoimento)

O sanatório

Manuel Bandeira a Donana:

"A sua madrinha envio particularmente os meus agradecimentos

pelas orações que ela tem feito em minha tenção. O seu postal

veio despertar em mim muitas saudades de Campanha. Se tiver

algum dia a ventura de ficar curado, hei de voltar a todos esses

lugares por onde passei doente; dos quais nada pude conhecer

por não ter podido nunca passear. "

Clavadel, 12 de janeiro de 1914

"Eu só fiz tratamento quimioterápico e repouso, uma das internações, logo a primeira, foi no hospital, no sanatório lá em Vitória e as recordações são não muito agradáveis. Da enfermaria que a gente estava localizado, só sobrevivi eu, todos os outros companheiros daquela enfermaria faleceram no curso da internação. Aí, então, eu fiz um período longo de repouso, no hospital e depois do hospital, repouso mesmo, de ficar imobilizado, praticamente. A doença tinha um cunho bastante grave. Nesse episódio houve um agravamento clínico muito acentuado, e então, o médico, que era o Jaime Santos Neves, optou por me deixar em repouso absoluto. Eu fiquei um tempão, passei a comer quase um quilo de carne por dia, porque era moda, e fiquei bom."

Germano Gerhardt

(Depoimento)

"Deveria ter umas 80 camas aí, comumente tinha o dobro de doentes dentro das enfermarias e mais aqueles todos nas cadeiras no terraço. E quando você estava de plantão, vinha um servente lá assustado — quando ele era novo, quando ele era antigo ele nem se assustava mais — vinha bem devagar mesmo e dizia: 'O sujeito está com uma hemoptise brutal ali.' E lá ia o interno, quando via o sujeito estava morrendo naquela cadeira, afogado no próprio sangue."

Aldo Villas Boas

(Depoimento)

"... veio uma idéia de juntar os médicos, e os médicos reunidos fundarem essa associação. Uma associação de vanguarda dos sanatórios, uma associação beneficente... sanatórios populares. E montou-se logo, com meses, feito de madeira, rapidamente. Com o dinheiro arrecadado na ocasião, foi possível montar para vinte doentes e podíamos cuidar desses doentes. ... Essa associação era chamada de Sanatorinhos, porque, como era um sanatório pequeno, o povo começou a chamar Sanatorinho e aí... um nome querido, um nome de caricia, sanatorinhos. E ficou sanatorinhos, ficou conhecido até hoje. Sabe que essa sociedade pôde se desenvolver chegando-se a ter 600 leitos em Campos do Jordão, aos poucos. Não no meu tempo, já tinha vindo pra cá. Mas se desenvolveu e chegou a ter 600 leitos. Todos modestos, feitos uma boa parte de madeira, outros já de tijolos, e estão lá todos."

Raphael de Paula Souza

(Depoimento)

"O tratamento não era tão grande. Mas o número de doentes e a fama de Campos do Jordão fazia com que acorresse uma quantidade enorme de doentes paupérrimos, que arranjavam para ir para lá da seguinte forma: quase que todo mundo no interior, quando adoecia, o delegado de polícia arranjava um jeito de dar um passe pra ele ir pra Campos do Jordão. De modo que chegavam doentes em péssimas condições. Geralmente em último estágio. Porque quando se chega a pedir... São doentes que foram ficando por muito tempo sem possibilidade de tratamento. De modo que morriam, freqüentemente, dias depois de chegarem em Campos do Jordão. Alguns morriam logo que chegavam na estação. O chefe da estação era um sujeito de um coração extraordinário. Chamava-se Sebastião Leitão. Esse Sebastião Leitão então ajeitava no pátio da estação umas camas, uns colchões para o indivíduo não ficar... mas era a vida. Porque a estação só tinha uma cobertura, não tinha área fechada. Morriam ali no próprio pátio onde se descia, ali na estação. Isso era freqüente, era coisa diária. Então, uma coisa trágica."

Raphael de Paula Souza

(Depoimento)

"Agora os dramas que houve nas estâncias climáticas, que a Dinah pôs nos romances dela e outros puseram em outros romances, não chegam até a ponta do iceberg. Moças que iam para as pensões, engravidavam, faziam abortos, morriam de aborto; pioravam o estado de saúde. Muitas mulheres casadas, que eram abandonadas pelos maridos, que nunca vinham buscá-las. Então, coisa dantesca, que vocês não podem imaginar, é por isso que os tisiólogos tinham uma capacidade afetiva diferente de qualquer outro tipo de médico, porque conviviam com essa gente três, quatro, dez anos, entrava no drama do doente, da família do doente, quando havia família. Então, ele convivia com isso."

José Rosemberg

(Depoimento)

Manuel Bandeira a Ribeiro Couto:

" A coisa está meio preta. Os calafrios e a febre continuam.

Vêm todo dia a hora cena (meio-dia). Dura pouco

mas deixa o amiguinho abatidíssimo, no que são ajudados

pela dieta que é muito rigorosa. "

Rio de Janeiro, 26 de março de 1926

"Minha vida de pectário (excerto das minhas memórias)

Ao dr. X., esse médico democrático que rouba

rodelas de tomate do nosso prato de salada.

Só sabe quem viveu. A experiência que acumulei nos meus longos anos de tuberculose me autorizam a apresentar este esboço das minhas memórias no concurso instituído aqui no sanatório pelo meu médico nº 6 (que Deus lhe dê mais sorte que aos outros cinco!). Uma boa purga também é um prêmio. Quero que saibam os senhores examinadores que não faço questão de prêmios nem de menções honrosas. Como recompensa, bastam-me os benefícios da catarse que esta minha narração desataviada seguramente me vai proporcionar. ...

Os doutores não crêem em nada. Se os doutores médicos acreditassem em nutrição, eu tentaria convencê-los de que minha doença começou no dia em que, em vez do generoso leite humano, sugado em seio materno, eu comecei a chupar, em mamadeiras suspeitas, leite de vaca suspeito, feito para bezerros. ...

De mal a pior. A tragédia da má nutrição da minha primeira infância se agravou na idade pré-escolar, em que se fixam os costumes alimentares. ...

Enfim nos braços dela! Numa tarde opressiva do verão santista, uma amigdalectomia desastrada abriu-me as portas do paraíso da tuberculose pulmonar. Uma forte hemorragia, fruto duma nova técnica operatória pela primeira vez experimentada em mim, levou-me ao hospital, e dele ao gabinete de raios-X, e deste às culminâncias curadoras de Campos do Jordão. ...

Falo de cadeira. Falo porque sei. A primeira reação de todo tuberculoso que se descobre como tal é uma vontade louca de xingar. Xingar a vida, a falta de sorte, o diabo, enfim. Eu xinguei o médico (na sua ausência, é claro). ...

Isto é um resumo. Este trabalho é apenas um resumo da parte inicial das memórias que talvez venha a escrever um dia. Tenho acumulado um enorme acervo de experiência de toda sorte neste terreno: primeiras impressões da nova vida, o ambiente psíquico-social da pulmotuberculose, aventuras de sanatório e fora dele, lutas, vitórias e derrotas, marchas e contra-marchas, a volta à vida normal, o destino nos levando a grandes alturas, para que depois maior seja a nossa queda. ... Que leve o diabo!

O nosso moto. Esse deveria ser o moto dos tuberculosos: 'Que leve o diabo!' Se um dia escrever o tal livro, não me esquecerei de recomendar isso. Mas o mais certo é que não escreva livro algum. Para que se escreva um livro é preciso que haja uma grande vontade. E até essas coisas a tuberculose rouba da gente. Não. No meu espírito não há vontade alguma de escrever um livro. E onde não há, el-rei perde.

Para concluir. Para concluir, direi que tudo tem seu lado bom nesse mundo louco de coisas relativas. O simples fato de vir a conhecer a maravilha destas montanhas já é uma forte compensação à desdita de todos nós, pectários. O ar aqui é mais puro, há mais passarinhos cantando, as estrelas brilham mais... Ainda nos resta a ventura de nestas alvoradas de sol chegar à janela e, estendendo os braços, declamar, num êxtase perfeito: — 'Oh! as manhãs indecorosas de Campos do Jordão!'".

Bugrinho

Artigo apresentado no Grêmio do Sanatório.

Em Nogueira, O., 1949

Manuel Bandeira a Ribeiro Couto:

"Por outro lado o poeta tísico aprendeu com o mocinho de

pince-nez aquele heroísmo que leva a gente a fingir

que namora com Araci Cortes pra não soçobrar

no cabotinismo voluptuoso da tristeza. "

2 de outubro de 1926

"Faltavam uns dois ou três meses para terminar o Curso Normal quando comecei a sentir as primeiras indisposições: falta de apetite, sonolência, cansaço, um mal-estar geral que aumentava cada vez mais, seguido mais tarde de um estado febril. Fazia grande esforço para realizar os trabalhos escolares e assimilar os ensinamentos. A tosse tornava-se cada vez mais insistente; mas não faltei um dia às aulas e cumpri, sempre, com os meus deveres, embora sentisse faltar-me disposição e entusiasmo. ...

A tosse aumentava, eram tão fortes os acessos que precisava sair da classe para não interromper as aulas. Quando iniciamos o assunto 'tuberculose' (biologia) comecei a viver momentos de grande aflição; tudo quanto se falava a esse respeito impressionava-me terrivelmente; cheguei a ter horror às aulas de biologia e, após uns tempos era levada a admitir que estava doente. ...

Devo esclarecer o seguinte: o professor de biologia dissera que a tuberculose não é 'hereditária' e essa afirmativa confortava-me; quatro anos antes (1935) perdera minha mãe que, em Campos do Jordão, vivera a fase mais declarada de sua doença, vindo a São Paulo só para morrer; não podia admitir que em tão poucos dias (oito) fosse possível haver contágio. ... Tratei de espantar as minhas preocupações, por achar que não tinham fundamento. Admiti, como todos, que não passava de uma gripe, ou de uma bronquite. ...

Chegada a ocasião de organizar os papéis para o ingresso ao magistério, não hesitei e lá fui com mais três colegas realizar os exames médicos. ... Fizeram-me diversas perguntas; fui respondendo com sinceridade até certo ponto, enquanto se tratava de indagações secundárias. Comecei, depois, a responder de acordo com os meus interesses pessoais. Assim, quando um deles me perguntou se transpirava durante a noite, respondi negativamente, em tom firme e seguro (transpirava de precisar levantar para trocar de roupa, duas ou três vezes durante a noite). ... Quando perguntou de que morreram meus pais, tratei logo de responder jeitosamente, emprestando aos pobres coitados umas doencinhas... mais delicadas... que não causassem impressão, tendo em vista, sempre, o meu interesse pessoal. Terminado o questionário, recebi um ofício que, disseram-me, devia apresentar no Instituto X, levando o escarro para ser examinado. Tive muito cuidado em não mostrar surpresa, apresentando-me, até o fim, muito natural e desembaraçada. Essa atitude mantive, também, diante de meus parentes.

Quanto ao escarro, não tive coragem de levá-lo, pessoalmente, ao instituto; no dia seguinte, vinha o resultado: positivo. Esse termo foi para mim a libertação: rompi num choro desesperado, entreguei-me completamente ao momento; descansei o espírito e não mais o torturei com batalhas inúteis.

Alguns dias depois, fui ter com o Dr. X. Quando me aplicou o termômetro exclamou: 39,5! Não me admirei. O que senti, deixei transparecer: foi uma pontinha de orgulho, pois, até aquele momento não me deitara, não admitira a doença do ponto de vista físico.

Tomei o primeiro pneumotórax (doeu que não foi vida!), fui para casa e, pela primeira vez, metia-me debaixo das cobertas em repouso absoluto; depois de cinco ou seis pneus, não mais fiquei na cama, não tinha paciência para isso; praticamente, nunca fiz repouso verdadeiro; só... depois da recaída, quando fiz a 'frene'".

Relato de uma normalista sobre a descoberta da doença

Em Nogueira, O., 1949

Ribeiro Couto a Manuel Bandeira:

"Escrevi o livrinho a Santa Terezinha,

que me ajudou tanto a vencer a tuberculose. "

Belgrado, 18 de maio 1952

Mito e realidade

"Tudo isso é lenda. Também que exacerba o sexualismo. Tudo isso é conversa. O que acontece é que a tuberculose, naquele tempo, era uma doença dos inquietos. O artista não se preocupava em se alimentar bem. Era pobre, muitos se entregavam à bebida. Isso lhes criava uma condição de inferioridade orgânica. E como a tuberculose era muito espalhada, e havia muito contágio, eles eram presa mais fácil da tuberculose. Mas desde que fossem tratados, eles se comportavam como qualquer outra pessoa. Aí está o caso de Ribeiro Couto, um poeta da nova geração que foi para Campos do Jordão se curar da tuberculose, fez até um poema que ficou repetido: 'Bom ar de Campos do Jordão/curai o meu pulmão.' E Ribeiro Couto curou-se da tuberculose e veio a morrer de hipertensão, morreu já em idade avançada. De modo que a lenda de que a tuberculose preferia os artistas, não era que preferia os artistas, ela preferia aquelas pessoas que, por condições especiais, se apresentavam em inferioridade orgânica. Os artistas eram pobres, não tinham dinheiro para comer. O dinheiro da comida eles gastavam em tinta. Acabavam presas da tuberculose. Então isso... a tal inquietação do artista gerava uma condição de inferioridade orgânica, por isso eles ficavam doentes, mas não é que o fato de ser artista os predispusse à tuberculose, não. ...

O que a doença fazia, era obrigar o homem a ficar sobre si próprio, não é? Porque obrigava a repouso, isolamento, exílio do Rio de Janeiro, para um clima de montanha. Tudo isso criava no artista condições de concentração intelectual, de meditação. ...

Porque Manuel Bandeira tratou a morte com muita sem-cerimônia. Você conhece o poema do Manuel Bandeira que dizia: 'Quando a indesejada da gente chegar, encontrará o campo lavrado, a casa arrumada, a mesa posta com cada coisa em seu lugar.' Então ele tratava a morte com absoluta familiaridade, sem nenhum temor. E Bandeira morreu além dos 82 anos."

Aloysio de Paula

(Depoimento)

Manuel Bandeira a Ribeiro Couto:

"Mas o mais gozado foi que o outro me imaginava

muito tísico, um 'sujeito de uma neurastenia impossível que

morava sozinho em Santa Tereza e a respeito de quem se

contavam lendas... ' Imagine você!"

9 de novembro de 1926

A doença de Manuel Bandeira

"Em Manuel Bandeira, a poesia precedeu, de muito, a doença. É a partir dos dezoito anos, quando a tuberculose o assalta, que passam elas a conviver, em permanente influenciação recíproca. ...

Até ingressar na Escola Politécnica de São Paulo, em 1903, a poesia acompanhava aquele jovem, sem contudo dominá-lo. Fazia poemas eventualmente e teve a alegria de ver um soneto de sua autoria publicado na primeira página do Correio da Manhã.

Em 1904, sobrevém a tuberculose que o obriga a abandonar os estudos e a iniciar a peregrinação pelas cidades chamadas de bom clima: Campanha, Teresópolis, Maranguape, Uruquê e Quixeramobim. Mais tarde, Bandeira lembraria a monotonia daqueles locais. Uma exceção foi Campanha, onde morou com a mãe e a irmã, sua enfermeira dedicada. A cidadezinha mineira o impressionou, ainda por cima, com seu velho título real: Princesa da Beira. Muitos anos mais tarde, já seguro da saúde, Bandeira revisita a velha cidade, onde perambula como um fantasma, embora lhe fosse grato rever a casa onde tinha morado, lá encontrando a simpática Donana, que o acolhera. 'Donana mudou bastante, não tanto, porém, quanto eu temia. Ficou com o teint tanné e heróico das mães de família do interior.'

Mas a doença não cedia e o pai decide em 1913 enviá-lo para a Suíça, a Meca dos tuberculosos daquele tempo. Bandeira escolhe Clavadel, perto de Davos-Platz, onde Antonio Nobre estivera, também pela mesma razão. Uns versos do infeliz poeta o decidiram pelo local. Era um poema outonal: Ao cair das folhas. É em Clavadel que ambos têm a trágica revelação da doença. E é o próprio Bandeira quem conta:

'Quando caí doente em 1904, fiquei certo de morrer dentro de pouco tempo: a tuberculose era, ainda, a moléstia que não perdoa. Mas fui vivendo morre-não-morre, e em 1914 o dr. Bodmer, médico chefe do sanatório de Clavadel, tendo-lhe eu perguntado quantos anos me restariam de vida, me respondeu assim: — O sr. tem lesões teoricamente incompatíveis com a vida; no entanto, está sem bacilos, come bem, dorme bem, não apresenta, em suma, nenhum sintoma alarmante. Pode viver cinco, dez, quinze anos... Quem poderá dizer?'

A tal declaração seca e precisa, Bandeira chamaria a revelação brutal da doença. O tempo o obrigaria a conformar-se, mas sua decepção será lembrada mais tarde naquele poema Testamento, quando afirma:

Criou-me desde eu menino,

Para arquiteto meu pai.

Foi-se um dia a saúde...

Fiz-me arquiteto? Não pude!

Sou poeta menor, perdoai!

O fato é que a tuberculose mudou o destino de Manuel Bandeira. Quando tudo lhe fugia, restava-lhe a poesia, pois não sabia fazer outra coisa, como ele próprio declara.

A guerra de 1914 obriga o poeta a voltar ao Brasil. As últimas recomendações do médico do sanatório é que deveria viver como um 'valetudinário filósofo' (este era o jargão dos sanatórios). O sol lhe faria mal, sobretudo o terrível sol dos trópicos. Dançar, nem em sonhos. Bandeira seguia as prescrições religiosamente. Só saía de casa à tarde, à hora do sol-posto, para visitas, exposições, concertos e uma passada eventual no Bar Nacional, onde não tocava em bebida alcoólica. No Rio de Janeiro, após paciente readaptação ao meio trepidante da cidade, Bandeira publica em 1917 seu primeiro livro de versos, A Cinza das horas, edição de 200 exemplares por ele custeada. Neste livro, a tuberculose está presente, dado o primeiro poema de 1912, cuja última linha é: 'Eu faço versos como quem morre.'

Contudo, na Suíça já entrara em convalescença. As palavras pessimistas do diretor do sanatório não se confirmaram na prática. A tuberculose regredia e, pela primeira vez, o doente sentia a alegria da cura. Não importava que as radiografias mostrassem o pulmão esquerdo velado. Seus versos não mentiam e, no caso Bandeira, a poesia triunfava sobre os raios-X. Nunca poeta algum exprimiu tão bem o que significa para um tuberculoso desenganado a volta da vida:

Plenitude

Vai alto o dia. O sol a pino

ofusca e vibra.

O ar é como forja. A força

nova e pura

Da vida embriaga e exalta. E eu

sinto, fibra a fibra,

Avassalar-me o ser a vontade da

cura.

A recordação de tantos anos de sofrimento não abandonaria o poeta. E aquela sentença fatal do médico suíço nunca se apagaria de sua mente. A morte está presente em toda poesia de Bandeira, embora ele se recuse bravamente a morrer. Esta atitude de Bandeira é única na história da literatura.

E ocorreu então um fato insólito. À medida que os anos passavam e o poeta ia sentindo cada vez mais confiança em sua sobrevivência, mudou sua atitude diante da morte. Passou a esnobá-la, encarando-a não mais como um predestinado a cedo entregar-se em seus braços. Já então se considerava um simples mortal, nascido em ventre de mulher, sem aquela marca de maldição que lhe fora aposta no sanatório. Já estava descompromissado do prognóstico fatal. E passou a tratar as parcas com ironia, a sua inconfundível ironia...

Meu conhecimento de Manuel Bandeira foi praticamente da vida inteira, crescendo da admiração à distância para uma sólida amizade que culminou na intimidade quase sagrada que se estabelece entre o médico e o cliente.

Foi em 1926 que conheci Manuel Bandeira pessoalmente. O Rio era então agitado pelo movimento de renovação artística e literária nascido em 1922, mas já havia em torno do poeta toda uma lenda, senão uma auréola. Quem não conhecia de cor aqueles seus versos românticos? ...

Minha amizade com Bandeira tinha raízes remotas e quem não ficaria amigo de Bandeira? Em 1928, a tuberculose me deporta para Campos do Jordão. Os companheiros que me escreviam falavam do interesse do poeta pela minha saúde e da alegria pelo meu restabelecimento. Quando, em 1933, volto para o Rio, já vencida a velha doença, encontro Bandeira na rua, que me declara: 'Agora que somos colegas, você será o meu médico'. Foi então que seu mistério se aclarou. Ele tinha sofrido uma tuberculose extensa e grave, das que dificilmente perdoam, como ele próprio dizia. Cicatrizes esparsas no pulmão direito e o pulmão esquerdo destruído. O processo cicatricial tinha transformado aquele pulmão em um bloco de fibrose, com brônquios dilatados, onde o catarro se acumulava. Era a chamada 'doença da cura': a tuberculose se fora, mas deixara um pulmão mutilado e fora de função. Daí a tosse e a expectoração que procurava controlar, como aprendera no sanatório. Toda manhã, Bandeira fazia a denominada toalete brônquica. Procurava expectorar o máximo para esvaziar o catarro que se acumulara durante a noite. Depois do almoço, repousava, de acordo com o ritual do sanatório. E à tarde, lépido e fagueiro, descia de Santa Tereza, ou dos apartamentos em que passara a residir, para a vida da cidade. E, assim, Bandeira chegou aos 80 anos, já transformado em monumento nacional. Foi quando sua saúde começou a preocupar. Tentei preservar-lhe ao máximo o aparelho respiratório. Nebulizações e antibióticos, tapotagem e drenagem postural mantinham-no limpo e protegido. Mas... o aparelho digestivo fraquejava. Aos 82 anos, Clementino Fraga Filho, seu clínico dedicado, transfere-o para uma casa de saúde, onde o acompanhávamos solicitamente. Na manhã de sua morte, visitei-o. Nada fazia prever o desfecho temido. Gerson Pomp, o assistente designado para acompanhá-lo mais de perto, chegou algumas horas depois, quando surgiu, incontrolável, a hemorragia digestiva. Bandeira não teve a morte pulmonar esperada para os de sua geração. Hoje, a doença dos poetas é outra, a se traduzir no stress que a violência reinante lhes impõe. Em nosso Bandeira, foi o duodeno que se rompeu. Não mais a morte lírica dos tuberculosos, mas a morte banal de uma úlcera digestiva. Tal como Bandeira, que trocou a exaltação romântica pela poesia do quotidiano."

Aloysio de Paula

Manuel Bandeira a Ribeiro Couto:

"Nós somos uns tísicos duros de esfolar!

Coqueluche pra gente é pretexto pra conhecer Briançon.

Viva o poeta com sua tuberculose!"

14 de setembro de 1930

FONTES UTILIZADAS:

I. Depoimentos orais

Aldo Villas-Boas (1991), Aloysio de Paula (1990), Germano Gerhardt (1992), José Rosemberg (1991), Raphael de Paula Souza (1990). (Acervo de depoimentos orais 'Memória da Tuberculose', Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz).

II. Correspondência

Manuel Bandeira; Ribeiro Couto (Arquivo Museu de Literatura Brasileira, Fundação Casa de Rui Barbosa).

III. Artigo

Paula, Aloysio de. 'A Doença de Manuel Bandeira". Comunicação à Academia Nacional de Medicina, 17 de abril de 1986. Jornal Brasileiro de Medicina. V. 52, nº 17, pp. 15-20, abril de 1987.

IV. Depoimentos escritos

Constantes em Nogueira, Oracy. 'Experiências sociais e psíquicas do tuberculoso pulmonar em São Paulo'. Sociologia — Revista Didática e Científica, nº 4. São Paulo, Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 1949.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jul 2006
  • Data do Fascículo
    Fev 1995
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