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T e s e s

T E S E S

Um certo olhar sobre a velhice: a narrativa memorialista de Pedro Nava

O objetivo da dissertação é investigar as transformações do envelhecimento a partir das narrativas produzidas pelas lembranças. Busca destacar a especificidade do papel da memória no processo de envelhecimento e a sua força de transformação. A pertinência do tema está ligada à marcada expressão que o contingente de pessoas idosas adquiriu nos anos recentes ao ganhar visibilidade cada vez maior, impondo-se como um grupo com demandas e características próprias.

No estudo, articulam-se os conceitos de sujeito, de memória e de narratividade. Na primeira parte, desenvolve-se a noção de sujeito, desde a invenção de um eu central, fundamento de uma unidade de expressão, até a fragmentação do eu, expressão crítica na contemporaneidade. Na segunda parte, o estudo da memória, acompanhamos a passagem de uma memória definida como permanente e reprodutora para uma descrição de memória como uma habilidade criativa, capaz de retrospectivamente produzir novas narrativas. São as idéias de Freud, com o tempo do 'a posteriori', e de Bergson, com a dimensão de ato, que nos definem esse campo de estudo. Na terceira parte, estudamos o conceito de narratividade, explorando diversos aspectos além do campo literário, principalmente por meio de autores que analisam esse conceito dentro do ponto de vista biológico. Daniel Dennett, que define o eu como uma rede de narrativas efeito da ação do cérebro na sua interação com o meio, Mark Turner, que define a mente como literária, autores que oferecem argumentos interessantes para a discussão da relação mente-corpo.

Com a rede conceitual sujeito, memória e narrativa estabelecida, mergulhamos na obra de Pedro Nava, que expõe de maneira impressionante o processo de envelhecimento, fazendo dos fragmentos de sua memória matéria linguística. Um velho médico, que aos sessenta e cinco anos resolve escrever suas memórias, em pouco tempo e num fôlego só produz uma obra admirável. Dividimos essa viagem ao mundo de suas lembranças em três etapas. A primeira gira em torno da pergunta por que Nava resolve escrever. Por que agora e de forma tão urgente? A segunda parada nos leva à pergunta quem é esse sujeito que insiste nas memórias. Um sujeito feito de restos, pedaços em que tudo é transformado em matéria linguística nos espaços em branco e nas falhas da memória. E na terceira parada acompanhamos a metamorfose de Nava, transfigurado por sua própria narrativa.

A obra de Nava destarte se nos ofereceu como a expressão do papel específico da memória em novas formas de inclusão e redescrições do velho na vida.

Angela Maria Carneiro Silva

Dissertação de Mestrado, 2001

Área de Ciências Humanas e Saúde

Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Rua João Lira, 161/301

22430-210 Rio de Janeiro — RJ

ângela_k@ig.com.br

Intuição e arte de curar: pensamento e ação na clínica médica

Trata-se de estudo de natureza teórico-conceitual que pretende contribuir para a análise da questão da cura e do cuidado na cultura ocidental contemporânea.

Partimos de uma hipótese inicial que preconiza a existência de uma crise sócio-cultural envolvendo as relações da sociedade com a biomedicina. Procuramos mostrar que, nos últimos séculos, a medicina ocidental vem, direcionando seu olhar para a ciência das doenças, devido ao seu grau de determinação e objetividade, e deixando de lado a arte de curar, que exige do terapeuta mais do que assimilação de conhecimento: exige sensibilidade e intuição para lidar com o novo, o contingente e o desconhecido. Visamos apresentar a terapêutica como elemento fundamental da medicina e pilar da prática médica; que conjuga, em seu saber, uma instância voltada para a ciência e para a técnica, com seus conhecimentos descritos e classificados, e outra que compartilha a experiência do viver com a arte de curar. Ao mesmo tempo, problematizamos o modelo médico dominante em nossa cultura, revalorizando a relação médico-paciente, e recolocando o indivíduo doente como um todo, com sua singularidade, no centro das investigações.

Nosso objetivo específico foi trabalhar com a categoria da intuição como elemento básico do conhecimento da prática terapêutica, através da análise do processo que envolve terapeutas e pacientes ao longo do tratamento. Servimo-nos do método intuitivo proposto pelo filósofo Henri Bergson, visando colocar os limites de um pensamento estritamente racional e propondo a transposição deste método para a instância da clínica médica. A intuição foi tratada neste estudo como uma forma sintética de percepção/pensamento, na qual a realidade é apreendida por meio de uma consciência imediata, pautada pelos sentidos e na sensibilidade.

Estudo interdisciplinar, a tese tem dois eixos de narrativa: um no campo da filosofia, de onde importamos determinadas categorias para o campo da saúde coletiva, e outro no plano da análise da sociologia do conhecimento ou da cultura, que se deu na instância do discurso da clínica.

Maria Beatriz Lisboa Guimarães

Tese de doutoramento, 2001

Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

O teatro das coisas naturais: conhecimento e dominação neerlandesa no Brasil (1624-1654)

Entre os anos de 1637 e 1645 os naturalistas Guilherme Piso e Jorge Marcgrave realizaram viagens científicas ao Novo Mundo. Destas viagens resultaram as obras História natural do Brasil (1648) e História natural e médica da Índia Ocidental (1658). A Análise destas obras e as circunstâncias e objetivos que envolveram suas realizações são o fio condutor desta tese. A partir da metáfora do teatro para se referir à natureza, recorrente durante o século XVII, identificamos nas formas de apreensão do mundo natural e nas suas representações a especificidade da maneira pela qual os neerlandeses estruturaram e exerceram o domínio sobre o espaço colonial durante a época moderna.

Heloisa Meireles Gesteira

Tese de doutoramento, 2001

Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense

heloisag@visualnet.com.br

A medicina da mulher: visões do corpo feminino na constituição da obstetrícia e da ginecologia no século XIX

O objetivo geral é compreender como se deu a constituição de um campo discursivo voltado para a diferença sexual feminina. Este campo de estudos não é novo, afinal insere-se numa tradição consolidada. Contudo, a medicina voltada para a mulher, tal como se constituiu e se legitimou no século XIX, é original devido aos seus métodos, ao pragmatismo de suas intervenções e de seus discursos. Esta prática médica revestiu-se de autoridade científica ao ratificar, com a força das leis naturais, as hierarquias e desigualdades sociais de gênero.

O século XIX é pródigo na produção de saberes e definições sustentados por métodos quantitativos e técnicas aplicáveis à materialidade dos corpos. Nossa intenção é desvendar o papel cultural da obstetrícia e da ginecologia na definição oitocentista da mulher, entender seu vocabulário, suas estratégias de objetivação, a força de suas verdades. Fizemos um inventário desses discursos, começando por aqueles produzidos na Europa, analisando tratados e manuais de obstetrícia e de ginecologia publicados desde a década de 1830 na França e na Inglaterra. Afinal, constituem o corpus principal do conhecimento sobre a mulher sendo apropriados em outros locais de formação dos médicos, como as faculdades de medicina brasileiras.

Procuramos salientar como os médicos brasileiros se posicionaram no debate a respeito da natureza feminina, quais questões os mobilizaram, visando acompanhar as linha de continuidade com a produção estrangeira e os pontos de ruptura, as particularidades deste saber no meio médico brasileiro. O objetivo é demarcar as condições do ensino médico, o tipo de conhecimento aqui produzido, os temas abordados, as condições de exercício da clínica obstétrica e ginecológica.

Ana Paula Vosne Martins

Tese de doutoramento, 2000

Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Estadual de Campinas

ana _ martins@uol.com.br *

Euclides da Cunha, a Amazônia e os viajantes: o pensamento nacional no paraíso em construção.

A dissertação consiste na análise dos textos de Euclides da Cunha referentes à sua experiência como Chefe da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto-Purus, encarregada de estabelecer a fronteira entre estes países na região do Acre. Estes textos se revelam como uma continuação da análise de Euclides sobre a realidade brasileira e seu potencial de desenvolvimento através da evolução histórica de uma essência nacional, centrada no tipo sertanejo, agora em uma nova realidade espacial, a Amazônia, e não mais o sertão nordestino. Desta forma a Amazônia aparece como uma região inexplorada, ainda em fase de amadurecimento, precisando da intervenção humana para um desenvolvimento completo de suas potencialidades, intervenção que seria privilegiada se feita pelos sertanejos, tipo que depende de um isolamento geográfico que lhe permitisse uma estabilidade racial necessária a sua evolução enquanto raça. Ao meio ainda inacabado se une o elemento racial também ainda instável, para a concretização de um tipo brasileiro necessário à nossa afirmação enquanto nação, inclusive através da conclusão de uma superioridade racial sertaneja sobre os peruanos e indígenas na relação com o meio amazônico.

Para a compreensão da concepção de Euclides da Cunha sobre a Amazônia em sua relação com diferentes tipos raciais, tornou-se necessária a abordagem de diferentes viajantes que passaram pela região durante o século XIX e suas influências sobre o autor privilegiado em nosso estudo, como Alexander Von Humboldt, Louis Agassiz, Alfred R. Wallace e Henry W. Bates, além da obra decisiva para estas questões à época, A origem das espécies, de Charles Darwin. Também contemplou-se o contexto das relações diplomátcas sobre a Amazônia no período, coordenadas pelo Barão do Rio Branco, responsável pela escolha de Euclides da Cunha para esta missão.

Wagner Santos de Barros

Dissertação de Mestrado, 2000

Programa de Pós-Graduação em

História Social da Cultura

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jan 2004
  • Data do Fascículo
    Dez 2001
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