Acessibilidade / Reportar erro

Violência e saúde como um campo interdisciplinar e de ação coletiva

Violence and health care as an interdisciplinary field and an arena for collective action

Resumos

Este artigo tenciona apresentar a complexidade da reflexão sobre violência e saúde e, ao mesmo tempo, o campo de possibilidades que a temática abre tanto para a colaboração ínterdisciplinar, como para a ação multiprofissional. Busca elaborar uma crítica das visões que absolutizam o sentido da violência, sem, no entanto, pretender apontar uma resposta definitiva. Adverte para o risco epistemológico e prático de reducionismo que corre o setor de saúde ao querer tratar esse fenômeno como urna epidemia e para a necessidade de colaboração intersetorial e com a sociedade civil. É um artigo aberto, com mais perguntas que respostas, mas apresentando uma proposta interdisciplinar entre as ciências sociais, a epidemiologia e a psicologia.

violência e saúde; interdisciplinaridade; causas externas


While the question of violence and health is a complex one, it opens the door for interdisciplinary collaboration and multi professional efforts. Although this article does not intend to provide any definitive responses, it does endeavor to critique viewpoints that attribute an absolute meaning to the term 'violence'. It warns that this health-care sector runs the epistemological and pratical risk of falling into reductionism when it addresses violence as if it were an epidemic. Furthermore, this sector needs to collaborate with other sectors and wth civil societyu. More than offering answers, the article raises questions within the framework of an interdisciplinary approach encompassing the social sciences, epidemology and psychology.

violence and health; interdisciplinary studies; external causes


ANÁLISE

Violência e saúde como um campo interdisciplinar e de ação coletiva

Violence and health care as an interdisciplinary field and an arena for collective action

Maria Cecília de Souza MinayoI; Edinilsa Ramos de SouzaII

IDoutora em saúde pública, professora adjunta da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), vice-presidente de Informação, Comunicação e Meio Ambiente da Fiocruz

IIPesquisadora associada da Ensp/Fiocruz. Ambas participam do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/Ensp/Fiocruz) Av. Brasil 4036, sala 702 Manguinhos 21040-360 Rio de Janeiro &— RJ Brasil

RESUMO

Este artigo tenciona apresentar a complexidade da reflexão sobre violência e saúde e, ao mesmo tempo, o campo de possibilidades que a temática abre tanto para a colaboração ínterdisciplinar, como para a ação multiprofissional. Busca elaborar uma crítica das visões que absolutizam o sentido da violência, sem, no entanto, pretender apontar uma resposta definitiva. Adverte para o risco epistemológico e prático de reducionismo que corre o setor de saúde ao querer tratar esse fenômeno como urna epidemia e para a necessidade de colaboração intersetorial e com a sociedade civil.

É um artigo aberto, com mais perguntas que respostas, mas apresentando uma proposta interdisciplinar entre as ciências sociais, a epidemiologia e a psicologia.

Palavras-chave: violência e saúde, interdisciplinaridade, causas externas.

ABSTRACT

While the question of violence and health is a complex one, it opens the door for interdisciplinary collaboration and multi professional efforts. Although this article does not intend to provide any definitive responses, it does endeavor to critique viewpoints that attribute an absolute meaning to the term 'violence'. It warns that this health-care sector runs the epistemological and pratical risk of falling into reductionism when it addresses violence as if it were an epidemic. Furthermore, this sector needs to collaborate with other sectors and wth civil societyu. More than offering answers, the article raises questions within the framework of an interdisciplinary approach encompassing the social sciences, epidemology and psychology.

Keywords: violence and health, interdisciplinary studies, external causes.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido para publicação em outubro de 1997.

  • Adorno, S. 1989 Raízes político-ideológicas da violência. São Paulo, NEV.
  • Agudelo, S. F. 1990 'La violência: un problema de salud pública que se agrava en la region'. Boletin Epidemiologico de la OPS, nş 11, pp. 1-7.
  • Assis, S. G. de 1995 Trajetória sócio-epidemiológica da violência contra a criança e o adolescente. Tese de doutoramento, Rio de Janeiro, Ensp/Fiocruz.
  • Birman, Joel 17.6.1997 'As alquimias do mal-estar da atualidade'. Jornal do Brasil, p. 9.
  • Boulding, E. 1981 'Las mujeres y la violencia social'. Em A. Joxe (org.), La violencia y sus causas. Paris, Unesco, pp. 265-79.
  • Burke, P. 1995 'Violência social e civilização'. Braudel Papers, nş 12, pp. 1-8.
  • Bush, C. R. S. 1992 'A estruturação do eu e o fenômeno dos meninos de rua. A violência no jovem de hoje. Por quê?'. Boletim Científico (edição especial), Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro, ano XIII, nş 1, pp. 17-24
  • Cerqueira, G. 1987 A violência na boca do povo. Porto Alegre, Ed. Sérgio Fabris.
  • Chesnais, J. C. 1981 Histoire de la violence. 2Ş ed., Paris, Pluriel.
  • Coelho, E. C. 1987 'A criminalidade violenta urbana'. Série Estudos, Rio de Janeiro, Iuperj.
  • Costa, J. F. 1986 Violência e psicanálise. Rio de Janeiro, Graal.
  • Cruz Neto, O. e Minayo, M. C. de S. 1995 Corpos e sonhos destruídos. 'Introdução'. Rio de Janeiro, Ensp/Fiocruz. (mimeo.)
  • da Matta, R. 1982 'As raízes da violência no Brasil'. Em P. S. Pinheiro (org.), Violência brasileira. São Paulo, Brasiliense, pp. 49-54.
  • Debord, Guy 1997 A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro, Contraponto.
  • Denisov, V. 1986 Violência social: ideologia y política. Moscú, Editorial Progreso.
  • Domenach, J. M. 1981 'La violencia'. Em A. Joxe (org.), La violencia y sus causas. Paris, Unesco, pp. 33-46.
  • Engels, F. 1974 A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. Lisboa, Ed. Presença.
  • Engels, F. 1972 Théorie de la violence. Paris, Edition 10/18.
  • Fajardo, E. 1988 Em julgamento a violência no campo. Rio de Janeiro, Fase/Vozes.
  • Freud, S. 1974 'Reflexões para os tempos de guerra e morte'. Em Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro, Imago, pp. 311-39.
  • Gilligan, J. 1996 Violence. Nova York, G. P. Putnam's Sons.
  • Guerra, A. G. 1990 O crime, realidade, desafio: abordagem psicodinâmica do homicídio. Recife, s. ed.
  • Habermas, J. 1980 'O conceito de poder em Hannah Arendt'. Em Habermas. São Paulo, Ática.
  • Hegel, G. F. 1969 Filosofia del espíritu. Buenos Aires, Ed. Claridad.
  • Huntington, S. 1968 Political order in changing societies. Nova York, New Heaven.
  • Lasch, C. 1987 O mínimo eu: sobrevivência psíquica em tempos difíceis. 4Ş ed., São Paulo, Brasiliense.
  • Lawrence, J. 1970 'Violence'. Em Social theory and practice. Nova York, Penguin Books, vol. I, pp. 35-6.
  • Lorenz, K. 1979 A agressão, uma história natural do mal. 2Ş ed., Lisboa, Ed. Moraes.
  • Marx, K. 1967 Writings of the young Marx on philosophy and society. Nova York, Dobleday and Company.
  • Marx e Engels 1971 La sagrada familia. 2Ş ed., Buenos Aires, Ed. Claridad.
  • Mauss, M. 1974 Sociologia e antropologia. São Paulo, Edusp, vol. 1.
  • Mello Jorge, M. H. 1994 'Acidentes de trânsito no Brasil: dados e tendências'. Cadernos de Saúde Pública, nş 10, pp. 19-44. Suplemento 1.
  • Mello Jorge, M. H. 1988 Investigação sobre mortalidade por acidente e violência na infância. Tese de livre-docência, São Paulo, FSP.
  • Merton, R. 1968 Sociologia, teoria e estrutura. São Paulo, Mestre Jou.
  • Minayo, M. C. de S. 1994 'A violência social sob a perspectiva da saúde pública'. Cadernos de Saúde Pública, nş 10, pp. 7-18. Suplemento 1.
  • Minayo, M. C. de S. e Souza, E. R 1993 'Violência para todos', Cadernos de Saúde Pública, nş 9, pp. 65-78.
  • Minayo, M. C. de S. 1990 Análise da produção intelectual brasileira sobre violência e saúde. Rio de Janeiro, Panorama Ensp.
  • Mitscherlich, A. 1971 Psicoanalysis y la agresión en grandes grupos. Madri, Ed. Tavares.
  • Morin, E. Jan. 1970 'Risk of death. Revolution. Violence'. Solidarity, Manila, vol. 5, nş 1, pp. 46-9.
  • Nielburg, H. 1959 'The behavioral violence'. Em Political violence. Nova York, Penguin Books, p. 15.
  • Oliven, R. G. 1983 Violência e cultura no Brasil. Petrópolis, Vozes.
  • Oliven, R. G. 1982 Violência e cidade. Rio de Janeiro, Zahar.
  • Opas 1995 Salud y violencia. Plan de Acción Regional. Washington, (mimeo.)
  • Opas 1993 Resolución XIX: Violencia y salud. Washington, (mimeo.)
  • Pinheiro, P. S. 1982 Violência brasileira. São Paulo, Brasiliense.
  • Pires, C. 1986 A violência no Brasil. 3Ş ed., São Paulo, Moderna.
  • Sartre, J. P. 1980 'Questão de método'. Em Sartre. São Paulo, Abril. Os Pensadores.
  • Sorel, G. 1970 Réflexion sur la violence. Paris, Minuit.
  • Souza, E. R. de; Assis, S. G. de e Silva, C. M. F. P. de 1997 'Violência no município do Rio de Janeiro: áreas de risco e tendência da mortalidade entre adolescentes de dez a 19 anos'. Revista Panam Salud Publica, vol. 1 (5), pp. 389-98.
  • Souza, E. R. de 1994 'Homicídios no Brasil: o grande vilão da saúde pública'. Cadernos de Saúde Pública, nş 10, pp. 45-60. Suplemento 1.
  • Thorpe, W. ago.-set. 1970 Unesco Courier, p. 40.
  • Vethencourt, J. L. set.-dez.1990 'Psicologia da violência'. Gaceta APUCV, ano 11, nş 62, pp. 5-10.
  • Weisberg, B. 1995 Violence, a public health epidemie (to appear in the jaxfax of the National Rainbow Coalition), (mimeo.)
  • Wilson, C. 1964-65 'Crimes of freedom and their cure'. The 2Oth Century, vol.173, nş. 1.024.
  • Wilson, E. 1977 'Human sociobiology: a preface'. Essays in human sociobiology. Nova York, Haven Press, pp. 1-50.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Set 2006
  • Data do Fascículo
    Nov 1997

Histórico

  • Recebido
    Out 1997
Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz Av. Brasil, 4365, 21040-900 , Tel: +55 (21) 3865-2208/2195/2196 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: hscience@fiocruz.br