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A PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO - TESTEMUNHO DE UM AUTOR: ENTREVISTA COM LÚCIO KREUTZ

THE RESEARCH ON HISTORY OF EDUCATION - TESTIMONY OF AUTHOR: INTERVIEW WITH LUCIO KREUTZ

“Vinte e seis de março de mil novecentos e quarenta e um, meio-dia. Cecília Ludwig, parteira, suspendeu a preparação do almoço para atender a mais um chamado. Dessa vez iria para o lote nº 41, da Linha Central, em Santo Cristo, à casa de Isidoro Kreutz. Eu havia dado sinais de querer nascer” (KREUTZ, 2011, p. 25). Com essas palavras, o Professor Lúcio Kreutz inicia a narrativa de suas memórias mais remotas de existência e processo de escolarização em livro intitulado Tempos de Escola - memórias, organizado pela Professora Beatriz Daudt Fischer1 FISCHER, B. T. D. (Org.). Tempos de Escola – memórias. São Leopoldo: Oikos; Brasília: Liber Livro, 2011. . No capítulo, Kreutz relembra histórias da infância, em família de descendentes de imigrantes alemães, vivendo em área rural, no noroeste do Rio Grande do Sul, em época de nacionalização varguista. Reflete sobre os efeitos da nacionalização, sobre as vivências em escola lassalista, os encontros em família, que ele assim descreve: “Nossa família era de pequenos agricultores, com dez filhos, todos com escola paga pelos pais. Tínhamos o suficiente para não passar fome e frio, mas vivíamos de forma muito modesta, à base de muita economia” (KREUTZ, 2011, p. 33). Após ter cursado a quinta série seguiu para estudar no seminário, permanecendo por mais de catorze anos estudando.

O professor Lúcio Kreutz concluiu a graduação em Filosofia em 1966 e a graduação em Pedagogia no ano seguinte, ambas cursadas e concluídas na Faculdade de Filosofia Imaculada Conceição de Viamão, Rio Grande do Sul. Em 1979, concluiu o Mestrado em Educação pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e o doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 1985. Constituiu longa trajetória como professor e pesquisador, tendo atuado na Universidade Federal de Viçosa, após na Universidade do Vale do Rio dos Sinos e na Universidade de Caxias do Sul. Desde março de 2016 está aposentado.

Nessa entrevista, iniciamos tratando de algumas de suas memórias pessoais: como foi seu encontro e seu interesse com a História da Educação?

De alguma forma este contato se deu na graduação em Filosofia e Pedagogia. No curso de Pedagogia tivemos História da Educação, mas foi de forma muito incipiente. O que me ajudou mais foi a História da Filosofia, no curso de Filosofia. A história do pensamento humano foi trabalhada bastante bem e indiretamente me ajudou no estudo posterior da História da Educação.

Na pesquisa comecei a tratar da história da educação, ainda de maneira incipiente, com a dissertação de mestrado2 2 A dissertação de mestrado, concluída em 1979 sob orientação do Professor Dr. Osmar Fávero, foi intitulada “Os movimentos de educação popular no Brasil de 1961–64”. , em 1977/8, no Iesae/FGV/RJ, e, de modo mais direto, com a tese de doutorado3 3 A tese de doutorado foi concluída em 1985, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob orientação de Luiz Antônio Cunha, com o título “Magistério e Imigração Alemã. O professor paroquial católico teuto-brasileiro no Rio Grande do Sul no movimento da Restauração”. , na primeira metade de 1980, na PUC/SP. No entanto, o que mais marcou minha atividade neste sentido foi a fundação do GT de História da Educação da ANPEd, coordenado inicialmente por Ester Buffa, depois por Clarice Nunes e, em seguida, por Marta Carvalho. Os encontros promovidos pelo GT foram muito importantes para mim, tanto pela troca de experiências quanto pelas discussões teóricas. Inicialmente, na década de 1980, minha pesquisa sobre a temática do processo escolar entre imigrantes alemães no RS causava bastante estranheza junto aos colegas, era o período com ênfase forte nas dimensões econômico-sociais dos processos educativos. A partir da década de 1990 é possível perceber uma crescente atenção para os processos culturais e as pesquisas sobre os grupos étnicos e suas relações com a educação foi recebendo mais espaço e reconhecimento.

Quais temas de pesquisa inicialmente tiveram a sua atenção? Quais estudiosos influenciaram sua formação historiográfica?

Iniciei pesquisando os três principais movimentos de educação popular no Brasil, a partir do final da década de 1950, respectivamente, MEB, MCP e CPC. Neste caso, minha referência teórica principal foi Antônio Gramsci. No doutorado, sob a influência de Paulo Freire, então meu professor na PUC/SP, optei por pesquisar o processo educacional dos imigrantes alemães nas escolas comunitárias do RS. A partir de então, senti a necessidade de embasar-me em categorias que permitissem ir além da perspectiva econômico-social do processo, o que foi um desafio bastante grande por não conhecer literatura que me auxiliasse para este caso específico. As publicações e palestras do filósofo cubano radicado na Alemanha, Raul Fornet Betancourt, em base filosófica/antropológica, abriram-me horizontes para a dimensão cultural e a relação intercultural, dialógica, também considerada constituinte do processo histórico, e em algumas situações específicas, talvez mais importante do que o econômico e o social. Esta base é importante para tratar da educação entre os imigrantes. E, aos poucos alguns autores vinculados com a História Cultural tornaram-se referências importantes para as pesquisas. Porém, a referência marxista, na década de 1980, e a da História Cultural, a partir dos anos 1990, não me marcaram de modo abrupto e radical. Tenho impressão que andei navegando um pouco nessas duas vertentes, sem radicalidade para uma ou outra. Entendo que os processos humanos sempre ocorreram no concurso simultâneo dessas diversas dimensões. Como diz o antropólogo Ulf Hannerz, somos um constante movimento (processo) de interferências múltiplas. Acredito que o diálogo entre as diversas vertentes de análise pode favorecer o entendimento dos processos educativos, que sempre se apresentam múltiplos, miscigenados.

Em um balanço de sua trajetória de pesquisa, que contribuições destacarias?

Minha tese de doutorado sobre Magistério e Imigração Alemã no RS tornou-se uma referência, porque foi o primeiro estudo acadêmico neste sentido. Sua publicação por três editoras universitárias (Ufrgs, UFSC e UCS) deve ter contribuído para sua difusão e para o reconhecimento da temática. A partir de então, fui apresentando resultados de pesquisa em eventos, em periódicos e em capítulos de livros na área. Imagino que meus textos sobre o processo escolar entre os imigrantes, publicados nas duas coleções de História da Educação no Brasil, (respectivamente da Editora Autêntica, e pouco depois outra publicação em três volumes da Editora Vozes)4 4 As referências para os textos mencionados são: KREUTZ, L.. A educação de imigrantes no Brasil. In: LOPES, E. M.; FARIA FILHO, L.M.; VEIGA, C.G. (Org.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p. 347-370. E, também: KREUTZ, L.. Escolas étnicas na história da educação brasileira: a contribuição dos imigrantes. In: STEPANHOU, M. e BASTOS, M. H. C. (Org.). Histórias e memórias da educação no Brasil. Século XIX. Vol. II – 1ed. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 150-165. tiveram influência no sentido do reconhecimento e difusão dessa temática, mas a necessidade de restringir o texto a poucas páginas, não permitiu um desenvolvimento que me parecia mais adequado ao tema. Considero a palestra de abertura do VII Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação (Colubhe), em Porto, Portugal, em 2008, publicado como capítulo de livro pela Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, em 20105 5 KREUTZ, L.. Migrações e culturas em diálogo. In: FELGUEIRAS, M. L.; VIEIRA, C. E. (Org.). Cultura escolar, Migrações e Cidadania. 1 ed. Porto/Portugal: Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, 2010, p. 49-74. , como o texto em que expresso de maneira mais clara meu modo de entender e tentar praticar a pesquisa em História da Educação. Pesquisar o que ocorre no encontro entre culturas, entendendo as etnias em sua dinâmica e mobilidade, é o que andei tentando ao longo dos anos de investigação. Certamente com alguns avanços, mas também com limites e fragilidades.

No contexto atual, como você avaliaria o estado da pesquisa e da disciplina História da Educação? Segundo a sua experiência, quais as perspectivas da história da educação no Brasil e no Rio Grande do Sul?

A partir da expansão da pós-graduação em educação no Brasil, na década de 1970, e, especialmente a partir da fundação do GT História da Educação da ANPEd, na década de 1980, é possível constatar um desenvolvimento crescente e progressivo nas pesquisas em História da Educação, até o presente. Entendo que esta dinâmica vai continuar neste ritmo, pois há muito a ser pesquisado e para nós é importante entender como foram as práticas passadas na Educação, para termos melhores condições de interferir no presente. A pesquisa nesta área é favorecida pelas exigências de produção na pós-graduação, por parte de professores e orientandos, e é fomentada também pela facilidade de intercâmbio entre pesquisadores, por meios eletrônicos e pelas associações que promovem eventos de caráter nacional e internacional. Os pesquisadores contam, ainda, com a possibilidade de apoio financeiro para seus projetos e com a relativa facilidade de socializar os resultados da investigação por meio da publicação em periódicos e coleções especificas sobre as diversas temáticas. Entendo que a pesquisa em História da Educação no Brasil está num bom momento, é muito dinâmica e vem se mostrando com a capacidade de reinvenção constante. Novas perspectivas de pesquisa vão surgindo, apontando a possibilidade de novas temáticas e novas abordagens. Enfim, considero que o cenário é favorável para um avanço substancial e gradativo das pesquisas na área.

Fostes um dos fundadores da Asphe. Como analisas os vinte anos da Associação e da Revista História da Educação.

Apresento algumas considerações relativas ao contexto e às circunstâncias em que um grupo de pesquisadores em História da Educação do Rio Grande do Sul resolveu fundar sua associação científica. Relembro momentos e realizações marcantes nos dois primeiros anos desta associação. Restrinjo-me aos dois primeiros anos da Associação, porque tenho o relatório do que ocorreu no decurso desses dois anos, enquanto era o presidente desta associação, a Asphe.

A fundação da Asphe está relacionada com a participação de alguns de nós, membros fundadores, no GT de História da Educação da ANPEd e no Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil” da Faculdade de Educação da Unicamp (Histedbr). Em 1995, quando se deu o ponto de partida da fundação da Asphe, havia certo estranhamento entre estas duas entidades. O GT de História da Educação da ANPEd vinha congregando os pesquisadores da área, em nível nacional, desde 1985. No início da década de 1990, um grupo de pesquisadores em História da Educação, do Programa de Pós-Graduação em Educação (Ppged) da Unicamp, com muitos orientandos de mestrado e doutorado, começou a organizar uma rede de pesquisadores na área, em diversos estados brasileiros, para um amplo projeto de “Levantamento e Catalogação de Fontes” da História da Educação Brasileira. Originou-se, assim, a Histedbr. Além disso, este mesmo grupo da Unicamp organizou em Campinas o II Congresso Ibero-Americano de História da Educação Latino-Americana, em setembro de 1994, com grande participação, fato este que lhe deu bastante visibilidade. Estas duas iniciativas do Ppged da Unicamp, tomadas independentemente de articulações com o GT de História da Educação da ANPEd, começaram a provocar certo mal-estar em lideranças do GT da ANPEd. Acrescenta-se a este estranhamento uma inflexão maior deste GT na perspectiva teórico-metodológica da História Cultural, enquanto o grupo da Unicamp/Histedbr se caracterizava prevalentemente pela leitura marxista da história. Enquanto este grupo estreitava a vinculação com colegas pesquisadores da América Latina, o GT 02 da ANPEd aproximava-se dos colegas de Portugal, originando-se daí a organização dos Congressos Luso-Brasileiros de História da Educação, a partir de 1996.

A fundação da Asphe está relacionada com este estranhamento entre lideranças do GT de História da Educação da ANPEd e as lideranças do Histedbr. Diversos pesquisadores do Rio Grande do Sul eram associados e vinham participando das atividades do GT daquela Associação. Ao serem convidados para constituir um núcleo regional do Histedbr, no Rio Grande do Sul, reuniram-se para decidir a respeito. Não querendo gerar constrangimentos com o GT História da Educação da ANPEd, nem com o Histedbr, decidiram não criar o núcleo regional para o Histedbr, mas formar uma associação própria no estado, independente, mantendo a vinculação dos sócios com o GT da ANPEd e incentivando a interlocução com o grupo do Histedbr. É neste contexto, em clima de independência, mas procurando o diálogo, que foi fundada a Asphe.

Foi em outubro de 1995 que, após troca de ideias com a colega Flávia Obino Correa Werle, na Unisinos, dirigi correspondência às instituições de ensino superior do RS, convidando os pesquisadores em história da educação para uma reunião na Unisinos, dia 11 de dezembro do mesmo ano, para tratar de assuntos de interesse comum e fomentar o intercâmbio dos pesquisadores entre si.

Participaram da reunião do dia 11/12/1995 os seguintes pesquisadores: Beatriz Terezinha Daudt (Ufrgs/Unisinos), Berenice Corsetti (UFSM), Elomar Tambara (Ufpel), Flávia Obino C. Werle (Unisinos), Jaime Giolo (UPF), Julieta Beatriz Ramos Desaulniers (PUC/RS), Lúcio Kreutz (Unisinos - coordenador) e Maria Helena Camara Bastos (Ufrgs).

Na reunião optou-se por não criar um núcleo regional do Histedbr, sugerindo-se que os pesquisadores participassem individualmente, na medida do possível, das atividades do GT de História da Educação e também do Histedbr, mantendo o diálogo com estes dois grupos. O foco central das reflexões, nesta reunião, estava relacionado com a ideia central de se pensar mecanismos para incentivar a união e o intercâmbio entre os pesquisadores da área, no estado. Por isto optou-se em formar uma associação regional, com os seguintes objetivos:

  • a) articular as iniciativas de pesquisa na referida área;

  • b) socializar a produção de pesquisa histórica em educação, no estado;

  • c) abrir canais de acesso aos diversos acervos existentes no estado e aos bancos de dados que vão sendo constituídos;

  • d) promover encontros regionais de pesquisa em História da Educação para apresentar e discutir a produção histórico-educacional no estado, bem com refletir sobre as tendências teórico-metodológicas da historiografia educacional.

A partir deste primeiro encontro, foi decidida a realização de nova reunião com os pesquisadores interessados em integrar a associação regional. Esta segunda reunião foi realizada em 07/06/96, também na Unisinos, com os seguintes participantes: Beatriz Terezinha Daudt (Ufrgs), Elomar Tambara (Ufpel), Eva Lisety Ribes (FURG), Flávia O. Correa Werle (Unisinos - coordenadora), Jaime Giolo (UPF), Jorge Luiz da Cunha (UFSM), Luci Elaine Krämer Schwengber (Unisc); Lúcio Kreutz (Unisinos - justificou ausência) e Maria do Carmo da Silva (Urcamp).

No período da manhã os presentes apresentaram uma síntese de suas pesquisas em andamento. Após o almoço, continuou a reunião com a troca de ideias sobre os possíveis canais de comunicação a serem utilizados pelo grupo. Foram lembradas as datas e locais de congressos e simpósios na área, com estímulo para a participação de todos. E o tema central das reflexões da tarde foi a questão da formação de uma associação de pesquisadores em história da educação no Rio Grande do Sul. A opção do grupo foi favorável à formação da associação, decidindo-se alguns encaminhamentos neste sentido, a saber: que os representantes da Ufpel, sob a liderança de Elomar C. Tambara, redigiriam uma proposta de estatuto para a associação a ser criada e que haveria uma nova reunião em dois de setembro do ano em curso (1996), com a seguinte pauta:

  1. discussão da proposta de estatutos da associação, elaborada pelos representantes de Pelotas;

  2. proposta concreta da criação da revista da associação, também a cargo da equipe de Pelotas;

  3. apresentação de algumas pesquisas relativas à história da educação no Rio Grande do Sul durante a República Velha. Foram inscritos:

  • Berenice Corsetti (UFSM);

  • Elomar A. C. Tambara (Ufpel);

  • Jaime Giolo (UPF);

  • Lúcio Kreutz (Unisinos).

A reunião de dois de setembro, já com maior número de participantes, começou com a apresentação da proposta de estatuto para a associação a ser criada. Os representantes da Ufpel, Elomar A. Calegaro Tambara, Eduardo Arriada e José Fernando Kieling apresentaram uma proposta cuidadosamente preparada. Posta em discussão, houve algumas alterações e a seguir os presentes decidiram criar a Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação (Asphe), com os seguintes objetivos:

  • a) incentivar e realizar a pesquisa e a divulgação na área de História da Educação, prioritariamente no Rio Grande do Sul;

  • b) congregar pesquisadores e estudiosos na área de História da Educação no Rio Grande do Sul;

  • c) manter intercâmbio com entidades congêneres (Estatuto da Asphe, cap. 2).

Estiveram presentes a esta reunião de fundação da Asphe, os seguintes pesquisadores em história da educação, representando nove Universidades e/ou Instituições de Ensino Superior no Rio Grande do Sul, sendo considerados os sócios fundadores da Asphe: Beatriz Terezinha Daudt (Ufrgs/Unisinos), Berenice Corsetti (UFSM), Dagmar Esterman Meyer (Ufrgs), Eduardo Arriada (Ufpel), Elomar A. C. Tambara (Ufpel), Eva Lisety Ribes (FURG), Flávia Obino Correa Werle (Unisinos), Guacira Lopes Louro (Ufrgs), Jaime Giolo (UPF), Jorge Luiz da Cunha (UFSM), José Fernando Kieling (Ufpel), Julieta Beatriz Ramos Desaulniers (PUC/RS), Luci Elaine Krämer Schwengber (Unisc), Lúcio Kreutz (Unisinos), Maria do Carmo da Silva (Urcamp), Maria Helena Camara Bastos (Ufrgs) e Maria Stephanou (Ufrgs).

A seguir os sócios fundadores elegeram a primeira diretoria da Asphe, assim constituída: Lúcio Kreutz - presidente; Elomar A. C. Tambara - vice-presidente; Flávia O. C. Werle - secretária.

Também foi decidida a criação de uma revista para a Asphe, com o título de História da Educação, sob a Comissão Executiva de Elomar A. C. Tambara e Eduardo Arriada, a ser impressa na Ufpel. Para o Conselho Editorial foram indicados: Elomar A. C. Tambara, Maria Helena Camara Bastos, José Fernando Kieling e Lúcio Kreutz. No mesmo encontro de fundação oficial da Asphe, em dois de setembro de 1996, foram apresentadas e discutidas as pesquisas de Berenice Corsetti e Elomar A. C. Tambara. O encontro caracterizou-se pela intensa participação dos associados, com o estímulo para o intercâmbio e a participação nos eventos da área. Os sócios-fundadores comprometeram-se com uma anuidade para a associação.

Por fim, ficou decidido que o I Encontro Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação, após a fundação de sua entidade científica, seria realizada nos dias 28 e 29 de abril de 1997, na Unisinos, com dois blocos de assuntos principais:

  • a) apresentação dos principais arquivos e acervos do RS com fontes para a história da educação;

  • b) apresentação de pesquisas de associados da Asphe.

No período entre a reunião da fundação da Associação e o Primeiro Encontro, associaram-se os seguintes pesquisadores (as): Agostinho Mário Dalla Vecchia (Ufpel), Ceres Karan Brum (UFSM), José Licíneo Backes (Unisinos), Liceo Piovesan (Unisinos), Luciana Storck de Mello (Unisinos), Marcos Corbellini (La Salle/Unisinos), Marlene Gallina Rego Lorenzi (SEC/RS), Regina Portella Schneider (SEC/RS), Rosângela Montagner (UFSM) e Valeska Fortes de Oliveira (UFSM).

O Primeiro Encontro Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação foi realizado, conforme decisão anterior, nos dias 28 e 29 de abril de 1997, na Unisinos. Para este encontro a diretoria conseguiu o apoio financeiro da Fapergs. Por isto e também para estimular a articulação dos associados com esta Fundação de Amparo à Pesquisa do RS, a diretoria permitiu-se incluir, junto à programação prevista, uma apresentação do Diretor Técnico-Científico da Fundação, Carlos Eugênio Daudt.

Assim, na realização do Primeiro Encontro, além da apresentação da Fapergs, houve também a apresentação de dois acervos de pesquisa no RS, conhecidos pelas fontes em história da educação. Assim, houve:

  • a) a apresentação da Fapergs, através de seu Diretor Técnico-Científico, Prof. Carlos Eugênio Daudt;

  • b) a apresentação do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, pelo Prof. Laudelino Teixeira Medeiros;

  • c) a apresentação do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul pela Profa. Acácia Maria M. Hagen.

Os participantes ainda teceram comentários sobre a importância do arquivo do Solar dos Câmara, do Arquivo da Cúria Metropolitana de Porto Alegre e do Arquivo Histórico de Pelotas.

Na segunda parte, houve a apresentação e discussão das pesquisas de:

  1. Jorge Luiz da Cunha (UFSM) - História oral/ histórias da vida: contribuição para a pesquisa em História da Educação;

  2. Valeska Fortes de Oliveira (UFSM) - Imagens, docência e histórias de vida;

  3. Beatriz Terezinha Daudt (Ufrgs/Unisinos) - Foucault e histórias de vida: aproximações e que tais;

  4. Julieta Beatriz Ramos Desaulniers (PUC/RS) - O campo religioso e a formação de trabalhadores;

  5. José Fernando Kieling (Ufpel) - Expansão de agropecuária e a formação de professores rurais;

  6. Elomar A. C. Tambara (Ufpel) - O processo de formação da negritude no Rio grande do Sul no séc. XIX;

  7. Guacira Lopes Louro e Dagmar E. E. Meyer (Ufrgs) - Geerge/Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero e a História da Educação no Rio Grande do Sul;

  8. Dagmar E. E. Meyer (Ufrgs) - Pesquisa em História da Educação da mulher na Alemanha: relatos de um estágio;

  9. Regina Portella Schneider (SEC/RS) - Instrução Pública no Rio Grande do Sul;

  10. Flávia Obino Correa Werle (Unisinos) - Discutindo a institucionalização da instrução pública;

  11. Maria Stephanou (Ufrgs) - A constituição de sujeitos higiênicos: práticas formativas da medicina no Rio Grande do Sul;

  12. Luci Elaine Krämer Schwengber (Unisc) - As políticas da educação básica brasileira em nível de processo legislativo federal, de 1988 a 1996;

  13. Maria Helena Camara Bastos (Ufrgs) - A gênese do projeto público republicano para a educação: o discurso e a ação de Dr. Joaquim José Menezes Vieira - Médico e Educador (1851-1897);

  14. Jaime Giolo (UPF) - Positivismo e catolicismo na educação gaúcha da Primeira República;

  15. Rosângela Montagner (UFSM) - Normalistas em Santa Maria: o caso do Instituto de Educação Olavo Bilac (1945-1975);

  16. Ceres Karan Brum (UFSM) - Lendas missioneiras. Dimensão pedagógica;

  17. Lúcio Kreutz (Unisinos) - Educação e etnia: perspectivas para uma leitura na história da educação;

  18. Agostinho Mário Dalla Vecchia (Ufpel) - A educação dos escravos em Pelotas;

  19. Eduardo Arriada (Ufpel) - Formação do Arquivo Histórico em Pelotas.

  20. Ainda estavam inscritos:

  21. Eva Lisety Ribes (FURG) - A história da educação rural a partir da história das escolas;

  22. Luciana Storck de Mello (Unisinos) - Estudo de Curso Complementar: curso de formação de alunas-mestras;

  23. Marcos Coberllini (La Salle/Canoas) - Itinerário de uma proposta educativa.

A seguir foi realizado o lançamento do primeiro número da Revista História da Educação, da Asphe, prevendo-se, ainda, o lançamento do segundo número para o Encontro Anual da ANPEd, em setembro de 1997. O segundo Encontro da Associação, de um dia, foi marcado para o dia 31/10/97, na UFSM, para a reflexão sobre o tema: Memória e História da Educação.

Por fim, foi eleita a nova diretoria da Asphe, com a presidência de Jorge L. da Cunha (UFSM). Certamente podemos inferir que o movimento de criação da Asphe através da mobilização inicial, de vários encontros preparatórios, juntamente com o esforço dos associados em conhecer pesquisas que vinham sendo desenvolvidas, em conhecer os principais acervos do Estado, de interesse para a pesquisa na área, em estabelecer intercâmbios, sinalizam para uma avaliação positiva. A criação da Revista História da Educação e a continuidade da mesma, através de uma exemplar regularidade na publicação dos números subsequentes, certamente foi e continua sendo o ápice das atividades da Asphe e que lhe dá visibilidade.

Além disto, saliento que, desde o início a Associação está acolhendo e estimulando o entrosamento dos pós-graduandos e bolsistas de Iniciação Científica, aumentando gradativamente o número de participantes nos encontros. Entendo também que é oportuno realçar que desde o início predomina uma postura de diálogo, evitando-se cisões por questões teórico-metodológicas. Estes fatores certamente contribuíram para que representantes da Asphe tivessem presença muito significativa nas atividades de planejamento e de criação da Sociedade Brasileira de História de Educação (SBHE), seja pela liderança na Comissão Preparatória, na discussão pública do processo no Congresso Ibero-Americano de História da Educação Latino-Americana, em Santiago, Chile, em maio de 1998; na 21a. Reunião Anual da ANPEd, em Caxambu, em setembro de 1998; no Encontro Preparatório da Fundação na Faculdade de Educação da UFRJ, em julho de 1999 e, finalmente, na fundação da Sociedade Brasileira de História da Educação, na 22a. Reunião Anual da ANPEd, em Caxambu, em 28 de setembro de 1999.

Entendo que a Asphe foi sendo construída coletivamente, com muita participação e interesse dos associados. Sem desmerecer ninguém, realço a dedicação de alguns membros, com sua equipe, que, em minha avaliação, tiveram um empenho especial ao longo da história da Asphe. Trata-se de Elomar A. C. Tambara e equipe, a quem devemos a concepção e publicação de nossa revista História da Educação, conquistando visibilidade e reconhecimento para nossa Associação; realço ainda o empenho de Jorge Luiz da Cunha e equipe que, junto com os quatro anos de direção da entidade, conseguiu o patrocínio da UFSM, para a vinda e participação de reconhecidos pesquisadores de outros estados e países para nossos Encontros da Asphe, subsidiando nossa prática de pesquisa; trata-se, ainda, de Maria Helena Camara Bastos, Maria Stephanou e Claudemir de Quadros que se distinguiram na articulação de contatos, nacionais e internacionais, para a obtenção de excelentes artigos para a nossa revista e para sua indexação em sites altamente reconhecidos e acessados. Enfim, após vinte anos de existência, a Asphe está vigorosa porque está sendo assumida por todos os associados como nossa associação. Enfatizo mais uma vez: A Asphe tem mantido ao longo de seus vinte anos acentuada vitalidade, um espírito de acolhimento com os novos pesquisadores, intercâmbio com associações congêneres e pesquisadores e um caráter altamente democrático nas decisões e ações, já a partir do rodízio periódico da equipe de coordenação entre as diversas universidades do estado. Acho que podemos dizer que a Asphe é nossa e assim vem sendo considerada por seus associados, por isto está viva e ativa.

Tratando das contribuições do Professor Lúcio Kreutz ao campo de estudos em História da Educação, o Professor Elomar A. C. Tambara6 6 TAMBARA, E. A. C. A contribuição do Prof. Lúcio Kreutz à pesquisa em História da Educação no sul do Brasil. In: LUCHESE, T. Â. (Org.). Horizontes no diálogo entre culturas e História da Educação. Caxias do Sul: EDUCS, 2012, p. 23-37. (2012) escreveu que: “Não é uma tarefa fácil elaborar um arcabouço teórico e também construir uma base empírica de dados em determinada área do conhecimento como ele elaborou na esfera da história da educação brasileira. Em relação à análise da relação entre etnia e sistema de ensino, particularmente a alemã, o trabalho por ele desenvolvido constitui-se em um divisor. Não afirmo que esta relação já anteriormente não tenha sido abordada por outros investigadores, entretanto a densidade dos trabalhos desenvolvidos por Lúcio Kreutz é de tal envergadura que a partir de então se constituem em referência obrigatória para os pesquisadores que têm como objeto de investigação temáticas relacionadas a estas variáveis” (TAMBARA, 2012, p. 23). De modo sintético, as palavras de Elomar Tambara sintetizam um pouco nosso sentimento com relação às contribuições intelectuais de Lúcio Kreutz, como pesquisador, orientador e professor.

  • FISCHER, B. T. D. (Org.). Tempos de Escola – memórias. São Leopoldo: Oikos; Brasília: Liber Livro, 2011.
  • 2
    A dissertação de mestrado, concluída em 1979 sob orientação do Professor Dr. Osmar Fávero, foi intitulada “Os movimentos de educação popular no Brasil de 1961–64”.
  • 3
    A tese de doutorado foi concluída em 1985, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob orientação de Luiz Antônio Cunha, com o título “Magistério e Imigração Alemã. O professor paroquial católico teuto-brasileiro no Rio Grande do Sul no movimento da Restauração”.
  • 4
    As referências para os textos mencionados são: KREUTZ, L.. A educação de imigrantes no Brasil. In: LOPES, E. M.; FARIA FILHO, L.M.; VEIGA, C.G. (Org.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p. 347-370. E, também: KREUTZ, L.. Escolas étnicas na história da educação brasileira: a contribuição dos imigrantes. In: STEPANHOU, M. e BASTOS, M. H. C. (Org.). Histórias e memórias da educação no Brasil. Século XIX. Vol. II – 1ed. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 150-165.
  • 5
    KREUTZ, L.. Migrações e culturas em diálogo. In: FELGUEIRAS, M. L.; VIEIRA, C. E. (Org.). Cultura escolar, Migrações e Cidadania. 1 ed. Porto/Portugal: Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, 2010, p. 49-74.
  • 6
    TAMBARA, E. A. C. A contribuição do Prof. Lúcio Kreutz à pesquisa em História da Educação no sul do Brasil. In: LUCHESE, T. Â. (Org.). Horizontes no diálogo entre culturas e História da Educação. Caxias do Sul: EDUCS, 2012, p. 23-37.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2017

Histórico

  • Recebido
    04 Mar 2017
  • Aceito
    24 Abr 2017
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