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O RELEVO DO FATO E DA FALA: Israel Norte no “Obelisco Negro” de Shalmaneser III e seus contextos na Idade do Ferro II

The relief of the fact and speech: Northern Israel in the “Black Obelisk” of Shalmaneser III and Its Contexts in the Iron Age II

Resumo

O presente artigo tem por objetivo pesquisar a submissão do militar israelita Jehu ao rei Shalmaneser III, analisando perspectivamente o evento como um programa político para aquele pequeno reino levantino. Por ter ocorrido logo após perpetrar um golpe de Estado no Israel Norte (“Reino do Norte”), em cerca de 841 A.E.C., a submissão de Jehu demonstra o interesse por uma pactuação na qual o império neoassírio lhe confira proteção contra as pretensões do reino unido de Aram-Damasco. Com esta pesquisa, que tem por fonte o Obelisco Negro de Shalmaneser III, procuramos demonstrar que Jehu tornou irreversível qualquer trato entre os pequenos reis do Levante, haja vista as disputas militares de territórios transjordanianos, além de possibilitar o alargamento de fronteiras para o avanço militar assírio.

Palavras-chave:
Obelisco Negro; Shalmaneser III; Assíria; antigo Israel; memória cultural

Abstract

The present article aims to investigate the submission of the Israeli military Jehu to King Shalmaneser III, analyzing the event as a political program for that little Levantine kingdom. Because it occurred shortly after perpetrating a coup d’état in Northern Israel (“Northern Kingdom”) in about 841 B.C.E., Jehu’s submission demonstrates interest in a compromise in which the Neo-Assyrian empire protects him against the claims of the kingdom united of Aram-Damascus. With this research, whose source is the Black Obelisk of King Shalmaneser III, we try to demonstrate that Jehu made irreversible any deal between the small kings of the Levant, in view of the military disputes of Transjordan territories, besides making possible the extension of borders for the Assyrian military advance.

Keywords:
Black Obelisk; Shalmaneser III; Assyria; ancient Israel; cultural memory

O registro emblemático para o período que abrange o reinado do israelita Jehu (841-814; hebraico: Yēhû’), na mapografia do antigo Oriente-Próximo (fig. 1), é o Obelisco Negro (fig. 2), um artefato datado de 828/827, com quatro lados totalmente decorados em relevos e inscrições a eles associadas, que foi encontrado em Kalḫu no ano de 1846 da nossa Era. O documento monumental medindo 198 centímetros de comprimento foi encontrado em uma única peça na praça de Kalḫu, e em cada um dos lados há cinco relevos apainelados encenando conquistas reais do império neoassírio. Hadi Ghantous (2013GHANTOUS, Hadi. The Elisha-Hazael paradigm and the kingdom of Israel: the politics of God in ancient Syria-Palestine. London: Acumen Publishing, 2013., p. 84) afirma que “a inscrição abrange trinta e um anos do reinado de Shalmaneser” e apresenta muitos problemas para a periodização cronológica do desenvolvimento estatal, agravados pela falta de descrição das atividades reais, além de não conter nenhuma das conhecidas fórmulas de ênfase e autoridade.

Figura 1.
Mapa do império neoassírio (DevianArt.com_undevicesimus)

Figura 2.
“Obelisco Negro” de Shalmaneser III, rei do império neoassírio nos anos 858-824. Trustees The Bristish Museum (BiblePlaces.com).

No mesmo ano em que Ghantous publicava a sua pesquisa, Yarit Ziffer (2013ZIFFER, Yarit. Portraits of ancient israelite kings?. Biblical Archaeology Review, Washington, D.C., v. 39, n. 5, p. 41-51, september/october, 2013.; cf. SANTOS, 2014SANTOS, João Batista Ribeiro. A proskynesis do rei israelita Yĕhû ao rei assírio Šulmānu-ašaridu no “Obelisco Negro”: uma apresentação contextual do relevo. Caminhando, São Bernardo do Campo, v. 19, n. 2, p. 85-99, 2014.) identificava um sério problema de orientação geográfica na disposição dos relevos, especialmente quanto ao que diz respeito à submissão de Jehu (fig. 3) e o oferecimento de tributo por Sūa de Gilzānu.1 1 O nome desse rei é incerto, ele aparece como m šu-ú-a no Obelisco Negro e no Monólito de Kurkh, como m a-su-ú e m a-sa-a-ú (YOUNGER, 2000, p. 269). Esses reis de territórios muito distantes, um do sul do Levante e o outro das montanhas Zagros, são reproduzidos no mesmo painel, ressalvada a semelhança das circunstâncias em que os dois pequenos reis estão epigrafados. Esse documento monumental, segundo Hasegawa (2012HASEGAWA, Shuichi. Aram and Israel during the jehuite dynasty. (Beihefte zur Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft 434). Berlin: Walter de Gruyter, 2012., p. 88) “foi muito provavelmente composto em 828 ou 827 A.E.C., durante os últimos anos de Shalmaneser III”, considerando que o texto final descreve um acontecimento de 828.

Figura 3.
Detalhe do Obelisco Negro. Jehu prostrado diante do rei assírio Shalmaneser III (Art Resource ART12461)

Com Ghantous, estabeleceremos a aporia. Nas linhas 54b-66 há referência à guerra seguinte a Ḳarḳar (Qarqar). A guerra de Ḳarḳar, realizada no ano de 853, apresenta o poderio da coalizão dos pequenos reinos aramitas contra o rei Shalmaneser III (858-824; Šulmānu-ašaridu) em que Israel (“Reino do Norte”; hebraico: Yiśrā’ēl; assírio: mātsir-’i-la-a-a; ysry·r/l), segundo a epigrafia de um monumento de 853 designado como Monólito de Kurkh (ii.86b-102), dispõe ao combate 2.000 carros de guerra e 10.000 homens, sendo, portanto, um dos três líderes com Damasco e Hamat (YOUNGER, 2007YOUNGER, K. Lawson, Jr. Neo-assyrian and israelite history in the ninth century: the role of Shalmaneser III. In: WILLIAMSON, Hugh G.M. (Ed.). Understanding the history of ancient Israel. (Proceedings of the British Academy 143). Oxford: Oxford University Press , 2007, p. 243-277.; SANTOS, 2018SANTOS, João Batista Ribeiro. Dos conflitos com ’Ārām ao deus de Ḫa-la-ab: a formação do campo religioso e a elaboração do Yhwh no Yiśrā’ēl Norte na Idade do Ferro II. Tese (Doutorado em Ciências da Religião). Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2018.). A guerra seguinte a que mencionamos ocorre em 849 nos territórios de Karkamiš e Bīt-Agūsi (Arpad).2 2 O reino de Bīt-Agūsi teve como ancestral Gūsu e foi convertido a Arpad, importante cidade-Estado, no ano de 870, tornando-se grande opositor das campanhas assírias no norte do Levante no reinado de Aššurnaṣirpal II (883-859) (cf. DUŠEK, 2019). Outras duas guerras com a coalizão antiassíria no décimo ano do reinado de Shalmaneser III, onde Irḫulēni de Ḫamat não aparece e Adad-‘idrī de Damasco (Ša-imērīšu) é apresentado como líder da coalizão “dos reis da terra de Ḫatti” na campanha de 848 (linhas 87-92a); a guerra com Hazael (hebraico: Ḫăzāh’ēl; assírio: ḫaza-il e ḫa-za-a) no monte Sanir em 841 (linhas 97b-99a); a captura por Shalmaneser III de quatro cidades antes sob o domínio de Hazael em 838, ocasião em que o rei assírio erigiu uma estátua na cidade de Kalḫu (linhas 102b-104a); o pagamento de tributo por Jehu (figs. 4, 5 e 6), registrado no painel número 2 em estado de submissão diante de Shalmaneser III.

Figura 4.
Dois oficiais assírios e três portadores de tributo de Israel carregando oferendas para o rei Shalmaneser III, talvez “prata, ouro, vasos de ouro, estanho”. Trustees The Bristish Museum.

Figura 5.
Cinco portadores de tributo de Israel Norte carregando uma tigela de ouro, uma terrina de ouro, vasos de ouro, baldes de ouro, estanho, os “cajados das mãos do rei” e lanças. Trustees The Bristish Museum.

Figura 6.
Cinco portadores de tributo de Israel Norte carregando prata, ouro, uma tigela de ouro, uma terrina de ouro, vasos de ouro, baldes de ouro e estanho Trustees The Bristish Museum.

Na epigrafia, Shalmaneser III recebe de Jehu prata, ouro, uma tigela de ouro, um vaso de ouro, cálices de ouro, baldes de ouro, estanho ou lata, um cetro real e dardos ou lanças; o rito da submissão impressiona pelo pacto de vassalagem no qual fica reconhecida a autoridade real do grande rei assírio. Os eventos que compõem o acontecimento do ano de 841 obedecem a uma sequência historicamente lógica: Shalmaneser III com sua guarnição militar ocupa Senir (monte Hermon e partes das terras férteis de Ḥauran (KUR-e KUR Ha-ú-ra-ni) visando alcançar o vale de Beqa‘, localizado no Líbano (Lәbānōn), como local estratégico de preparação para atacar Damasco, a grande capital aramita que mantinha à época sua influência nas cidades da rota siro-eufratênia. Wolfgang Zwickel (2019ZWICKEL, Wolfgang. Borders between Aram-Damascus and Israel: a historical investigation. In: DUŠEK, Jan; MYNÁŘOVÁ, Jana (Eds.). Aramaean borders: defining aramaean territories in the 10th-8th centuries B.C.E. (Culture and History of the Ancient Near East 101). Leiden: Brill , 2019, p. 267-335., p. 277) observa que o rei assírio não precisou “conquistar Tell el-Qāḍi/Dan, pois ele poderia contorná-lo facilmente nas encostas do monte Hermon”. Por esses entornos, a guarnição chegou a Baal-Rosh, local mais alto da região costeira do Karmel (Ba’li-ra’si, atual Rās en-Nāqūra, ou Ras en-Naqura/Rosh ha-Niqra); com trânsito livre na costa do Levante, seguiu-se pela fronteira fenícia de Tiro (Şūr) e Sidon (Ṣi-du-na) com Dan (hebraico: Tēl Dān) em Israel. Obviamente, a presença da guarnição assíria nos limites de Israel fez com que Jehu precipitasse o trato de vassalagem com o pagamento de tributo. Abaixo, na tradução e análise das fontes detalharemos estas questões de política geográfica.

No âmbito dos limites de Israel, é importante dizer que o poderio de Hazael não pode ser interpretado sem ressalvas históricas, pois ele é intitulado por Shalmaneser III como um usurpador.3 3 A ascensão de Hazael pode ter ocorrido entre 844-842 (YOUNGER, 2016, p. 606). A mnēmē cultural da submissão e tributo de Jehu ao rei assírio está reproduzida em quatro inscrições. Sobre isto, eis os postulados de dois pesquisadores:

Quatro anos depois [841 A.E.C.], Hazael, o novo rei de Aram-Damasco, enfrenta Shalmaneser III sozinho. A conta desta campanha é encontrada nos Touros de Kalḫu (1”-27”), o Tablete de Mármore (iii.45b-iv 15a), a Estátua de Kurba’il (21-30a), a Estátua de Basalto de Aššur (i .25-ii.6), o Obelisco Negro (97b-99a), e a Estátua de Kalḫu (122’b-137’a). Embora seja dois anos mais novo do que as inscrições dos Touros de Kalḫu, o Tablete de Mármore preserva a conta mais completa desta campanha. A Estátua de Basalto de Aššur (i.25-ii.6) é também muito significativa devido à sua referência única à mudança de poder em Damasco e a marca de Hazael como o “filho de ninguém”, um título usualmente reservado para usurpadores. (GHANTOUS, 2013GHANTOUS, Hadi. The Elisha-Hazael paradigm and the kingdom of Israel: the politics of God in ancient Syria-Palestine. London: Acumen Publishing, 2013., p. 97 - trad. nossa).

(1) Papel Squeeze [cópia invertida de inscrição] (III R, 5, no. 6 = RIMA 3, A.0.102.8, 1”-27”); (2) Tablete de Mármore de Aššur (RIMA 3, A.0.102.10, iii 45b-iv 15a); (3) Inscrição da Estátua de Kurbail (RIMA 3, A.0.102.12, 21-30a); e (4) Inscrição em uma estátua real de Kalḫu (RIMA 3, A.0.102.16, 122’b-137’a). Essas quatro inscrições são importantes para entender a relação política de Israel com a Assíria logo após a rebelião de Jehu. (HASEGAWA, 2012HASEGAWA, Shuichi. Aram and Israel during the jehuite dynasty. (Beihefte zur Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft 434). Berlin: Walter de Gruyter, 2012., p. 46 - trad. nossa).

Os quatro documentos monumentais são bastante semelhantes em suas composições. A análise comparativa evidencia que a Assíria (KUR d a-šur; ’Aššur) realizou incursão no território israelita e o pagamento de tributo foi o motivo da situação de vassalagem estatal de m ia-‘-u bīt- m ḫu-um-ri-i, o mesmo na inscrição m ia-ú-‘ mār m ḫu-um-ri-i. A designação política atribuída a Jehu é honrosa - “filho do rei Omri” - e indica a desinformação do escriba assírio quanto ao golpe de Estado sofrido pela dinastia fundada por Omri (c. 881-974; ‘Omrî), não obstante informar acertadamente que o sucessor de Omri é Ahab (874-853; ’Aḥ’āb), como atesta o enunciado na fonte: “Ahab, o israelita” (I a-ḫa-ab-bu māt sir-’i-la-a-a). Com relação ao extermínio praticado por Jehu, pensa-se que é apenas um conflito familial pela disputa do trono. Por outro lado, sabe-se claramente que o aramita Hazael é mār lā ma-m-mā-na, “filho de um ninguém” ou usurpador.

A mudança de tratamento testemunha a resistência de Hazael em submeter-se ao poder de Shalmaneser III. Na Estátua de Basalto de Aššur, na linha 25, informa-se que Adad-‘idrī foi assassinado (mdIŠKUR-id-ri KUR-šú e-mi-id), Hazael usurpou o trono e foi atacado por Shalmaneser III (YOUNGER, 2016YOUNGER, K. Lawson, Jr. A political history of the arameans: from their origins to the end of their polities. (Archaeology and Biblical Studies 13). Atlanta, GA: SBL Press , 2016., p. 599). A nosso ver, teria uma outra perspectiva, mais próxima ao caráter do rei assírio. Qual seja, quando o rei babilônio Marduk-zākir-šumi I teve o trono ameaçado por seu próprio irmão, Shalmaneser III não tardou em “enviar ajuda ao seu aliado e derrotar a sublevação; restabeleceu a paz, realizou as visitas cerimoniais de rigor aos principais santuários do norte do Estado babilônico (a própria Babilônia, Borsippa e Cutha), onde foi recebido protocolarmente e aplaudido pelos cidadãos” (KUHRT, 2014KUHRT, Amélie. El Oriente Próximo en la Antigüedad: c. 3.000-330 a.C. Vol. 2: c. 1.200-330 a.C. Trad. Teófilo de Lozoya. Barcelona: Editorial Crítica, 2014., p. 130). Então, ainda que nos atenhamos às diferenças estruturais dos Estados envolvidos e ao trato prévio de compromissos diplomáticos entre os grandes reis, o tratamento desonroso para com um usurpador menor não poderia ser diferente.

A inscrição na Estátua de Basalto de Aššur (A.0.102.40, i, linha 14-ii, linha 1) descreve com brevidade quatro acontecimentos ocorridos entre 853-841. Os acontecimentos são (1) a guerra com Adad-‘idrī ou Hadad-‘ezer4 4 É importante afirmar que “o nome Hadad-‘ezer era um nome pessoal aramita comum” (YOUNGER, 2016, p. 195). , predecessor de Hazael, em 853 (i.14-24); (2) a morte de Adad-‘idrī (i, 25); (3) a ascensão de Hazael (i, 26-27a); e (4) a guerra com Hazael em 841 (i, 27b-ii, 1). Como Adad-‘idrī é descrito como líder da coalizão antiassíria durante o décimo quarto ano do reinado de Shalmaneser III (845), entende-se que

uma vez que um usurpador deve estabelecer sua posição no reino na primeira etapa de sua usurpação, levaria um tempo antes de poder organizar uma campanha militar no exterior. Portanto, o golpe de Estado de Hazael pode ser datado algum tempo antes de Jehu, alguns anos antes da batalha de Ramot-Gilead (ca. 843 A.E.C.). (HASEGAWA, 2012HASEGAWA, Shuichi. Aram and Israel during the jehuite dynasty. (Beihefte zur Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft 434). Berlin: Walter de Gruyter, 2012., p. 53 - trad. nossa; cf. também KUHRT, 2014KUHRT, Amélie. El Oriente Próximo en la Antigüedad: c. 3.000-330 a.C. Vol. 2: c. 1.200-330 a.C. Trad. Teófilo de Lozoya. Barcelona: Editorial Crítica, 2014., p. 124-31; YOUNGER, 2016YOUNGER, K. Lawson, Jr. A political history of the arameans: from their origins to the end of their polities. (Archaeology and Biblical Studies 13). Atlanta, GA: SBL Press , 2016., p. 598; SANTOS, 2019bSANTOS, João Batista Ribeiro. Para além de Tēl Dān: os contextos e conexões dos conflitos entre aramitas e israelitas na Idade do Ferro II. Classica: Revista Brasileira de Estudos Clássicos, São Paulo, v. 32, n. 2, p. 91-114, 2019b.; ZWICKEL, 2019ZWICKEL, Wolfgang. Borders between Aram-Damascus and Israel: a historical investigation. In: DUŠEK, Jan; MYNÁŘOVÁ, Jana (Eds.). Aramaean borders: defining aramaean territories in the 10th-8th centuries B.C.E. (Culture and History of the Ancient Near East 101). Leiden: Brill , 2019, p. 267-335., p. 276-77).5 5 Por um lado, a identificação de Ramot-Gilead (Rāmōt gil‘ād) continua incerta e alguns pesquisadores propõem Tell er-Rumeit/Rumīt, Tell el-Ḥuṣn - identificado com Yabesh-Gilead -, outros ligam-no a Ramtha, 15 km a oeste de Irbid (LEMAIRE, 2019, p. 255); por outro, sabe-se que Ramot-Gilead era controlada pelos aramitas em 842, quando recupera territórios ocupados por israelitas no período da dinastia omrida, mas a circunstância pela qual ele passou a reinar levou à dissolução da antiga coalizão que rechaçava a expansão assíria na região.

Com efeito, é possível que haja uma incorreção escribal no documento monumental assírio e a ascensão de Hazael tenha ocorrido não em 841, mas em 845.6 6 O documento de Tēl Dān e as informações em 2Reis 8.28, 29a; 9.14b-15a sugerem que Hazael lutou com Jehoram (Yәhôrām), de quem Jehu aproveitou da fragilidade e usurpou o trono. A historiografia de 2Reis 9, a seguir, vai conflituar essa interpretação. Talvez 2Reis 8.7-15 forneça-nos algum indício. Em adição, informamos que as assim chamadas citações bíblicas, quando ocorrem nesta pesquisa, são da Biblia Hebraica Stuttgartensia (ELLIGER; RUDOLPH (Hrsg.), 1997); caso haja transliteração e tradução do hebraico, ambas são realizadas pelo autor, assim como todas as traduções das citações de obras. É nesse monumento de basalto que Hazael é chamado de mār lā ma-m-mā-na, “filho de um ninguém” por Shalmaneser III: mdIŠKUR-id-ri KUR-šú e-mi-id m ha-za-a’-DINGIR DUMU la ma-ma-na GIŠ.GU.ZA iṣ-bat (“Adad-‘idrī morreu. Ḥăzāh’ēl, o filho de um ninguém, tomou o trono”). Fica expressa a violência da tomada do poder,7 7 Esta postulação pode até parecer óbvia, mas poucos pesquisadores a enunciaram na interpretação do fato; sugerimos o resultado apresentado por Kottsieper (2007, particularmente p. 121; cf. SANTOS, 2019b). acusação atestada também no reinado de Tiglat-pileser III (744-727; acádio: Tukultī-apil-Ešarra), um século depois.

Na inscrição do Obelisco Negro do rei Shalmaneser III, lê-se:

Palû 18 [Ano de reinado] (97b-99a)

No meu décimo oitavo ano de reinado, eu atravessei o Eufrates [Pu-rat-tu] pela décima sexta vez. Hazael de Damasco atacou para fazer a batalha. Tirei dele 1.121 dos seus carros, 470 da sua cavalaria juntamente com o seu acampamento.

Palû 21 [Ano de reinado] (102b-104a)

Em meu vigésimo primeiro ano de reinado, eu atravessei o Eufrates [Pu-rat-tu] pela vigésima primeira vez. Eu marchei para as cidades de Hazael de Damasco. Eu capturei 4 de seus assentamentos fortificados. Recebi o tributo dos tírios, dos sidônios, e dos biblianos.

Epigrafia 1 (RIMA #87)

Eu recebi o tributo de Sūa, o Gilzānu: prata, ouro, estanho, vasos de bronze, os servidores da mão do rei, cavalos, (e) dois camelos [puašḫu, pašḫu].

Epigrafia 2 (RIMA #88)

Eu recebi o tributo de Ia-ú-a de Bīt-Ḫumrî: prata, ouro, uma tigela de ouro, uma taça de ouro, copos de ouro, baldes de ouro, estanho, um bastão [ḫuḫārtu] da mão do rei, lanças [GIŠ bu-dil-ḫa-ti] (YOUNGER, 2000YOUNGER, K. Lawson, Jr. Neo-assyrian inscriptions (Annals: Calaḫ Bulls (2.113C)). In: HALLO, William W. (Ed.). The Context of Scripture. Vol. 2: Monumental inscriptions from the biblical world. Leiden: Brill , 2000, p. 261-306., p. 269-27 - transliteração do acádio nossa).

Em Palû 18, o número de tropas mortas não foi incluído, estima-se entre 16.000 e 16.020. Em Palû 21, marca-se a segunda campanha do rei assírio contra Hazael, em 838, ocasião em que Shalmaneser III capturou quatro cidades aramitas e recebeu tributos das cidades da costa fenícia, de Tiro, Sidon e Biblos (Gu-ub-la; Býblos). Abordando a geografia e minúcias pictográficas dos relevos, Ziffer (2013ZIFFER, Yarit. Portraits of ancient israelite kings?. Biblical Archaeology Review, Washington, D.C., v. 39, n. 5, p. 41-51, september/october, 2013., p. 42-3) e Santos (2014SANTOS, João Batista Ribeiro. A proskynesis do rei israelita Yĕhû ao rei assírio Šulmānu-ašaridu no “Obelisco Negro”: uma apresentação contextual do relevo. Caminhando, São Bernardo do Campo, v. 19, n. 2, p. 85-99, 2014., p. 92-4) debatem afirmações de Othmar Keel, Christoph Uehlinger e Nadav Na’aman: esse último pesquisador postula a transformação de Shalmaneser III em rei conquistador, enquanto os dois primeiros não observam que visualmente, no relevo, a estrela é a “estrela da manhã” no caso de Gilzānu, representando o Oriente, e o sol é a “estrela da noite” no caso de Israel, representando o Ocidente.

A campanha de Shalmaneser III entre os anos 842/841 foi registrada também no Tablete de Mármore de Aššur (c. 842):

Episódio 1 (iii.45b-iv.4a)

No meu décimo oitavo ano de reinado, eu atravessei o Eufrates [Pu-rat-tu] pela décima sexta vez. Hazael de Damasco confiava no poderoso poder de suas tropas; e ele reuniu seu exército em grande número. Ele fez o monte Saniru, um pico da montanha, que (fica) em frente ao Monte Líbano, sua fortaleza. Eu derrubei com a espada 16.020 tropas, seus homens lutadores. Eu tirei dele 1.121 de seus carros, 470 de sua cavalaria, juntamente com o seu acampamento. Para salvar sua vida, ele fugiu. Segui após ele. Eu confinei a ele em Damasco, sua cidade real. Cortei seus pomares. Eu queimei suas guarnições.

Episódio 2 (iv.4b-7a)

Eu marchei para as montanhas de Ḫaurānu. Eu arrasei, destruí e queimei cidades sem número. Eu recolhi sua pilhagem.

Episódio 3 (iv.7b-10a)

Eu marchei para as montanhas de Ba‘li-ra’si ao lado do mar e em frente a Tiro. Eu ergui uma estátua da minha realeza lá.

Episódio 4 (iv.10b-12a)

Eu recebi o tributo de Ba‘li-ma-AN-zēr, o tírio e de mia-‘-u bīt- m ḫu-um-ri-i.

Episódio 5 (iv.12b-15a)

Em meu retorno, eu subi no monte Líbano. Eu ergui uma estela da minha realeza com a estela de Tiglat-pileser, o grande rei que foi antes de mim (YOUNGER, 2007YOUNGER, K. Lawson, Jr. Neo-assyrian and israelite history in the ninth century: the role of Shalmaneser III. In: WILLIAMSON, Hugh G.M. (Ed.). Understanding the history of ancient Israel. (Proceedings of the British Academy 143). Oxford: Oxford University Press , 2007, p. 243-277., p. 263; 2016, p. 614 - transliteração do acádio nossa).

Sem dúvida, o inimigo do rei assírio é Hazael, por isso o objetivo imediato é subjugá-lo e controlar Damasco. Evento realizado, Shalmaneser III sequer necessita guerrear contra os reinos de Tiro e Israel, os reis locais submetem-lhe e pagam-lhe tributos. O rei assírio, então, ergue um monumento na divisão libanesa-israelita (Ba’li-ra’si, ou o monte Karmel) e outro possivelmente em Tiro como a declarar-se soberano do Levante. Younger (2016YOUNGER, K. Lawson, Jr. A political history of the arameans: from their origins to the end of their polities. (Archaeology and Biblical Studies 13). Atlanta, GA: SBL Press , 2016., p. 616, 618) aponta divergências narratológicas entre as fontes acerca da campanha do rei assírio: com relação à tributação de Tiro e Israel, os monumentos Touros de Kalḫu (841) e a Estátua de Kurbail acrescentam um pequeno reino à vassalagem quando comparados ao Tablete de Mármore de Aššur. Eis:

Naquela época, eu recebi o tributo dos tírios e dos sidônios e de Jehu da casa de Omri (ma-da-tu šá KUR ṣur-ra-a-a KUR ṣi-du-na-a-a šá m ia-ú-a DUMU m ḫu-um-ri-i).

E o Obelisco Negro é mais descritivo quanto a Jehu:

Eu recebi o tributo de m ia-ú-a DUMU m ḫu-um-ri-i: prata, ouro, uma tigela de ouro, uma taça de ouro, copos de ouro, baldes dourados, lata, um bastão (ḫuṭārtu) da mão do rei, [e] dardos [ou lanças].

Apesar de descrição considerada truncada, os relevos e epigrafias registram em detalhes o tributo oferecido por Jehu, mia-ú-a DUMU m ḫu-um-ri-i. É particularmente relevante sublinhar que os reis Sūa e Jehu ofertam a Shalmaneser III o ḫuṭāru/ḫuṭārtu, símbolo de proteção e prosperidade (pl.: ḫuṭārāte/ḫuṭārte) - um símbolo referencial.8 8 “Um símbolo que representa a si mesmo, em outras palavras, também pode representar outra coisa; um símbolo referencial pode ser visto como representando a si mesmo” (WAGNER, 2017, p. 34). Após essa campanha de longas escalas, o rei retoma os conflitos no norte do Levante em 838-837, em seguida volta-se a outras atividades. Se considerarmos as dimensões regionais, ficará presumível que a Assíria não conseguiria manter no Levante um regime de protetorado, assim como o Egito (Mi-iṣ-ri) não havia conseguido uma completa soberania na região na Idade do Bronze Tardio (SANTOS, 2012SANTOS, João Batista Ribeiro. A experiência do mundo: uma visão historiográfica sobre a cidade de Gaza no contexto da materialidade do Mediterrâneo antigo. Diálogos, Maringá, v. 16, p. 951-969, 2012.; LIVERANI, 2016LIVERANI, Mario. Antigo Oriente: história, sociedade e economia. Trad. Ivan Esperança Rocha. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2016.). Esse fator, ou seja, sem a interferência reguladora assíria, permite a consolidação e expansão do reino de Hazael por cerca de quinze anos, pois Shalmaneser III retorna nos últimos anos de seu reinado (826-824) aos conflitos no Levante. Nesse período, segundo Younger (2016YOUNGER, K. Lawson, Jr. A political history of the arameans: from their origins to the end of their polities. (Archaeology and Biblical Studies 13). Atlanta, GA: SBL Press , 2016., p. 620, 630), Hazael “constrói um significativo império levantino” refletido em sua fama pós-morte em documentos neoassírios, nos quais o reino de Aram-Damasco (’Ārām-Dammeśeq) será reconhecido como “Casa de Hazael” (Bīt Ḫazā-il).

Destarte, ao submeter-se à Assíria, Jehu tornou irreversível qualquer trato entre os pequenos reis do Levante, haja vista as disputas militares de territórios transjordanianos; valendo-se do quadro político regional, Hazael ocupa o espaço político. O local em que Jehu ofereceu tributo a Shalmaneser III é chamado Ba’li-ra’si (KUR-e KUR ba-‘-li-ra-’-si), nome de uma montanha (KUR-e = šadê), nos caminhos do mar e da terra de Tiro. Esse complexo topônimo de “promontório” com identificação disputada por muitos pesquisadores (HASEGAWA, 2012HASEGAWA, Shuichi. Aram and Israel during the jehuite dynasty. (Beihefte zur Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft 434). Berlin: Walter de Gruyter, 2012., p. 47-8), pode ser o monte Nahr el-Kelb, norte de Beirut, ou o monte Karmel; identifica-se também em Rās en-Nāqūra, situada na periferia israelita-libanesa não muito distante de Tiro, ou na região de Reshba‘l próxima de Qamqa‘t e norte do monte Líbano. Caso a submissão e pagamento de tributo tenham por lugar o monte Karmel ou Rās en-Nāqūra, terá sido uma providência irônica de Shalmaneser III, pois ambos os lugares são simbólicos da presença da divindade Baal (Ba‘al).

Em seu itinerário de Assíria para o Levante, a saber, do monte Ḥauran a Ba’li-ra’si, Shalmaneser III pode ter marchado de Dar el-Hawarneh, seguido uma rota mais acessível para Damasco e à costa do Mediterrâneo, e seguido viagem pelo norte da Transjordânia, cruzado o rio Jordão no sul do lago da Galileia, e continuado para o oeste através da parte baixa da Galileia até a costa de Akko (HASEGAWA, 2012HASEGAWA, Shuichi. Aram and Israel during the jehuite dynasty. (Beihefte zur Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft 434). Berlin: Walter de Gruyter, 2012., p. 48). Para a campanha militar de 841, Shalmaneser III deve ter pegado a rota do vale de Beqa‘. “Shalmaneser encontrou o exército aramita liderado por Hazael no monte Sanir”, o exército assírio derrotou os aramitas e Hazael fugiu para Damasco, onde foi confinado. Shalmaneser III destruiu as torres de Ḥauran e seguiu para a costa do Levante. “Ele erigiu uma estela em Ba’li-ra’si (KUR-e KUR ba-’-li-ra-’-si), e recebeu tributo de Tiro, Sidon e Israel” (HASEGAWA, 2012HASEGAWA, Shuichi. Aram and Israel during the jehuite dynasty. (Beihefte zur Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft 434). Berlin: Walter de Gruyter, 2012., p. 54-5).9 9 Não descartamos completamente o tributo oferecido por Jehu ter sido um fato estratégico contra Hazael, mas este consegue conter o avanço imperial neoassírio (CAZELLES, 1986, p. 165). O rei assírio menciona três monumentos que ele teria erigido durante sua primeira campanha militar no norte da Síria (Sūriyā): segundo Na’aman (2000NA’AMAN, Nadav. Three notes on the aramaic inscription from Tel Dan. Israel Exploration Journal, Jerusalem, v. 50, n. 1/2, p. 92-104, 2000., p. 95), uma no mar, a segunda no monte Amanus e a terceira, no monte Atalur. Nas últimas campanhas, fincou muitos outros monumentos, inclusive um na fronteira entre Tiro e Israel. Em adição, o rei assírio operou oito deportações, três não quantificadas, num total, segundo as fontes, de 167.500 pessoas raptadas.10 10 Liverani (2016, p. 675) apresenta uma “Tabela com resumo dos dados numéricos fornecidos pelas inscrições assírias”.

Quanto à deferência m ia-‘-u mār m ḫu-um-ri-i para Jehu como filho e da casa de Omri, assegurada enfaticamente por Ghantous (2013GHANTOUS, Hadi. The Elisha-Hazael paradigm and the kingdom of Israel: the politics of God in ancient Syria-Palestine. London: Acumen Publishing, 2013., p. 97) como irregular nas inscrições cuneiformes, Hasegawa (2012HASEGAWA, Shuichi. Aram and Israel during the jehuite dynasty. (Beihefte zur Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft 434). Berlin: Walter de Gruyter, 2012., p. 49) postula a mudança de leitura proposta por Nadav Na’aman para m iu-ú-a mār m ḫu-um-ri-i, na qual o elemento teofórico IA deveria ser lido como iu, equivalente a *yaw/*yô no hebraico. Neste caso, miu-ú-a, representaria o hebraico yhw de Yēhû’. Destarte, nos termos de tratamento assírios, em nada se refere a uma filiação consanguínea, mas como designação de Jehu como rei da KUR bīt- m ḫu-um-ri-i, ou seja, como uma designação do rei de Israel nas inscrições neoassírias. Como já o enunciamos, o escriba assírio parece não estar informado de que Jehu representava uma mudança na dinastia israelita.11 11 Amiḫai Mazar (2007, p. 162) afirma que a expressão é "irônica". Por outra explanação da prostração de Jehu diante Shalmaneser III, a mesma não teria significado humilhação, mas reverência voluntária para assegurar permanência monárquica como recompensa. Ora, ainda assim a explanação do relevo mantém-se no que postulamos - de acordo com a inscrição e a encenação na qual aparece no Obelisco Negro, Jehu submeteu o pequeno reino israelita a Shalmaneser III.

Israel Norte e Assíria em seus contextos levantinos

Procederemos à análise conjuntural das fontes visando possibilitar o acesso aos contextos dos conflitos. Com Aššurnaṣirpal II (883-859; Aššur-nāṣir-apli) o império neoassírio consolida o domínio dos montes Zagros ao Eufrates, estende da Anatólia, nos montes Tauro, ao Baixo Eufrates na Babilônia (assírio: KUR kár-dun-ia-áš; Bāb-ilī). Essas operações militares possibilitariam a Shalmaneser III eliminar as resistências dos pequenos reinos e cidades-Estado do sul do Levante caso essa fosse a natureza política do seu reinado,12 12 A grande expansão ou o assim chamado “domínio do mundo” caracterizará a segunda fase do império neoassírio e ocorrerá um século mais tarde, com Tiglat-pileser III (744-727), rei que constrói um sistema de provincialização e assirialização da região oeste e da costa do Levante. pois esse rei manteve a antiga estrutura centralizada em seu governo, caracterizado na cronologia arqueológica do século IX como a primeira fase do império.

A complexidade da estratégia de distinção territorial na organização provincial reflete nas fontes assírias. A natureza fragmentária e compósita das fontes aramitas, assírias e israelitas destaca a imprecisão da monumentalidade dos acontecimentos diante de um muito virtual programa político realizado. Uma glosa de inscrição aramita (YOUNGER, 2017YOUNGER, K. Lawson, Jr. Tiglath-pileser I and the initial conflicts of the assyrians with the arameans. In: BERLEJUNG, Angelika; MAEIR, Aren M.; SCHÜLE, Andreas (Eds.). Wandering aramaeans - Aramaeans outside Syria: textual and archaeological perspectives. (Leipziger Altorientalistische Studen 5). Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 2017, p. 195-227., p. 208-209) menciona que Tiglat-pileser I (1114-1076; sumério: TUKUL.TI.A.É.ŠÁR.RA; mGIŠ.TUKUL-ti-DUMU.UŠ-É.ŠÁR.RA; acádio: Tukultī-apil-Ešarra) controlou uma região de conflitos cuja extensão media aproximadamente 750 quilômetros, do vale de Beqa‘, localizado no Líbano, até a cidade de Rāpiqu, às margens do Médio Eufrates. Pelo desenrolar dos conflitos, em que mais tarde deu-se na resistência dos pastoralistas em relação à presença assíria na região, após acumular perdas seguidas nas guerras da sucessão dos reis babilônios Marduk-nādin-aḫḫē (1099-1082), Marduk-šāpik-zēri (1081-1069) e Aššur-bēl-kala (1073-1056), depreendemos o caráter panfletário das assim chamadas vitórias nas adições documentárias.13 13 Sucessor de Tiglat-pileser I (1114-1076), o rei Aššur-bēl-kala (1073-1056) também não obteve sucesso em guerras contra os aramitas (YOUNGER, 2017, p. 221). Por ser parte das promoções palaciais, o aspecto propagandístico das inscrições é comum, não obstante compor peças de evidências importantes (com suas imagens, mimesis e agenda ideológica). Portanto, é inegável que por trás da louvação que tem em vista o legado ao sucessor há o serviço da informação, cujo acontecimento requer a busca histórica.

Nas inscrições do segundo milênio, até a queda de Nínive (hebraico: Nînәwēh; sumério: URUNI.NU.A), em cerca de 612, predominavam, no estilo literário, a caracterização do rei e a enunciação teológica. “Esta continuidade merece ser notada ao considerar o estilo ‘deuteronomístico’ na escrita da história hebraica, notadamente em Reis” (MILLARD, 2010MILLARD, Alan R. Kings and external textual sources: assyrian, babylonian and North-West semitic. In: LEMAIRE, André; HALPERN, Baruch (Eds.). The Books of Kings: sources, composition, historiography, and reception. (Supplements to Vetus Testamentum 129). Atlanta, GA: SBL Press , 2010, p. 185-202. [Leiden: Koninklijke Brill, 2010]., p. 193; cf. também POZZER, 2007POZZER, Katia Maria Paim. O banquete do rei e a política nos tempos de paz. In: CERQUEIRA, Fábio Vergara et al ii (Orgs.). Guerra e paz no mundo antigo. Pelotas: Instituto de Memória e Patrimônio; Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas, 2007, p. 139-152.). Tammi J. Schneider (2014SCHNEIDER, Tammi J. Mesopotamia (assyrians and babylonians) and the Levant. In: STEINER, Margreet L.; KILLEBREW, Ann E. (Eds.). The Oxford Handbook of the archaeology of the Levant: c. 8000-332 BCE. Oxford: Oxford University Press , 2014, p. 98-106., p. 100) menciona que a política da Assíria no Levante teve início de forma engajada com Aššurnaṣirpal II. Mazzoni (2014MAZZONI, Stefania. The aramean states during the Iron Age II-III periods. In: STEINER, Margreet L.; KILLEBREW, Ann E. (Eds.). The Oxford Handbook of the archaeology of the Levant: c. 8000-332 BCE. Oxford: Oxford University Press, 2014, p. 683-705., p. 688), baseada no artefato de Tell el-ˁAşāra (Terqa) do rei Tukultī-Ninurta II (890-884), afirma que a expansão assíria ocorre bem anteriormente. A esse respeito, importantes pesquisas arqueológicas “demonstram que um significativo sistema de fortalezas assírio na região de Sūḫu existiu dos séculos XII ao VIII. Alguns desses fortes foram originalmente construídos no período Médio Assírio para controlar o comércio e os movimentos nômades na região” (YOUNGER, 2017YOUNGER, K. Lawson, Jr. Tiglath-pileser I and the initial conflicts of the assyrians with the arameans. In: BERLEJUNG, Angelika; MAEIR, Aren M.; SCHÜLE, Andreas (Eds.). Wandering aramaeans - Aramaeans outside Syria: textual and archaeological perspectives. (Leipziger Altorientalistische Studen 5). Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 2017, p. 195-227., p. 210).

Assim, o que Schneider chama de “forma engajada” seria um período de equilíbrio político e controle das forças de combate nos territórios invadidos, mas desconsidera os avanços de longo termo e os acontecimentos de média duração ocorridos no Bronze Tardio. Destarte, Aššurnaṣirpal II transfere a capital do império para Kalḫu (Kalaḫ = Nimrūd), destacando assim a política sobre as tradições religiosas. Depois de pacificar as cidades do norte da Mesopotâmia, esse rei “invade o reino aramita de Bit-Adini no Jezirah, coletando tributo e reféns de seu líder, Ahuni. O exército assírio continua sua marcha ao ‘Grande Mar da terra de Amurru’”, o sistema de protetorado é instalado no norte do Levante, nas terras de Aram (’Ārām) e na Fenícia. Na Idade do Ferro I-II o império neoassírio tem a seu favor o legado programático daqueles acontecimentos. Schneider destaca que Shalmaneser III empreende guerras aos pequenos reis do Levante:

De acordo com o Monólito de Kurkh, em 853 AEC, Shalmaneser III encontrou um grupo de “doze reis da costa do mar” que formaram uma coalizão para se opor a ele, incluindo: o damasceno Adad-idri (Hadad-ezer); o hamatita Irhulenu; o israelita Ahab; Matinu-Ba‘al da cidade de Arwad; Adunu-Ba‘al de Siyannu; Gindibu da Arábia; Ba’asa, filho do ammonita Bit-Ruhubi; e as cidades de Byblos, Musri, Irqata e Ušnatu. (SCHNEIDER, 2014SCHNEIDER, Tammi J. Mesopotamia (assyrians and babylonians) and the Levant. In: STEINER, Margreet L.; KILLEBREW, Ann E. (Eds.). The Oxford Handbook of the archaeology of the Levant: c. 8000-332 BCE. Oxford: Oxford University Press , 2014, p. 98-106., p. 100 - trad. nossa).

Apomos nesta lista a cidade-Estado de Bīt Reḫov (MAZZONI, 2014MAZZONI, Stefania. The aramean states during the Iron Age II-III periods. In: STEINER, Margreet L.; KILLEBREW, Ann E. (Eds.). The Oxford Handbook of the archaeology of the Levant: c. 8000-332 BCE. Oxford: Oxford University Press, 2014, p. 683-705., p. 688). Com o predomínio assírio, Shalmaneser III fornece indícios da futura assirialização do Levante. Enfim, como é possível constatar, a Síria é uma parte do antigo Oriente-Próximo transformada pela emergência das novas grandezas socioétnicas aramitas e fenícias, filistitas e israelitas, ammonitas e moabitas, urartitas, frígios e povos da Anatólia conhecidos como ionianos, os antigos gregos. Essas grandezas socioétnicas interagiam por vezes pacífica e comumente em conflito com os grandes reinos Assíria, Ḫatti e Egito. Como salientou Mazzoni (2014MAZZONI, Stefania. The aramean states during the Iron Age II-III periods. In: STEINER, Margreet L.; KILLEBREW, Ann E. (Eds.). The Oxford Handbook of the archaeology of the Levant: c. 8000-332 BCE. Oxford: Oxford University Press, 2014, p. 683-705., p. 683), essas novas grandezas refletem na transformação do mapa geográfico, na política dos pequenos reinos e introduz variados mecanismos de interação cultural. Acrescente-se a grande circulação de populações e comércio, ocupação militar e protetorado ou provincialização imperial em regiões estratégicas, deportação e afixação forçada de populações. Isso é relevante para o ambiente social porque o multiculturalismo e os processos simbióticos estimulam o desenvolvimento das “múltiplas identidades nacionais e forças étnicas”.

O desenvolvimento da cultura material em suas muitas formas de interação foi documentado pelos assírios e aramitas em estelas e estatuários, como no artefato de Tell el-ˁAşāra. “O mesmo se aplica à estela de Brej (norte de Aleppo), com sua imagem em estilo fenício e sua inscrição aramaica dedicada por Bar-Hadad, filho de um rei de Aram, a Melkart, deus de Tiro” (MAZZONI, 2014MAZZONI, Stefania. The aramean states during the Iron Age II-III periods. In: STEINER, Margreet L.; KILLEBREW, Ann E. (Eds.). The Oxford Handbook of the archaeology of the Levant: c. 8000-332 BCE. Oxford: Oxford University Press, 2014, p. 683-705., p. 690). As fontes com registros pertinentes ao Israel Norte na segunda metade do século IX revelam a importância dos reinos periféricos, nos contextos do antigo Oriente-Próximo. A dinastia omrida colocou o antigo Israel (e isso tem validade para todos os domínios territoriais israelitas!) na rota dos tratos políticos, comerciais e de interação cultural; consta de registros da grande expansão do império neoassírio (858-745) que, apenas no período de Shalmaneser III, teve uma sequência de 32 campanhas.

A guerra de Ḳarḳar faz parte das campanhas na região oeste do rio Eufrates. Nessa região, segundo Mario Liverani (2016LIVERANI, Mario. Antigo Oriente: história, sociedade e economia. Trad. Ivan Esperança Rocha. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2016., p. 642), na primeira fase o objetivo foi enfraquecer a cidade-Estado de Bīt Adīni para acessar o amplo território sírio, na segunda fase o enfrentamento deu-se com a coalizão dos doze reis levantinos e na terceira fase, as guarnições assírias dirigiram-se para os territórios dos reinos neo-hititas, a noroeste do Levante. O projeto de anexação territorial no Levante, ou seja, fora da mapografia imperial, visou mais do que o alargamento de fronteiras porque o avanço militar esteve no âmbito da política econômica: compensação ao estabelecimento regional do rei babilônio Marduk-zākir-šumi I (c. 854-819) e fortalecimento do império por meio da tributação externa.

A relação de afinidade entre Damasco e Israel no século X e no início do século IX é mais conjetural do que as escavações da presença assíria, com as menções permanecendo mnēmēs com nomes de difícil identificação no contexto das proximidades políticas, com possíveis empreendimentos comerciais conjuntos. Em primeira análise,

somente fontes extrabíblicas podem determinar se Ben-Hadad I, de fato, desenvolveu um interesse em integrar a política comercial e os arranjos econômicos de Israel antes do reinado de Omri (1Reis 20.34). De fato, tais evidências teriam que estabelecer o mesmo aramita Ben-Hadad desta passagem bíblica particular [1Reis 15.16-22] como o filho de Ben-Hadad I, o governante que fortaleceu as relações comerciais através da construção de estações de comércio reais em Samaria, seja acomodações ou instalações de armazenamento. (REINHOLD, 2016REINHOLD, Gotthard G.G. The rise and fall of the aramaeans in the ancient Near East, from their first appearance until 732 BCE: new studies on Aram and Israel. Frankfurt am Main: Peter Lang Verlag, 2016., p. 44 - trad. nossa).

Mesmo o esforço por apresentar cronologias com o livro dos Reis14 14 Referimo-nos às várias propostas de Gotthard G.G. Reinhold (2016), mas sugerimos ver também as proposições de William G. Dever (2010). resulta em quadros pouco claros diante de registros paleográficos. Algum indício de possível cooperação, no entanto, pode ser depreendido de informações nos ostraca de Samaria (Sāmirīna) em que se refira a coalizões, muito poucas e do século VIII.

Em adição, no Levante, acessíveis para a análise reconstrutiva são os conflitos registrados nos monumentos. De histórico, ficam os contextos das guerras e anexações territoriais. As duas últimas campanhas de Shalmaneser III contra cidades da Síria central, ou contra o reino de Aram-Damasco unificado por Hazael, ocorrem respectivamente nos anos 838 e 837, época em que situamos o início da expansão moabita a terras vizinhas ao mar Morto. Sob a resistência da população israelita das cidades fortificadas de ‘Aṭarot e Nebo (hebraico: Nәbô; acádio: Nībū) (SMELIK, 2000SMELIK, Klaas A.D. Moabite inscriptions: the inscription of king Mesha (2.23). In: HALLO, William W. (Ed.). The Context of Scripture. Vol. 2: Monumental inscriptions from the biblical world. Leiden: Brill , 2000, p. 137-138.; LEMAIRE, 2007LEMAIRE, André. The Mesha stele and the Omri dynasty. In: GRABBE, Lester L. (Ed.). Ahab agonists: the rise and fall of the Omri dynasty. London: Bloomsbury , 2007, p. 135-144.; SANTOS, 2019aSANTOS, João Batista Ribeiro. O monumento do rei Meša‘ de Mū’aba: o liame dos fatos envolvendo moabitas e israelitas do norte na Idade do Ferro II. Phoînix, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 11-25, 2019a.), o rei moabita Mesha Meša‘ encontra um santuário da divindade israelita Yahweh e saqueia como despojo da guerra os objetos do altar central. Por esse período não fica evidente qualquer acordo político entre os reinos levantinos; portanto, em seguida aos quase simultâneos golpes de Estado ocorridos nos dois mais significativos reinos do sul do Levante, respectivamente em Damasco e no Israel Norte, a política do império neoassírio predominará até o final do século VIII e como potência mundial, até 612, quando os medos conquistam a cidade de Nínive.

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  • YOUNGER, K. Lawson, Jr. Neo-assyrian inscriptions (Annals: Calaḫ Bulls (2.113C)). In: HALLO, William W. (Ed.). The Context of Scripture Vol. 2: Monumental inscriptions from the biblical world. Leiden: Brill , 2000, p. 261-306.
  • YOUNGER, K. Lawson, Jr. Neo-assyrian and israelite history in the ninth century: the role of Shalmaneser III. In: WILLIAMSON, Hugh G.M. (Ed.). Understanding the history of ancient Israel. (Proceedings of the British Academy 143). Oxford: Oxford University Press , 2007, p. 243-277.
  • YOUNGER, K. Lawson, Jr. A political history of the arameans: from their origins to the end of their polities. (Archaeology and Biblical Studies 13). Atlanta, GA: SBL Press , 2016.
  • YOUNGER, K. Lawson, Jr. Tiglath-pileser I and the initial conflicts of the assyrians with the arameans. In: BERLEJUNG, Angelika; MAEIR, Aren M.; SCHÜLE, Andreas (Eds.). Wandering aramaeans - Aramaeans outside Syria: textual and archaeological perspectives. (Leipziger Altorientalistische Studen 5). Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 2017, p. 195-227.
  • ZIFFER, Yarit. Portraits of ancient israelite kings?. Biblical Archaeology Review, Washington, D.C., v. 39, n. 5, p. 41-51, september/october, 2013.
  • ZWICKEL, Wolfgang. Borders between Aram-Damascus and Israel: a historical investigation. In: DUŠEK, Jan; MYNÁŘOVÁ, Jana (Eds.). Aramaean borders: defining aramaean territories in the 10th-8th centuries B.C.E. (Culture and History of the Ancient Near East 101). Leiden: Brill , 2019, p. 267-335.

Notas

  • 1
    O nome desse rei é incerto, ele aparece como m šu-ú-a no Obelisco Negro e no Monólito de Kurkh, como m a-su-ú e m a-sa-a-ú (YOUNGER, 2000YOUNGER, K. Lawson, Jr. Neo-assyrian inscriptions (Annals: Calaḫ Bulls (2.113C)). In: HALLO, William W. (Ed.). The Context of Scripture. Vol. 2: Monumental inscriptions from the biblical world. Leiden: Brill , 2000, p. 261-306., p. 269).
  • 2
    O reino de Bīt-Agūsi teve como ancestral Gūsu e foi convertido a Arpad, importante cidade-Estado, no ano de 870, tornando-se grande opositor das campanhas assírias no norte do Levante no reinado de Aššurnaṣirpal II (883-859) (cf. DUŠEK, 2019DUŠEK, Jan. The kingdom of Arpad/Bīt-Agūsi: its capital, and its borders. In: DUŠEK, Jan; MYNÁŘOVÁ, Jana (Eds.). Aramaean borders: defining aramaean territories in the 10th-8th centuries B.C.E. (Culture and History of the Ancient Near East 101). Leiden: Brill, 2019, p. 172-202.).
  • 3
    A ascensão de Hazael pode ter ocorrido entre 844-842 (YOUNGER, 2016YOUNGER, K. Lawson, Jr. A political history of the arameans: from their origins to the end of their polities. (Archaeology and Biblical Studies 13). Atlanta, GA: SBL Press , 2016., p. 606).
  • 4
    É importante afirmar que “o nome Hadad-‘ezer era um nome pessoal aramita comum” (YOUNGER, 2016YOUNGER, K. Lawson, Jr. A political history of the arameans: from their origins to the end of their polities. (Archaeology and Biblical Studies 13). Atlanta, GA: SBL Press , 2016., p. 195).
  • 5
    Por um lado, a identificação de Ramot-Gilead (Rāmōt gil‘ād) continua incerta e alguns pesquisadores propõem Tell er-Rumeit/Rumīt, Tell el-Ḥuṣn - identificado com Yabesh-Gilead -, outros ligam-no a Ramtha, 15 km a oeste de Irbid (LEMAIRE, 2019LEMAIRE, André. The boundary between the aramaean kingdom of Damascus and the kingdom of Israel. In: DUŠEK, Jan; MYNÁŘOVÁ, Jana (Eds.). Aramaean borders: defining aramaean territories in the 10th-8th centuries B.C.E. (Culture and History of the Ancient Near East 101). Leiden: Brill , 2019, p. 245-266., p. 255); por outro, sabe-se que Ramot-Gilead era controlada pelos aramitas em 842, quando recupera territórios ocupados por israelitas no período da dinastia omrida, mas a circunstância pela qual ele passou a reinar levou à dissolução da antiga coalizão que rechaçava a expansão assíria na região.
  • 6
    O documento de Tēl Dān e as informações em 2Reis 8.28, 29a; 9.14b-15a sugerem que Hazael lutou com Jehoram (Yәhôrām), de quem Jehu aproveitou da fragilidade e usurpou o trono. A historiografia de 2Reis 9, a seguir, vai conflituar essa interpretação. Talvez 2Reis 8.7-15 forneça-nos algum indício. Em adição, informamos que as assim chamadas citações bíblicas, quando ocorrem nesta pesquisa, são da Biblia Hebraica Stuttgartensia (ELLIGER; RUDOLPH (Hrsg.), 1997ELLIGER, Karl; RUDOLPH, Wilhelm (Hrsg.). Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. aufl. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997.); caso haja transliteração e tradução do hebraico, ambas são realizadas pelo autor, assim como todas as traduções das citações de obras.
  • 7
    Esta postulação pode até parecer óbvia, mas poucos pesquisadores a enunciaram na interpretação do fato; sugerimos o resultado apresentado por Kottsieper (2007KOTTSIEPER, Ingo. The Tel Dan inscription (KAI 310) and the political relations between Aram-Damascus and Israel in the first half of the first millennium BCE. In: GRABBE, Lester L. (Ed.). Ahab agonists: the rise and fall of the Omri dynasty. London: Bloomsbury, 2007, p. 104-134., particularmente p. 121; cf. SANTOS, 2019bSANTOS, João Batista Ribeiro. Para além de Tēl Dān: os contextos e conexões dos conflitos entre aramitas e israelitas na Idade do Ferro II. Classica: Revista Brasileira de Estudos Clássicos, São Paulo, v. 32, n. 2, p. 91-114, 2019b.).
  • 8
    “Um símbolo que representa a si mesmo, em outras palavras, também pode representar outra coisa; um símbolo referencial pode ser visto como representando a si mesmo” (WAGNER, 2017WAGNER, Roy. Símbolos que representam a si mesmos. Trad. Priscila Santos da Costa. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 2017., p. 34).
  • 9
    Não descartamos completamente o tributo oferecido por Jehu ter sido um fato estratégico contra Hazael, mas este consegue conter o avanço imperial neoassírio (CAZELLES, 1986CAZELLES, Henri. História política de Israel: desde as origens até Alexandre Magno. Trad. Cácio Gomes. São Paulo: Paulinas, 1986., p. 165).
  • 10
    Liverani (2016LIVERANI, Mario. Antigo Oriente: história, sociedade e economia. Trad. Ivan Esperança Rocha. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2016., p. 675) apresenta uma “Tabela com resumo dos dados numéricos fornecidos pelas inscrições assírias”.
  • 11
    Amiḫai Mazar (2007MAZAR, Amiḥai. The divided monarchy: comments on some archaeological issues. In: SCHMIDT, Brian B. (Ed.). The quest for the historical Israel: debating archaeology and the history of early Israel. Leiden: Brill , 2007, p. 159-179., p. 162) afirma que a expressão é "irônica".
  • 12
    A grande expansão ou o assim chamado “domínio do mundo” caracterizará a segunda fase do império neoassírio e ocorrerá um século mais tarde, com Tiglat-pileser III (744-727), rei que constrói um sistema de provincialização e assirialização da região oeste e da costa do Levante.
  • 13
    Sucessor de Tiglat-pileser I (1114-1076), o rei Aššur-bēl-kala (1073-1056) também não obteve sucesso em guerras contra os aramitas (YOUNGER, 2017YOUNGER, K. Lawson, Jr. Tiglath-pileser I and the initial conflicts of the assyrians with the arameans. In: BERLEJUNG, Angelika; MAEIR, Aren M.; SCHÜLE, Andreas (Eds.). Wandering aramaeans - Aramaeans outside Syria: textual and archaeological perspectives. (Leipziger Altorientalistische Studen 5). Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 2017, p. 195-227., p. 221).
  • 14
    Referimo-nos às várias propostas de Gotthard G.G. Reinhold (2016REINHOLD, Gotthard G.G. The rise and fall of the aramaeans in the ancient Near East, from their first appearance until 732 BCE: new studies on Aram and Israel. Frankfurt am Main: Peter Lang Verlag, 2016.), mas sugerimos ver também as proposições de William G. Dever (2010DEVER, William G. Archaeology and the question of sources in Kings. In: LEMAIRE, André; HALPERN, Baruch (Eds.). The Books of Kings: sources, composition, historiography, and reception. (Supplements to Vetus Testamentum 129). Atlanta, GA: SBL Press, 2010, p. 517-538. [Leiden: Koninklijke Brill, 2010].).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    20 Mar 2019
  • Aceito
    29 Set 2019
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