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Hospital-dia da Faculdade de Medicina de Botucatu - Unesp: estudo descritivo da população atendida

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Hospital-dia da Faculdade de Medicina de Botucatu - Unesp: estudo descritivo da população atendida

Maria Cristina Pereira Lima

Dissertação de Mestrado, 1999. Faculdade de Ciências Médicas, UNICAMP

Poucas questões no cenário mundial conseguem ser ao mesmo tempo tão antigas e tão atuais quanto a assistência que se presta aos portadores de transtornos mentais. Nos últimos anos, no Brasil e em outros países, os Hospitais Psiquiátricos têm recebido diversas críticas, sendo a principal o fato de que estariam mais a serviço da segregação do que do tratamento dos pacientes. Como alternativa, hospitais-dia (HD) e serviços similares foram criados com a intenção de evitar a internação fechada ou até mesmo ser um intermediário entre esta e os ambulatórios. Foram propostos como espaços de atuação interdisciplinar em que o tratamento deveria ir além da mera remissão de sintomas, com abordagem psicodinâmica e atendendo também as famílias.

Embora existam no Brasil há mais de 40 anos, ainda há pouca informação sobre estes serviços. Esta escassez de dados motivou a condução de um estudo sobre o HD da Faculdade de Medicina de Botucatu - um serviço que há 18 anos vem tentando se colocar como uma alternativa. Os objetivos, neste estudo, foram descrever a população atendida e sua evolução na internação, segundo vários parâmetros. Foram obtidos dados sociodemográficos, antecedentes psiquiátricos, alterações psicopatológicas, de relacionamento familiar e de níveis de incapacitação psicossocial, a partir de entrevistas estruturadas e instrumentos validados.

Houve predomínio de mulheres (76,5%) como ocorre em outros serviços de saúde e de indivíduos jovens (61,8% com menos de 40 anos). Em sua maioria os pacientes eram procedentes de Botucatu e região (64,8%), sem vínculo conjugal (70,6%) e com transtornos do humor (44,1%). As internações duraram em média 74 dias, havendo 79,4% dos pacientes com melhora na ocasião da alta. Em 20,6% dos casos a renda familiar provinha do próprio paciente, e em 50%, havia a necessidade de algum tipo de subsídio para o transporte. A renda per capita foi o único fator preditivo de melhora (p=0,03). A duração da internação foi menor entre os indivíduos com sintomatologia depressiva/ansiosa (p=0,02) e maior naqueles com retraimento/desorientação (p=0,03). Quando se inclui a variável melhora na análise, pacientes com vínculos conjugais mostram um menor tempo de internação (p=0,002). A adesão, avaliada pelo comparecimento ao serviço, foi maior entre os pacientes com vínculos conjugais, menor renda per capita e maior freqüência da família ao serviço.

Os achados são compatíveis com a literatura de um modo geral. Chamou a atenção, contudo, a forte associação entre renda e melhora - maior ainda que a relação entre esta última e o comparecimento ao serviço. Esta associação deve ser mais bem estudada, para que a questão "o que produz melhora?" seja adequadamente respondida.

Dados do Ministério da Saúde têm mostrado um aumento de quase 400% no número de HDs no país, sem que haja informações disponíveis sobre seu funcionamento e sua adequação às necessidades da população. Além da fiscalização desses serviços, talvez sejam necessárias outras medidas por parte do Estado, como por exemplo, subsídios financeiros para portadores de transtornos mentais graves. Estes pacientes, muitas vezes, precisam de alguém que lhes preste cuidados e são incapazes de enfrentar o mercado de trabalho - ainda mais agravado pelo desemprego e a recessão que marcam a política econômica atual. Hospitais-dia devem também ser acompanhados de perto, visto que, com os recentes estímulos financeiros à sua criação, podem tornar-se um investimento lucrativo em detrimento da qualidade dos cuidados prestados - ironicamente, uma das críticas mais contundentes aos hospitais psiquiátricos tradicionais.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jul 2009
  • Data do Fascículo
    Ago 1999
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