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Territorialidades religiosas e devoção privada em Irati, PR

Territorialidades y devoción religiosa privada en Irati, PR

Territorialities religious and private devotion in Irati, PR

Territórialidades religieux et dévotion privée à Irati, PR

Resumos

Este trabalho procura desenvolver uma análise a respeito da existência de oratórios particulares estabelecidos nos beirais das casas de Irati, PR e mantidos desde a década de cinquenta, de uma forma em que se torna possível compreender o ambiente urbano permeado por um sagrado em intenso diálogo simbólico e estético. Esses oratórios possuem a capacidade de expressar valores morais, culturais e religiosos de uma família, manifestos por meio do cuidado estético.

Território; Sagrado; Religião; Oratório


Este trabajo busca desarrollar un análisis sobre la existencia de capillas privadas establecidas en los aleros de las casas de la Irati y mantenido desde los años cincuenta, de una manera que es posible entender el entorno urbano impregnado de lo sagrado en un diálogo intenso simbólico y estético. Estos santuarios tienen la capacidad de expresar los valores morales, culturales y religiosos de la familia, que se manifiesta a través de la atención con la estética.

Territorio; Santuarios; Religión; Oratorio


This work develop an analysis about the existence of private chapels established in the houses of Irati and maintained since the fifties, in a way that it becomes possible to understand the urban environment permeated by the sacred in an intense dialogue symbolic and aesthetic. These oratorys have the ability to express moral values, cultural and religious family, manifest through the care with the aesthetic.

Territory; Holy; Religion; Oratory


Ce travail vise à développer une analyse sur l'existence de chapelles privées établies dans les corniches des maisons de Irati et maintenu depuis les années cinquante, d'une manière qu'il devient possible de comprendre l'environnement urbain imprégné par le sacré dans un dialogue intense symboliques et esthétiques. Ces sanctuaires ont la capacité d'exprimer des valeurs morales, la famille culturelle et religieuse, se manifestent par le soin avec la esthétique.

Territoire; Sanctuaires; Religion; Oratoire


ARTIGOS

Territorialidades religiosas e devoção privada em Irati, PR

Territorialities religious and private devotion in Irati, PR

Territórialidades religieux et dévotion privée à Irati, PR

Territorialidades y devoción religiosa privada en Irati, PR

Graziele Margarida BrazI; Oseias de OliveiraII

IGraduada do curso de História pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Irati, PR. Email: grazi_mbraz@yahoo.com.br

IIProfessor Doutor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Departamento de História, Irati, PR. E-mail: oseias50@yahoo.com.br

RESUMO

Este trabalho procura desenvolver uma análise a respeito da existência de oratórios particulares estabelecidos nos beirais das casas de Irati, PR e mantidos desde a década de cinquenta, de uma forma em que se torna possível compreender o ambiente urbano permeado por um sagrado em intenso diálogo simbólico e estético. Esses oratórios possuem a capacidade de expressar valores morais, culturais e religiosos de uma família, manifestos por meio do cuidado estético.

Palavras-chaves: Território. Sagrado. Religião. Oratório.

ABSTRACT

This work develop an analysis about the existence of private chapels established in the houses of Irati and maintained since the fifties, in a way that it becomes possible to understand the urban environment permeated by the sacred in an intense dialogue symbolic and aesthetic. These oratorys have the ability to express moral values, cultural and religious family, manifest through the care with the aesthetic.

Key words: Territory. Holy. Religion. Oratory.

RÉSUMÉ

Ce travail vise à développer une analyse sur l'existence de chapelles privées établies dans les corniches des maisons de Irati et maintenu depuis les années cinquante, d'une manière qu'il devient possible de comprendre l'environnement urbain imprégné par le sacré dans un dialogue intense symboliques et esthétiques. Ces sanctuaires ont la capacité d'exprimer des valeurs morales, la famille culturelle et religieuse, se manifestent par le soin avec la esthétique.

Mots-clés: Territoire. Sanctuaires. Religion. Oratoire.

RESUMEN

Este trabajo busca desarrollar un análisis sobre la existencia de capillas privadas establecidas en los aleros de las casas de la Irati y mantenido desde los años cincuenta, de una manera que es posible entender el entorno urbano impregnado de lo sagrado en un diálogo intenso simbólico y estético. Estos santuarios tienen la capacidad de expresar los valores morales, culturales y religiosos de la familia, que se manifiesta a través de la atención con la estética.

Palabras clave: Territorio. Santuarios. Religión. Oratorio.

1 A significação do sagrado em Irati, PR

Esta reflexão relaciona-se com a identificação do território sagrado e seus aspectos culturais, principalmente a experiência de uma população com o território imbuído de elementos sacros. A preocupação com as experiências religiosas dos indivíduos permite estabelecer percepções históricas em relação ao cotidiano dos sujeitos sociais que constroem um conjunto de subjetividades em torno desse aspecto.

Nesse sentido, a análise feita sobre os oratórios particulares, principalmente da década de cinquenta, resistentes nos beirais de algumas casas iratienses, expõe um estado de proteção familiar junto à composição urbana. Esse fenômeno do território sagrado ainda contrasta com uma sociedade contemporânea em que, como afirma Hasbaert (1999, p. 13), "o sagrado aparece como elemento de produção do espaço", expressando a complexidade que envolve a articulação diária entre os aspectos do sagrado e o mundo experienciado.

Uma estratégia metodológica empregada nesta pesquisa consistiu do estabelecimento de diálogos com os moradores das casas que possuem orátórios e, a partir de suas narrativas a respeito das "capelinhas", construiu-se parte do corpus documental desta análise. Por meio das narrativas, evidenciou-se que muitos moradores possuem certo receio com relação ao seu manuseio, permitindo a identificação do elemento sagrado como um aspecto real do cotidiano dessas populações, que o reivindicam na tentativa de resolver necessidades familiares e, para tanto, garantem a sua permanência.

Dessa forma, a questão norteadora da pesquisa foi a de identificar a importância do território sagrado na organização do espaço, e como ele influencia a vida dos moradores das casas que possuem oratórios em Irati.

Então, as relações com sagrado recorrentes na década de cinquenta, quando as pessoas estabeleciam um sentido de fé e firmavam seus princípios religiosos, são retransmitidas por meio de formas, colocações e normas que fundamentam, legitimam, delimitam e regulam uma relação específica com o sagrado (ROSENDAHL, 1996). A importância de tal reflexão envolve a carência de estudos a respeito dos oratórios privados da cidade, os quais se encontram em algumas das principais ruas iratienses. Este estudo, também, busca contextualizar uma temática que é entendida simplesmente de maneira estética na edificação de uma casa ou, então, despercebida para a maioria da população.

2 O território sagrado e o espaço urbano

Infere-se que o território pode ser percebido de uma forma subjetiva, na qual o ser humano pode estabelecer um vínculo afetivo, simbólico e constitutivo de história. Os territórios suportam funções sociais e simbólicas do agente que os gere, permitindo a legitimação desses grupos e a manutenção de suas identidades (BONNEMAISON, 1981), assim sendo, eles consistem de resultados da apropriação de um agente social. Portanto o território relaciona-se a um meio de existência e reprodução do agente que o criou e o controla, tal como no caso abordado, envolvendo os oratórios privados: expressões da fé e devoção de uma sociedade, que representa sua relação com o sagrado não somente por meio das instituições regulares para esse fim, como as igrejas, mas também por meio de um espaço intímo no cotidiano doméstico.

Como o território, considerado sagrado, possuiu um conjunto de símbolos e rituais próprios aceitos por um grupo específico, a compreensão desses símbolos remetem a uma unidade relacionada aos aspectos de subjetividade presentes no cotidiano. Essa composição simbólica permite o encontro tanto do evidenciado quando do não expressado na relação com o sagrado. A "capelinha", um símbolo de religiosidade em Irati, surge como um instrumento atrativo, que pede ao outro e sugere um primeiro olhar de reconhecimento e se mantém por si só junto a um imaginário popular. Essa característica resulta na identificação do oratório privado como o principal recurso usado na década de cinquenta para as manifestações religiosas no contexto urbano, reveladoras das ações de modificação no mundo vivido, como um fenômeno de relação entre os indivíduos. O território sagrado ainda pode ser entendido como uma ferramenta reguladora, na qual as sociedades o reivindicam diante de ameaças de violência generalizada.

Dessa forma, a existência de uma cultura a respeito do território, fortalece a relação simbólica com o espaço, pois o território é ao mesmo tempo um espaço social e cultural visto que: enquanto um é produzido, o outro é vivenciado. A cultura é um elemento dinâmico que se movimenta em constantes processos de des-construção e construção, promovendo a capacidade dos seres humanos de se comunicarem entre si por meio de símbolos e signos, sem necessitar de interlocutores. Eles orientam ações que resultam em expressões concretas do sistema de crenças, instituições sociais e bens materiais, de forma que se manifestam com uma especificidade nos oratórios privados nos beirais das construções.

A manutenção dos oratórios constitui-se como uma característica de grupos que constroem uma significação de sua história. Os oratórios inserem-se em um contexto de relações sociais, simbólicas, econômicas, políticas e afetivas com o espaço ressignificado como uma estratégia de proteção ao local. Um dos resultados mais importantes é, sem dúvida, a identificação do oratório no meio urbano como o principal recurso para uma silenciosa manifestação religiosa e não somente um aspecto de valorização da arquitetura, porquanto o diálogo delicado do sagrado com o urbano revela ações de modificação ao mundo vivido, como elemento da relação entre as pessoas e as coisas.

Nos oratórios privados, observam-se mudanças importantes para a configuração das crenças religiosas, compreendendo um movimento que sofre as intersecções do tempo e culturalmente se orienta e se mantém pelos esforços dos habitantes, com um sentido de preservação e a recuperação da memória coletiva de uma família.

A presença do oratório privado nos beirais das casas ocorre em uma cidade marcada por um intenso processo de transformação, que afeta tanto as crenças quanto as relações destas com o território, assim como a mentalidade de uma nova geração com relação ao sagrado, sendo possível dessa forma abordar o território com relação ao sagrado, pautado na problemática de um estímulo de como e por que de certas ações vivenciadas no cotidiano são reconhecidas como elementos tradicionais detectados no ato de viver, saber e fazer. O sagrado que acontece na contemporaneidade obedece a formas/conteúdos (SANTOS, 1988), que correspondem a um lugar com um corpo modificado. A ocupação dos territórios sagrados marca a relação e as formas criadas por uma população diante de sua insuficiência.

Na análise dos dados coletados, foram constatados que os oratórios se encontram em casas de pessoas consideradas católicas e nas principais ruas de Irati, tais como a Conselheiro Zacarias e Trajano Grácia. Na maioria das casas, o santo presente nos oratórios é São José.


A sua presença é justificada pelo fato de ser considerado o padroeiro das famílias. Outro destaque é da imagem de Nossa Senhora das Graças: a padroeira da cidade de Irati. Nos demais oratórios, pode ser observada a presença da Sagrada Família e de São João Batista.


Durante a coleta de dados, foi possivel observar locais onde o santo foi removido da "capelinha". Nesses casos, os moradores eram protestantes e, mesmo removendo parte dos elementos sagrados integrantes do local, mantiveram a estrutura, devido a certo receio e respeito ao lidar com algo considerado sagrado.

Na década de cinquenta, ao serem construídos os oratórios nos beirais das casas, estes eram abençoados por um membro da igreja, com o intuito de validar a proteção da família, que ali habitava de todo mal que pudesse adentrar sua casa.

Na área de abrangência da pesquisa, foram encontradas vinte e três capelinhas, porém há outras tantas no espaço rural ou em bairros distantes da região central da cidade. Alguns oratórios estão situados em instituições de ensino superior, ensino médio e fundamental e de serviços públicos associados à Prefeitura Municipal de Irati, PR.

A partir desses dados, nota-se que o território sagrado vem a ser um local repleto de significação, seja por meio de símbolos, seja por meio de condutas, com um conjunto de simbólico e ritual próprios da religião o qual será aceito por um grupo religioso específico. Tal qual como sugere Rosendahl (1996), o sagrado estabelece separação, além de definir sentidos de ordem, totalidade e força.

3 Análise do fenômeno simbólico da religião

A análise simbólica permite o enconto de aspectos de subjetividade que envolve o cotidiano de pessoas com o desenvolvimento urbano de Irati. A presença simbólica no contexto estudado refere-se aos aspectos consonantes que envolvem a estética de signos que contornam e sustentam a relação de lugares do sagrado com seus fiéis.

Nos oratórios identificados, são identificadas algumas características tanto relacionadas à des-territorialização quanto à sua re-territorialização. Esses oratórios, em sua maioria, possuem a estrutura de uma capela em miniatura com vidro transparente na frente, para proteger e mostrar a imagem no beiral da casa. Alguns apresentam um cuidado estético muito grande. As "capelinhas" são ornamentadas com flores naturais ou artificiais, tecidos de renda, toalhas bordadas ao fundo, e algumas velas e terços.

É importante resaltar que o santo existente, na estrutura em forma de capela, é o mesmo que foi colocado na construção da moradia na década de cinquenta. Há um esforço de conservação e preservação da estética das capelinhas, como revelam algumas narrativas dos moradores. A imagem, com o tempo, pode sofrer desgastes naturais e necessitar de reformas. Após a restauração, ela é recolocada em seu ambiente original no beiral da habitação. Dessa forma, compreende-se que a relação com o sagrado associado às capelinhas perpassa as gerações familiares como uma forma de manutenção, também, da memória coletiva da família.

As "capelinhas" podem apresentar vários tipos de acabamento: pintura caiada (original), pintura à base de tinta látex, pintura a óleo, revestidos de papel de parede, de pano, de cor única, conforme o gosto e as condições econômicas do proprietário. A maioria das "capelinhas" estão em casas de madeira, onde as vitrines dispõem os artefatos para serem vistos através do vidro, dentro dos modos culturais dos seus proprietários, que mantêm uma relação intuitiva com esse espaço. Assim conseguem criar um diálogo estético e simbólico entre as pessoas e o oratório.

Nas construções de alvenaria, características do final da década de cinquenta, pode ser notado um certo requinte na ornamentação das "capelinhas", com luzes, cores mais claras que dão destaque à imagem, e um cuidado para não sobrecarregar o território sagrado com muitos adornos. Já em certos locais, como nos prédios públicos, o sagrado está relacionado à estética da construção.

Em certas habitações ocorre outra relação com o sagrado. As novas gerações não possuem interesse em manter aquele ambiente. Não reconhecem a existência da imagem no beiral da casa, ou simplesmente desconsideram-lhe a importância cultural e sagrada. Justificam tal atitude compatível com um modo de vida no qual outras coisas merecem maior atenção que a preocupação com a manutenção do oratório.

Nas casas de pessoas que não fazem parte da religião católica, encontra-se a estrutura do oratório vazia. Alguns moradores explicam que o destino dado à antiga imagem, presente no oratório, foi estabelecido pelo proprietário anterior da casa, o qual levou a imagem ao sair do lar. Isto ocorre porque se considera que a imagem foi abençoada para determinada família. O novo proprietário pode optar por deixar a capela vazia, não obstruindo a cavidade na parede por ter medo com relação ao território reconhecido como sagrado.

As "capelinhas" dizem respeito a um movimento da igreja católica, representante de sua composição histórica na cidade de Irati, na década de cinquenta. Essas "capelinhas" eram estimuladas pela igreja numa intensão de estabelecer na família uma presença sacra que garantisse a bem-aventurança e o distanciamento dos malefícios. Mas, para alguns moradores, elas também significam um alento às dificuldades econômicas que possam surgir.

A modernização urbana, atravessada pela cidade, promoveu a transformação de muitas moradias, fazendo com que alguns oratórios fossem interiorizados na residência. Dessa maneira, o território sagrado interage no cotidiano a partir de falas, ações, sentidos e percepções, permite ser entendido na modernidade contemporânea. O território nos remete, então, ao futuro imediato e passado imediato, o presente conclusivo e o inconclusivo, sempre em processo de renovação (CORRÊA, 2003).

Como o território é uma reordenação do espaço, ao qual é atribuída uma identidade relacionada aos grupos sociais que em torno dele se organizam, estes, então, envolvem a construção das identidades sociais como sendo a necessidade de um espaço fundamentado na implantação de seus símbolos, histórias e manutenção de suas práticas socioculturais (HAESBAERT, 1999).

Os territórios são regulamentados por diferentes agentes, no contexto religioso. Como afirma Rosendahl (2005, p. 202) "é controlado e, assim, dotado de estruturas específicas, incluindo um modo de distribuição espacial e de gestão de espaço" .

O territórios sagrados apresentam, além do espaço político, um nítido caráter cultural, que vem a ser expresso no sistema religioso. Propondo a definição dos fenômenos religiosos como sendo sagrado ou profano, prevalece uma visão dualista, onde um se opõe ao outro. Nesse sentido, considera-se sagrado tudo aquilo que está ligado à religião, magia, mitos, crenças. Em qualquer tipo de religião, a concepção do sagrado se manifesta sempre como uma realidade diferente das naturais, remetendo ao extraordinário, ao anormal, ao transcendental, ao metafísico. Quando o processo é tratado como um fato natural, biológico, normal, está no campo do profano, de tudo aquilo que não é território do sagrado.

Segundo Rosendahl (1996), procura-se compreender o papel do sagrado na (re)criação do território, reconhecendo o sagrado não como simples aspecto da paisagem, mas como elemento de produção do espaço que possui influência direta na vida das pessoas. O sagrado atua de forma intensa no cotidiano de muitas pessoas por meio do estabelecimento de regras, normas de conduta e horários.

Dessa maneira, os estudos sobre os territórios privados de devoção em Irati, revelam uma história permeada de muitos aspectos sobre a vida cotidiana urbana, que, segundo Souza (2001), apresenta-se como "um dos aspectos mais palpitantes da História fornecidos por hipóteses plausíveis sobre o modo como os homens levavam sua existência no passado".

O conjunto de crenças e o simbolismo empregado nas "capelinhas" revelam uma religiosidade evidente na cidade. Portanto, no desejo de compreender o modo de vida cotidiana de uma sociedade, o oratório privado constitui-se em um importante meio para se obter informações a respeito da cultura e identidade de uma população tradicional.

Considerações finais

A partir dos aspectos indicados neste trabalho, é admissível afirmar que as manifestações do sagrado aparecem como uma conjuntura de subjetividade e atendem a uma necessidade de solução dos problemas do cotidiano, pautadas pelo elemento simbólico. O sagrado, manifesto pelas "capelinhas", encontra-se regido por um emaranhado cotidiano e conduzido por um imaginário marcado pela de separação ou desprezo desse sagrado. Percebidos também como elementos históricos de formas bastante específicas de sociabilidade doméstica, os oratórios constituem como uma oportunidade de reconstrução do sagrado iratiense.

Tal estudo visou, então, destacar os aspectos culturais dessa sociedade, no sentido de resgatar o sensível de uma população local e, assim, preservar esse patrimônio cultural. De acordo com Bakhtin (apud BURKE, 2004), a memória coletiva tira sua força da duração do fato, e os oratórios continuam sendo preservados desde a década de cinquenta e, como foi possível notar nas entrevistas, dependendo da família, ainda será mantido por mais algumas décadas.

Por meio do estudo dos oratórios, pode-se identificar uma sociedade que estabelece relações muito próprias com capelinhas privadas e as carrega de devoção existente na sociedade contemporânea. Os oratórios indicam como os elementos religiosos, tais como a fé e os espaços considerados sagrados, atingem aos indivíduos e se transformam para muitos em um marco de sua identidade cultural.

Recebido em 20/08/2012; revisado e aprovado em 17/11/2012; aceito em 20/12/2012

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  • SANTOS, Milton. Espaço e método São Paulo: Nobel, 1988.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 2013

Histórico

  • Recebido
    20 Ago 2012
  • Aceito
    20 Dez 2012
  • Revisado
    17 Nov 2012
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