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Empreendedorismo e desenvolvimento endógeno: um estudo bibliométrico

Entrepreneurship and endogenous development: bibliometric study

Emprendimiento y desarrollo endógeno: un estudio bibliométrico

Resumo:

O caráter endógeno do desenvolvimento consttui-se em importante instrumento para construção de um ambiente capaz de transformar determinado espaço geográfico. Nesse sentido, os atores locais consttuem-se em forças vivas capazes de criar situações propícias ao surgimento do empreendedorismo. Esta pesquisa teve como objetivo caracterizar a produção científica sobre o empreendedorismo e sua relação com o desenvolvimento endógeno. Para atingir esse objetivo, realizou-se uma pesquisa bibliométrica nas bases Scopus, EBSCO e Web of Science, compreendendo período aberto até 2019, resultando em 131 artgos. A pesquisa caracterizou-se também pela abordagem qualitativa de natureza exploratória, tendo por objetivo a análise das discussões e possíveis relações entre empreendedorismo e desenvolvimento endógeno, utilizando-se como técnica de pesquisa a análise de conteúdo dos 20 artgos mais citados. A base da pesquisa utilizou princípios quanttativos com característica descritiva. Os achados da pesquisa não confirmaram a Lei de Lotka, ou seja, não há indícios de elitismo de autores. Do ponto de vista das contribuições, verifica-se a confirmação das teses iniciais da pesquisa, em que o desenvolvimento endógeno apresenta relação com o empreendedorismo. Os achados mostram que o empreendedorismo se configura como importante instrumento de desenvolvimento de uma região.

Palavras-chave:
empreendedorismo; desenvolvimento endógeno; desenvolvimento

Abstract:

The endogenous character of development is an important instrument for building an environment capable of transforming a given geographical space. In this sense, local actors are living forces capable of creating situations conducive to the emergence of entrepreneurship. This research aims to characterize scientific production on entrepreneurship and its relationship with endogenous development. To achieve the goal of the research, a bibliometric research was carried out on the Scopus, EBSCO, and Web of Science databases, comprising an open period until 2019, resulting in 131 articles. The research was also characterized by a qualitative approach of an exploratory nature, with the objective of analyzing the discussions and possible relationships between entrepreneurship and endogenous development, using as a research technique the content analysis of the 20 most cited articles. The research base used quanttative principles with descriptive characteristics. The findings of the research did not confirm Lotka’s Law, that is, there is no evidence of elitism by authors. From the point of view of contributions, the inital research theses are confirmed, in which endogenous development is related to entrepreneurship. The findings show that entrepreneurship is an important instrument for the development of a region.

Keywords:
entrepreneurship; endogenous development; development

Resumen:

El carácter endógeno del desarrollo es un instrumento importante para construir un entorno capaz de transformar un espacio geográfico determinado. En este sentido, los actores locales son fuerzas vivas capaces de generar situaciones propicias para el surgimiento del emprendimiento. Esta investigación tene como objetivo caracterizar la producción científica sobre el emprendimiento y su relación con el desarrollo endógeno. Para lograr el objetivo de esta investigación se realizó una investigación bibliométrica en las bases de datos Scopus, EBSCO y Web of Science, comprendiendo un período abierto hasta 2019, resultando 131 articulos. La investigación también se caracterizó por un abordaje cualitativo de carácter exploratorio, con el objetivo de analizar las discusiones y posibles relaciones entre emprendimiento y desarrollo endógeno, utilizando como técnica de investigación el análisis de contenido de los 20 articulos más citados. La base de la investigación utilizó principios cuanttativos con características descriptivas. Los hallazgos no confirmaron la Ley de Lotka, es decir, no hay evidencia de elitismo por parte de los autores. Desde el punto de vista de los aportes, se confirman las tesis iniciales de investigación, donde el desarrollo endógeno se relaciona con el emprendimiento. Los hallazgos muestran que el emprendimiento es un instrumento importante para el desarrollo de una región.

Palabras clave:
emprendimiento; desarrollo endógeno; desarrollo

1 INTRODUÇÃO

O empreendedorismo procura explicar como indivíduos ou grupos identificam e exploram oportunidades e, com isso, criam novos empreendimentos ou artefatos e valor para a sociedade (BRUYAT; JULIEN, 2001BRUYAT, C.; JULIEN, P.-A. Defining the field of research in entrepreneurship. Journal of Business Venturing, Indiana, v. 16, n. 2, p. 165–80, 2001. DOI:https://doi.org/10.1016/S0883-9026(99)00043-9
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; SARASVATHY, 2008SARASVATHY, S. Effectuation: elements of entrepreneurial expertise. Charlotesville: Elgaronline, 2008. 392 p. DOI: https://doi.org/10.4337/9781848440197
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). Para atingir esses propósitos, empreendedores assumem riscos e enfrentam incertezas, superam obstáculos e são inovadores (BRUYAT; JULIEN, 2001BRUYAT, C.; JULIEN, P.-A. Defining the field of research in entrepreneurship. Journal of Business Venturing, Indiana, v. 16, n. 2, p. 165–80, 2001. DOI:https://doi.org/10.1016/S0883-9026(99)00043-9
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). Muitas vezes, eles criam valor com poucos recursos (MOROZ; HINDLE, 2011MOROZ, P.; HINDLE, K. Entrepreneurship as a Process: Toward Harmonizing Multiple Perspectives. Entrepreneurship Theory and Practice, London, v. 36 n. 4, p. 781–818, 2011. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.2011.00452.x
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) e sugerem novas combinações que podem promover mudança econômica e transformações no local (DONNER; FORT, 2018DONNER, M.; FORT, F. Stakeholder value-based place brand building. Journal of Product & Brand Management, London, v. 27, n. 7, 807–18, 2018. DOI: https://doi.org/10.1108/JPBM-10-2017-1652
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).

O desenvolvimento de localidades, a partir de seus próprios recursos, consttui a abordagem do desenvolvimento endógeno. A teoria do crescimento endógeno apresenta, ao menos, duas contribuições importantes. A primeira refere-se à formação do conhecimento e do capital humano como respostas às oportunidades de mercado. A segunda é relativa ao investimento em conhecimento, que provavelmente resultará em spillovers para outros agentes da economia (BRAUNERHJELM et al., 2010BRAUNERHJELM, P.; ACS, Z. J.; AUDRETSCH, D. B.; CARLSSON, B. The missing link: Knowledge difusion and entrepreneurship in endogenous growth. Small Business Economics, Berlin, v. 34, n. 2, p. 105–25. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-009-9235-1
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).

Dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2006ORGANIZATION FOR COOPERATION AND DEVELOPMENT [OCDE]. Understanding entrepreneurship: Developing indicators for international comparisons and assessments. Paris: STD/CSTA, 2006. 9.), relativos a estudo abrangendo o período entre 1981 e 2002, fornecem evidências de que os empreendedores contribuem para o crescimento e que sua importância aumentou a partir da década de 1990. Os resultados do referido estudo mostram o papel dos empreendedores no crescimento local e indicam que as políticas ao empreendedorismo são importantes para aumentar a difusão do conhecimento e promover o crescimento econômico (BRAUNERHJELM et al., 2010BRAUNERHJELM, P.; ACS, Z. J.; AUDRETSCH, D. B.; CARLSSON, B. The missing link: Knowledge difusion and entrepreneurship in endogenous growth. Small Business Economics, Berlin, v. 34, n. 2, p. 105–25. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-009-9235-1
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). Isso evidencia uma relação entre empreendedorismo e desenvolvimento endógeno. Compreender como essa relação tem sido discutda na literatura é importante para avançar na compreensão dos seus elementos determinantes. O estudo da OCDE avança na discussão da temática ao evidenciar a correlação entre empreendedorismo e o processo endógeno de desenvolvimento. Contudo, o período de análise do referido estudo encerra-se em 2002. Tendo em vista que transcorreram vinte anos após o estudo citado e que ele pode ter contribuído para estimular a produção científica no campo, este estudo procurou responder à questão: como se configura a produção científica entre desenvolvimento endógeno e empreendedorismo?

Com isso, o objetivo desta pesquisa foi identificar e analisar a produção científica acerca dos temas desenvolvimento endógeno e empreendedorismo, a fim de verificar o interesse pela temática, como também apresentar o perfil da produção científica. Para cumprir esse objetivo, realizou-se uma pesquisa bibliométrica, que buscou evidenciar a evolução das publicações, bem como as tendências das pesquisas acerca da compreensão dos fenômenos do empreendedorismo e desenvolvimento endógeno como fenômenos associados.

Este artgo está organizado em quatro seções. Após esta introdução, uma breve revisão de literatura visa fornecer a base teórica referencial à pesquisa. Na sequência, na metodologia, são detalhados os procedimentos seguidos para a bibliometria. Na terceira parte, desenvolvem-se a análise e interpretação dos dados, finalizando-se com as considerações finais.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Desenvolvimento endógeno

O desenvolvimento endógeno refere-se a processos impulsionados por forças internas (disponibilidade econômica e investimento) de empresas e sociedade local, um processo criativo de transformação dos indivíduos em determinada comunidade (HAYASHI;WALLS, 2019HAYASHI, N.; WALLS, M. Endogenous community development in Greenland: a perspective on creative transformation and the perception of future. Polar Science, Cambridge, v. 21, p. 52–57, 2019. DOI: https://doi.org/10.1016/j.polar.2019.06.002
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). Trata-se de forma de governança baseada na projeção e execução de políticas centradas a partir de acordos entre agentes públicos, privados, organizações não governamentais e agências internacionais (HASAN; NAHIDUZZAMAN; ALDOSARY, 2018HASAN, M. A.; NAHIDUZZAMAN, K. M.; ALDOSARY, A. S. Public participation in EIA: a comparative study of the projects run by government and non-governmental organizations. Environmental Impact Assessment Review, Cambridge, v. 72, p. 12–24, 2018. DOI: https://doi.org/10.1016/j.eiar.2018.05.001
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). Esta governança procura valorizar potencialidades, preservar recursos naturais e almejar qualidade de vida da população (COLET; MOZZATO, 2018COLET, D. S.; MOZZATO, A. R. A cooperação no contexto das transformações sociais e do desenvolvimento local: o caso das Salamarias-RS. Gestão & Regionalidade, São Caetano, v. 34, n. 102, p. 179–91, 2018.). Em outros termos, o processo dinâmico de transformação econômica da região deve buscar referência nas forças locais, iniciando um processo de transformação interna com base na proximidade entre os atores (PACHOUD; COY, 2018PACHOUD, C.; COY, M. Relações de proximidade entre atores locais e a dinâmica de desenvolvimento territorial: análise da cadeia produtiva do queijo artesanal serrano nos campos de cima da Serra;/RS. Gestão & Desenvolvimento Regional, Taubaté v. 14, n. 2, p. 157–82, 2018.). Com isso, o desenvolvimento endógeno configura-se a partir da junção de forças, envolvendo os governos, em conjunto com empreendedores locais, que se reúnem em busca de elevação da compettividade, de melhoria de padrões de vida e emprego da sociedade como um todo.

Para Hayashi e Walls (2019)HAYASHI, N.; WALLS, M. Endogenous community development in Greenland: a perspective on creative transformation and the perception of future. Polar Science, Cambridge, v. 21, p. 52–57, 2019. DOI: https://doi.org/10.1016/j.polar.2019.06.002
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, o processo de desenvolvimento endógeno inicia-se com a mobilização dos agentes locais, com vistas a promover alterações culturais e histórico-ambientais, via incorporação de novos conhecimentos e tecnologias. Parte-se, assim, da conjunção entre proximidade geográfica e proximidade organizada (PACHOUD; COY, 2018PACHOUD, C.; COY, M. Relações de proximidade entre atores locais e a dinâmica de desenvolvimento territorial: análise da cadeia produtiva do queijo artesanal serrano nos campos de cima da Serra;/RS. Gestão & Desenvolvimento Regional, Taubaté v. 14, n. 2, p. 157–82, 2018.), e os empreendedores ocupam papel importante (DONNER; FORT, 2018DONNER, M.; FORT, F. Stakeholder value-based place brand building. Journal of Product & Brand Management, London, v. 27, n. 7, 807–18, 2018. DOI: https://doi.org/10.1108/JPBM-10-2017-1652
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). No entanto, é relevante também o papel do governo e de outros atores externos (CRESCENZI; RODRÍGUEZ-POSE; STORPER, 2012CRESCENZI, R.; RODRÍGUEZ-POSE, A.; STORPER, M. The territorial dynamics of innovation in China and India. Journal of Economic Geography, Oxford, n. 12, p. 1055–85, 2012. DOI: https://doi.org/10.1093/jeg/lbs020
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; PARKER; DRESSEL, CHEVERS, ZEPPETELLA, 2018PARKER, D. W.; DRESSEL, U.; CHEVERS, D.; ZEPPETELLA, L. Agency theory perspective on public-private-partnerships: International development project. International Journal of Productivity and Performance Management, New Delhi, v. 67, n. 2, p. 239–59, 2018. DOI: https://doi.org/10.1108/IJPPM-09-2016-0191
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).

Para essa lógica de proximidade gerar desenvolvimento, é preciso que haja cooperação, colaboração e confança entre os atores (COLET; MOZZATO, 2018COLET, D. S.; MOZZATO, A. R. A cooperação no contexto das transformações sociais e do desenvolvimento local: o caso das Salamarias-RS. Gestão & Regionalidade, São Caetano, v. 34, n. 102, p. 179–91, 2018.; COSTA et al., 2018COSTA, E. S.; BITANTE, A. P.; BRITTO, L. C.; PINHEIRO, L. R. D.; FARINA, M. C. Análise das relações e ações conjuntas entre as empresas do APL têxtil da região metropolitana de São Paulo: contribuições para o seu crescimento. Interações, Campo Grande, MS, v. 19, n. 1, p. 401–15, 2018. DOI: https://doi.org/10.20435/inter.v19i2.1602
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; PACHOUD; COY, 2018PACHOUD, C.; COY, M. Relações de proximidade entre atores locais e a dinâmica de desenvolvimento territorial: análise da cadeia produtiva do queijo artesanal serrano nos campos de cima da Serra;/RS. Gestão & Desenvolvimento Regional, Taubaté v. 14, n. 2, p. 157–82, 2018.), na medida em que a cooperação entre empresas e atores locais assume papel relevante no processo de desenvolvimento (BECATTINI, 2017BECATTINI, G. The Marshallian industrial district as a socio-economic notion. Revue d’économie Industrielle, Paris, n. 157, p. 13–32, 2017. DOI: https://doi.org/10.4000/rei.6507
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). Além disso, participação e liderança influenciam os diferentes níveis, de forma que o desenvolvimento endógeno pode resultar em sustentabilidade local (MALUNGA; HOLCOMBE, 2014MALUNGA, C.; HOLCOMBE, S. H. Endogenous development: Naïve romanticism or practical route to sustainable African development? Development in Practice, Boca Raton, v. 24, n. 5/6, p. 615–22, 2014. DOI: https://doi.org/10.1080/09614524.2014.938616
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).

Parte das teorias endógenas do desenvolvimento compreende a concentração espacial e especialização regional de empresas, atribuindo vantagens comparativas a determinado espaço geográfico. Nesse sentido, o crescimento endógeno, fruto da especialização, transformaria o ambiente local por meio do potencial de desenvolvimento do território (SHARIFZADEGAN; MALEKPOURASL; STOUGH, 2017SHARIFZADEGAN, M. H.; MALEKPOURASL, B.; STOUGH, R. Regional Endogenous Development Based on Conceptualizing a Regional Productivity Model for Applicaton in Iran. Applied Spatal Analysis and Policy, New York, v. 10, n. 1, p. 43-75, 2017. DOI: https://doi.org/10.1007/s12061-015-9169-8
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). Isso devido ao fato de que empresas aglomeradas, com vocações heterogêneas, costumam apresentar maior produtividade e alcance, dado que costumam otimizar custos de transporte e compartilhamento de conhecimento (BARQUERO, 2010BARQUERO, A. V. The new forces of development: territorial policy for endogenous development. New Jersey: World Scientific, 2010.; SHARIFZADEGAN; MALEKPOURASL; STOUGH, 2017SHARIFZADEGAN, M. H.; MALEKPOURASL, B.; STOUGH, R. Regional Endogenous Development Based on Conceptualizing a Regional Productivity Model for Applicaton in Iran. Applied Spatal Analysis and Policy, New York, v. 10, n. 1, p. 43-75, 2017. DOI: https://doi.org/10.1007/s12061-015-9169-8
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).

Para a abordagem neoendógena do desenvolvimento, a origem deste está no local, resultante de interações dinâmicas entre áreas locais e ambientes maiores. O desenvolvimento “neoendógeno” caracteriza-se, então, pela combinação de interações de diferentes atores, instituições e níveis de atuação locais, com vistas ao atendimento das demandas locais (GAO; LIU, 2020GAO, P.; LIU, Y. Endogenous inclusive development of e-commerce in rural China: a case study. Growth and Change. San Francisco: Scopus, 2020. DOI: https://doi.org/10.1111/grow.12436
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). A dinâmica local, bem como a interação entre os atores e as insttuições locais e regionais, é que pautam o desenvolvimento neoendógeno (BOSWORTH et al., 2016BOSWORTH, G.; ANNIBAL, I.; CARROLL, T.; PRICE, L.; SELLICK, J.; SHEPHERD, J. Empowering Local Action through Neo-Endogenous Development; The Case of LEADER in England: Empowering local action. Sociologia Ruralis, New Jersey, v. 56, n. 3, p. 427–49, 2016. https://doi.org/10.1111/soru.12089
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).

Em síntese, os paradigmas recentes de desenvolvimento sugerem uma combinação entre aprendizagem, fexibilidade, conhecimento e redes cooperativas voltadas a suportar o dinamismo empreendedor como propulsor do desenvolvimento endógeno. Nessa vertente, novas combinações de ativos existentes possibilitam descortinar novos mercados, destinando ao empreendedor o papel central no processo de desenvolvimento (BECATTINI, 2017BECATTINI, G. The Marshallian industrial district as a socio-economic notion. Revue d’économie Industrielle, Paris, n. 157, p. 13–32, 2017. DOI: https://doi.org/10.4000/rei.6507
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; RANGEL-PRECIADO et al., 2021RANGEL-PRECIADO, J. F.; PAREJO-MORUNO, F. M.; CRUZ-HIDALGO, E.; CASTELLANO-ÁLVAREZ, F. J. Rural Districts and Business Agglomerations in Low-Density Business Environments. The Case of Extremadura (Spain). Land, Kraków, v. 10, n. 3, p. 280, 2021. DOI: https://doi.org/10.3390/land10030280
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).

2.2 Considerações sobre empreendedorismo

A definição de empreendedorismo como campo científico resulta de um debate longo e ainda em construção. Uma das possibilidades para descrever o fenômeno é como um processo (MOROZ; HINDLE, 2011MOROZ, P.; HINDLE, K. Entrepreneurship as a Process: Toward Harmonizing Multiple Perspectives. Entrepreneurship Theory and Practice, London, v. 36 n. 4, p. 781–818, 2011. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.2011.00452.x
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), que tem início com a descoberta, avaliação e exploração de oportunidades (SHANE; VENKATARAMAN, 2000SHANE, S.; VENKATARAMAN, S. The Promise of Entrepreneurship as a Field of Research. The Academy of Management Review, New York, v. 25, n. 1, p. 217–26, 2000. DOI: https://doi.org/10.2307/259271
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) e que resulta em criação de valor. É importante salientar que a criação de valor pode resultar da combinação de poucos recursos ou recursos escassos (MACHADO, 2020MACHADO, H. P. V. Bricolagem na criação e trajetória de um circo contemporâneo. Organizações & Sociedade, Salvador, n. 27, v. 93, p. 314–32, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/1984-9270938
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; MOROZ; HINDLE, 2011MOROZ, P.; HINDLE, K. Entrepreneurship as a Process: Toward Harmonizing Multiple Perspectives. Entrepreneurship Theory and Practice, London, v. 36 n. 4, p. 781–818, 2011. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.2011.00452.x
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) e pode contribuir para transformar a realidade local (KYRÖ, 2015KYRÖ, P. Handbook of Entrepreneurship and Sustainable Development Research. Massachusets: Edward Elgar Publishing, 2015. DOI: https://doi.org/10.4337/9781849808248
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).

Nos vinte anos que sucederam a publicação de Shane e Venkataraman (2000)SHANE, S.; VENKATARAMAN, S. The Promise of Entrepreneurship as a Field of Research. The Academy of Management Review, New York, v. 25, n. 1, p. 217–26, 2000. DOI: https://doi.org/10.2307/259271
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, oportunidades tornaram-se constructos centrais na compreensão do fenômeno. Isso tanto do ponto de vista da origem delas em mercados preexistentes como também pela compreensão de que elas são formadas endogenamente, a partir de ações e acordos dos próprios empreendedores (ALVAREZ; BARNEY, 2020ALVAREZ, S.; BARNEY, J. B. Has the Concept of Opportunites Been Fruitul in the Field of Entrepreneurship? Academy of Management Perspectives, New York, v. 34, n. 3, p. 300–10, 2020. DOI: https://doi.org/10.5465/amp.2018.0014
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; SARASVATHY, 2008SARASVATHY, S. Effectuation: elements of entrepreneurial expertise. Charlotesville: Elgaronline, 2008. 392 p. DOI: https://doi.org/10.4337/9781848440197
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). Recentemente, McMullen, Brownell e Adams (2020)MCMULLEN, J. S.; BROWNELL, K. M.; ADAMS, J. What Makes an entrepreneurship study entrepreneurial? Toward a unified theory of entrepreneurial agency. Entrepreneurship Theory and Practice, London, v. 45, n. 5, p. 1–42, 2020. DOI: https://doi.org/10.1177/1042258720922460
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apresentaram uma nova abordagem, focada na agência empreendedora. Para esses autores, o empreendedorismo apresenta quatro dimensões, que eles descrevem como: a) unidade de análise (quem); b) foco do constructo e as características que definem alguém como mais ou menos empreendedor (o que); c) barreiras e determinantes da ação (por que); e d) agentes que apresentam elevados níveis de empreendedorismo (como).

Quanto à unidade de análise, o empreendedorismo pode ser observado no nível individual ou macro (BAUMGARTNER; SCHULZ, SEIDL, 2013BAUMGARTNER, D.; SCHULZ, T.; SEIDL, I. Quantifying entrepreneurship and its impact on local economic performance: a spatal assessment in rural Switizerland. Entrepreneurship and Regional Development, Berlin, v. 25, n. 3/4, p. 222–50, 2013. DOI: https://doi.org/10.1080/08985626.2012.710266
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; JULIEN, 2019JULIEN, P. A. The regional variations of entrepreneurial dynamism: a mixed methods study. Entrepreneurship & Regional Development, Berlin, v. 31, n. 9/10, p. 874–907, 2019.), sendo que a combinação de fatores individuais e macro tende a proporcionar certo dinamismo socioeconômico (GKARTZIOS; SCOTT, 2014GKARTZIOS, M.; SCOTT, M. Placing Housing in rural development: exogenous, endogenous and neo-endogenous approaches – housing and rural development. Sociologia Ruralis, New Jersey, v. 54, n. 3, p. 241–65, 2014. DOI: https://doi.org/10.1111/soru.12030
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). Isso resulta em mecanismos capazes de transformar o ambiente, promovendo mudanças que resultem, por vezes, em desenvolvimento endógeno (ALSOS; CARTER; LJUNGGREN, 2011ALSOS, C. S.; LJUNGGREN, E. The Handbook of Research on Entrepreneurship in Agriculture and Rural Development. Cheltenham: Edward Elgar Publishing, 2011.). Contudo, Julien (2019)JULIEN, P. A. The regional variations of entrepreneurial dynamism: a mixed methods study. Entrepreneurship & Regional Development, Berlin, v. 31, n. 9/10, p. 874–907, 2019. considera que a maioria dos estudos em empreendedorismo tem como foco a análise do fenômeno no nível individual, necessitando de estudos adicionais que possibilitem a compreensão do desenvolvimento endógeno resultante do empreendedorismo.

2.2.1 Empreendedorismo e desenvolvimento

A relação entre desenvolvimento econômico e empreendedorismo é mencionada por diferentes autores (ACS et al., 2018ACS, Z. J.; ESTRIN, S.; MICKIEWICZ, T.; SZERB, L. Entrepreneurship, institutional economics, and economic growth: an ecosystem perspective. Small Business Economics, Berlin, v. 51, n. 2, p.501–14, 2018. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-018-0013-9
https://doi.org/10.1007/s11187-018-0013-...
; BAUMGARTNER; SCHULZ; SEIDL, 2013BAUMGARTNER, D.; SCHULZ, T.; SEIDL, I. Quantifying entrepreneurship and its impact on local economic performance: a spatal assessment in rural Switizerland. Entrepreneurship and Regional Development, Berlin, v. 25, n. 3/4, p. 222–50, 2013. DOI: https://doi.org/10.1080/08985626.2012.710266
https://doi.org/10.1080/08985626.2012.71...
; MALECKI, 2018MALECKI, E. J. Chapter 3 Entrepreneurs, Networks, and economic development: a review of recent research. In J. A. KATZ; A. C. CORBETT (Org.). Advances in Entrepreneurship, firm emergence and growth. Somerville: Emerald Publishing Limited, 2018. p. 71–116. V. 20. DOI: https://doi.org/10.1108/S1074-754020180000020010
https://doi.org/10.1108/S1074-7540201800...
; SERGI et al., 2019SERGI, B. S.; POPKOVA, E. G.; BOGOVIZ, A. V.; RAGULINA, J. V. Entrepreneurship and Economic growth: the experience of developed and developing countries. In: SERGI B. S.; SCANLON; C. C. (Org.). Entrepreneurship and Development in the 21st Century. Somerville: Emerald Publishing Limited. p. 3–32, 2019. DOI: https://doi.org/10.1108/978-1-78973-233-720191002
https://doi.org/10.1108/978-1-78973-233-...
). Ela resulta de mecanismos criativos locais derivados, entre outros aspectos, da ação empreendedora (BELITSKI; DESAI, 2016BELITSKI, M.; DESAI, S. Creativity, entrepreneurship and economic development: city-level evidence on creativity spillover of entrepreneurship. The Journal of Technology Transfer, Berlin, v. 41, n. 6, p. 1354–76, 2016. DOI: https://doi.org/10.1007/s10961-015-9446-3
https://doi.org/10.1007/s10961-015-9446-...
; BLOCK; FISCH, VAN PRAAG, 2017BLOCK, J. H.; FISCH, C. O.; VAN PRAAG, M. The Schumpeterian entrepreneur: a review of the empirical evidence on the antecedents, behaviour and consequences of innovative entrepreneurship. Industry and Innovation, London, v. 24, n. 1, p. 61–95, 2017. DOI: https://doi.org/10.1080/13662716.2016.1216397
https://doi.org/10.1080/13662716.2016.12...
), que proporciona ambiente capaz de influenciar positivamente o desenvolvimento (BELITSKI; DESAI, 2016BELITSKI, M.; DESAI, S. Creativity, entrepreneurship and economic development: city-level evidence on creativity spillover of entrepreneurship. The Journal of Technology Transfer, Berlin, v. 41, n. 6, p. 1354–76, 2016. DOI: https://doi.org/10.1007/s10961-015-9446-3
https://doi.org/10.1007/s10961-015-9446-...
; SCHUMPETER, 2000SCHUMPETER, J. A. Entrepreneurship as Innovation. University of Illinois at Urbana-Champaign’s Academy for Entrepreneurial Leadership Historical Research Reference in Entrepreneurship, 2000. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=1512266. Acesso em: 9 set 2019.
https://ssrn.com/abstract=1512266...
). A atividade empreendedora consiste então em um componente no processo de crescimento econômico, sendo resultado, entre outros, do ambiente e da qualidade insttucional (BOSMA et al., 2018BOSMA, N.; CONTENT, J.; SANDERS, M.; STAM, E. Insttutions, entrepreneurship, and economic growth in Europe. Small Business Economics, Berlin, v. 51, n. 2, p. 483–99, 2018. https://doi.org/10.1007/s11187-018-0012-x
https://doi.org/10.1007/s11187-018-0012-...
; HENREKSON; JOHANSSON, 2009HENREKSON, M.; JOHANSSON, D. Competencies and institutions fostering High-growth frms. Foundations and Trends in Entrepreneurship, Bristol v. 5, n. 1, p. 1–80, 2009. DOI: https://doi.org/10.1561/0300000026
https://doi.org/10.1561/0300000026...
). O ambiente ou o contexto podem dar origem a diferentes modalidades de empreendedorismo, como, por exemplo, o social, o corporativo, o internacional, entre outros (MCMULLEN; BROWNELL ADAMS, 2020MCMULLEN, J. S.; BROWNELL, K. M.; ADAMS, J. What Makes an entrepreneurship study entrepreneurial? Toward a unified theory of entrepreneurial agency. Entrepreneurship Theory and Practice, London, v. 45, n. 5, p. 1–42, 2020. DOI: https://doi.org/10.1177/1042258720922460
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).

Estudos anteriores demonstraram que alguns aspectos associados ao empreendedorismo influenciam o desenvolvimento do local. Entre estes, destaca-se o papel do ambiente e de combinações políticas. O ambiente regional pode estimular ou desestimular o empreendedorismo e, consequentemente, o desenvolvimento (AJIDE; AJISAFE; OLOFIN, 2019AJIDE, F. M.; AJISAFE, R. A.; OLOFIN, O. P. Capital controls, entrepreneurship and economic growth in selected developing countries. Asian Economic and Financial Review, Kuala Lumpur, [Scopus], v. 9, n. 2, p. 191–212, 2019 DOI: https://doi.org/10.18488/journal.aefr.2019.92.191.212
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; CONTENT; FRENKEN; JORDAAN, 2019CONTENT, J.; FRENKEN, K.; JORDAAN, J. A. Does related variety foster regional entrepreneurship? Evidence from European regions. Regional Studies, England , v. 53, n. 11, p. 1531–43, 2019. DOI: https://doi.org/10.1080/00343404.2019.1595565
https://doi.org/10.1080/00343404.2019.15...
). Ambientes que contam com políticas de empreendedorismo apresentam maior propensão ao desenvolvimento (AJIDE; AJISAFE, OLOFIN, 2019AJIDE, F. M.; AJISAFE, R. A.; OLOFIN, O. P. Capital controls, entrepreneurship and economic growth in selected developing countries. Asian Economic and Financial Review, Kuala Lumpur, [Scopus], v. 9, n. 2, p. 191–212, 2019 DOI: https://doi.org/10.18488/journal.aefr.2019.92.191.212
https://doi.org/10.18488/journal.aefr.20...
). Malecki (2018)MALECKI, E. J. Chapter 3 Entrepreneurs, Networks, and economic development: a review of recent research. In J. A. KATZ; A. C. CORBETT (Org.). Advances in Entrepreneurship, firm emergence and growth. Somerville: Emerald Publishing Limited, 2018. p. 71–116. V. 20. DOI: https://doi.org/10.1108/S1074-754020180000020010
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salienta o papel importante de combinações políticas, as quais poderão, inclusive, influenciar a inovação no local. Outros aspectos mencionados por Julien (2019)JULIEN, P. A. The regional variations of entrepreneurial dynamism: a mixed methods study. Entrepreneurship & Regional Development, Berlin, v. 31, n. 9/10, p. 874–907, 2019. consistem na cultura empreendedora e na educação da região.

A inovação e o empreendedorismo configuram-se como complementos no fortalecimento à compettividade regional (BLOCK; FISCH; VAN PRAAG, 2017BLOCK, J. H.; FISCH, C. O.; VAN PRAAG, M. The Schumpeterian entrepreneur: a review of the empirical evidence on the antecedents, behaviour and consequences of innovative entrepreneurship. Industry and Innovation, London, v. 24, n. 1, p. 61–95, 2017. DOI: https://doi.org/10.1080/13662716.2016.1216397
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). O ambiente consttuído por empresários inovadores estimula a busca por recursos e oportunidades capazes de influenciar o desenvolvimento, caracterizando a dinâmica e o desenvolvimento endógeno (GRILLITSCH; SOTARAUTA, 2020GRILLITSCH, M.; SOTARAUTA, M. Trinity of change agency, regional development paths and opportunity spaces. Progress in Human Geography, London, v. 44, n. 4, p. 704–23, 2020. DOI: https://doi.org/10.1177/0309132519853870
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). Em outros termos, empresários inovadores que interagem entre si consttuem um sistema de inovação capaz de estimular o contexto da região rumo ao desenvolvimento, a partir de arranjos insttucionais internos (HENNING; MCKELVEY, 2020HENNING, M.; MCKELVEY, M. Knowledge, entrepreneurship and regional transformation: contributing to the Schumpeterian and evolutionary perspective on the relationships between them. Small Business Economics, Berlin, v. 54, n. 2, p. 495–501, 2020. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-018-0030-8
https://doi.org/10.1007/s11187-018-0030-...
).

Em síntese, é a partir de iniciativas locais que o processo de desenvolvimento endógeno se inicia, observando a interação de forças e o fortalecimento insttucional, tendo o empreendedorismo como importante aliado (BARQUERO; RODRÍGUEZ-COHARD, 2016BARQUERO, A. V.; RODRÍGUEZ-COHARD, J. C. Endogenous development and institutions: challenges for local development initatives. Environment and Planning C: Government and Policy, London, v. 34, n. 6, p. 1135–53, 2016. DOI: https://doi.org/10.1177/0263774X15624924
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). O esforço cognitivo coletivo tende a focar as potencialidades locais, tornando o processo de desenvolvimento endógeno genuíno, a partir dos arranjos e conhecimentos internos em determinado espaço geográfico. Esse processo tende a fixar as empresas no local, tornando o ambiente fértil ao crescimento e desenvolvimento econômico (HÉRAUD, 2021HÉRAUD, J. A New Approach of Innovation: from the Knowledge economy to the theory of creativity applied to territorial development. Journal of the Knowledge Economy, New York, v. 12, p. 201–17, 2021. DOI: https://doi.org/10.1007/s13132-016-0393-5
https://doi.org/10.1007/s13132-016-0393-...
).

Convém salientar que o impacto do empreendedorismo no crescimento econômico pode variar consoante o estágio de desenvolvimento econômico dos países. Por exemplo, Stoica, Roman e Rusu (2020)STOICA, OVIDIU; ROMAN, ANGELA; RUSU, VALENTINA DIANA. The Nexus between Entrepreneurship and Economic Growth: A Comparative Analysis on Groups of Countries. Sustainability Basel, n. 12, p. 1-19, 2020. DOI: https://doi.org/10.3390/su12031186
https://doi.org/10.3390/su12031186...
, analisando dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), identificaram que a atividade empreendedora inicial total nos países em transição foi inferior em comparação aos países europeus baseados na inovação. Para os autores, isso pode ser devido ao fato de que, nos países em transição, os efeitos positivos do empreendedorismo foram limitados pela sua presença significativa em atividades de baixa produtividade, como também em função de fatores macroeconômicos, como a elevada percentagem da economia paralela, a corrupção e a concorrência desleal.

Contudo, estudos mostram que a permanência das empresas locais, bem como o ambiente organizacional, cultural, inovador, tecnológico e econômico, apresenta as bases para o desenvolvimento endógeno (BECATTINI, 2017BECATTINI, G. The Marshallian industrial district as a socio-economic notion. Revue d’économie Industrielle, Paris, n. 157, p. 13–32, 2017. DOI: https://doi.org/10.4000/rei.6507
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; FISCHER; NIJKAMP, 2018FISCHER, M. M.; NIJKAMP, P. The Nexus of Entrepreneurship and Regional Development. Working Papers in Regional Science, 2018/05. WU Vienna University of Economics and Business, Vienna, 2018. Disponível em: https://research.wu.ac.at/en/publications/the-nexus-of-entrepreneurship-and-regional-development-12. Acesso em: 18 jun. 2020.
https://research.wu.ac.at/en/publication...
). O arranjo resultante da interação entre empresas, insttuições públicas e privadas é capaz de produzir novas formas de produção e interação entre atores locais que caracterizam os meios para inovação e criam as bases para o desenvolvimento (BLOCK; FISCH; VAN PRAAG, 2017BLOCK, J. H.; FISCH, C. O.; VAN PRAAG, M. The Schumpeterian entrepreneur: a review of the empirical evidence on the antecedents, behaviour and consequences of innovative entrepreneurship. Industry and Innovation, London, v. 24, n. 1, p. 61–95, 2017. DOI: https://doi.org/10.1080/13662716.2016.1216397
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; HAYASHI; WALLS, 2019HAYASHI, N.; WALLS, M. Endogenous community development in Greenland: a perspective on creative transformation and the perception of future. Polar Science, Cambridge, v. 21, p. 52–57, 2019. DOI: https://doi.org/10.1016/j.polar.2019.06.002
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; HENNING; MCKELVEY, 2020HENNING, M.; MCKELVEY, M. Knowledge, entrepreneurship and regional transformation: contributing to the Schumpeterian and evolutionary perspective on the relationships between them. Small Business Economics, Berlin, v. 54, n. 2, p. 495–501, 2020. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-018-0030-8
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; HÉRAUD, 2021HÉRAUD, J. A New Approach of Innovation: from the Knowledge economy to the theory of creativity applied to territorial development. Journal of the Knowledge Economy, New York, v. 12, p. 201–17, 2021. DOI: https://doi.org/10.1007/s13132-016-0393-5
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).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo caracteriza-se como pesquisa bibliométrica, baseado em análise de artgos publicados em torno dos temas empreendedorismo e desenvolvimento endógeno, de forma associada. Destacam-se, entre as normas que regem a pesquisa bibliométrica, as Leis de Bradford, especialmente a produtividade de periódicos, e a Lei de Lotka, com foco na produtividade científica de autores (GUEDES; BORSCHIVIER, 2005GUEDES, V. L. S.; BORSCHIVIER, S. Bibliometria: uma ferramenta estat체ica para a gestão da informação e do conhecimento, em sistemas de informação, de comunicação e de avaliação científica e tecnológica – ScienceOpen. In: ENCONTRO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 6., 14 a 17 jun. 2005. Anais […]. Salvador: UFBA, 2005. Disponível em: http://www.cinform-anteriores.ufa.br/vi_anais/docs/VaniaLSGuedes.pdf.; https://www.scienceopen.com/document?vid=08b2e297-3603-412b-9d0d-e754a9a7423d. Acesso em: 18 jun. 2020.
http://www.cinform-anteriores.ufa.br/vi_...
). A Lei de Lotka surgiu em 1926, com o objetivo de estudar a produtividade dos autores. Sua principal função é medir a produtividade, dado o comportamento padronizado nas publicações. Consttui-se de ferramenta estat체ica de distribuição de probabilidades discretas (CÂNDIDO et al., 2018CÂNDIDO, R. B.; GARCIA, F. G.; CAMPOS, A. L. S.; FILHO, E. T. Lei de Lotka: um olhar sobre a produtividade dos autores na literatura brasileira de finanças. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, São Carlos, v. 23, n. 53, p. 1–15, 2018. DOI: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2018v23n53p1
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).

Esta pesquisa é voltada para a produção científica dos estudos sobre empreendedorismo e desenvolvimento endógeno. De modo sucinto, o empreendedorismo refere-se ao fenômeno que procura explicar a criação de empresas, de valor ou de artefatos, o que pode ocorrer a partir da identificação ou criação de oportunidades e de sua exploração, bem como de arranjos entre empreendedores (BRUYAT; JULIEN, 2001BRUYAT, C.; JULIEN, P.-A. Defining the field of research in entrepreneurship. Journal of Business Venturing, Indiana, v. 16, n. 2, p. 165–80, 2001. DOI:https://doi.org/10.1016/S0883-9026(99)00043-9
https://doi.org/10.1016/S0883-9026(99)00...
; SARASVATHY, 2008SARASVATHY, S. Effectuation: elements of entrepreneurial expertise. Charlotesville: Elgaronline, 2008. 392 p. DOI: https://doi.org/10.4337/9781848440197
https://doi.org/10.4337/9781848440197...
; SHANE; VENKATARAMAN, 2000SHANE, S.; VENKATARAMAN, S. The Promise of Entrepreneurship as a Field of Research. The Academy of Management Review, New York, v. 25, n. 1, p. 217–26, 2000. DOI: https://doi.org/10.2307/259271
https://doi.org/10.2307/259271...
). Por sua vez, o desenvolvimento endógeno é compreendido como o desenvolvimento resultante da combinação de interações de diferentes atores e insttuições locais, com vistas ao atendimento das demandas locais (BOSWORTH et al., 2016BOSWORTH, G.; ANNIBAL, I.; CARROLL, T.; PRICE, L.; SELLICK, J.; SHEPHERD, J. Empowering Local Action through Neo-Endogenous Development; The Case of LEADER in England: Empowering local action. Sociologia Ruralis, New Jersey, v. 56, n. 3, p. 427–49, 2016. https://doi.org/10.1111/soru.12089
https://doi.org/10.1111/soru.12089...
; GAO; LIU, 2020GAO, P.; LIU, Y. Endogenous inclusive development of e-commerce in rural China: a case study. Growth and Change. San Francisco: Scopus, 2020. DOI: https://doi.org/10.1111/grow.12436
https://doi.org/10.1111/grow.12436...
).

A pesquisa bibliométrica foi realizada nas bases Scopus, EBSCO e Web of Science, em razão da abrangência de periódicos nessas bases. O período de busca teve início aberto até 2019. A pesquisa caracterizou-se também por um enfoque qualitativo de natureza exploratória, utilizando-se, como técnica de pesquisa, da análise de conteúdo de 20 artgos entre os mais citados, tendo como parâmetro cada uma das bases pesquisadas (BARDIN, 2016BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.).

Como critério de inclusão da pesquisa, foram selecionados artgos publicados nos idiomas Inglês e Português. Em relação à qualidade dos artgos, procurou-se selecionar artgos avaliados por pares, com maior número de citações, nas áreas de Administração, Economia, Negócios, Empreendedorismo e Desenvolvimento. Após a consulta às bases mencionadas, os dados foram importados utilizando o software Zotero. Depois da análise, os artgos foram exportados para o Microsoft Excel 2013, com objetivo de verificar se realmente se alinhavam à proposta do estudo e obedeciam aos critérios da Lei de Bradfort e de Lotka. Sinteticamente, os parâmetros de busca seguiram as seguintes etapas:

Etapa 1 – Palavras-chave: entrepreneurship e endogenous development. Além dos termos, foram utilizados os operadores booleanos AND, OR e AND, combinados de diferentes formas, a fim de melhorar a busca. Os termos de busca foram: entrepren* AND endogen* AND developm*.

Etapa 2 – A busca se deu nas bases: EBSCO, Web of Science e Scopus. O corte temporal inicial foi “aberto” e final até 2019. Língua: inglês e português. A pesquisa foi realizada entre os dias 10 e 15 de novembro de 2020. Após a busca, os artgos foram transportados para planilhas, por base de dados.

Etapa 3 – A pesquisa na Web of Science (WOS) resultou em 316 artgos.

Etapa 4 – A pesquisa na base EBSCO identificou 383 artgos.

Etapa 5 – Na base Scopus, retornou um total de 306 artgos. Os dados podem ser observados na Tabela 1.

Tabela 1
Bases de dados

Etapa 6 – Análise qualitativa de 20 artgos entre os com maior número de citações, a fim de identificar o tipo de abordagem associada aos tópicos empreendedorismo e desenvolvimento endógeno.

Como se observa na Tabela 1, inicialmente, foram excluídos 148 artgos repetdos. Restaram 857 artgos. Estes tiveram os ttulos lidos por pelo menos dois pesquisadores. Foram excluídos 696 artgos que não tinham nos ttulos os termos empreendedorismo ou desenvolvimento endógeno ou termos que indicassem elementos associados à relação entre os dois fenômenos. No caso de existência de alguma dúvida, procedeu-se à leitura dos resumos. No final, restaram 161 artgos. Estes foram submetdos à leitura dos resumos por, pelo menos, dois pesquisadores, sendo então excluídos 30 artgos que tinham foco em aspectos econômicos não associados ao empreendedorismo, como, por exemplo, crescimento econômico, infação e ações monetárias. Além disso, foram excluídos artgos com foco na adoção de tecnologias em pequena escala, interesse público em forestas, foco em balanço social e em intenções empreendedoras por estudantes. A análise quanttativa foi então realizada com os 131 artgos remanescentes.

Adicionalmente, foi realizada uma revisão tradicional da literatura (KRAUS; BREIER; DASÍ-RODRÍGUEZ, 2020KRAUS, S.; BREIER, M.; DASÍ-RODRÍGUEZ, S. The art of crafting a systematic literature review in entrepreneurship research. International Entrepreneurship and Management Journal, Berlin, v. 3, n. 16, p. 1023–42, 2020. DOI: https://doi.org/10.1007/s11365-020-00635-4
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) de 20 artgos entre os mais citados nas diferentes bases de dados consultadas. Esses artgos foram lidos na íntegra e foi realizada uma análise de conteúdo (BARDIN, 2016BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.), a partir de dois códigos previamente definidos: foco do estudo e contribuições.

4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Procedeu-se a análise quanttativa dos 131 artgos, catalogando-os por ttulo, autores, ano de publicação, fliação dos autores e revista de publicação. A partir dessa avaliação, foi realizada a tabulação de distribuição da produção científica por Journal, como se observa na Tabela 2.

Tabela 2
Distribuição da produção por revista

A Tabela 2 apresenta os periódicos que mais publicaram de acordo com os dados da pesquisa. Destaca-se que 68,7% das publicações ocorreram em apenas um artgo por journal. Contudo, o Journal Small Business Economics, periódico com Qualis A1 e Fator de Impacto de 4.803, apresentou 15 publicações, representando 11,45% do total. Em segundo lugar, o Journal Sustainability, periódico Qualis B1 e Fator de Impacto 2.276, com 12 artgos publicados, representando 9,16% do total das publicações vinculadas à pesquisa.

O Journal Small Business Economics caracteriza-se pela ênfase em assuntos de empreendedorismo e economia, com enfoque multdisciplinar, o que pode explicar o resultado obtdo. Por sua vez, o Journal Sustainability caracteriza-se pela multdisciplinaridade, com foco na sustentabilidade ambiental, cultural, social e econômica. O desenvolvimento sustentável e suas múltiplas faces são tema constante nas publicações desse journal. Em terceiro lugar, entre os periódicos mais citados na pesquisa, o Journal Entrepreneurship & Regional Development foca o empreendedorismo e desenvolvimento regional, alinhando-se aos propósitos desta pesquisa. Por fm, vale salientar que os journals Small Business Economics, Entrepreneurship & Regional Development e Entrepreneurship Theory and Practice constam entre os 40 journals mais importantes na pesquisa em empreendedorismo, conforme salientam Kraus, Breier e Dasí-Rodríguez (2020)KRAUS, S.; BREIER, M.; DASÍ-RODRÍGUEZ, S. The art of crafting a systematic literature review in entrepreneurship research. International Entrepreneurship and Management Journal, Berlin, v. 3, n. 16, p. 1023–42, 2020. DOI: https://doi.org/10.1007/s11365-020-00635-4
https://doi.org/10.1007/s11365-020-00635...
.

Além disso, os dados da pesquisa revelaram, como pode ser observado na Tabela 3 e no Gráfico 1, que 62,6% dos artgos foram produzidos por dois ou três autores, ao passo que 20,61% dos artgos foram produzidos por apenas um autor.

Tabela 3
Quantdade de autores por artgo

Gráfico 1
Produtividade dos autores

Os dados apresentados na Tabela 3 demonstram que a produção ocorreu em redes de autores, mais do que em apenas um autor. Isso evidencia um interesse mais amplo por parte da comunidade científica como um todo no tema, embora 20% da produção tenha sido localizada em apenas um autor.

O Quadro 1 apresenta os pressupostos de produtividade, no qual se pode observar que 93,73% dos autores produziram apenas um artgo, o que demonstra conformidade com a Lei de Lotka. Para essa lei, segundo Chung et al. (1992)CHUNG, KEE H.; PAK, HONG S.; COX, RAYMOND A. K. Paterns of research output in the accounting literature: a study of the bibliometric distributions. Abacus, Sidney, v. 28, n. 2, p. 168–85, 1992. OI:https://doi.org/10.1111/j.1467-6281.1992.tb00278.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-6281.1992...
, o número de autores com um único trabalho publicado deveria ser, pelo menos, 60,8% do total. A respeito da produção média por autor, os resultados da pesquisa não atendem à conformidade com os pressupostos teóricos, pois 43 artgos foram publicados por 59 autores, ou seja, 1/3 da literatura pesquisada não foi produzida por 1/10 dos autores, o que mostra não haver indícios de relativo elitismo de autores nesse campo, uma vez que 103 autores são os responsáveis por 50% das publicações.

Quadro 1
Pressupostos de produtividade

Como não há elitismo de autores, nota-se a necessidade em consolidar pesquisas acadêmicas alusivas ao tema. Os dados coletados demonstram, como se percebe na Tabela 4, a diferença entre os autores que produziram apenas um trabalho (93,73%), os que produziram dois, três ou quatro trabalhos (6,27%).

Tabela 4
Produtividade por autor

Observa-se no Gráfico 1 que a queda do traçado em relação ao número de artgos por autor é vertginosa, as caudas das três distribuições são alongadas, formando uma distribuição da típica forma do J inverso.

Quanto à produção por país, os Estados Unidos da América (EUA) foram os que mais produziram sobre as temáticas em conjunto, com 21,7% do total, seguidos pelo Reino Unido, com 19,3%, e Espanha, com 14,5%. As demais produções estão distribuídas entre vários países, como Holanda (8,4%), Bélgica (6,0%), China (6,0%), Polônia (6,0%), Suíça (6,0%) e Alemanha (4,8%), assim como outros com menores percentuais.

Em relação à distribuição das publicações por país, verifica-se que os Estados Unidos, o Reino Unido e a Espanha são responsáveis por 55,5% das publicações. A China ficou com 6% (5) das publicações. O Brasil ficou com apenas três publicações, ou 2,2% do total. Esses valores expressam a concentração de pesquisa e produção de conhecimento em três países.

Em síntese, a análise quanttativa da produção científica sobre os temas de estudo demonstrou que pesquisas adicionais são necessárias. Um total aproximado de 25% da produção está concentrada em três journals: Small Business Economics; Sustainability e Entrepreneurship & Regional Development. Nesse sentido, os resultados apontam a necessidade de ampliar o número de revistas científicas que discutam os temas em conjunto. Observou-se também a ausência de elitismo entre autores e que aproximadamente 94% da produção científica refere-se a um artgo por autor. Além disso, a maioria das pesquisas concentrou-se nos Estados Unidos e na Europa, evidenciando a necessidade de ampliar estudos em outros contextos.

4.1 Análise qualitativa

Na sequência, apresenta-se o resultado da análise qualitativa que foi realizada com 20 artgos entre os mais citados. O Quadro 2 apresenta uma síntese, em ordem cronológica, dessas publicações.

Quadro 2
Foco e contribuição dos artgos analisados

A análise dos artgos, apresentada no Quadro 2, demonstra um perfil da produção científica no campo. Inicialmente, quanto ao uso de metodologias, foram identificados três tipos de estudos: estudos de casos, estudos com dados secundários (GEM e OECD) e ensaios teóricos.

No tocante à evolução dos estudos, observa-se que a associação entre os temas empreendedorismo e desenvolvimento endógeno ganha contornos a partir dos anos 2000, corroborando a ideia desenvolvimentista aliada ao desenvolvimento tecnológico. Desta forma, o estudo de Hellwig e Irmen (2001)HELLWIG, M.; IRMEN, A. Endogenous Technical change in a compettive economy. Journal of Economic Theory, Cork, v. 101, n. 1, p. 1–39, 2001. DOI: https://doi.org/10.1006/jeth.2000.2787
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é um dos primeiros a salientar a inovação, enquanto a importância das redes de atores é observada no estudo de Huggins e Thompson (2015)HUGGINS, R.; THOMPSON, P. Entrepreneurship, innovation and regional growth: a network theory. Small Business Economics, Berlin v. 45, n. 1, p. 103–28, 2015. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-015-9643-3
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.

Nos anos subsequentes, observa-se que estudos reforçam a importância de redes sociais, bem como da liderança no desenvolvimento local, como foram os estudos de Walcot (2007)WALCOTT, S. M. Wenzhou and the third Italy: Entrepreneurial model regions. Journal of Asia-Pacific Business, Philadelphia, v. 8, n. 3, p. 23-35, 2007. Scopus. DOI: https://doi.org/10.1300/J098v08n03_03
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, na China, e de Huggins e Thompson (2015)HUGGINS, R.; THOMPSON, P. Entrepreneurship, innovation and regional growth: a network theory. Small Business Economics, Berlin v. 45, n. 1, p. 103–28, 2015. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-015-9643-3
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. Especificamente no estudo de Walcot (2007)WALCOTT, S. M. Wenzhou and the third Italy: Entrepreneurial model regions. Journal of Asia-Pacific Business, Philadelphia, v. 8, n. 3, p. 23-35, 2007. Scopus. DOI: https://doi.org/10.1300/J098v08n03_03
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, emerge a discussão sobre o modelo de desenvolvimento “de baixo para cima”, evidenciando um modelo centrado na ideia de papel de agência dos empreendedores, em consonância com a ação empreendedora sugerida por McMullen, Brownell e Adams (2020)MCMULLEN, J. S.; BROWNELL, K. M.; ADAMS, J. What Makes an entrepreneurship study entrepreneurial? Toward a unified theory of entrepreneurial agency. Entrepreneurship Theory and Practice, London, v. 45, n. 5, p. 1–42, 2020. DOI: https://doi.org/10.1177/1042258720922460
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.

Outro fator apontado pelos estudos, na sequência, é sobre o ambiente insttucional e o papel das insttuições (NABI; SULIMAN, 2009NABI, M. S.; SULIMAN, M. O. Institutions, banking development, and economic growth. Developing Economies, Toronto, v. 47, n. 4, p. 436–57, 2009. Scopus. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1746-1049.2009.00093.x
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). Entre estas, as universidades, conforme o modelo da hélice tripla, apresentado por Etizkowitiz e Dzisah (2008). Por sua vez, Chowdhury, Audretsch e Belitski (2019)CHOWDHURY, F.; AUDRETSCH, D. B.; BELITSKI, M. Insttutions and Entrepreneurship Quality. Entrepreneurship Theory and Practice, London, v. 43, n. 1, p. 51–81, 2019. DOI: https://doi.org/10.1177/1042258718780431
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apontam a relevância de insttuições de apoio para promoção de empreendedorismo e desenvolvimento, e Braunerhjelm, Acs, Audretsch e Carlsson (2010)BRAUNERHJELM, P.; ACS, Z. J.; AUDRETSCH, D. B.; CARLSSON, B. The missing link: Knowledge difusion and entrepreneurship in endogenous growth. Small Business Economics, Berlin, v. 34, n. 2, p. 105–25. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-009-9235-1
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fazem menção ao papel importante de políticas públicas.

Nota-se ainda que a relação entre empreendedorismo, desenvolvimento e conhecimento é abordada por diversos autores (ACS et al.,2013ACS, Z. J.; AUDRETSCH, D. B.; LEHMANN, E. E. The knowledge spillover theory of entrepreneurship. Small Business Economics, Berlin, n. 41, p. 757–74, 2013. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-013-9505-9
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; HESSEL; VAN STEL, 2011HESSELS, J.; VAN STEL, A. Entrepreneurship, export orientation, and economic growth. Small Business Economics, Berlin v. 37, n. 2, 255–68, 2011. Scopus. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-009-9233-3
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; PERALTA, 2019PERALTA, J. D. Regional development and entrepreneurship: Evidence for Colombia. Trimestre Economico, Cidade do México, v. 86, n. 342, p. 467–90, 2019. Scopus. DOI: https://doi.org/10.20430/ete.v86i342.656
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; RICO; CABRER-BORRÁS, 2019RICO, P.; CABRER-BORRÁS, B. Entrepreneurial capital and productive efficiency: The case of the Spanish regions. Technological and Economic Development of Economy, Boca Raton, v. 25, n. 6, p. 1363–79, 2019. Scopus. DOI: https://doi.org/10.3846/tede.2019.10549
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). Por exemplo, Acs et al. (2013)ACS, Z. J.; AUDRETSCH, D. B.; LEHMANN, E. E. The knowledge spillover theory of entrepreneurship. Small Business Economics, Berlin, n. 41, p. 757–74, 2013. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-013-9505-9
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salientam o efeito spillover do empreendedorismo tecnológico e inovador nos territórios, com efeito propagador e transbordante. Rico e Cabrer-Borrás (2019)RICO, P.; CABRER-BORRÁS, B. Entrepreneurial capital and productive efficiency: The case of the Spanish regions. Technological and Economic Development of Economy, Boca Raton, v. 25, n. 6, p. 1363–79, 2019. Scopus. DOI: https://doi.org/10.3846/tede.2019.10549
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recomendam o incentivo à inovação e educação, especialmente em regiões menos favorecidas. Ademais, outros estudos demonstraram a existência de uma relação direta entre empreendedorismo e desenvolvimento local, por meio da análise de relação entre a taxa de atividade empreendedora e o PIB per capita (ERKEN; DONSELAAR; THURIK, 2018ERKEN, H.; DONSELAAR, P.; THURIK, R. Total factor productivity and the role of entrepreneurship. Journal of Technology Transfer, Berlin, n. 43, p. 1493–521, 2018. DOI: https://doi.org/10.1007/s10961-016-9504-5
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; PERALTA, 2019PERALTA, J. D. Regional development and entrepreneurship: Evidence for Colombia. Trimestre Economico, Cidade do México, v. 86, n. 342, p. 467–90, 2019. Scopus. DOI: https://doi.org/10.20430/ete.v86i342.656
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). Para Peralta (2019)PERALTA, J. D. Regional development and entrepreneurship: Evidence for Colombia. Trimestre Economico, Cidade do México, v. 86, n. 342, p. 467–90, 2019. Scopus. DOI: https://doi.org/10.20430/ete.v86i342.656
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, níveis elevados de desenvolvimento estimulam o empreendedorismo, e este favorece o primeiro, gerando um ciclo desenvolvimentista.

Exportações e internacionalização são fatores que constam em dois estudos (HESSEL; VAN STEL, 2011HESSELS, J.; VAN STEL, A. Entrepreneurship, export orientation, and economic growth. Small Business Economics, Berlin v. 37, n. 2, 255–68, 2011. Scopus. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-009-9233-3
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; BADZINSKA, 2016BADZINSKA, E. Exploring the Concept of Born to Be Global in the Context of Technological Entrepreneurship. Journal of Creativity and Business Innovation, Utica, v. 3, p. 46–64, 2016.). Para Hessel e van Stel (2011)HESSELS, J.; VAN STEL, A. Entrepreneurship, export orientation, and economic growth. Small Business Economics, Berlin v. 37, n. 2, 255–68, 2011. Scopus. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-009-9233-3
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, a vocação exportadora em empresas iniciantes mostrou-se relevante para o desenvolvimento endógeno. Considera-se importante destacar aqui a falta de consenso na literatura sobre o tipo de empreendedorismo que favoreceria, de fato, o desenvolvimento local. Shane (2009)SHANE, S. Why encouraging more people to become entrepreneurs is bad public policy. Small Business Economics, Berlin, n. 33, p. 141-9, 2009. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-009-9215-5
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, por exemplo, defende que apenas empresas que são voltadas ao crescimento representam um tipo de empreendedorismo que pode gerar desenvolvimento endógeno.

Em contrapartida, os estudos de Bernardino e Santos (2017)BERNARDINO, S.; SANTOS, J. F. Local development through social and territorial innovation: an exploratory case study. CIRIEC-España – Revista de Economía Pública,Social y Cooperativa, Valencia, n. 90, p. 159–87, 2017. e Barragán e Ayaviri (2017)BARRAGÁN, M. C.; AYAVIRI, V. D. Innovation and entrepreneurship, and their relation with local development in the town of Salinas de Guaranda, Provincia Bolívar, Ecuador. Informacion Tecnologica, La Serena, v. 28, n. 6, p. 71–80, 2017. Scopus. DOI: https://doi.org/10.4067/S0718-07642017000600009
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atestam a importância de uma organização social e da inovação social, bem como da economia solidária, respectivamente, para promoção de crescimento e empoderamento dos atores. Nesse sentido, o estudo de Aghion (2017)AGHION, P. Entrepreneurship and growth: lessons from an intellectual journey. Small Business Economics, Berlin, v. 48, n. 01, p. 9–24, 2017. DOI: https://doi.org/10.1007/s11187-016-9812-z
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aponta a necessidade de pensar o paradigma schumpeteriano aliado a um crescimento inclusivo de desenvolvimento.

Por fm, é importante frisar que a imigração é um tema que tem sido incluído nas agendas de territórios, como também na temática do empreendedorismo (por exemplo, Machado et al., 2021MACHADO, M. M.; FALCÃO, R. P.; CRUZ, E. P.; HOSSEIN, C. S. Aspectos do empreendedorismo imigrante brasileiro em Toronto. Interações, Campo Grande, MS, v. 22, n. 3, p. 959–75, 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.20435/inter.v22i3.3144
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). Nesta pesquisa, apenas um artgo na base dos 131 artgos que compuseram o estudo abordou o tema, focando mulheres imigrantes: o estudo de Hopp e Martin (2017)HOPP, C.; MARTIN, J. Does entrepreneurship pay for women and immigrants? A 30 year assessment of the socio-economic impact of entrepreneurial activity in Germany. Entrepreneurship and Regional Development, Berlin, v. 29, n. 5/6, p. 517–43, 2017. DOI: DOI: https://doi.org/10.1080/08985626.2017.1299224
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. Outra vertente de estudos que não foi identificada foi a de estudos críticos, que abordem, por exemplo, o comportamento de empreendedores que obtêm ganhos econômicos locais, mas não contribuem para a construção de territórios inclusivos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PESQUISAS FUTURAS

Este artigo teve por objetivo identificar e analisar a produção científica acerca dos temas desenvolvimento endógeno e sua relação com o empreendedorismo. A pesquisa bibliométrica evidenciou o perfil e a evolução das publicações, bem como as tendências das pesquisas sobre empreendedorismo e sua relação com o desenvolvimento endógeno.

Os resultados apresentados originaram-se de pesquisas a partir das bases de dados da Scopus, EBSCO e Web of Science. Os achados da análise quanttativa permitram confirmar a Lei de Lotka, quanto à produção média dos autores, dado que o número de autores com um único trabalho publicado deveria ser de, pelo menos, 60,8% dos autores, e a produção de um único artgo foi de 93,73% dos autores. No entanto, quanto ao elitismo de autores, os achados não confirmaram a Lei de Lotka, ou seja, não há indícios de elitismo de autores, uma vez que a publicação de artgos é distribuída em uma quantidade maior de autores do que os pressupostos da Lei de Lotka. Esses aspectos demonstram a importância de estudos adicionais sobre as temáticas.

A análise qualitativa apresentou um perfil de vinte artgos entre os mais citados no campo. Nesta análise, identificou-se que estudos associaram os temas a aspectos apontados anteriormente na literatura, como redes, inovação e cultura (AJIDE; AJISAFE; OLOFIN, 2019AJIDE, F. M.; AJISAFE, R. A.; OLOFIN, O. P. Capital controls, entrepreneurship and economic growth in selected developing countries. Asian Economic and Financial Review, Kuala Lumpur, [Scopus], v. 9, n. 2, p. 191–212, 2019 DOI: https://doi.org/10.18488/journal.aefr.2019.92.191.212
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; BLOCK; FISCH; VAN PRAAG, 2017BLOCK, J. H.; FISCH, C. O.; VAN PRAAG, M. The Schumpeterian entrepreneur: a review of the empirical evidence on the antecedents, behaviour and consequences of innovative entrepreneurship. Industry and Innovation, London, v. 24, n. 1, p. 61–95, 2017. DOI: https://doi.org/10.1080/13662716.2016.1216397
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; JULIEN, 2019JULIEN, P. A. The regional variations of entrepreneurial dynamism: a mixed methods study. Entrepreneurship & Regional Development, Berlin, v. 31, n. 9/10, p. 874–907, 2019.; MALECKI, 2018MALECKI, E. J. Chapter 3 Entrepreneurs, Networks, and economic development: a review of recent research. In J. A. KATZ; A. C. CORBETT (Org.). Advances in Entrepreneurship, firm emergence and growth. Somerville: Emerald Publishing Limited, 2018. p. 71–116. V. 20. DOI: https://doi.org/10.1108/S1074-754020180000020010
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). Por outro lado, os achados desta pesquisa mostraram aspectos adicionais, como o papel de empresas nascentes exportadoras e de empresas born global para o desenvolvimento endógeno. Foi possível ainda identificar outra vertente de estudos com ênfase no desenvolvimento endógeno inclusivo, por meio de empreendedorismo social, inovação social e cooperativas. Com isso, os resultados deste estudo ampliam o espectro de possíveis variáveis conjugando ação empreendedora e desenvolvimento do local. Além disso, lacunas foram observadas, como escassez de estudos sobre imigrantes e sobre estudos críticos, apontando uma direção para estudos futuros.

Quanto às limitações deste estudo, destaca-se a ausência de análise de redes de autores, que permitria mapear produções conjuntas.

Como contribuição teórica, o estudo aponta a evolução das pesquisas com os dois temas conjuntamente e discorre sobre uma gama de fatores associados a desenvolvimento endógeno e empreendedorismo, por meio dos estudos analisados. Lacunas são sugeridas para estudiosos nos dois campos, notadamente sobre estudos críticos.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2022

Histórico

  • Recebido
    21 Dez 2020
  • Revisado
    31 Jan 2022
  • Aceito
    07 Mar 2022
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