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Ganhos competitivos na constituição de uma cooperativa em uma vila da zona rural do município de Tracuateua, PA

Competitive gains in the constitution of a cooperative in a village in the rural area of the municipality of Tracuateua, PA

Ganancias competitivas en la constitución de una cooperativa en una aldea del área rural del municipio de Tracuateua, PA

Resumo

Diante de um mercado econômico cada vez mais globalizado e concorrencial, a formação de economias solidárias e a prática de cooperação são oportunidades plausíveis para pequenas empresas se desenvolverem e manterem a competitividade e sobrevivência, tornando-se um caminho não somente para o desenvolvimento econômico, mas também humano e social. Sendo assim, esta pesquisa teve como objetivo estudar quais os ganhos competitivos podem ser proporcionados a pequenos produtores de farinha de mandioca da vila de Manoel dos Santos, zona rural do município de Tracuateua, PA, caso eles constituíssem uma cooperativa de trabalho. Foi estudado o perfil de cooperação entre os produtores e o ambiente econômico, caso a cooperação se concretize, caracterizando este trabalho como exploratório e qualitativo. Para a coleta dados, utilizou-se o pesquisador observador e o pesquisador participante para a realização de entrevistas, guiadas por um questionário semiestruturado e adotando a análise de discurso para formulação dos resultados. Concluiu-se que a constituição da cooperativa de trabalho torna-se viável porter a capacidade de proporcionar os quatro ganhos competitivos estudados (acesso a soluções; aprendizagem e inovação; redução de riscos; e custos e relações sociais). Além de os resultados apresentarem positiva projeção dos ganhos econômicos futuros com a cooperativa instalada, a maioria dos produtores se caracterizaram como engajados e comprometidos com o projeto. Este estudo torna-se relevante ao demonstrar que o conhecimento acadêmico pode transformar um grupo de pequenos agricultores individuais, fornecendo possíveis alternativas de geração de renda e desenvolvimento social.

Palavras-chave
ganhos competitivos; sociedade cooperativa; economia solidária

Abstract

Faced with an increasingly globalized and competitive economic market, the formation of solidarity economies and cooperation practices are plausible opportunities for small companies’ development to maintain competitiveness and survival, becoming a path not only to economic but also to human and social development. Therefore, this research aimed to study what competitive gains can be provided to small producers of cassava flour in the village of Manoel dos Santos, a rural area of the municipality of Tracuateua, PA, if they constituted a worker cooperative. The profile of cooperation between producers and the economic environment in case the cooperation takes place was studied, characterizing this research as exploratory with a qualitative methodology. For data collection, the observer researcher and the participant researcher were used as means to carry out interviews, guided by a semi-structured questionnaire and adopting discourse analysis to formulate the results. It was concluded that the constitution of the work cooperative becomes viable, as it can provide the four competitive gains studied (access to solutions, learning and innovation, risk and cost reduction, and social relations). In addition to the results presenting a positive projection of future economic gains with the installed cooperative, most producers are characterized as engaged and committed to the project. This study becomes relevant as it demonstrates that academic knowledge can transform a group of small individual farmers, providing possible alternatives for income generation and social development.

Keywords
competitive gains; cooperative society; solidarity economy

Resumen

Ante un mercado económico cada vez más globalizado y competitivo, la formación de economias solidarias y la práctica de la cooperación son oportunidades plausibles de desarrollo de las pequenas empresas para tener competitividad y supervivencia, convirtiéndose en un camino no solo de desarrollo económico, sino también de desarrollo humano y social. Por lo tanto, está investigación tuvo como objetivo principal estudiar qué ganancias competitivas pueden ser proporcionadas a los pequeños productores de harina de yuca en la aldea de Manoel dos Santos, área rural del municipio de Tracuateua, PA, si constituyeron una cooperativa de trabajo. También se estudió el perfil de la cooperación entre los productores y el entorno económico en caso de que se produzca la cooperación, caracterizando este trabajo como exploratorio y cualitativo en relación a su metodología. Para la recolección de datos, se utilizó como medio para la realización de entrevistas al investigador observador y al investigador participante, guiados por un cuestionario semiestructurado y adoptando el análisis del discurso para formular los resultados. Se concluyó que la constitución de la cooperativa de trabajo se vuelve viable, ya que tiene la capacidad de proporcionar las cuatro ganancias competitivas estudiadas (acceso a soluciones, aprendizaje e innovación, reducción de riesgos y costos y relaciones sociales). Además de los resultados presentaren positivamente la proyección de ganancias económicas futuras con la cooperativa instalada, la mayoría de los productores se caracterizan como involucrados y comprometidos con el proyecto. Este estudio es relevante ya que demuestra que el conocimiento académico puede transformar a un grupo de pequeños agricultores individuales, generando posibles alternativas de generación de ingresos y desarrollo social.

Palabras clave
ganancias competitivas; sociedad cooperativa; economía solidaria

1 INTRODUÇÃO

A reestruturação do sistema produtivo mundial nas últimas décadas, pelos países capitalistas, resultou em novas práticas produtivas, com profundos impactos no âmbito trabalhista: precarização do trabalho, favorecimento do desemprego, baixos salários e exigência de qualificação dos trabalhadores (GRANDO et al., 2019GRANDO, G.; KIELING, R. I.; SENNA, E.; CUNHA, M. G. A contabilidade e seus efeitos nas cooperativas de trabalho. Revista de Gestão e Organizações Cooperativas, Santa Maria, RS, v. 6, n. 12, p. 133–52, 2019. DOI: https://doi.org/10.5902/2359043235158
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). Neste cenário, destaca-se a competitividade entre as empresas por mercados consumidores, gerando cada vez mais uma produção em larga escala, e, consequentemente, a oferta se torna maior que a demanda, a ganância pelos resultados se sobrepõe aos interesses individuais, ou seja, a sociedade em si não é a prioridade, e sim o lucro (VERSCHOORE; BALESTRIN, 2008, SALES, 2010SALES, J. E. Cooperativismo: origens e evolução. Revista Brasileira de Gestão e Engenharia RBGE, São Gotardo, n. 1, p. 23–34, 2010. Disponível em: http://www.periodicos.cesg.edu.br/index.php/gestaoeengenharia/article/view/30. Acesso em: 10 abr. 2023.
http://www.periodicos.cesg.edu.br/index....
).

Para neutralizar esses efeitos colaterais do capitalismo, a economia solidária apresenta-se como uma alternativa de desenvolvimento econômico e de sustentabilidade social, visto que promove meios de inclusão produtiva e cria perspectivas de relações sociais participativas, engajando o desejo das pessoas de realizar seus anseios coletivos (CASTRO; DAMASIO, 2012CASTRO, L. H.; DAMÁSIO, A. M. Referências de cooperação do Sebrae. Brasília: Sebrae, 2012.).

Neste ensejo, Singer (2000)SINGER, P. I.; DE SOUZA, A. R. (Ed.). A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego. Editora Contexto, 2000. descreve que a economia solidária se refere às pessoas envolvidas no meio capitalista (produtores, consumidores, poupadores etc.) que têm características essenciais, as quais as diferenciam das demais pessoas: a solidariedade bastante incentivada entre seus membros; a prática, para com a população trabalhadora em geral, de ajudar, principalmente, os menos favorecidos.

O cooperativismo, apesar de se apresentar solidário e coletivo, não deixa de ser um empreendimento (HADDAD, 2005HADDAD, Fernando. Hay que ser solidário pero sin perder la combatividad jamás. Economia Solidária e autogestão: encontros internacionais. São Paulo: NESOL-USP; ITCP-USP; PW, 2005. p. 22-28.). Não é um empreendimento meramente econômico e que visa ao lucro, e sim modelo econômico sustentável que visa emancipar o indivíduo das atuais relações sociais, como uma solução para a exclusão social e a precarização do trabalho, a que muitos outros trabalhadores são submetidos (ARAÚJO, 2014ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014.).

O interesse do estudo surgiu ao perceber que o cooperativismo tem se apresentado na sociedade pós-moderna como uma das formas mais inovadoras de organização de trabalho (ARAÚJO, 2014ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014.), além de ser uma organização que busca continuamente a obtenção de renda por meio de uma forma mais igualitária de gestão (VERCHOORE; BALESTRIN, 2008VERCHOORE, J. R.; BALESTRIN, A. Ganhos competitivos das empresas em redes de cooperação. Revista de Administração Eletrônica, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 1–21, 2008.; BALESTRIN; VERCHOORE; REYES JUNIOR, 2010BALESTRIN, A.; VERSCHOORE, J. R.; REYES JUNIOR, E. O campo de estudo sobre redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, Maringá, v. 14, n. 3, p. 458–77, 2010. DOI: https://doi.org/10.1590/S1415-65552010000300005
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). Assim, a pesquisa seguirá no hermético de triangular a vivência, o contexto social e o acadêmico, em que serão obtidos, por meio da aprendizagem, benefícios com os resultados da pesquisa.

Demonstra-se, desta forma, a relevância do estudo. Dado o escopo da pesquisa, esta será realizada na vila de Manoel dos Santos, zona rural, de Tracuateua, PA, e, por não haver estudos na área que envolvam uma avaliação contábil produtiva com o enfoque nos possíveis ganhos econômicos atribuídos pela avaliação de implantação de uma organização econômica mais estruturada, utilizou-se um observador participante e um não participante, em prol de revelar a responsabilidade social, cidadania, desenvolvimento social e econômico e, também, de propor projetos que visem ao desenvolvimento cultural, educacional e comunitário.

Tendo o objetivo de estudar quais os ganhos competitivos podem ser proporcionados a uma organização coletiva de pequenos produtores de farinha de mandioca da vila de Manoel dos Santos, zona rural de Tracuateua, PA, caso eles constituíssem uma cooperativa de trabalho, levou-se em consideração o conceito de ganhos competitivos estabelecidos por Verschoore e Balestrin (2008) e defendidos por Araújo (2014)ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014..

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Cooperativismo no Brasil

A cultura da cooperação no Brasil é observada desde o período colonial português (séculos XVI e XIX), quando era estimulada por funcionários públicos, militares, profissionais liberais, operários e imigrantes europeus. O cooperativismo ganhou sua própria representação no Brasil em 1969, com a criação da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), e, no ano seguinte, a entidade foi registrada em cartório (GRANDO et al., 2019GRANDO, G.; KIELING, R. I.; SENNA, E.; CUNHA, M. G. A contabilidade e seus efeitos nas cooperativas de trabalho. Revista de Gestão e Organizações Cooperativas, Santa Maria, RS, v. 6, n. 12, p. 133–52, 2019. DOI: https://doi.org/10.5902/2359043235158
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; VIEIRA; SANTOS; PIRES, 2022VIEIRA, F. M. SANTOS, V. V. B.; PIRES, V. Panorama atual do cooperativismo brasileiro: uma análise documental e de conteúdo a partir da Resolução n. 56/2019. Revista de Gestão e Organizações Cooperativas, Santa Maria, v. 9, n. 17, p. 1–28, 2022. DOI: https://doi.org/10.5902/2359043262644
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).

Em 1971, com a Lei 5.764, foi disciplinada a instituição de um regime jurídico próprio para a criação das cooperativas; entretanto, alguns aspectos restringiam a autonomia dos associados. A autogestão entre cooperados foi efetivada com a Constituição Federal de 1988, proibindo a interferência do Estado nas associações (MOTHÉ, 2009MOTHÉ, D. Autogestão. In: CATTANI, A. D.; LAVILLE, J. L.; GAIGER, L. I.; HESPANHA, P. Dicionário internacional da outra economia. Coimbra, PT: CES, 2009. p. 26–30.; OCB, 2016ORGANIZAÇÕES DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS [OCB]. História do Cooperativismo. Brasília, DF: OCB, 2016. Disponível em: https://www.somoscooperativismo.coop.br/historia-do-cooperativismo. Acesso em: 10 abr. 2021.
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).

O cooperativismo no Brasil apresenta preocupação com a revitalização e a modernização das práticas cooperativas, que podem ser ocasionadas pela economia cada vez mais globalizada, ou também pelos apelos éticos contemporâneos (especificadamente em relação à ampliação da democracia) (SILVA, 2003SILVA, E. S.; SALOMÃO, I. L.; MCINTYRE, J. P.; GUERREIRO, J.; PIRES, M. L. L. S.; ALBURQUERQUE, P. P.; BERGONSI, S. S. S.; VAZ, S. C. Panorama do cooperativismo brasileiro: história, cenários e tendências. Revista uniRcoop, Sherbrooke, v. 1, n. 2, p. 75–102, 2003.). Entretanto, Silva (2003)SILVA, E. S.; SALOMÃO, I. L.; MCINTYRE, J. P.; GUERREIRO, J.; PIRES, M. L. L. S.; ALBURQUERQUE, P. P.; BERGONSI, S. S. S.; VAZ, S. C. Panorama do cooperativismo brasileiro: história, cenários e tendências. Revista uniRcoop, Sherbrooke, v. 1, n. 2, p. 75–102, 2003. destaca que as informações coletadas em sua pesquisa demonstram que o associativismo e o cooperativismo são considerados possíveis alternativas para o aumento de geração emprego e renda para famílias.

Outros autores evidenciam a importância da economia solidária como uma ferramenta não apenas de desenvolvimento econômico, mas também de desenvolvimento humano, social e de conformidade legal (CIALDINI; GOLDSTEIN, 2004CIALDINI, R. B.; GOLDSTEIN, N. J. Social influence: compliance and conformity. Annual Review of Psychology, Palo Alto, v. 55, p. 591–621, 2004. Disponível em: https://www.annualreviews.org/doi/abs/10.1146/annurev.psych.55.090902.142015. Acesso em: 10 abr. 2021.
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; BIALOSKORSKI; 2006BIALOSKORKI, N. Aspectos econômicos das cooperativas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2006.). Esses autores argumentam que a ação de cooperar e o processo de cooperação para formação de cooperativas são relevantes para o desenvolvimento econômico de um país, da comunidade e da coletividade.

2.2 Cooperar, cooperação e cooperativas

A cooperação entre as pessoas está enraizada na origem de sua história, desde a pré-história da civilização. Nos povos das tribos indígenas e nas antigas civilizações babilônicas, existem registros sobre a cooperação e associação solidária (BIALOSKORSKI, 2006BIALOSKORKI, N. Aspectos econômicos das cooperativas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2006.).

Neste sentido, o trabalho coletivo, quando realizado por colaboradores com os mesmos propósitos, torna-se mais eficiente se comparado com a produção de um trabalho individual, visto que as pessoas tendem a trocar conhecimentos e compartilhar experiências, de modo a reduzir riscos e solucionar problemas (GRANDO et al., 2019GRANDO, G.; KIELING, R. I.; SENNA, E.; CUNHA, M. G. A contabilidade e seus efeitos nas cooperativas de trabalho. Revista de Gestão e Organizações Cooperativas, Santa Maria, RS, v. 6, n. 12, p. 133–52, 2019. DOI: https://doi.org/10.5902/2359043235158
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; BRAGA; MACIEL, 2022BRAGA, N. L.; MACIEL, R. H. Cooperativismo e associativismo no Ceará: formação dos empreendimentos e trajetória laboral de seus associados. Psicologia & Sociedade, Recife, v. 34, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/1807-0310/2022v34234435
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; GUZMAN; ARAUJO; CELIS, 2023GUZMAN, M. G G.; ARAUJO, J. C. O.; CELIS, L. M. M. Cambios fiscales y académicos que indujo el virus COVID-19, en Brasil y México. Revista Retos de la Dirección, Camagüey, v. 17, n. 1, e23102, abr. 2023. Disponível em: http://scielo.sld.cu/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2306-1552023000100002&lng=es&nrm=iso. Acesso em: 6 abr. 2023.
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). Esse entendimento remete ao período feudal, para explicar a importância da união coletiva: naquela época, enquanto as pessoas aquartelavam-se em torno de um poderoso senhor feudal, os vassalos demonstravam sua força de união na vivência, servindo ao senhor em troca de proteção dentro dos muros (ARAÚJO; PIRES; FARIAS FILHO, 2013ARAÚJO, J. C. O.; PIRES, J. O. M.; FARIAS FILHO, M. C. A cooperação como estratégia para o fortalecimento dos pequenos e médios empreendimentos. In: COLÓQUIO ORGANIZAÇÕES, DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE, 4., 2013, Belém. Anais [...]. Belém: UNAMA, 2013., HÖHER; SOUZA; FOCHEZATTO, 2019HÖHER, R.; DE SOUZA, O. T.; FOCHEZATTO, A. Análise da eficiência: um estudo nas cooperativas financeiras do Rio Grande do Sul. Revista de Gestão e Organizações Cooperativas, Santa Maria, v. 6, n. 11, p. 257–76, 2019. DOI: https://doi.org/10.5902/2359043235988
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). Dessa forma, a sobrevivência do grupo dependia da convivência entre eles (SALES, 2010SALES, J. E. Cooperativismo: origens e evolução. Revista Brasileira de Gestão e Engenharia RBGE, São Gotardo, n. 1, p. 23–34, 2010. Disponível em: http://www.periodicos.cesg.edu.br/index.php/gestaoeengenharia/article/view/30. Acesso em: 10 abr. 2023.
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).

Neste sentido, a prática da cooperação na conjuntura econômica brasileira (globalizada, concorrencial e em busca de competitividade) é uma oportunidade verossímil de desenvolvimento de pequenas empresas, tendo em vista a crescente reestruturação produtiva e as pressões por redução de custo e aumento da produtividade (OLAVE; AMATO NETO, 2001OLAVE, M. E. L.; AMATO NETO, J. Redes de cooperação produtiva: uma estratégia de competitividade e sobrevivência para pequenas e médias empresas. Gestão & Produção, São Carlos, v. 8, p. 289–318, 2001. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-530X2001000300006
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). As redes de cooperação têm a capacidade de facilitar a realização de ações conjuntas e a transação de recursos, promovendo o alcance dos objetivos organizacionais (BALESTRIN; VERCHOORE; REYES JUNIOR, 2010BALESTRIN, A.; VERSCHOORE, J. R.; REYES JUNIOR, E. O campo de estudo sobre redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, Maringá, v. 14, n. 3, p. 458–77, 2010. DOI: https://doi.org/10.1590/S1415-65552010000300005
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; SILVA et al., 2021SILVA, O. T.; DALLA CORTE, V. F.; OLIVEIRA, C. A. O.; FERRARI, F. W. O grau de inovação das cooperativas do agronegócio da região nordeste do Estado do Rio Grande do Sul-Brasil e a construção de um framework estratégico para sustentação da inovação. Revista de Gestão e Organizações Cooperativas, Santa Maria, v. 8, n. 15, p. 1–35, 2021. DOI: https://doi.org/10.5902/2359043243613
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; GUZMAN; ARAUJO; CELIS, 2023GUZMAN, M. G G.; ARAUJO, J. C. O.; CELIS, L. M. M. Cambios fiscales y académicos que indujo el virus COVID-19, en Brasil y México. Revista Retos de la Dirección, Camagüey, v. 17, n. 1, e23102, abr. 2023. Disponível em: http://scielo.sld.cu/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2306-1552023000100002&lng=es&nrm=iso. Acesso em: 6 abr. 2023.
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).

Deste modo, o ato de cooperar traz a união de pessoas para um objetivo comum de enfrentar situações adversas, capazes de transformar estas situações em oportunidades e ações de bem-estar econômico e social (PILETTI; BORGES; BARROS, 2015PILETTI, D.; BORGES, G. da R.; BARROS, I. C. R. Os princípios do cooperativismo e o trabalho em equipe em cooperativas de Garibaldi-RS. Navus-Revista de Gestão e Tecnologia, Florianópolis, v. 5, n. 4, p. 34–45, 2015. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/3504/350450620004.pdf. Acesso em: 10 abr. 2023.
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, MARQUES; COSTA, 2021MARQUES, H. R.; DA COSTA, J. O. O cooperativismo e o desenvolvimento local: um estudo da cooperativa de crédito Sicredi União MS/TO – Comitê Ação Social. Interações, Campo Grande, MS, v. 22, n. 2, 531–41. 2021. DOI: https://doi.org/10.20435/inter.v22i2.2961
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; ARAUJO; SOUZA; GOMES, 2023). A partir dessa linha de cooperar, surge a cooperativa como uma organização que liberta o homem individual por meio da cooperação entre as pessoas, gerando uma sinergia que leve a ganhos melhores coletivamente (TONET et al., 2006TONET, H; REIS, A. M.V.; BECKER JUNIOR, L. C.; COSTA, M. E.B. Desenvolvimento de equipes. Rio de Janeiro: FGV, 2006.; ZENI, 2008ZENI, Angelo Elocir. Trabalho cooperativo: à luz da legislação e doutrina brasileira e espanhola. Porto Alegre: SESCOOP, 2008.).

A cooperativa é uma organização constituída por pelo menos vinte pessoas físicas, exceto para cooperativas de trabalho, e que estão unidas pela cooperação em objetivos econômicos e sociais comuns (FIGUEIREDO, 2009FIGUEIREDO, N. T. C. Cooperativas sociais: alternativa para inserção. Porto Alegre: Evangraf, 2009., HÖHER; SOUZA; FOCHEZATTO, 2019HÖHER, R.; DE SOUZA, O. T.; FOCHEZATTO, A. Análise da eficiência: um estudo nas cooperativas financeiras do Rio Grande do Sul. Revista de Gestão e Organizações Cooperativas, Santa Maria, v. 6, n. 11, p. 257–76, 2019. DOI: https://doi.org/10.5902/2359043235988
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). O cooperado é uma pessoa que possuiu uma quota-parte da cooperativa; dela, receberá as vantagens advindas da cooperação, devendo seguir os sete princípios do cooperativismo (ZENI, 2008ZENI, Angelo Elocir. Trabalho cooperativo: à luz da legislação e doutrina brasileira e espanhola. Porto Alegre: SESCOOP, 2008.; MARQUES; COSTA, 2021MARQUES, H. R.; DA COSTA, J. O. O cooperativismo e o desenvolvimento local: um estudo da cooperativa de crédito Sicredi União MS/TO – Comitê Ação Social. Interações, Campo Grande, MS, v. 22, n. 2, 531–41. 2021. DOI: https://doi.org/10.20435/inter.v22i2.2961
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):

Os princípios apresentados no Quadro 1 são considerados as bases iniciais para atuação das cooperativas (MARQUES; COSTA, 2021MARQUES, H. R.; DA COSTA, J. O. O cooperativismo e o desenvolvimento local: um estudo da cooperativa de crédito Sicredi União MS/TO – Comitê Ação Social. Interações, Campo Grande, MS, v. 22, n. 2, 531–41. 2021. DOI: https://doi.org/10.20435/inter.v22i2.2961
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), prevalecendo, assim, os valores de autoajuda, autorresponsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade (MACEDO; PEREIRA;ROSSI; VIEIRA., 2005MACÊDO, K. B.; PEREIRA, C.; ROSSI, E. Z.; VIEIRA, M. A. Valores individuais e organizacionais: estudo com dirigentes de organizações pública, privada e cooperativa em Goiás. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v. 8, p. 29–42, 2005. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v8i0p29-42
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; DELFINO; LAND; SILVA, 2010DELFINO, I. A. L.; LAND, A. G.; SILVA, W. R. A relação entre valores pessoais e organizacionais comparados aos princípios do cooperativismo. Gerais, Revista Interinstitucional de Psicologia, Juiz de fora, v. 3, n. 1, p. 67-80, jul. 2010.).

Quadro 1
Princípios do Cooperativismo

Neste ponto, a cooperação e atividade de cooperativa não se resumem às pessoas que a constituem, mas às suas ações para ganhos comuns e da força nas relações interpessoais na construção das sinergias, na resolução dos problemas comuns que dizem respeito a toda a comunidade, conduzido a uma evolução na vida dos cidadãos envolvidos (MARQUES; COSTA, 2021MARQUES, H. R.; DA COSTA, J. O. O cooperativismo e o desenvolvimento local: um estudo da cooperativa de crédito Sicredi União MS/TO – Comitê Ação Social. Interações, Campo Grande, MS, v. 22, n. 2, 531–41. 2021. DOI: https://doi.org/10.20435/inter.v22i2.2961
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). Para Wanderley e Borges (2019)WANDERLEY, P. P. S.; BORGES, P. P. O trabalho do egresso do sistema prisional à luz do desenvolvimento local. Campo Grande: Life Editora, 2019., isso está relacionado com as consequências do desenvolvimento da própria comunidade, ao estabelecer o progresso, impulsionando a comunidade local a progredir em meio ao desenvolvimento social e cultural e, dessa forma, portando-se na condição de sujeito, e não como mero objeto, trazendo, assim, um avanço para o país no processo de adesão da cooperação e dos princípios bases das cooperativas (ARAÚJO, 2014ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014.; KONZEN; OLIVEIRA, 2016KONZEN, R. R. P.; OLIVEIRA, C. A. O. Intercooperação entre cooperativas: barreiras e desafios a serem superados. Revista de Gestão e Organizações Cooperativas, Santa Maria, RS, v. 2, n. 4, p. 45–58, 2016. DOI: https://doi.org/10.5902/2359043220410
https://doi.org/10.5902/2359043220410...
).

Portanto, reconhece-se a cooperação e a formação de cooperativas como uma maneira pela qual o país pode vir a diminuir a sua desigualdade entre empreendimentos e conseguir transpor as dificuldades de competitividade do mercado, visto que a necessidade de buscar parcerias é motivada por essas dificuldades, tornando o ambiente econômico mais próspero a buscar a cooperação (DELFINO; LAND; SILVA, 2010DELFINO, I. A. L.; LAND, A. G.; SILVA, W. R. A relação entre valores pessoais e organizacionais comparados aos princípios do cooperativismo. Gerais, Revista Interinstitucional de Psicologia, Juiz de fora, v. 3, n. 1, p. 67-80, jul. 2010.; ARAÚJO, 2014ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014.; KONZEN; OLIVEIRA, 2016KONZEN, R. R. P.; OLIVEIRA, C. A. O. Intercooperação entre cooperativas: barreiras e desafios a serem superados. Revista de Gestão e Organizações Cooperativas, Santa Maria, RS, v. 2, n. 4, p. 45–58, 2016. DOI: https://doi.org/10.5902/2359043220410
https://doi.org/10.5902/2359043220410...
; MARQUES; COSTA, 2021MARQUES, H. R.; DA COSTA, J. O. O cooperativismo e o desenvolvimento local: um estudo da cooperativa de crédito Sicredi União MS/TO – Comitê Ação Social. Interações, Campo Grande, MS, v. 22, n. 2, 531–41. 2021. DOI: https://doi.org/10.20435/inter.v22i2.2961
https://doi.org/10.20435/inter.v22i2.296...
).

2.3 Perfis de trabalhadores na cooperação

A autogestão permite observar as características de cada colaborador em relação às suas atitudes e a sua vivência dentro da organização (DELFINO; LAND; SILVA, 2010DELFINO, I. A. L.; LAND, A. G.; SILVA, W. R. A relação entre valores pessoais e organizacionais comparados aos princípios do cooperativismo. Gerais, Revista Interinstitucional de Psicologia, Juiz de fora, v. 3, n. 1, p. 67-80, jul. 2010.). Rosenfield (2003)ROSENFIELD, C. L. A autogestão e a nova questão social: repensando a relação indivíduo-sociedade. Civitas-Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 395–415, 2003. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/742/74230209.pdf. Acesso em: 10 abr. 2023.
https://www.redalyc.org/pdf/742/74230209...
realizou um estudo em uma cooperativa de produção, que conseguiu ser constituída por incentivo primordial do sindicato, a partir da falência da indústria metalúrgica onde os trabalhadores exerciam suas atividades. Por meio de entrevista semiestruturada com os trabalhadores-cooperados (tanto da administração quanto os da produção) da cooperativa, foi possível traçar quatro tipos de perfis de trabalhadores, caracterizados pela sua relação com o trabalho autogerido, de forma homogênea internamente e heterogênea externamente, dispostos nos subtópicos seguintes.

Quadro 2
Perfil de Trabalho

2.4 Ganhos competitivos em redes de cooperação

Por meio da cooperação intraorganizacional, torna-se possível que sejam agregados a este processo ganhos competitivos, que diferenciam pequenos empreendimentos das demais empresas, proporcionando vantagens que esses empreendimentos não conseguiriam obter caso não cooperassem entre si (ARAÚJO, 2014ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014.). A participação colaborativa e o engajamento para interesses individuais se subordinarem aos interesses coletivos são estratégias que desencadeiam esses ganhos competitivos e geram sobrevivência para pequenas empresas inseridas no mercado (BALESTRIN; VARGAS, 2004BALESTRIN, A.; VARGAS, L. M. A dimensão estratégica das redes horizontais de PMEs: teorizações e evidências. Revista de Administração Contemporânea, [s.l.], v. 8, p. 203–27, 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S1415-65552004000500011
https://doi.org/10.1590/S1415-6555200400...
; VERCHOORE; BALESTRIN, 2008VERCHOORE, J. R.; BALESTRIN, A. Ganhos competitivos das empresas em redes de cooperação. Revista de Administração Eletrônica, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 1–21, 2008., 2007).

Erber (2008)ERBER, F. S. Eficiência coletiva em arranjos produtivos locais industriais: comentando o conceito. Nova economia, v. 18, p. 11–31, 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-63512008000100001
https://doi.org/10.1590/S0103-6351200800...
, ao estudar sobre a cooperação e os ganhos de eficiência, destacou que as ações colaborativas são essenciais para que pequenos empreendimentos de determinada localidade sejam beneficiados de potenciais vantagens competitivas, tanto de maneira externa (externalidades do conhecimento) quanto de forma interna (geradas pela proximidade entre organizações, de forma espontânea).

Não distante disto, Verschoore e Balestrin (2008) destacaram que os ganhos competitivos podem ser proporcionados a pequenos e médios empreendimentos por meio da cooperação entre eles, sendo os principais: redução de custos e riscos; aprendizado e inovação; relações sociais e acesso a soluções de contingências. Complementar a isso, Eber (2008) acrescenta que o agrupamento econômico de pequenas empresas pode vir a capturar externalidades positivas no meio em que está inserido, por meio de ações coletivas; porém, esses benefícios somente seriam obtidos em conjunto por meio da cooperação, sendo incapazes de serem alcançados individualmente.

Logo, a partir do momento em que os produtores identificam a necessidade da cooperação e demonstram interesse em realizá-la, poderão ser proporcionados ganhos competitivos comuns a todos (VERCHOORE; BALESTRIN, 2008VERCHOORE, J. R.; BALESTRIN, A. Ganhos competitivos das empresas em redes de cooperação. Revista de Administração Eletrônica, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 1–21, 2008., 2007VERCHOORE, J. R.; BALESTRIN, A. Redes de cooperação: atributos de gestão e resultados competitivos. RPA Brasil, Maringá, v. 3, p. 87–102, 2007.; ARAÚJO, 2014ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014.). No quadro 3, serão explanadas as especificidades de cada ganho competitivo.

Quadro 3
Principais Ganhos Competitivos

3 METODOLOGIA

3.1 Características metodológicas

Devido à sua finalidade e às informações proporcionadas pela pesquisa sobre o tema investigado, esta pesquisa caracteriza-se como exploratória qualitativa, que permitiu, além do levantamento bibliográfico, a realização de entrevistas, pesquisas de campo e análise do tema (MINAYO, 2001MINAYO, M. C. S. (Org.). (2001). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro: Vozes.).

O presente estudo utilizou como procedimento técnico a análise de discurso, coletando os dados por meio de entrevistas pessoais semiestruturadas, com produtores de farinha de mandioca da vila de Manoel dos Santos (zona rural de Tracuateua, PA), que têm interesse em legalizar o seu negócio de forma coletiva. A entrevista foi guiada por um questionário semiestruturado e buscou encontrar respostas para os itens elencados a seguir.

Quadro 4
Guia de entrevista

A pesquisa de campo e a coleta de dados foram realizadas no período de 15 de janeiro de 2019 a 30 de setembro de 2019, com: visita técnica, entrevista, esclarecimento de dúvidas. Esse processo atribui-se ao primeiro contato com documentos e a comunidade que serão submetidos à análise, a escolha do grupo, a formulação dos objetivos, a elaboração dos métodos de análise, interpretação e a preparação do material (BARDIN, 2006BARDIN, L. Análise de conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 2006. [Obra original publicada em 1977].; DIAS et. al., 2021DIAS, G. N.; SILVA, P. R. S.; PAMPLONA , V. M. S.; ARAÚJO, J. C. O.; BARBOSA, E. S.; LOBATO, F. S.; SOUZA JÚNIOR, J. C. B.; SILVA JUNIOR, W. L. P.; VOGADO, G. E. R.; BARRETO, W. D. L; LEAL, A. P. I. P.; SILVA JUNIOR, A. F.; PINTO, G. P. The use of the Google Forms as an assessment tool in the teaching and learning process in times of the Covid-19 pandemic: a study in a basic education school. Research, Society and Development, Vargem Grande Paulista, v. 10, n. 4, p. e44910414180, 2021. DOI: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i4.14180
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).

O estudo teve como lócus a comunidade na vila de Manoel dos Santos, zona rural do município de Tracuateua, PA. O município está localizado a 169 quilômetros de Belém, capital do estado do Pará. Tracuateua fazia parte da cidade de Bragança, sendo emancipado em 29 de setembro de 1994, por meio da Lei n. 5.858/94, mas só se tornou município dois anos depois, em 1996.

A metodologia para a análise dos dados desta pesquisa foi realizada de três maneiras, conforme a Figura 1.

Figura 1
Metodologia da pesquisa para análise dos dados

A partir dos objetivos que este estudo se propôs a explorar, a entrevista foi o modelo essencial para se obter todas as informações necessárias. Nos subtópicos seguintes, será abordada, detalhadamente, cada etapa da análise de dados.

3.1.1 Perfil socioeconômico dos trabalhadores

Esta etapa buscou identificar as principais características dos entrevistados, em relação à idade, ao nível de escolaridade, ao número de filhos, à renda familiar etc., de modo que foi possível elaborar um panorama sobre o modo de vida de cada produtor em relação à sua atividade com a agricultura.

3.1.2 Perfis de trabalhadores na cooperação

Para traçar os perfis de trabalhadores que esta pesquisa se propôs a apresentar, este trabalho baseou-se na pesquisa de Rosenfield (2003)ROSENFIELD, C. L. A autogestão e a nova questão social: repensando a relação indivíduo-sociedade. Civitas-Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 395–415, 2003. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/742/74230209.pdf. Acesso em: 10 abr. 2023.
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, na qual a autora realiza um estudo sobre a autogestão de uma cooperativa, a partir da falência de uma indústria metalúrgica, em que, por meio da iniciativa primordial do sindicato, este incentivou a constituição de uma cooperativa de produção, transformando a iniciativa em um projeto político-social alternativo de geração de trabalho e renda.

A partir do modelo de autogestão aplicado na organização, a pesquisadora entrevistou os antigos empregados da indústria, os quais, após a falência, tornaram-se cooperados. Por meio das respostas, foi possível traçar quatro grupos de trabalhadores, caracterizados em dois grandes grupos, a partir da forma de inserção social de cada grupo.

Quadro 5
Dois grandes grupos de perfis de trabalhadores cooperados aplicados na pesquisa

Neste estudo, confrontam-se os dados coletados das entrevistas utilizando uma avaliação pelo maior número de palavras utilizadas pelos respondentes, por meio do software Iramuteq.0,7apha2. O propósito deste confronto está em identificar os entrevistados mais alinhados ao princípio da cooperativa, ou seja, aqueles que têm respostas permeadas em constituir uma cooperativa (BARDIN, 2006BARDIN, L. Análise de conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 2006. [Obra original publicada em 1977].).

Os resultados são definidos em 1 <R> 1; quanto mais próximo de 1, mais os entrevistados avaliados estão propensos a participarem na cooperativa, ao trabalho em grupo, à produção da farinha, ao trabalho e outros. A partir desta avaliação, pode-se partir de um diagnóstico inicial definindo se a vila estudada tem uma maior propensão de ter trabalhadores-cooperados “engajados” ou “em recuo”, de acordo com a classificação dada por Rosenfield (2003)ROSENFIELD, C. L. A autogestão e a nova questão social: repensando a relação indivíduo-sociedade. Civitas-Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 395–415, 2003. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/742/74230209.pdf. Acesso em: 10 abr. 2023.
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.

No subtópico abaixo, trata-se das especificidades dos ganhos competitivos que podem ser proporcionados caso a cooperativa seja constituída, de modo a explicar sua aplicação na pesquisa.

3.1.3 Ganhos competitivos

No processo de ganhos competitivos, avaliam-se as ações coletivas que são desenvolvidas e que podem prover externalidades positivas no ambiente de negócios (EBER, 2008). As externalidades positivas surgem por meio do processo de cooperação entre organizações, as quais se juntam para agregar conhecimentos próprios, distintos ou complementares, a fim de enfrentar os mercados competitivos (AMATO NETO, 2000AMATO NETO, J. Redes de cooperação produtiva e clusters regionais: oportunidades para as pequenas e médias empresas. São Paulo: Atlas/Fundação Vanzolini, 2000.), atribuindo, para isso, o fortalecimento do aspecto cooperativo como uma forma de alavancar suas atividades com eficácia e eficiência, além de solidificar as decisões de negócio, sem perderem suas identidades (ARAÚJO; PIRES; FARIAS FILHO, 2013ARAÚJO, J. C. O.; PIRES, J. O. M.; FARIAS FILHO, M. C. A cooperação como estratégia para o fortalecimento dos pequenos e médios empreendimentos. In: COLÓQUIO ORGANIZAÇÕES, DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE, 4., 2013, Belém. Anais [...]. Belém: UNAMA, 2013.).

De acordo com Araújo (2014)ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014. e Araújo, Souza e Gomes (2023)ARAÚJO, J. C. O.; SOUZA, F. G.; GOMES, A. P. S. Incentivos gubernamentales frente al COVID-19: un estudio comparativo entre Brasil y Chile a la luz de la teoría de la comunicación. Contabilidad y Negocios, v. 18, n. 35, 10 mar. 2023. DOI: https://doi.org/10.18800/contabilidad.202301.006.
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por meio da cooperação entre pequenos e médios empreendimentos, obtêm-se maiores ganhos competitivos estabelecidos pela cooperação interorganizacional. Assim sendo, todos os produtores poderão trabalhar para ter mais visibilidade no mercado com a farinha, obtendo vantagens suficientes, mas sem perder a característica de serem pequenos produtores.

As perguntas elaboradas para a entrevista focam justamente na possibilidade de conquistar características que desencadeiem ganhos competitivos para a cooperativa, de modo que as respostas dos entrevistados serviram como base para o método da análise de discurso. No Quadro 6, apresenta-se uma síntese dos ganhos competitivos estudados nesta pesquisa.

Quadro 6
Ganhos competitivos em redes de cooperação

Após os critérios metodológicos, apresentam-se, a seguir, a análise e as discussões.

4 ANÁLISE E DISCUSSÕES

4.1 Características socioeconômicas e perfis de trabalhadores na cooperação

A primeira etapa da entrevista foi a de identificar as características socioeconômicas dos produtores de farinha de mandioca da localidade pesquisada. Conforme a Tabela 1

Tabela 1
Características socioeconômicas dos entrevistados

Como se pode observar, todos os 9 entrevistados são patriarcas da família, casados e com uma média de idade de 48,56 anos. A maioria não completou o ensino fundamental, tem mais de 3 filhos e recebe igual ou abaixo do salário mínimo vigente.

No seio da autogestão promovido pela cooperativa, é possível identificar e traçar perfis de trabalhadores quanto a seus interesses e suas relações de vivência na cooperação, sendo caracterizados por suas homogeneidades internas e heterogeneidades externas em relação ao trabalho autogerido. Rosenfield (2003)ROSENFIELD, C. L. A autogestão e a nova questão social: repensando a relação indivíduo-sociedade. Civitas-Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 395–415, 2003. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/742/74230209.pdf. Acesso em: 10 abr. 2023.
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, ao estudar os perfis de trabalhadores-cooperados em uma cooperativa fundada após falência de uma antiga fábrica metalúrgica, estabeleceu quatro tipos de trabalhadores na cooperação: engajamento, adesão, recuo e desvio.

Um dos entrevistados, caracterizado como “engajado”, ressalta a importância da união coletiva sobrepondo os interesses individuais, explicando seu interesse em fazer parte da cooperativa ao descrever a sua situação atual, de produtor independente, demonstrando querer ser trabalhador-cooperado, mesmo que a sua continuidade como produtor individual seja mais benéfica economicamente:

Com certeza, prefiro trabalhar na cooperativa de que trabalhar só... hoje em dia a gente não tem que pensar só em ganhar dinheiro, pra tu ganhar dinheiro tu vai ter que trabalhar muito também né... e você trabalha em grupo, o grupo tem sempre um te orientando e aí a questão do lucro isso é o tempo é que vai dá vai dá a direção direta pra gente, né, não é em cima da hora, nem tudo que a gente faz assim no momento a gente já chega só ganhando as vezes a gente perde pra ganhar lá na frente. (Entrevistado 5).

Uma característica interessante observada em alguns produtores foi a relação de produção entre eles, uma metodologia que permite a diminuição de custos e troca de experiências: o “troca-dia”. Conforme é explicado por um dos entrevistados, o “troca-dia” é como se fosse uma parceria informal de trabalho, em que um produtor ajuda outro quando a demanda de produção deste está alta, e o produtor que recebeu a ajuda se compromete em retribuir a cooperação quando o produtor que o ajudou precisar. Alguns produtores são parentes, o que fortalece a relação entre eles:

[...] Quando eu vou fazer, no caso, a farinhada, tem meus cunhado, meu sogro, meus irmão, e a gente troca dia. Eu vou fazer a minha e eles vão me ajudar, aí quando eles já vão fazer a deles, eu vou ajudar eles, que é pra gente ter um lucro melhor né? Porque a gente sabe que a situação tá meio difícil, se a gente for pagar toda despesa que tem do serviço, a gente fica com um lucro muito fraco. (Entrevistado 2).

Esta metodologia possibilita aos produtores um aprimoramento das relações de trabalho entre si, proporcionando ganhos competitivos que serão evidenciados no subtópico seguinte deste estudo. Entretanto, os trabalhadores “em recuo” não concordam com a eficácia deste método, preferindo pagar para um outro trabalhador ajudá-los somente no dia em que precisarem, tendo de arcar também com a alimentação do ajudante e, consequentemente, aumentando o seu custo de produção. Para eles, a produção coletiva funcionará somente se a cooperativa for constituída e com a participação de todos os cooperados (mutirão).

[...] Eu acho que não... não funcionaria assim não, melhor pagar a diária do que fazer o troca-dia. Em forma de mutirão com certeza dá, mutirão já é outra coisa, aí acho que dá certo sim, isso se funcionar a cooperativa né. (Entrevistado 4).

Existe nos trabalhadores “em recuo” um certo receio sobre a sua participação na cooperativa, diferentemente do grupo “engajado”, que demonstram comprometimento em participar da cooperativa desde a sua constituição. O grupo em “recuo” prefere aderir ao projeto somente quando este já estiver consolidado, porém se mostram inseguros sobre a viabilidade do projeto, preferindo assim esperar a constituição através dos produtores “engajados” [...] Tenho receio nesse meio aí entendeu, mas seria importante que todo mundo desse... assim... no caso um voto de confiança né, na... na... na busca da melhora. (Entrevistado 6).

Um dos entrevistados caracterizados como “engajados” demonstra seu receio de que pessoas mal-intencionadas venham a se inserir na cooperativa e estabelecer condições que impliquem na harmonia coletiva do grupo:

[...] Alguém ia querer puxar pra trás, né... porque sempre há um fuxiqueiro no meio no grupo grande de pessoas e essa... esse... só que o grupo não ia aceita uma pessoa que só querer derrubar todos. (Entrevistado 3).

Portanto, observa-se que os produtores “em recuo” têm certa insegurança sobre a viabilidade da cooperativa, não demonstrando seu claro interesse em participar por conta da união coletiva e construção de projetos em médio e longo prazo que fortaleçam o comprometimento de todos para com a cooperação, mas manifestam interesse pela diminuição de custos e participação de um projeto alternativo de geração de renda. Rosenfield (2003, p. 407)ROSENFIELD, C. L. A autogestão e a nova questão social: repensando a relação indivíduo-sociedade. Civitas-Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 395–415, 2003. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/742/74230209.pdf. Acesso em: 10 abr. 2023.
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relata que “o coletivo é o instrumental para atingir objetivos de natureza individual já que a relação com o trabalho na cooperativa é também instrumental”.

Os trabalhadores do grupo “engajados”, que são maioria, demonstram fortes evidências de que a cooperação atingirá sucesso, desencadeando também ganhos competitivos, que são confirmados por meio de ações que os próprios produtores já praticam entre si.

Para que a adesão de produtores “em recuo” na cooperativa não implique na harmonia da organização, deve-se criar meios que impeçam o amadurecimento de interesses individuais na cooperação (na constituição do estatuto social, por exemplo).

A falta de instrução é um fator que gera insegurança para os trabalhadores desse grupo, logo, cursos de qualificação e capacitação promovidos pela cooperativa são uma possível solução para a construção de princípios e valores solidários e coletivistas.

4.2 Ganhos Competitivos

4.2.1 Acesso a soluções

Conforme Araújo (2014)ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014. e Marques e Costa (2021)MARQUES, H. R.; DA COSTA, J. O. O cooperativismo e o desenvolvimento local: um estudo da cooperativa de crédito Sicredi União MS/TO – Comitê Ação Social. Interações, Campo Grande, MS, v. 22, n. 2, 531–41. 2021. DOI: https://doi.org/10.20435/inter.v22i2.2961
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, mesmo com a vontade dos produtores em formar a cooperativa, observa-se que estes se encontraram mais motivados a solucionar os problemas de modo coletivo quando o assunto foi reduzir as ações dos atravessadores no processo de comercialização da farinha de mandioca. A ação dos atravessadores é um fator de grande inquietude para um dos entrevistados, o que fica enfatizado na fala:

Desse jeito geralmente quem ganha mais é o atravessador, às vezes o atravessador chega a ganhar mais do que o próprio produtor que produz, entendeu? Então já... já iria eliminar esse atravessador e acrescentar pro produtor. (Entrevistado 7).

É interessante destacar a angústia dos produtores em desenvolver ações que possibilitem a troca de conhecimentos, de modo que proporcionem ao grupo buscar, entre seus membros, resolver tal problema, uma vez que os atravessadores pagam o preço mais cômodo, assim gerando perda aos produtores.

Neste contexto, solucionar problemas em uma organização é um fator que comumente ronda todas as empresas, uma vez que exige do gestor habilidades para tomar a melhor decisão possível, trazendo consigo novas ideias e ações capazes de superar barreiras (BALESTRIN, VARGAS, 2004BALESTRIN, A.; VARGAS, L. M. A dimensão estratégica das redes horizontais de PMEs: teorizações e evidências. Revista de Administração Contemporânea, [s.l.], v. 8, p. 203–27, 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S1415-65552004000500011
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; VERCHOORES, BALESTRIN, 2008VERCHOORE, J. R.; BALESTRIN, A. Ganhos competitivos das empresas em redes de cooperação. Revista de Administração Eletrônica, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 1–21, 2008.; ARAÚJO, 2014ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014., MARQUES; DA COSTA, 2021MARQUES, H. R.; DA COSTA, J. O. O cooperativismo e o desenvolvimento local: um estudo da cooperativa de crédito Sicredi União MS/TO – Comitê Ação Social. Interações, Campo Grande, MS, v. 22, n. 2, 531–41. 2021. DOI: https://doi.org/10.20435/inter.v22i2.2961
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).

4.2.2 Aprendizagem e inovação

De acordo com Verschoore e Balestrin (2008), a aprendizagem e a inovação são alcançadas quando a cooperação proporciona condições aos seus participantes para compartilharem ideias e experiências, buscando ações inovadoras desenvolvidas em conjunto. Assim, observou-se que a qualidade da farinha implica de forma preponderante sobre o seu valor de mercado, de maneira que o seu processo produtivo deve tornar-se padronizado para obter um padrão de qualidade e, então, sofrer menos oscilações de preço. Os entrevistados se mostraram interessados em ampliar o seu conhecimento e melhorar a qualidade da sua produção, reconhecendo que a padronização é um meio essencial para alcançar melhores resultados:

[...] Seria o certo, né, que todo mundo pudesse fazer de uma maneira pra que estabelece aquele padrão, aquele teto de tudo, entendeu? Porque aí ó hoje aqui hoje no Manoel dos Santos a melhor farinha que se faz é aqui os menino do seu Lula, né, faz uma farinha boa de ótima qualidade, já o pessoal pra cá já não faz a farinha com o merma qualidade, faz uma farinha boa. Então seria importante que a troca de experiência, né, que desse num resultado de... de... de... consegui todo mundo fazer do mesmo padrão... que aí ficaria bem organizado. (Entrevistado 7).

O ganho competitivo de aprendizagem e inovação também pode ser evidenciado pela capacidade e pelo interesse do cooperado em aceitar sugestões e ideias que melhorem a produção. Em relação à capacidade do trabalhador de produzir outro tipo de farinha que ele ainda não faz, por falta de instrumentos necessários, um deles responde:

[...] Com certeza, porque é assim que nem o meu caso: eu não sei trabalhar com farinha lavada, mas se eu pegar uma pessoa que saiba trabalhar com farinha lavada, eu... eu... me ensina eu já vou aprender um produto qualidade ... né, por aí. Eu já vou trabalhar com um produto de qualidade porque o cara me ensinou e eu aprendi fazer uma... uma farinha boa [...] Consigo porque já aí já a gente tendo uma cooperativa nós vamos trabalhar na casa do forno que ela vai ter, ela vai tá montada pra trabalhar com farinha lavada, aí já vai diferente, já tem como fazer lavada também. (Entrevistado 5).

Conforme constatado por Araújo (2014)ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014., a cooperação garante que a organização obtenha externalidades positivas por meio de ações espontâneas. A produção coletiva, como já ocorre algumas vezes, com alguns produtores que ajudam entre si, proporciona a eles o conhecimento e a melhora da produção da farinha. É interessante ressaltar a concordância, entre todos os produtores, em desenvolver ações que possibilitem a troca de experiências, o conhecimento e o aprendizado, de modo que proporcione ao grupo a virtude de buscar entre seus membros novas maneiras de produzir, resolver problemas e desenvolver produtos.

4.2.3 Redução de riscos e custos

De acordo com Verschoore e Balestrin (2008), Marques e Da Costa (2021)MARQUES, H. R.; DA COSTA, J. O. O cooperativismo e o desenvolvimento local: um estudo da cooperativa de crédito Sicredi União MS/TO – Comitê Ação Social. Interações, Campo Grande, MS, v. 22, n. 2, 531–41. 2021. DOI: https://doi.org/10.20435/inter.v22i2.2961
https://doi.org/10.20435/inter.v22i2.296...
, este ganho está relacionado ao fato de que os participantes da cooperação poderão dividir os riscos e custos comuns entre eles. O compartilhamento dos trabalhos, da produção e dos resultados com o trabalho coletivo faz com que se torne viável associar-se, produzindo ganhos a todos os produtores envolvidos. Portanto, neste trabalho, observou-se que os produtores pesquisados têm anseios, expectativas e atitudes que favorecem a obtenção de ganhos de competitividade entre os produtores, caso se unam em uma cooperativa, os quais podem ser comprovados.

Ao trabalharem de forma coletiva na produção da farinha, os produtores acreditam haver aumento da produtividade, principalmente pelo compartilhamento de experiências e divisão de tarefas. A seguir, é exposta a opinião de um dos produtores sobre a capacidade de a cooperação fortalecer a produtividade. Para o entrevistado 1 entende-se que produzindo coletivamente se tem um aumento da produção: “Produziriam mais porque ao invés d’eu... d’eu produzir 15, 20 sacos por mês, eu... eu ia pra 30, 35 sacos de farinha por mês na cooperativa”.

Um dos entrevistados menciona uma outra localidade da zona rural que trabalha de forma coletiva, trabalhando de mutirão (vários trabalhadores se unem em colaboração para trabalharem na produção de um agricultor a cada dia, formando-se um ciclo de cooperação), proporcionando, assim, uma redução de trabalho para os associados, acreditando que esse método de trabalho pode ser replicado caso a cooperativa se constitua.

Olha conheço um... um... uma comunidade que trabalha de manhã até meio dia, o... o... o produtor pra si, e a tarde de 3 às 6 eles se juntu, faz um mutirão e todos trabalham juntu, na merma... com o mermo objetivo pra um hoje, amanhã pra outro, depois pra outro e assim vai segue até terminar o círculo. (Entrevistado 3).

A redução de riscos e custos apresentar-se-á no momento em que se desenvolver uma produção de modo coletivo e se identificar os ganhos presentes no processo de produção conjunta, o qual se espera que sofra um aumento expressivo. Outro entrevistado menciona seu desejo de poder trabalhar e produzir de forma coletiva.

Sou a favor da “troca dia”.... porque a cooperativa é... é... é... é... nessa parti aí ela vai ela vai [...] aí é dessa forma a gente... a gente trabalhando unido, por exemplo: eu tenho uma farinha pra fazer, aí eu tenho uma equipe vim me ajudar, aí o outro rapaz lá tirar a farinha pra fazer a equipe se uni pra fazer. A gente pode ter uma equipe pra fazer, pra botar a mandioca na água, porque precisa assim ó: a mandioca precisa ter uma pessoa... uma equipe só botar a mandioca na água, nós pode ter uma equipe só pra tirar a mandioca do rio, e... e... transportar pro... pro... pra... casa do forno, pra lavar, essa que aqui é só farinha lavada que o pessoal trabalha agora [...] aí precisa das pessoas pra torra farinha, quer dizer, a gente... a gente ta mo nesse projeto aí. (Entrevistado 5).

Na cooperativa de trabalho, o cooperado é o principal interessado em desenvolver e produzir, pois ele receberá proporcional ao seu trabalho. Logo, quanto mais o agricultor produzir, mais ele ganhará (SILVA; GASPAR; FARINA, 2015SILVA, R. S.; GASPAR, M. A.; FARINA, M. C. Ganhos competitivos em redes de cooperação: estudo em uma cooperativa de pequenas farmácias. In: SEMEAD-SEMINARIOS EM ADMINISTRACAO, 18., São Paulo, 4-6 de novembro de 2015. Anais [...]. São Paulo: USP, 2015. p. 1–15. Disponível em: http://sistema.semead.com.br/18semead/resultado/trabalhosPDF/372.pdf. Acesso em: 1º abr. 2020.
http://sistema.semead.com.br/18semead/re...
). Um dos entrevistados já tem certo conhecimento sobre o funcionamento de cooperativa de trabalho e explica como deve ser feita a participação nos resultados:

[...] A cooperativa, ela vai ser repartida assim: a maioria da... da... das... do produto tu só pode... é... é... é... é... ter direito naquilo que tu botou na cooperativa do teu produto, se eu botei 20 saco de farinha eu só vou ter direito em 20 saco de farinha, não posso, só porque meu vizinho botou 50 eu vou querer o... o... o... os 50 que ele tem, não é assim, a cooperativa ela é trabalhada pelo que tu bota nela, a cooperativa ela tem 300 saco de farinha nós somos 50 socio por exemplo aqui, eu disse 300 sacos de farinha, né, mas aí um botou 20, outro botou 50, outro botou 70, quer dizer, o cara vai receber de acordo com o que ele botou. (Entrevistado 5).

É importante ressaltar o pacto, entre todos os produtores, de desenvolverem ações coletivas que possibilitem o compartilhamento dos trabalhos, a produção da farinha, pois o trabalho coletivo faz com que se torne viável associar-se, produzindo ganhos a todos os membros envolvidos. Comprova-se, assim, a existência de ganhos competitivos por meio da cooperação de interorganizações, sustentados por diversos autores, entre eles, Balestrin e Vargas (2004)BALESTRIN, A.; VARGAS, L. M. A dimensão estratégica das redes horizontais de PMEs: teorizações e evidências. Revista de Administração Contemporânea, [s.l.], v. 8, p. 203–27, 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S1415-65552004000500011
https://doi.org/10.1590/S1415-6555200400...
, Verschoore e Balestrin (2008) e Araújo (2014)ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014..

4.2.4 Relações sociais

De acordo com Verschoore e Balestrin (2008), o ganho competitivo de relações sociais envolve um conjunto de atividades que vão contribuir para melhorar as relações entre os cooperados, assim como a troca de conhecimento, criando mecanismos de desenvolvimento dos laços de confiança. Segundo Araújo (2014)ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014., no momento que os produtores começarem a se organizar para efetuar a formação de uma cooperativa, poderá haver um fortalecimento das relações sociais, estabelecidas pelos laços de confiança que motivaram os produtores a cooperarem entre si.

Portanto, foi perguntado aos produtores o que eles pensam sobre a formação de uma cooperativa e da realização de seus trabalhos, produção e suas vendas de modo coletivo. Assim, obtivemos de um dos produtores a seguinte resposta: “[...] Sim, acredito que sim, que... que todos são da mesma comunidade acredito que todos ia pensar no objetivo só... só o crescimento da cooperativa (Entrevistado 3).”

Segundo Araújo (2014)ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014., com essas relações sociais na formação de uma cooperativa, estabelece-se um novo ganho competitivo, que são os ganhos imensuráveis, um ativo intangível, o qual todos os produtores obtêm ao executar suas atividades de modo coletivo. Um dos entrevistados destaca sua capacidade de trabalho em equipe:

Esse tipo de situação eu vejo assim, né, as pessoas que ali fazem parte da... lá de determinado grupo, né, eu acho que a partir do momento que a pessoa passa a fazer parte do grupo ele tem que entrar no grupo pra ajudar, pra somar, né, eu sou muito de grupo, eu sou, entendeu, eu me acho uma pessoa muito muito grupo, eu me estabeleço muito bem em grupo, né, eu trabalho sempre em prol do grupo, se eu vou ganhar com isso, você vai ganhar também. (Entrevistado 7).

É relevante ressaltar a aceitação entre os entrevistados, com ações que possibilitem a troca de experiências, conhecimento e o aprendizado, de modo que contribuam para melhorar as relações entre os cooperados, criando, assim, mecanismos de desenvolvimento dos laços de confiança. Dessa forma, a constituição da cooperativa proporcionará ganhos competitivos por meio das relações sociais, estabelecidas tanto pelos laços de confiança como pelo valor imensurável, sustentado por diversos autores, entre eles, Balestrin e Vargas (2004)BALESTRIN, A.; VARGAS, L. M. A dimensão estratégica das redes horizontais de PMEs: teorizações e evidências. Revista de Administração Contemporânea, [s.l.], v. 8, p. 203–27, 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S1415-65552004000500011
https://doi.org/10.1590/S1415-6555200400...
, Verschoore e Balestrin (2008) e Araújo (2014)ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014..

Diante dos dados coletados, o Quadro 7 explica a síntese dos ganhos competitivos encontrados na pesquisa.

Quadro 7
Síntese dos ganhos competitivos encontrados na pesquisa

4.3 Relação de oportunidade da constituição e perfil de trabalho da cooperativa

Nos estudos de Rosenfield (2003)ROSENFIELD, C. L. A autogestão e a nova questão social: repensando a relação indivíduo-sociedade. Civitas-Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 395–415, 2003. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/742/74230209.pdf. Acesso em: 10 abr. 2023.
https://www.redalyc.org/pdf/742/74230209...
, foi adotada a metodologia de avaliação de trabalhadores na cooperativa, e, neste contexto, avaliaram-se as entrevistas com o perfil de trabalho. A Tabela 2 apresenta a correlação das respostas dos entrevistados neste estudo.

Tabela 2
Correlação das respostas dos entrevistados.

Os dados demonstram que os entrevistados 4 e 6 não utilizaram, em seus argumentos, as palavras “cooperativa”, “farinha” (produção de farinha), “gente” (contato com os outros membros de trabalho), “qualidade”, “grupo” e “não”. Ao se avaliarem estas respostas, pode-se inferir que estes indivíduos possuem maior probabilidade de serem trabalhados com perfil de “em recuo”, se comparados aos demais entrevistados.

Na avaliação dos entrevistados 1, 5, 7 e 8, eles estão mais vinculados à perspectiva de cooperação e à própria produção, demonstrando-se trabalhadores engajados no processo, por meio do interesse na participação coletiva, e comprometidos com a ideia central.

Os entrevistados 2, 4 e 5 se mostram mais inseridos no interesse em constituir uma cooperativa, sendo o entrevistado 5 o mais receptível à ideia; além disso, eles estão inseridos no processo de trabalho, demonstrando-se, assim, trabalhadores engajados.

Nos estudos de Araújo (2014)ARAÚJO, J. C. O. Ganhos Competitivos e gestão contábil coletiva: o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado do Pará. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade da Amazônia, Belém, 2014., observa-se que, por mais que os cooperados apresentem perfis de não trabalhar em grupo, isto pode ser revertido com a demonstração de ganhos competitivos e a vontade de ganhar em conjunto ser superior às diferenças de processos de trabalho, podendo, com isto, permear que há possibilidade de adequar os níveis de trabalho em grupo e de formação de cooperativa, se eles perceberem e incorporarem um perfil cooperativo para o alcance de ganhos competitivos de modo coletivo, e não individualizado. Fato este pode ser comprovado na Figura 2 a seguir.

Figura 2
Diagramação dos discursos dos entrevistados

Nesta figura, pode-se avaliar que o traçado mais forte representa o que os entrevistados mais comentaram em suas respostas. Nota-se que o cerne entre os entrevistados é a farinha (produção da farinha), que os liga diretamente a pessoas, qualidade e certeza. Outro laço de ligação de trabalho, de reconhecimento de cooperativa, do hoje, do trabalho.

Observa-se que o trabalho e a própria consciência refletida nas respostas dos cooperados remetem à formação de uma cooperativa com um cerne de ganhos e trabalho em grupo.

Tais fatos ratificam a metodologia de Rosenfield (2003)ROSENFIELD, C. L. A autogestão e a nova questão social: repensando a relação indivíduo-sociedade. Civitas-Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 395–415, 2003. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/742/74230209.pdf. Acesso em: 10 abr. 2023.
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, possível de aplicação, ao se identificar a força de trabalho como “engajada” ou “em recuo”, criando caminhos de avaliação do processo cooperativo. Além disso, o processo de avaliação de discurso destas duas formas de trabalho ficou bem claro na diagramação, permitindo um diagnóstico afirmativo de que a formação da cooperativa pode ser vista positivamente e com grande possibilidade de negócio.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de um mercado globalizado e que está sempre em busca de produtividade e redução de custos, a falta de qualificação é um fator que deixa indivíduos aquém deste cenário. Nesse sentido, a cooperação empresarial surge como uma possível solução, apresentando-se como uma forma pela qual as pessoas possam se unir para trabalhar juntas, garantindo o acesso a oportunidades que, sozinhas, essas pessoas não conseguiriam obter. Por meio da união de esforços para trabalhar em parceria, a cooperação torna-se uma alternativa plausível para competir em um mercado globalizado e concorrencial.

O objetivo principal desta pesquisa foi o de estudar quais os ganhos competitivos podem ser proporcionados a uma organização coletiva de pequenos produtores de farinha de mandioca da vila de Manoel dos Santos, zona rural de Tracuateua, PA, caso eles constituíssem uma cooperativa de trabalho, levando em consideração o conceito de ganhos competitivos estabelecidos por Verschoore e Balestrin (2008). Verificou-se que todos os ganhos competitivos estudados (acesso a soluções, aprendizagem e inovação, redução de riscos e custos, relações sociais) podem ser proporcionados caso se consolide a cooperativa, e os produtores já possuem práticas de cooperação, facilitando também o acesso aos ganhos.

Constatou-se que, dos nove entrevistados, dois se enquadraram nas características de trabalhador “em recuo”, enquanto os restantes se enquadraram no grupo “engajado”. Isto demonstra que a maioria está comprometida em dar início ao processo de constituição da cooperativa, porém os trabalhadores “em recuo” têm certo receio sobre a viabilidade do projeto, preferindo integrar-se à cooperação depois que esta estiver funcionando. Todos os produtores demonstraram estar interessados em trabalhar de forma coletiva, entretanto, concordam que devem ser criados meios que impossibilitem o surgimento de interesses pessoais acima do interesse coletivo dentro do grupo; logo, o alinhamento de objetivos entre os interessados é um fator essencial para a colaboração ser viável.

Em um cenário com a cooperativa constituída, observou-se que a produção ultrapassa 100 sacas de farinha de mandioca (60 kg), auferindo uma receita bruta total de R$ 20.600,00, obtendo uma margem bruta de lucro de 70%. Em comparação ao cenário atual dos agricultores, identificou-se que eles perdem uma parte do lucro da saca quando vendem para os “atravessadores”, e que há uma variação considerável do preço da saca, promovida pela qualidade da farinha. Isso ocasiona um excesso de trabalho e baixo lucro, fazendo alguns trabalhadores buscarem outras formas de renda, como a criação de hortas, cultivo de açaí etc. Todos os produtores concordaram em padronizar o processo produtivo, para obter singularidade e assim conseguir chegar a um padrão de qualidade. Este estudo teve como limitação a falta de instrução dos agricultores em fornecer mais informações que possibilitassem uma análise mais abrangente dos dados contábeis para a elaboração de um demonstrativo contábil mais fidedigno; esta situação será sanada por meio da constituição da cooperativa, pois, trabalhando coletivamente, haveria uma análise gerencial do processo produtivo, mensurando os custos, e, desta forma, os demonstrativos contábeis estariam legítimos.

Por meio deste estudo, conclui-se que a constituição da cooperativa é viável para os produtores, não somente pelos ganhos competitivos que serão proporcionados a eles quando cooperarem, mas, primordialmente, porque há o interesse em trabalhar coletivamente. Para pesquisas futuras, sugere-se que novos estudos sobre a cooperação e os ganhos competitivos proporcionados por cooperação sejam desenvolvidos, visto que existe uma carência do tratamento desse assunto no arcabouço acadêmico. Assim sendo, este trabalho evidencia que a cooperação é uma alternativa ao desemprego, podendo gerar renda e desenvolvimento humano e social na localidade em que está constituída.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2023

Histórico

  • Recebido
    03 Mar 2022
  • Revisado
    19 Set 2022
  • Aceito
    15 Out 2022
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